VIABILIDADE ECONÔMICA DA
TERMINAÇÃO DE OVINOS EM CAPIM-TANZÂNIA COM
QUATRO NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO CONCENTRADA
Roberto
Cláudio
Fernandes Franco Pompeu1, Maria de Fátima Vidal2,
José
Neuman Miranda Neiva3, Magno José Duarte Cândido4,
Marcos
Cláudio Pinheiro Rogério5, Rodrigo Gregório da Silva6
1 Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Caprinos e Ovinos, Sobral, CE – rpompeu@cnpc.embrapa.br
2 Pesquisadora do Banco do Nordeste do Brasil/FUNDECI, Fortaleza, CE
3 Professor Doutor, Departamento de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, TO
4 Professor Doutor, Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE
5 Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Caprinos e Ovinos, Sobral, CE
6 Professor Doutor, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFCE, Campus Avançado do Tauá, Tauá, CE
Avaliou-se
a viabilidade econômica da terminação de ovinos em pastagem de
capim-tanzânia
sob lotação rotativa com quatro níveis de suplementação concentrada (0;
0,6;
1,2 e 1,8% PV), dois sistemas de separação do rebanho (cerca elétrica e
cerca
de tela) e três tamanhos de áreas (1,0; 3,0 e 5,0 ha). A análise foi
feita com
vistas a determinar as condições mínimas necessárias para tornar o
empreendimento viável. Foram avaliadas a receita líquida, a relação
benefício/custo, o valor presente líquido e a taxa interna de retorno,
adotando
uma taxa de juros de 8,75% ao ano. Foram estimados o custo total de
implantação
e manutenção para cada sistema, sendo orçados de acordo com os preços
no
mercado de Fortaleza/CE. Para o cálculo da receita total, foram
considerados preços
de venda entre R$ 2,60 e 3,20/kg PV. A exploração de 1,0 ha se mostrou
economicamente inviável para os dois tipos de sistemas testados. Para
ambos os
sistemas, observou-se que aqueles que utilizaram cerca de tela
apresentaram
maior custo em relação à cerca elétrica. Para os sistemas que
utilizaram
suplementação, os dados mostraram que só é viável suplementar os
animais quando
o preço pago pelo produto for superior a R$ 3,00/kg PV, em alguns casos
com
áreas superiores a 5 ha.
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PALAVRAS-CHAVE:
análise de rentabilidade; Panicum maximum;
sistema de produção; suplementação concentrada; taxa interna de retorno.
ECONOMIC
VIABILITY OF FINISHING SHEEP ON TANZANIA
PASTURE UNDER INTERMITTENT GRAZING WITH FOUR CONCENTRATE
SUPPLEMENTATION LEVELS
ABSTRACT
The economic viability of
finishing sheep on Tanzania grass under
intermittent grazing was evaluated with four concentrate
supplementation levels
(0; 0.6; 1.2 and 1.8% LW), two herd separation systems (electric and
net fence)
and three pasture sizes (1.0; 3.0 and 5.0 ha). The analysis was carried
out to
determine the minimal necessary conditions to have a viable business.
Net
income, benefit-cost ratio, net present value and internal rate of
return with
an interest of rate of 8.75% per year were verified. The total
implantation
cost and maintenance to each system was estimated according to
Fortaleza/CE
market. Sale price between R$ 2.60 to 3.20/kg LW was considered to
estimate
total budget. The pasture sized 1.0 ha was economically unviable for
both kinds
of system tested. The system with net fence was more expensive than the
one
with electric fence. For the systems with supplementation, data showed
viability only for a sale price above R$ 3.00/kg LW and, in some
cases, in
areas above 5.0 ha.
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INTRODUÇÃO
No
Brasil, particularmente na região Nordeste, a demanda por carne ovina
aumentou significativamente nos últimos anos, levando os produtores
rurais a
investir cada vez mais em tecnologias que possam melhorar a
produtividade e a
qualidade dos rebanhos para atender sua demanda interna, uma vez que
cerca de
50% da carne ovina consumida é importada do Uruguai, Argentina e Nova
Zelândia
(ALMEIDA JÚNIOR et al., 2004).
