TENOTOMIA DO MÚSCULO FLEXOR DIGITAL
SUPERFICIAL E DESMOTOMIA ACESSÓRIA EM EQUINOS: GONIOMETRIA
RADIOMETACARPIANA, METACARPOFALÂNGICA
E INTERFALÂNGICA
A proposta deste estudo foi avaliar
os efeitos da tenotomia do músculo flexor digital superficial e a
desmotomia do seu ligamento acessório sobre os ângulos formados pelas
faces dorsais radiometacarpiano, metacarpofalângico e interfalângicos
proximal e distal em equinos. Realizaram-se em nove equinos a tenotomia
do músculo flexor digital superficial no membro torácico direito (MTD)
e a desmotomia de seu ligamento acessório no membro torácico esquerdo
(MTE). A goniometria radiológica foi procedida no pré-operatório e aos
quinze, trinta e sessenta dias após as cirurgias. A tenotomia praticada
no MTD diminuiu significativamente o ângulo metacarpofalângico (média
com desvio-padrão pré-operatório – 140,7 ± 6,85; sessenta dias – 128,2º
± 5,93) e aumentou o interfalângico distal (média com desvio-padrão
pré-operatório – 180,2º ± 5,43; sessenta dias – 197,3º ± 8,29). A
desmotomia realizada no MTE diminuiu significativamente o ângulo
interfalângico proximal (média com desvio-padrão pré-operatório – 172,6
± 1,87; sessenta dias – 167,6 ± 1,36). As cirurgias estudadas não
interferiram nos eixos radiometacarpianos. Os procedimentos cirúrgicos
estudados alteraram significativamente os ângulos articulares distais
ao carpo.
PALAVRAS-CHAVES: Ângulos articulares, desmotomia, equinos, tenotomia.
SUPERFICIAL DIGITAL FLEXOR TENOTOMY
AND SUPERIOR CHECK LIGAMENT DESMOTOMY IN HORSES: RADIO-METARCARPAL,
METACARPOPHALANGEAL AND INTERPHALANGEAL GONIOMETRY
The purpose of this study was to
investigate the effects of the superficial digital tenotomy and the
superior check ligament desmotomy on the radio-metacarpal,
metacarpophalangeal, proximal and distal interphalangeal angles in
horses. Under general anesthesia the superficial digital flexor
tenotomy and superior check ligament desmotomy were performed,
respectively, on the right and left forelimbs in nine horses. Before
surgery and on 15th, 30th, and 60th postoperative days the
radio-metacarpal, metacarpophalangeal, and proximal and distal
interphalangeal angles were measured by radiographic examination.
Tenotomy decreased significantly the metacarpophalangeal angle (mean ±
standard deviation: preoperative – 140.7º ± 6.85; 60th day – 128.2º ±
5.93) and increased the distal interphalangeal angle (mean ± standard
deviation: preoperative – 172.6 ± 1.87; 60th day – 167.6 ± 1.36).
Desmotomy decreased the proximal interphalangeal angle (mean ± standard
deviation: preoperative – 180.2º ± 5.43; 60th day- 197.3º ± 8.29).
These surgical procedures did not change the radio-metacarpal angle.
The superficial digital flexor tenotomy and the superior check ligament
desmotomy cause different and significant changes in joint angles
distal to the carpus.
KEY WORDS: Desmotomy, horses, joint angles, tenotomy.
Nos equinos, o músculo flexor digital
superficial tem como função a flexão digital e carpal (GETTY, 1981;
BUDRAS e RÖCK, 1994; WISSDORF et al.,
1998). Pela localização, ao executar a flexão digital esse tendão atua
de modo evidente e direto na flexão da articulação metacarpofalângica,
tracionando a articulação interfalângica proximal, resultando ainda na
flexão do carpo. Esses movimentos são estabilizados pelas estruturas
relacionadas como o ligamento anular, o canal carpal e em destaque
maior o próprio ligamento acessório (frenador carpiano superior),
permitindo equilíbrio de forças e evitando a hiperextensão (SHIVELY,
1983; WISSDORF et al., 1998).
Diversos são os relatos, as descrições e as recomendações sobre a
deformidade flexora nos equinos como sendo enfermidade envolvendo os
tendões dos músculos flexores digitais, com a impossibilidade de se
realizar a extensão e angular-se normalmente a articulação
metacarpofalângica ou as interfalângicas. De acordo com a intensidade
ou grau de deformidade apresentada, essa enfermidade tem por
característica primordial a manutenção do ângulo da face dorsal da
articulação metacarpofalângica acima da angulação normal (SEIDEL, 1979;
HERMANS, 1992).
