DOI: 10.1590/1809-6891v21e-55943


Resíduo de biscoito tipo wafer na alimentação de codornas de corte

Wafer-type biscuit waste in meat-quail diets


Lucas Silva Gonzaga1, Sandra Roseli Valerio Lana1*, Geraldo Roberto Quintão Lana1 , Romilton Ferreira Barros Junior1 , Ana Patricia Alves Leão1 , Daniel Silva Santos1


1Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Alagoas, Brazil.
*Correspondent - sandraroselilana@gmail.com


Resumo
Foram realizados dois experimentos com o objetivo de avaliar a composição nutricional e a utilização de diferentes níveis de inclusão de resíduo de biscoito tipo wafer (RB), na alimentação de codornas europeias, sobre o desempenho produtivo, rendimento de carcaça e viabilidade econômica. No ensaio de metabolizabilidade, o RB apresentou 87,45% de MS, EB de 4.128,53 kcal/kg, EMA de 3.833,14 kcal/kg, EMAn de 3.818,92 kcal/kg, com 9,37% de PB e 17% de EE. Os valores do coeficiente de metabolizabilidade (CM) para MS, EB, EE e PB foram: 93,20; 92,85; 93,01 e 47,16%, respectivamente. No ensaio de desempenho, houve redução linear (P<0,05) do consumo de ração das aves nos períodos de 22 a 42 dias e de um a 42 dias de idade. O ganho de peso e a conversão alimentar das aves não foram influenciados (P>0,05) pela inclusão do RB. Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de inclusão do RB sobre o rendimento de carcaça. A ração com 20% demonstra ser mais rentável. Recomenda-se a inclusão do RB até o nível de 20% nas dietas para codornas, sem comprometer o desempenho produtivo, o rendimento de carcaça e a viabilidade econômica.
Palavras-chave: coturnicultura; metabolismo; nutrição; subproduto da agroindústria.

Abstract
Two experiments were carried out to evaluate the nutritional composition and effect of different levels of inclusion of wafer-type biscuit waste (WW) in the diet of European quail on production performance, carcass yield and economic viability. In the metabolizability trial, WW showed 87.45% DM, 4,128.53 kcal/kg GE, 3,833.14 kcal/kg AME, 3,818.92 kcal/kg AMEn, 9.37% CP and 17% EE. The metabolizability coefficients of DM, GE, EE and CP were 93.20, 92.85, 93.01 and 47.16%, respectively. In the performance trial, feed intake decreased linearly (P<0.05) from 22 to 42 and from one to 42 days of age. Weight gain and feed conversion were not influenced (P>0.05) by WW inclusion. The WW inclusion levels did not influence (P>0.05) carcass yield. The diet with 20% inclusion of WW provided the best financial return. Wafer-type biscuit waste can be included up to the level of 20% in quail diets without compromising production performance, carcass yield or the economic viability of the activity.
Keywords: agro-industrial by-product; metabolism; nutrition; quail farming


Seção: Zootecnia

Recebido
20 de novembro de 2018.
Aceito
25 de novembro de 2019.
Publicado
16 de junho de 2020.

www.revistas.ufg.br/vet
Como citar - disponível no site, na página do artigo.

Introdução

A avicultura é considerada um segmento de grande importância na produção de alimentos de alto valor proteico, buscando sempre adequar-se às novas técnicas que proporcionam melhoria na eficiência produtiva das aves(1,2). Dentro desse cenário, a coturnicultura vem apresentando grande destaque dentro da avicultura brasileira devido ao baixo investimento da criação, rápido crescimento, precocidade, alta produtividade e maturidade sexual. Entretanto, a alimentação tem sido um dos fatores de maior relevância, pois equivale a cerca de 70% dos custos de produção das aves(3,4). Desse modo, torna-se necessário a busca por novos alimentos a fim de substituir os tradicionalmente utilizados, como o milho e o farelo de soja, que são os principais responsáveis pelos altos custos no sistema de produção das aves, priorizando a redução de despesas, levando em consideração a disponibilidade regional do produto, a qualidade, além de reduzir a poluição ambiental(1,5).