Os
sistemas de produção de carne no país caracterizam-se pela
dependência quase que exclusiva de pastagens, principalmente compostas
de
gramíneas tropicais. Isso resulta em menores custos de produção;
entretanto, a
utilização exclusiva de pastagens como alimento animal apresenta muitas
vezes
resultados inviáveis economicamente, devido à forma como essas
pastagens são
manejadas (EUCLIDES FILHO, 2004).
VIDAL
et al.(2006) e SILVA et al. (2007), trabalhando com produção
intensiva (adubação e irrigação) de ovinos sem padrão racial definido
(SPRD),
em pastagem de capim-tanzânia sob três períodos de descanso (17, 26 e
37 dias),
no Semi-árido Nordestino, observaram que, sob o ponto de vista
econômico,
biológico e ambiental, o período de descanso de 26 dias a partir de 5,0
ha
elevou a estabilidade do sistema e do retorno econômico. Vale salientar
que
apesar de o sistema ter suportado uma taxa de lotação de 8,0 UA/ha, não
houve
comprometimento da estrutura da pastagem.
Portanto,
para que os sistemas de produção da pecuária de corte sejam
competitivos, faz-se necessário manter taxas de ganho de peso razoáveis
durante
a estação seca, principalmente no Semi-árido Brasileiro, e para isso há
necessidade
de se utilizar algum tipo de suplemento alimentar para manter a mesma
carga
animal na área sem prejudicar a estrutura da pastagem e o desempenho
animal. O
uso da suplementação permite regular a oferta de alimento e aumentar o
rendimento animal, pois, à medida que se aumenta a quantidade de
suplemento,
menor é a contribuição da pastagem na alimentação do rebanho,
dependendo do
tipo de suplemento, aumentando a capacidade de suporte das pastagens
(EUCLIDES,
2000). Dessa forma, a duração e o tipo de suplemento a ser
empregado
dependerão da região, do custo e do sistema de produção (CARVALHO et
al.,
2010).
EUCLIDES et al. (1998), trabalhando
com desempenho de novilhos nos
cerrados com suplementação alimentar durante a primeira seca do ano, a
segunda
seca do ano, a primeira e a segunda seca do ano e suplementado na
primeira seca
e confinado na segunda seca, comparados aos animais não suplementados,
observaram que a suplementação durante o período seco reduziu a idade
de abate
de cinco a treze meses, demonstrando a viabilidade econômica dessa
prática de
manejo até mesmo quando combinada com o confinamento.
No
Semi-árido Brasileiro, são escassas as informações sobre a
viabilidade econômica de diferentes sistemas de produção na terminação
de
ovinos. Nesse contexto, objetivou-se com esta pesquisa verificar a
viabilidade
econômica de ovinos terminados em pastagem de capim-tanzânia sob
lotação
rotativa com quatro níveis de suplementação concentrada, dois sistemas
de
contenção do rebanho e três tamanhos de áreas.
O
município de Pentecoste está
localizado nas latitudes 3º40’ a 3º51’18”
sul e longitudes 39º10’19” e 39º18’13 oeste numa região cujo clima,
segundo a
classificação de Köeppen, é do tipo BSw’h’, semi-árido quente, com
precipitação
média anual de 806,5 mm, distribuída no período de janeiro a
abril. O solo
da área experimental é classificado como Neossolo flúvico (solos
aluviais)
(EMBRAPA, 1999) de textura argilosa. Os dados referentes às condições
de
temperaturas médias, máximas e mínimas, umidade relativa do ar média,
radiação
e insolação média do período experimental (setembro a dezembro de 2004)
foram
de 27,1°C, 65,5%, 27,3 MJ/m².dia e 9,3h, respectivamente.
Foram
utilizados 86 ovinos sem padrão
racial definido (SPRD), sendo oito
animais por tratamento, resultando num total de 32 animais de prova
adquiridos
em fazendas comerciais, com idades variadas, chegando até um
ano e meio
e com peso médio inicial de 24,14 kg, e identificados com brincos. A
escolha
desses animais foi realizada por meio de sorteio. Os demais ovinos
foram
sorteados e utilizados como animais de equilíbrio.