Na deformidade flexora comprometendo a articulação metacarpofalângica
são indicadas a tenotomia do músculo flexor digital superficial bem
como a desmotomia de seu ligamento acessório como técnicas para o
tratamento cirúrgico (FRANK, 1964; NÈMETH, 1976; MCLAUGHLIN, 1978;
HICKMAN, 1979; BLACKWELL, 1983; FACKELMAN, 1983; DIETZ, 1985; WAGNER et al., 1985; DULAC, 1987; STASHAK, 1987; GERRING, 1989; WAGNER, 1990; BARR, 1994) e ainda empregado nas tendinites (COTE et al., 1994; FULTON et al.,
1994; HOGAN & BRAMLAGE, 1995). A tenotomia permite maior liberação
do músculo, podendo entretanto resultar em aspectos funcionais e
estéticos por vezes indesejáveis (BLACKWELL, 1983; FACKELMAN, 1983;
STASHAK, 1987; WAGNER, 1990; BARR, 1994).
Considerando-se a origem proximal do músculo flexor digital superficial
e a inserção deste na porção das falanges proximal e média, o resultado
da tenotomia do flexor digital superficial e a desmotomia de seu
ligamento acessório poderiam interferir significativamente no membro
operado. Isto analisado, objetivou-se estudar as variações angulares do
eixo radiometacarpiano e das articulações metacarpofalângica,
interfalângicas proximal e distal, aspectos estes analisados e
comparados na tenotomia do músculo flexor digital superficial e na
desmotomia do acessório deste tendão.
Os procedimentos utilizados na
experimentação estão de acordo com as normas nacionais que estabelecem
a ética na experimentação animal, aprovado pela Câmara de Ética em
Experimentação Animal da FMVZ – UNESP – Botucatu, nº 052/2002.
Em nove equinos adultos hígidos, sem raça definida, de ambos os sexos,
com peso médio de 380 kg, foram realizadas a tenotomia do músculo
flexor digital superficial no membro torácico direito (MTD) e a
desmotomia do acessório do superficial (
superior check ligament) no membro torácico esquerdo (MTE).
Uma semana antes do início do experimento, procedeu-se ao casqueamento
dos animais. No dia anterior às cirurgias, foram realizados exames
radiográficos de ambos os membros torácicos de cada animal, com
aparelho portátil (60kV – 5mAs - FNX – 90CTI – Electra Ltda), com a
distância foco-filme de 70 cm, procedendo-se com filmes 30X40 cm (Filme
Radiográfico - Kodak Brasileira Comúsculo Ind. Ltda) montados em chassi
com ecran verde (Ecran - Kodak Brasileira Comúsculo Ind. Ltda.),
revelados em equipamento automático (MX2 – Macrotec Ltda).
O membro torácico a ser radiografado foi apoiado sobre prancha de
madeira de modo a distanciar a sola do piso, mantendo-se sua posição
ortostática. O membro contralateral foi flexionado, removendo-o do
apoio. Dessa forma, todo o apoio dos membros torácicos recaiu sobre o
membro a ser radiografado, o que conferiu, por princípio, máxima carga
sobre o membro em apoio com o animal em estação. Com o membro torácico
a ser radiografado apoiado, procederam-se às radiografias buscando-se o
eixo radiometacarpiano, com o chassi posicionado na face medial do
carpo, abrangendo, este, parte da diáfise radial e parte da diáfise
metacarpiana principal. Com o chassi posicionado na face medial da
porção distal do membro, abrangeram-se parte da diáfise metecarpiana e
as três falanges, incluindo o casco (
Figura 1)
Ambas as radiografias foram realizadas no sentido lateromedial,
posicionando-se o aparelho de raio X a 50 cm entre a ampola e o chassi.
Após jejum alimentar e hídrico de 24 horas, cada animal recebeu
medicação pré-anestésica com 0,05 mg/kg de acepromazina via
intravenosa. Seguiu-se a tricotomia na face medial da região distal do
rádio esquerdo e no membro torácico direito nas faces palmar e lateral
do metacarpo.
O animal a ser operado teve a anestesia geral inalatória induzida com
éter gliceril guaiacol (Eter Gliceril Guaiacol – Henrifarma
Ltda)(100mg/kg) e tiopental sódico (Tiopental – Cristália Ltda)
(5mg/kg) via intravenosa, e mantida com halotano (Halotano –Cristália
Ltda), sendo posicionado em decúbito dorsal.