Dentre os alimentos alternativos, encontram-se os oriundos da indústria alimentícia, que têm gerado uma expressiva quantidade de resíduos, ocasionando grande preocupação de órgãos fiscalizadores quanto ao destino final desses resíduos, os quais comumente são depositados no meio ambiente, gerando problemas ambientais diversos(6,7). Com a indústria do biscoito não é diferente, ela pode gerar uma grande quantidade de resíduos devido à inadequação no processo de produção e distribuição ao consumidor final, geralmente provenientes das perdas por quebras, excesso ou falta de cozimento durante o processamento, que podem ser considerados alternativas sustentáveis, quando utilizados na alimentação animal, incluindo, também, produtos não comercializados ou que ultrapassaram o prazo de validade, caracterizando-se por não serem aprovados pelo controle de qualidade da fábrica(8-12).

Os resíduos da indústria do biscoito apresentam composição variável dependendo da fórmula e dos ingredientes utilizados, sendo considerado um resíduo concentrado em energia, pelos teores de amido, açúcares e gordura, conteúdo de proteína e lisina similar ao milho, mas com valor de sódio mais alto(11). Estudos realizados por Nunes et al.(13) obtiveram os valores de energia metabolizável de 4.480 e 4.105 kcal/kg para o resíduo de biscoito e de macarrão, respectivamente, para pintos de corte. Segundo Rostagno et al.(14), os valores proteicos e energético são, respectivamente, 8,69% e 4010 kcal/kg, cujos valores de energia metabolizável para aves destes resíduos foram considerados superiores aos do milho. Nesse sentido, pode-se inferir que o valor nutricional do resíduo de biscoito encontrado na literatura apresenta uma elevada contribuição energética, similar a dos grãos energéticos, o que tem despertado interesse nesses resíduos em substituir, parcialmente, o milho em rações de animais não ruminantes(11,15).

Shittu et al.(16) conduziram estudos com diferentes níveis de inclusão do resíduo de biscoito na dieta de frangos de corte e concluíram que o resíduo do biscoito pode substituir até 15% do milho em dietas de frangos de corte nas fases iniciais e finais de criação sem comprometer o desempenho, a digestibilidade dos nutrientes e as características de carcaça das aves.

Nesse contexto, objetivou-se determinar a composição química, energética e a metabolizabilidade do resíduo do biscoito tipo wafer, assim como avaliar a inclusão dele às dietas de codornas de corte sobre o desempenho produtivo, características de carcaça e a viabilidade econômica, durante o período de um a 42 dias de idade.


Material e métodos

O experimento foi realizado no setor de Coturnicultura do CECA/UFAL, localizado em Rio Largo – AL. Todos os procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética no uso de animais, da Universidade Federal de Alagoas, sob protocolo de nº 27/2017.

Experimento I – Ensaio de metabolizabilidade

O resíduo de biscoito tipo wafer foi adquirido na indústria Pandurata Alimentos, localizada no município de Rio Largo – AL. O resíduo de biscoito tipo wafer foi oriundo do descarte da linha de produção da indústria, na forma de folhas prensadas e sem recheio, onde foi moído em peneiras de 6 mm para obtenção do farelo do resíduo de biscoito, que foram utilizados para compor as rações. Para composição bromatológica do resíduo do biscoito tipo wafer foram avaliados teores de matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, matéria mineral e energia bruta, segundo metodologia de Silva e Queiroz(17).

Para o ensaio de metabolizabilidade do resíduo de biscoito tipo wafer, foram utilizadas 100 codornas europeias, com 21 dias de idade. As aves foram distribuídas em delineamento inteiramente casualizado com dois tratamentos (ração referência – 0% de resíduo de biscoito e ração referência – 20% de resíduo de biscoito), com cinco repetições e 10 aves por unidade experimental. As dietas experimentais (Tabela 1) foram formuladas seguindo as recomendações nutricionais preconizadas por Rostagno et al.(18).

O período experimental teve duração de 10 dias, sendo cinco dias para adaptação às rações e manejo e cinco dias para coleta de excretas. Foi utilizado o método de coleta total de excretas com o início e fim determinados pelo aparecimento de excretas marcadas (1,0% de Fe2O3 adicionado às dietas) conforme descrito por Sibbald e Slinger(19). Os coeficientes de metabolizabilidade aparente da matéria seca e da energia bruta e os valores de EMA e EMAn das rações foram calculados utilizando-se fórmulas propostas por Matterson et al(20).