Foram
avaliados quatro níveis de
suplementação para ovinos pastejando Panicum
maximum cv. Tanzânia sob lotação rotativa. Os níveis de
suplementação
corresponderam a 0,0; 0,6; 1,2 e 1,8% do peso vivo (PV) dos ovinos por
dia,
considerando uma capacidade de consumo diária de matéria seca (MS) de
3,6% PV.
O dimensionamento dos piquetes foi efetuado de modo a garantir uma
oferta de
forragem de 7,2% PV (HODGSON, 1990), considerando uma taxa de
crescimento
cultural (TCC) de 140 kg MS/ha x dia, conforme preconizado por SILVA
(2004).
O
delineamento utilizado foi
inteiramente casualizado, com quatro níveis
de suplementação e oito repetições (ovinos), envolvendo 32 piquetes,
sendo oito
por tratamento.
O
método de pastejo adotado foi o de
lotação rotativa, com taxa de
lotação variável “put and take”, descrita por MOTT & LUCAS (1952),
citados
por FISHER (2000). A área total para cada tratamento, de 1.472 m², foi
dividida
com cerca do tipo tela campestre em oito piquetes, perfazendo um total
de 183,6
m² por piquete e totalizando 5.888,0 m2 de área experimental
(32 piquetes). O restante da área (aproximadamente 9.000 m²)
foi
utilizado como pasto de reserva, para acondicionamento dos animais de
equilíbrio. Cada piquete foi provido de comedouros, bebedouros e
sombrites de
8,0 m², com 25% de transmitância de luz. O período de descanso (21
dias)
correspondeu ao tempo necessário para a expansão de duas novas folhas
por
perfilho, conforme estimado por Silva (2004) e o período de pastejo foi
de três
dias. Os ovinos extras foram utilizados, quando necessário, para
garantir o
rebaixamento da vegetação para uma altura residual de 28,0 cm,
correspondente a
um índice de área foliar de 1,0 (SILVA, 2004), ao final do terceiro dia
de
pastejo.
Durante
o período de descanso,
avaliaram-se as
características morfofisiológicas do capim-tanzânia. A pesagem dos
animais foi
realizada a cada 12 dias. Os animais de prova de cada tratamento foram
conduzidos ao centro de manejo na passagem do último dia de pastejo do
quarto
piquete para o primeiro dia de pastejo do quinto piquete e na passagem
do
último dia de pastejo do último piquete de um ciclo para o primeiro dia
de
pastejo do primeiro piquete do ciclo seguinte.
Para
a análise econômica foi
considerada a terminação de ovinos machos
castrados com peso vivo inicial de 20 kg e com o ganho médio diário
(GMD), taxa
de lotação (TLO) e rendimento de peso vivo (RPV) estimados pela equação
de
regressão para cada tratamento. A estimativa do GMD, da TLO e do RPV de
cada
tratamento foi de 76,7 g/ovino x dia, 69,0 ovinos/ha e
1907 kg PV/ha x ano (animais não suplementados);
101,8
g/ovino x dia, 68,0 ovinos/ha e 2483 kg PV/ha x ano
(animais suplementados ao nível de 0,6% PV); 117,6 g/ovino x dia,
71,0
ovinos/ha e 3058 kg PV/ha x ano (animais suplementados
ao nível
de 1,2% PV); e, 124,0 g/ovino x dia, 77,0 ovinos/ha e
3633 kg PV/ha x ano (animais suplementados ao nível
de 1,8%
PV) (POMPEU et al., 2009). A análise foi feita com base nos valores
referentes
a 1,0; 3,0 e 5,0 ha, com vistas a determinar o nível de produção mínimo
para
tornar o empreendimento viável. O horizonte da análise foi de 10 anos,
período
de depreciação do sistema de irrigação. Para cada tratamento, foram
comparados
os custos da utilização de cerca elétrica e de tela.
A
receita bruta (RB) foi calculada
pelo produto resultante da produção
em kg PV pelos diferentes preços por kg PV e pelos três tamanhos
de áreas
estudados. A receita líquida (RL) foi obtida pela diferença entre a
receita
bruta (RB) e as despesas ou gastos despendidos pelo sistema durante o
processo
produtivo.
Foi
utilizada como medida de
eficiência a relação benefício/custo (B/C),
que expressa o desempenho global de todos os fatores de produção.