Após preparação de rotina, a tenotomia do músculo flexor digital
superficial foi efetuada com acesso pela face lateral do terço médio do
metacarpo, com incisão da pele de aproximadamente 3 cm entre os tendões
dos músculos flexores digitais. Aberta a fáscia subcutânea, esta foi
ampliada com auxílio de tesoura. Isolou-se o tendão músculo flexor
digital superficial com pinça hemostática curva tipo Kelly e
procedeu-se à secção transversal do tendão com bisturi. A seguir, a
fáscia foi suturada com fio de poliglactina (Vicril 2-0 – Johnson &
Johnson Ltda) em pontos X, e a pele com náilon (Mononylon 1 –
Brasmédica S.A) com pontos tipo Wolff.
A desmotomia do acessório do superficial, realizada em ato contínuo,
foi semelhante à técnica já descrita anteriormente (AUER & STICK,
1999), tendo por acesso a face medial da porção distal do rádio, com
incisão da pele, mediante a utilização de bisturi, de aproximadamente
10 cm, cranial e paralela à veia cefálica do antebraço. Seguiu a
abertura da fáscia do músculo flexor carpo radial. A secção do
ligamento acessório foi iniciada com bisturi e completada com tesoura.
Suturaram-se a fáscia com fio de poliglactina em padrão cerzidura e a
pele com náilon, com pontos tipo Wolff.
Trataram-se as feridas cirúrgicas a cada 48 horas com tintura de iodo
(Tintura de Iodo 2% - Rioquimica Ltda), seguida da aplicação de penso
protetor com bandagens, até o 12º dia pós-operatório, quando foram
retirados os pontos de pele. No dia das cirurgias e a cada 72 horas, os
animais foram medicados com 20.000 UI/kg de penicilina benzatina
associada (Pentabiótico Veterinário – Fort Dodge Ltda). Cada animal
recebeu ainda no dia das cirurgias e a cada doze horas, durante cinco
dias, fenilbutazona (2,2mg/kg - Butazolidina – Novartis S.A), via
intravenosa.
Exames radiográficos foram executados, semelhantes aos realizados nos
momentos pré-operatório, aos quinze, trinta e sessenta dias após as
cirurgias.
O contorno dos ossos foi obtido em cada radiografia, apoiando-se sobre
esta papel translúcido para possibilitar o traçado a lápis do contorno
das imagens, de acordo com cada posição.
No papel contendo o desenho do contorno dos ossos observados em cada
radiografia, efetuaram-se segmentos de retas no eixo diafisário
referente a cada osso (
Figura 2).
Cada goniometria foi realizada a partir da face dorsal das junções
ósseas, estas medidas em graus utilizando-se transferidor,
determinando-se, assim, o ângulo formado pelo eixo radiometacarpiano
(ARM) e os ângulos articulares metacarpofalângico (AMF), interfalângico
proximal (AIP) e interfalângico distal (AID) de ambos os membros, de
todos os animais nos quatro momentos.
Aplicou-se a análise estatística para as medidas dos ângulos dos eixos
e articulações nos vários momentos de avaliação do experimento. Os
membros direito e esquerdo foram comparados em cada momento
utilizando-se a análise multivariada de perfil (MORRISON, 1990), que
possibilitou ainda a comparação dos ângulos entre momentos para cada
membro e respectivo procedimento cirúrgico (direito – tenotomia;
esquerdo – desmotomia). O nível de significância adotado foi de 5%.
RESULTADOS
As posições radiográficas utilizadas no sentido lateromedial, em cada
membro torácico de cada animal nos quatro momentos, permitiram os
traçados dos contornos ósseos, destes a determinação dos eixos
diafisários e a mensuração em graus do eixo radiometacarpiano e das
articulações metacarpofalângica e interfalângica de cada membro.
Sobre os ângulos mensurados (
Tabela 1),
as médias dos eixos radiometacarpianos (ARM) diferiram entre os membros
direito (tenotomia) e esquerdo (desmotomia), sendo maior o ângulo
formado pelo membro esquerdo mensurado aos trinta dias (ARM
direito=168,8º e ARM esquerdo=171,2º) e aos sessenta dias (ARM
direito=169,8º e ARM esquerdo=171,9º) após as cirurgias.