Para as coletas das excretas foram utilizadas as bandejas da própria gaiola, colocadas sob cada compartimento, cobertas com plástico, com vistas a individualizar o material e evitar contaminações e perdas. As excretas coletadas foram pesadas, acondicionadas em sacos plásticos identificados e conservadas em freezer a -18 °C. Ao final do período experimental, foram homogeneizadas e secas em estufa de ventilação forçada (55 °C por 72 h) e moídas para análises posteriores. Foram determinados a quantidade de ração consumida e o total de excretas produzida por cada unidade experimental. As análises químicas das dietas e excretas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da UFPB de acordo com as metodologias descritas por Silva e Queiroz(17).

Os coeficientes de metabolizabilidade da matéria seca, da energia bruta, da proteína bruta e do extrato etéreo foram calculados utilizando-se fórmulas propostas por Matterson et al.(11). Os valores de energia metabolizável aparente e energia metabolizável corrigida pelo balanço de nitrogênio das rações, e do resíduo foram calculados após a obtenção dos resultados das análises laboratoriais das rações e das excretas. Os dados foram submetidos à análise de variância (P<0,05) utilizando o software R Core Team(21).

Experimento II – Desempenho, rendimento de carcaça e viabilidade econômica

Foram utilizadas 250 codornas europeias mistas, de um dia de idade, com peso inicial médio de 9,14g ± 0,27, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, composto por cinco tratamentos (Ração referência – 0%; 5%; 10%; 15% e 20% de inclusão do resíduo de biscoito), cinco repetições e 10 aves por parcela, totalizando 25 unidades experimentais. As aves foram alojadas em gaiolas (50 cm x 60 cm x 30 cm), do tipo bateria, de arame galvanizado, com comedouros tipo calha, bebedouro tipo sifão e bandeja coletora de excretas, numa sala climatizada. As condições climáticas da sala foram mensuradas diariamente, às 8 e às 16 horas, através de termômetro de máxima e mínima, termômetro de globo negro e termohigrômetro. O índice de temperatura de globo negro e umidade (ITGU) foi calculado de acordo com a fórmula proposta por Buffington et al.(22). Os valores médios de temperatura máxima e mínima, umidade relativa do ar e o ITGU registrados durante o período experimental foram os seguintes: 26,94 ± 2,63 ºC; 25,65 ± 2,50 ºC; 88,51 ± 3,91%; 76,92%, respectivamente.

As aves receberam água e ração à vontade, durante o período de um a 42 dias. As dietas (Tabela 2) foram formuladas a base de milho e farelo de soja, segundo as exigências nutricionais preconizadas por Rostagno et al.(18), sendo as rações experimentais isoproteicas, isoenergéticas e isoaminoacídicas. Para inclusão do resíduo de biscoito às rações formuladas, foram considerados os valores de composição química do resíduo de biscoito encontrados no ensaio de metabolizabilidade.

As aves, a ração fornecida e as sobras de ração foram pesadas semanalmente para o cálculo dos índices de desempenho: consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar. Aos 42 dias de idade, duas aves de cada unidade experimental foram selecionadas, sendo uma fêmea e um macho, de acordo com o peso médio representativo da parcela experimental. E, após o jejum de seis horas, as aves foram pesadas, abatidas, depenadas e posteriormente evisceradas, para que fossem efetuados os cortes e pesagens para o rendimento de carcaça.

Os parâmetros avaliados foram: peso absoluto (gramas) e relativo (%) da carcaça, de cortes nobres (peito e pernas) e das vísceras comestíveis (coração, fígado e moela). Após a pesagem das carcaças, o peso relativo (%) foi calculado em relação ao peso vivo após jejum, utilizando a seguinte fórmula: Rendimento de carcaça (%) = (peso carcaça/peso vivo x 100). O rendimento percentual dos cortes e das vísceras comestíveis foi mensurado em função do peso da carcaça eviscerada com pés, pela fórmula: Rendimento dos cortes ou vísceras (%) = (peso dos cortes ou vísceras / peso carcaça x 100).