B/C = ƩRi0/Ʃ(Ci0
+ I)
Em que:
R = receita no
ano 0 até o ano i;
Ci = custos no
ano 0 até o ano i;
I =
investimento.
Em que:
j = taxa de
desconto;
Bi e Ci = fluxos
de benefício e custo no período.
Para
cada tratamento, foi calculada a taxa interna de retorno (TIR), que
é o percentual de retorno obtido sobre o saldo investido e ainda não
recuperado
em um projeto de investimento, ou seja, é o percentual que expressa a
rentabilidade (retorno) anual média do capital alocado no projeto,
durante todo
o horizonte de análise do projeto. Matematicamente, a TIR é a taxa de
juros que
torna o valor presente das entradas de caixa igual ao valor presente
das saídas
de caixa do projeto de investimento, ou seja, é aquela taxa de juros
que torna
o valor presente líquido igual a zero.
Em que:
j = taxa de
desconto;
Bi e Ci = fluxos
de benefício e custo no período.
A
Taxa Interna de Retorno de um
investimento pode ser:
·
maior
do que a Taxa Mínima de Atratividade:
significa que o investimento é economicamente atrativo;
·
igual
à Taxa Mínima de Atratividade: o
investimento está economicamente numa situação de indiferença;
·
menor
do que a Taxa Mínima de Atratividade: o
investimento não é economicamente atrativo, pois, seu retorno é
superado pelo
retorno de um investimento sem risco.
Entre
vários investimentos, o melhor
será aquele que tiver a maior TIR.
Para
o cálculo da depreciação,
utilizou-se o método linear ou das cotas
fixas, que proporciona depreciação constante, cujo valor é determinado
através
da seguinte fórmula:
d
= (vi –
vf)/n
Onde,
d = depreciação;
vi = valor
inicial;
vf = valor
final, que corresponde ao valor do bem de capital após sua vida útil;
n = número de
anos de duração do capital (vida útil).
Para
o cálculo dos indicadores foi
utilizada uma taxa de juros de 8,75%,
baseada no valor dos encargos a financiamentos a pequenos e médios
produtores
praticados no mercado. É também uma taxa de juros compatível com o
rendimento
médio da caderneta de poupança.
Foi
estimado o custo total de
implantação (preparo do solo, controle
inicial das invasoras, plantio, tratos culturais, cercas, sementes,
aquisição e
montagem do sistema de irrigação etc) e manutenção (energia, compra de
animais
– R$ 2,60/kg PV, mão-de-obra, tratamento sanitário, irrigação, ração
concentrada etc) para cada tratamento. O período considerado para a
implantação
do sistema (primeiro ano) foi de seis meses, sendo o restante dos meses
utilizados para a produção. Todos os custos foram orçados de acordo com
os
preços no mercado de Fortaleza, CE, para os três tamanhos de áreas
avaliadas.
Os custos com adubação de manutenção (exclusivamente nitrogenada) foram
equivalentes à aplicação de 600 kg/ha x ano.
O
custo do consumo de energia elétrica
foi calculado pela média
ponderada para os consumidores do Subgrupo A4, no qual se incluem os
rurais,
com descontos especiais para irrigantes (90% para a Região Nordeste),
nos
horários entre 23 e 5 h, conforme a Portaria n° 105 de 03 de abril de
1992 do
DNAEE (PINHEIRO et al., 2002, citados por CUTRIM JÚNIOR & CAMPOS,
2010).
Dessa forma, o custo calculado foi de R$ 0,05/kWh.
Em
relação ao gasto com mão-de-obra,
foi considerada a manutenção de um
funcionário em regime permanente para manejar um rebanho composto por
300
animais (realização das operações de transferência dos animais nos
piquetes,
aplicação de adubos, limpeza das instalações, manutenção do sistema de
irrigação) e a remuneração da mão-de-obra foi correspondente ao salário
mínimo
(R$ 300,00) vigente em 2005.
O
centro de manejo foi dimensionado
para permitir 1,0 m2 de área coberta por
animal além de um pequeno
curral de manejo que dispusesse de 0,75 m2 por animal.