O ângulo formado pela articulação metacarpofalângica do membro direito
diminuiu do pré-operatório (140,7º) para os momentos pós-operatórios
(quinze dias=126,9º; trinta dias=126,6º; sessenta dias=128,2º). Não
houve diferenças entre os momentos desta articulação no membro
esquerdo. Entre os membros direito e esquerdo, observaram-se diferenças
com maior ângulo formado no membro esquerdo aos quinze, trinta e
sessenta dias após as cirurgias (quinze dias – direito=126,9º,
esquerdo=138,0º; trinta dias – direito=126,6º, esquerdo=137,5º;
sessenta dias – direito=128,2º, esquerdo=140,0º)
As articulações interfalângicas proximais do membro direito submetido à
tenotomia do músculo flexor digital superficial não variaram
significativamente entre os momentos, diferindo do observado na
articulação em questão no membro esquerdo, este submetido à desmotomia
do acessório do superficial, em que ocorreu redução entre os momentos
pré-operatório e sessenta dias (AIP membro esquerdo – pré=172,6º;
sessenta dias=167,6º). Não ocorreram diferenças entre os membros para
cada momento.
Para o membro direito submetido à tenotomia do flexor digital
superficial, o ângulo interfalângico distal elevou-se do momento
pré-operatório (180,2º) para os momentos quinze dias (199,3º), trinta
dias (196,4º) e sessenta dias (197,3º) após a cirurgia. Para o membro
esquerdo, os ângulos dessas articulações não variaram entre os
momentos. O ângulo da articulação interfalângica distal mostrou-se
diferente entre os membros direito e esquerdo, com valores superiores
para o membro direito nos momentos quinze dias (direito=199,3º,
esquerdo=183,8º), trinta dias (direito=196,4º, esquerdo=186,3º) e
sessenta dias (direito=197,3º, esquerdo=182,2º) após a cirurgia.
DISCUSSÃO
A tenotomia do flexor digital superficial e a desmotomia do acessório
do superficial são técnicas operatórias bastante estudadas,
recomendadas e aplicadas no restabelecimento de animais portadores de
enfermidades que acometem os membros dos equinos, destacando-se as
deformidades flexoras envolvendo a articulação metacarpofalângica
(FRANK, 1964; NÈMETH, 1976; McLAUGHLIN, 1978; HICKMAN, 1979; BLACKWELL,
1983; FACKELMAN, 1983; DIETZ, 1985; WAGNER
et al.,
1985; DULAC, 1987; STASHAK, 1987; GERRING, 1989; WAGNER, 1990; BARR,
1994; DYSON, 1997; McILWRAITH, 2002). Essas técnicas são ainda
empregadas nas tendinites (COTE
et al., 1994; FULTON
et al.,
1994; HENNINGER, 1994; HOGAN & BRAMLAGE, 1995), melhorando o
prognóstico do desempenho atlético nesses equinos. Trata-se de técnicas
que foram exequíveis com o animal posicionado em decúbito dorsal
conforme realizado neste experimento, considerando-se que a literatura
citada recomenda o decúbito lateral para tais procedimentos.
A obtenção dos ângulos do eixo radiometacarpiano e das articulações
metacarpofalângica e interfalângicas de cada membro operado consistiu
em método simples, de fácil execução e de satisfatória acurácia,
concordante com a descrição de métodos semelhantes (EMERY
et al., 1977; BUSHE
et al., 1988; HUSSNI
et al.,
1996). Outros métodos goniométricos foram também eficientes dentro da
proposta a que serviram, tendo como destaque o uso de goniômetros
(SHOEMAKER
et al., 1991; SAVELBERG
et al., 1997; ALEXANDER et al., 2001; LAGE
et al.,
2009), que, em hipótese ora não estudada, podem ter menor precisão ao
se avaliar variações angulares quando comparados com o método obtido a
partir de exames radiográficos. Porém, a metodologia de mensuração
angular com radiografias pode compreender somente das articulações
distais até as articulações carpais e tarsais, sendo este método
inviável nas articulações mais altas como a escapuloumeral e
coxofemoral.
Os valores médios obtidos do eixo radiometacarpiano (ângulo do carpo)
que apresentaram a maior variação entre 172,5º no pré-operatório e
168,8º aos trinta dias para o membro direito, este considerado ainda
como ângulo do carpo, ficaram próximos ao descrito com o animal e apoio
quadrupedal (SEIDEL, 1979) e semelhante ao estudado em peças anatômicas
submetidas à ação de forças (SHOEMAKER
et al.,
1991). Considere-se que, para este parâmetro e para os demais ângulos
mensurados, o exame radiográfico foi realizado com o apoio do animal
com sobrecarga máxima de peso sobre o membro, estando apoiado com a
parte torácica do animal somente no membro submetido, podendo,
portanto, diferir de outra mensuração com o animal em apoio quadrupedal.