A viabilidade econômica foi realizada em função das variações no peso vivo, consumo de ração e custos das rações, que ocorreram entre os níveis de inclusão do resíduo utilizado, de acordo com a metodologia descrita por Lana(4). O preço de venda da codorna viva e os valores das matérias-primas utilizados para o cálculo dos custos das rações foram referentes aos atualizados no período de execução do experimento, sendo a codorna de um dia adquirida por R$ 1,40 a unidade, e sua venda estimada em R$ 16,00/kg da codorna abatida. O custo dos ingredientes utilizados para formulação das dietas foram os seguintes: Milho R$ 1,25/kg; Farelo de Soja R$ 1,45/kg; Resíduo de Biscoito tipo wafer R$ 0,30/kg; Óleo de Soja R$ 3,95/kg; Fosfato Bicálcico R$ 6,00/kg; calcário R$ 0,27/kg; Sal comum R$ 0,85/kg; Lisina R$ 9,00/kg; Metionina R$ 25,00/kg; Treonina R$ 11,00/kg; Suplemento Vitamínico R$ 20,00/kg; Suplemento Mineral R$ 10,00/kg; Bacitracina de Zinco R$ 15,00/kg; Cygro R$ 46,00/kg; BHT R$ 37,00/kg.

As análises estatísticas das variáveis foram realizadas utilizando o software R Core Team(21), no qual os resultados foram submetidos à análise de variância a 5% de probabilidade, e as médias com diferença significativa (P<0,05), submetidas à regressão.

Resultados e discussão

Experimento I

Na Tabela 3 estão apresentados os valores de composição bromatológica, energética e os coeficientes de metabolizabilidade do resíduo do biscoito tipo wafer (RB).

O teor de matéria seca (MS) do resíduo do biscoito tipo wafer foi 87,45%, o qual foi próximo ao valor de 92,24%, encontrado por Volpato et al.(7), quando avaliaram o resíduo do biscoito doce; e aos valores relatados por Tardocchi et al.(23), que verificaram teores de 92,40% de MS para o resíduo de biscoito e dos valores citados por Corassa et al.(11) que apresentaram valor médio de 91,07% de MS para o farelo do resíduo de biscoito.

O resíduo de biscoito tipo wafer apresentou 4.128,53 kcal de EB/kg. Esse valor foi superior aos valores relatados por Corassa et al.(11), que determinaram em sua composição energética valores mínimos de 3.200 kcal de EB/kg e máximos de 4.485 kcal de EB/kg, enquanto que os estudos realizados por Volpato et al.(7) apresentaram maiores valores de energia bruta (4.494 kcal/kg) ao avaliarem o resíduo do biscoito doce.

Os valores de EMA e EMAn encontrados nesta pesquisa foram próximos ao relatados por Oliveira et al.(24), que obtiveram valores de EMA de 3.959 kcal/kg e de EMAn de 3.480 kcal/kg para o resíduo de biscoito e bolacha, em ensaio de metabolismo com frangos de corte na idade de 16 dias, quando utilizaram o resíduo em um nível de substituição de 30% na ração referência. Da mesma forma, Rostagno et al.(14) citam valores de EMA semelhantes (4.010 kcal/kg) para o resíduo de biscoito e de bolacha, para frangos de corte na fase de 16 a 24 dias de idade. Contudo, estudos realizados por Nunes et al.(13) com nível de 40% resíduo de biscoito em substituição da ração referência para frangos de corte apresentaram maiores valores para a EMA e EMAn de 4.480 kcal/kg e de 4.339 kcal/kg, respectivamente.

Os teores de proteína bruta do resíduo do biscoito tipo wafer foram de 9,37%, valores muito abaixo dos relatados por Shittu et al.(16), que, trabalhando com resíduo de biscoito, encontraram valores de 19,25% de PB. No entanto, os valores encontrados nesta pesquisa são semelhantes aos valores médios encontrados por Corassa et al.(11) e Nunes et al.(13), que, analisando o resíduo do biscoito, encontraram valores de 9,07% e 8,38% de PB, respectivamente.

O percentual encontrado de extrato etéreo foi de 17%, considerado superior aos obtidos por Tardocchi et al.(23) para o resíduo de biscoito e por Volpato et al.(7) para o biscoito doce, que relataram valores próximos aos 12%.

Pode-se inferir que há grande variabilidade na composição química do farelo de biscoito relatada na literatura, a qual ocorre devido ao fato de que o produto é formado por resíduos muitas vezes inconstantes, alterando a composição do material, além de que são poucos os trabalhos que descrevem o tipo de material utilizado.