Para
o cálculo da receita total, foram
considerados preços de venda de
R$ 2,60; 2,80; 3,00 e 3,20 o quilo de peso vivo. A TIR foi determinada
apenas
para os tratamentos que apresentaram receita líquida positiva. A
avaliação dos
dados foi realizada por meio de análises descritivas.
A estimativa de custos de implantação para todos os tratamentos encontra-se nas Tabelas 1 e 2, onde se pode observar que os sistemas que utilizam cerca elétrica apresentaram menor custo de implantação que o sistema que utiliza cerca de tela. Pode-se observar ainda que o custo percentual da cerca torna-se relativamente menos oneroso com o aumento da área, o que evidencia a ineficiência da utilização desse fator de produção na exploração de apenas um hectare. Resultados semelhantes foram relatados por VIDAL et al. (2006) ao compararem dois sistemas de produção de terminação de ovinos em pastagens irrigadas no Semi-árido Brasileiro durante a estação seca. Os itens que mais oneraram os custos de implantação foram a compra de animais e o centro de manejo (sombrites, bebedouros e saleiros), item que inclui tratamento sanitário, mão-de-obra e cochos com média de 44,42% nos tratamentos com a utilização de cerca elétrica, e de 39,34% para os tratamentos com a utilização com cerca de tela. Os custos com a irrigação foi o segundo item que mais onerou a estrutura de implantação do sistema, correspondendo em média a 36,85% para sistema com cerca elétrica e a 32,60% para sistema com cerca de tela.
Quanto ao custo total de manutenção (Tabelas 3 e 4), os custos com a aquisição de animais foi o que mais onerou a atividade, ficando acima de 44%, em todos os tratamentos para 1 ha, chegando a 61,90% no tratamento 1,2% PV, cerca elétrica e área de 5 ha. Pode-se observar ainda que o custo percentual desse item torna-se mais oneroso com a elevação do nível de suplementação em virtude do aumento da taxa de lotação, o que pode ser compensado pelo maior número de animais vendidos, aumentando as receitas. Os custos com a ração concentrada representaram não mais do que 22,63% dos custos totais de manutenção do sistema simulado com maior nível de suplementação (1,8% PV). O sistema que utiliza cerca elétrica apresenta maior custo com limpeza em função da necessidade de retirada de plantas do pé da cerca visando evitar perda de corrente elétrica; no entanto, o sistema de cerca de tela apresenta maior custo com a depreciação, de forma que não se observa diferença significativa no custo de manutenção entre os sistemas.
A exploração de 1,0 ha
mostrou-se economicamente inviável
para qualquer nível de suplementação e tipo de cerca (Tabelas 5, 6, 7 8, 9, 10, 11 e12), onde
pode ser observado que os custos totais foram maiores que as receitas
totais
auferidas, devendo-se ao fato de que os custos fixos foram mais
elevados frente
ao nível de produção obtido. À medida que se eleva o preço do produto,
viabiliza-se a exploração de áreas a partir de 3,0 ha.
Observou-se
que o preço médio de venda variando entre R$
2,60 e 2,80/kg PV não foi suficiente para cobrir os custos de produção
de
nenhum tratamento estudado, a taxa interna de retorno (TIR) foi
inferior à taxa
de juros de oportunidade do capital (8,75%) para todos os tratamentos
avaliados
(Tabelas 5, 6, 7 8, 9, 10, 11 e12). Segundo CANZIANI
(2005), quando o empreendimento apresenta
margem líquida e bruta negativas, os custos não estão sendo cobertos
pela
receita gerada e se a situação for mantida assim, em médio ou longo
prazo será
levada à descapitalização progressiva, com inviabilidade da atividade.
O
sistema de produção sem suplementação apresentou
viabilidade econômica com o preço de venda a partir de R$ 3,00/kg PV (Tabela
5). No entanto, com uma área de pastagem de 3,0 ha, o
empreendimento só obteve
retorno econômico com um preço de venda de R$ 3,20/kg PV. Para a
exploração de até 3,0 ha ao preço de R$ 3,00/kg PV, o valor da taxa
interna de
retorno (TIR) é inferior ao da taxa de juros de oportunidade do capital
(8,75%). Considerando a exploração de 5,0 ha com cerca elétrica e preço
de
venda de R$ 3,00/kg PV, para uma taxa de juros de 8,75% o
valor
presente líquido (VPL) foi superior a zero (Tabela
5); portanto, esse
sistema de produção permite um retorno superior ao custo de
oportunidade do
capital, ou seja, os benefícios satisfazem os custos de oportunidade de
sujeitá-los à outras alternativas de aplicação financeira. Ainda nesse
sistema
de produção, a TIR mostrou-se maior (13%) do que a taxa de juros de
oportunidade do capital, tornando o investimento nessa atividade
economicamente
viável. A relação benefício/custo (B/C) desse sistema de produção
demonstrou
que o valor presente dos benefícios é praticamente igual aos custos.