O ângulo articular metacarpofalângico do membro direito teve redução
significativa, o que não ocorreu com o membro esquerdo, demonstrando
que a tenotomia do músculo flexor digital superficial atua intensamente
na redução deste ângulo articular. Apesar de a desmotomia do acessório
do superficial corrigir a deformidade flexora, neste estudo, essa
técnica não reduziu significativamente o ângulo metacarpofalângico.
Isso deve-se, principalmente, à função moderadora desse ligamento
acessório e da função ativa e de maior efetividade dos tendões flexores
digitais e do ligamento suspensório do boleto, estes ativos e
preservados, com a observação evidente da interação estrutural entre as
articulações e eixos estudados e a interação destes como sistema
integrado envolvendo inclusive o estojo córneo (EMERY, 1977; WISSDORF
et al., 1998; DENOIX
et al., 1999; ALEXANDER
et al., 2001).
O valor médio em graus obtido das articulações metacarpofalângicas de
ambos os membros no momento pré-operatório, considerado normal, foi
discretamente abaixo do divulgado pela maioria dos autores (144 a 150
graus) (SEIDEL, 1979; SHOEMAKER
et al., 1991; LAGE
et al.,
2009). Deve-se isso à metodologia do procedimento radiológico,
considerando que, neste momento, o membro radiografado apoiava o solo e
o membro contralateral estava suspenso e sem apoio, o que gerou maior
carga de peso sobre o membro radiografado e assim diminuição do ângulo
metacarpofalângico, porém de modo discreto. De modo semelhante ocorreu
a diminuição deste ângulo em estudo com cargas crescentes de força
realizado em peças anatômicas (SHOEMAKER
et al., 1991).
Ao se observar os ângulos das articulações interfalângicas proximal e
distal em ambos os membros dos animais operados, evidenciam-se
alterações destes ângulos de acordo com a cirurgia realizada. Fica
evidente a redução do ângulo interfalângico proximal decorrente da
desmotomia do acessório do superficial, possivelmente em decorrência da
eliminação da ação do ligamento acessório causando maior tração pelo
tendão flexor digital superficial em sua inserção na porção distal
palmar da falange proximal e da porção proximal palmar da falange
média. Estudos das resultantes de forças que atuam na articulação em
questão explicariam mais claramente essa redução angular.
Sobre a articulação interfalângica distal, as medidas dos ângulos
elevaram-se quando comparados os momentos pré-operatório e os demais
momentos para o membro direito, sem diferenças para o membro esquerdo.
Com base no descrito e observando-se a anatomia funcional da região
(WISSDORF
et al., 1998; DENOIX
et al.,
1999), deve ser considerada a sobrecarga sofrida pelo tendão do músculo
flexor digital profundo na força exercida pela articulação
metacarpofalângica, dada a ausência da ação do músculo flexor digital
superficial após a tenotomia. Ao aumentar-se a tensão sobre o tendão do
músculo flexor digital profundo ocorre flexão da articulação
interfalângica distal, aumentando, portanto, o ângulo desta. Isto pôde
ser confirmado por analogia inversa, ao observar-se a diminuição do
ângulo articular metacarpofalângico e a elevação dos ângulos
articulares interfalângicos proximal e distal ao elevar-se o talão dos
cascos (BUSHE
et al., 1988).
Aplicando-se metodologias semelhantes na goniometria articular com base
em imagens radiográficas, a realização das radiografias em apoio
monopedal anterior decorre em maior carga de peso sobre o membro,
podendo ocorrer diferenças se comparar-se à realização dos exames
radiográficos com o animal e apoio quadrupedal (HUSSNI
et al., 1996), sendo isto hipótese e não objeto de estudo.
CONCLUSÕES
A tenotomia do flexor digital superficial em equinos diminui o ângulo
metacarpofalângico e eleva o ângulo interfalângico distal. A desmotomia
do acessório do flexor digital superficial diminui o ângulo
interfalângico proximal. A tenotomia do flexor digital superficial e a
desmotomia do acessório deste tendão não alteraram o eixo
radiometacarpiano.
AGRADECIMENTO
Ao Prof. Dr. Adalberto José Crocci (in memoriam).
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Protocolado
em: 27 fev. 2009. Aceito em: 7 set.
2009.