Em relação à matéria orgânica e à matéria mineral do resíduo do biscoito tipo wafer, os percentuais encontrados foram 86,33% e de 1,12%, respectivamente. Valores próximos aos encontrados por Corassa et al.(11) para o resíduo do biscoito.

Os resultados encontrados para os coeficientes de metabolizabilidade da matéria seca (CMMS), da energia bruta (CMEB), da proteína bruta (CMPB) e do extrato etéreo (CMEE) do resíduo do biscoito, foram de 93,20, 92,85%, 47,16% e 93,01%, respectivamente.

Na tabela 4 estão descritos os valores de energia metabolizável aparente (EMA), energia metabolizável aparente corrigida (EMAn), e os coeficientes de metabolizabilidade da ração referência e da ração teste contendo 20% de resíduo do biscoito tipo wafer.

Não houve efeito significativo (P>0,05) para a energia metabolizável aparente e energia metabolizável aparente corrigida, e para os coeficientes de metabolizabilidade da matéria seca, energia bruta, extrato etéreo e proteína bruta. Esses resultados demonstraram que houve uma similaridade entre os tratamentos com 0% e 20% de inclusão do resíduo.

Os valores médios de EMA foram de 2.812,83 e 2.805,16 kcal/kg, e para EMAn foram de 2.754,23 e 2.795,89 kcal/kg, para os níveis de 0 e 20% de substituição do resíduo do biscoito tipo wafer, respectivamente. Segundo Nunes et al.(13), as diferenças nos valores de energia metabolizável podem ser utilizadas para avaliar os alimentos que contêm alta energia, quando o valor de EMA se apresenta acima de 2.500 kcal/kg, o que pode ser constatado na presente pesquisa.

Os resultados obtidos para o coeficiente de metabolizabilidade da matéria seca (CMMS) do resíduo do biscoito encontrados foram de 54,32% e 56,10%, para os níveis de 0 e 20% de inclusão do resíduo na dieta, respectivamente.

Para o coeficiente de metabolizabilidade da energia bruta (CMEB), foram obtidos altos valores, de 63,78 e 63,61%, para os níveis de 0 e 20% de inclusão do resíduo na dieta, respectivamente. Os valores médios para o coeficiente de metabolizabilidade do extrato etéreo (CMEE) do resíduo do biscoito foram de 59,71 e 54,21% para os níveis de 0 e 20% de inclusão do resíduo na dieta, respectivamente. A partir dos resultados obtidos de CMEB e CMEE, pode-se indicar que as codornas de corte aproveitaram com eficiência a energia contida nesse resíduo, sendo considerado um concentrado em energia, por causa de seu conteúdo de extrato etéreo obtidos dos ingredientes de sua fabricação, além dos altos valores de metabolização.

Os valores obtidos para o coeficiente de metabolizabilidade da proteína bruta (CMPB) do resíduo do biscoito encontrados foram de 53,36% e 51,13%, para os níveis de 0 e 20% de inclusão do resíduo na dieta, respectivamente.

Torna-se importante considerar que há uma grande divergência na literatura a respeito do valor nutricional desses alimentos, que pode ser alterado a depender do processo tecnológico pelo qual é submetido(25,26), pela variação existente entre solos e climas onde o grão de trigo foi cultivado, a espécie que o utiliza, condições ambientais, quantidade e qualidade do nutriente, proporção relativa a outros nutrientes, podendo trazer alterações em sua composição e digestibilidade, entre outros(27-29).

Experimento II

Os resultados referentes ao desempenho de codornas de corte alimentadas com diferentes níveis de inclusão de resíduo de biscoito tipo wafer são apresentados na tabela 5.

No período de um a 21 dias de idade não houve efeito (P>0,05) dos níveis de inclusão do resíduo de biscoito tipo wafer sobre o consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar das codornas.

No entanto, durante o período de 22 a 42 e de um a 42 dias de idade, observou-se a redução linear (P<0,05) do consumo de ração das aves de 0,8324 g e de 0,5414 g, respectivamente, à medida que aumentaram os níveis de inclusão do resíduo de biscoito tipo wafer, conforme as equações:

Ŷ = 216,06 - 0,8324x (R²=0,74) e Ŷ = 158,26 - 0,5414x (R²=0,67), respectivamente. Essa redução no consumo de ração pode estar relacionada a uma possível resposta comportamental, de forma que as aves selecionaram as partículas maiores, reduzindo a ingestão dos demais níveis, corroborando com os resultados encontrados por Adeyemo et al.(30), que, ao trabalharem com resíduo de biscoito na alimentação de frangos, notaram redução do consumo de ração à medida que os níveis de inclusão aumentavam, sem contudo, prejudicar a conversão alimentar. É importante ressaltar que, apesar da queda do consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar das codornas, não foram influenciados pelos níveis de inclusão do resíduo.

Os resultados referentes ao rendimento de carcaça, cortes e vísceras comestíveis de codornas aos 42 dias de idade são apresentados na tabela 6.

Os pesos absolutos e relativos de carcaça, peito, coração, fígado e moela não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de inclusão do resíduo do biscoito tipo wafer. De modo que os diferentes níveis de inclusão do resíduo de biscoito tipo wafer não comprometeram o rendimento de carcaça e de vísceras comestíveis das codornas. De forma semelhante, Shahryar et al.(31) constataram aumento dos níveis de glicose sanguínea de frangos de corte alimentados com 24% do resíduo de biscoito tipo wafer sem comprometimento do rendimento de carcaça, o que provavelmente foi atribuído ao fato do biscoito tipo wafer ter contribuído eficientemente no processo de gliconeogênese. Por outro lado, estudos realizados por Ayanrinde et al.(32) demonstraram redução no tamanho da moela de frangos de corte alimentados com níveis crescentes de resíduo de panificação, devido à diminuição do trabalho mecânico da moela.

Houve efeito quadrático (P<0,05) dos níveis de inclusão do resíduo de biscoito tipo wafer sobre o peso ao abate e peso absoluto de pernas, conforme as equações: Ŷ = 269,61- 3,2657x + 0,1543x2 (R2=0,72) e Ŷ = 43,187 - 0,5606x + 0,0362x2 (R²= 0,94), respectivamente. O peso relativo de pernas das aves aos 42 dias de idade aumentou linearmente 0,0752% a cada 1% de inclusão do resíduo de biscoito tipo wafer segundo a equação Ŷ = 22,132+0,0752x (R²=0,73). Esse efeito sobre o peso ao abate pode estar associado à escolha das aves, visto que esta foi feita a partir do peso médio da parcela.

Os resultados da análise de viabilidade econômica são apresentados na tabela 7. A viabilidade econômica foi inerente ao componente de produção e alimentação, tendo em vista que as variações nos custos de produção ocorreram em função das diferenças de consumo de ração entre os diferentes níveis que as aves foram submetidas.

O tratamento com inclusão de 20% do resíduo de biscoito apresentou PMV e CMR inferior ao nível de inclusão de 0%, demonstrando haver uma proporcionalidade entre o peso adquirido e a ração consumida. O menor custo de ração foi constatado para o tratamento com 20% de inclusão do resíduo, de forma que, à medida que se aumenta o nível de inclusão do resíduo, espera-se um decréscimo de R$ 0,04/kg de ração, representando o menor CMA.

A RBM foi superior para o tratamento com 0% de inclusão do resíduo, porém, quando se observa a margem bruta média, fica visível que o menor custo da ração obtido pelo tratamento com o nível de 20% de inclusão demonstrou maior retorno financeiro, quando descontados os custos iniciais, representando, desse modo, uma margem bruta relativa, de 16,56%.

A ração com 20% de inclusão do resíduo de biscoito tipo wafer demonstra ser mais rentável do que as demais, de forma que, quando comparada com a ração basal, possui uma rentabilidade de 42,74%. O resíduo de biscoito caracteriza-se como um produto capaz de diminuir a utilização do milho, como também a soja e o óleo adicionado às rações, figurando-se como ingrediente de baixo custo, corroborando com os resultados de Omoikhoje et al.(10), que concluíram haver maior rentabilidade econômica produtiva em frangas alimentadas com ração contendo o nível de 50% de inclusão de resíduo de biscoito, quando comparado aos níveis inferiores.


Conclusões

Recomenda-se a inclusão do resíduo do biscoito tipo wafer até o nível de 20% nas dietas para codornas destinadas à produção de carne, sem comprometer o desempenho produtivo, o rendimento de carcaça e a viabilidade econômica.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL).

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