Considerando uma taxa de juros de 8,75% para cada unidade monetária de
custo, o
empreendimento gera apenas 1,022 de receita. Já com um preço de venda
de
R$ 3,20/kg PV, observou-se uma B/C de 1,090.
Para
o sistema que
utilizou cerca de tela, somente foi
verificada viabilidade econômica a partir dos preços de venda de
R$ 3,20/kg PV, para as áreas superiores a 5,0 ha, com B/C>1,0;
VPL>0
e RL positiva (Tabela 6).
Quanto
ao sistema de
produção com suplementação ao nível
de 0,6% PV e cerca elétrica, observou-se que à medida que se elevou o
preço do
produto, viabilizou-se a exploração de áreas a partir de 3,0 ha
(Tabela
7).
Quando
foi simulado o
preço de venda variando entre
R$ 2,60 e 2,80/kg PV, a taxa interna de retorno (TIR) foi inferior
à taxa
de juros de oportunidade do capital (8,75%) para todos os tamanhos de
pastagem
e tipos de contenção avaliados. Com uma área de pastagem de 5,0 ha, o
sistema
só obteve retorno econômico com um preço de venda de
R$ 3,00/kg PV.
Para a exploração de até 3,0 ha ao preço de R$ 3,00, o valor da TIR
(3,0%) foi
inferior ao da taxa de juros de oportunidade do capital. Considerando a
exploração de 5,0 ha com cerca elétrica e preço de venda de R$ 3,00/kg
PV, para
uma taxa de juros de 8,75%, o valor presente líquido (VPL) foi superior
a zero
(Tabela
7); portanto, esse empreendimento permite um retorno suficiente
para
compensar os custos de oportunidade de submetê-lo à outras
possibilidades de
investimento. Ademais, a TIR mostrou-se maior (13%) do que a taxa de
juros de oportunidade
do capital, tornando o investimento nessa atividade rentável. A relação
benefício/custo (B/C) desse sistema de produção mostrou que o valor
presente
dos benefícios é praticamente igual aos custos, ou seja, para cada real
aplicado no empreendimento, há acréscimo de apenas R$ 1,020 na receita.
Já com
um preço de venda de R$ 3,20/kg PV, observou-se uma B/C de 1,088.
Para o sistema de produção com cerca de tela, somente foi verificada viabilidade econômica a partir dos preços de R$ 3,20/kg PV, para as áreas de 3,0 e 5,0 ha, respectivamente (Tabela 8). O item que mais onerou a estrutura de custo de implantação foi a compra com o manejo dos animais cuja participação no custo total para exploração com cerca elétrica para 1,0; 3,0 e 5,0 ha foi de 44,87, 43,06 e 43,46%, respectivamente (Tabela 1). Quanto ao sistema de cerca de tela, os custos com a compra e com o manejo dos animais foram de 40,44, 37,81 e 37,96% para os sistemas de produção com 1,0; 3,0 e 5,0 ha, respectivamente. Os custos com a implantação do sistema de irrigação não apresentou mais que 40% para ambos os sistemas simulados. Quanto ao custo total de manutenção, os custos com a aquisição de animais (acima de 45%) foram o que mais oneraram a atividade, enquanto que os custos com a ração concentrada representaram não mais do que 10% dos custos totais de manutenção dos sistemas simulados (Tabela 3).
Para o sistema com cerca de tela, de 3 ha com os animais suplementados ao nível de 0,6% PV, observou-se viabilidade somente com o preço de venda do produto acima de R$ 3,20/kg PV. Já para área de 5,0 ha, o sistema apresentou viável com o preço de venda a partir de R$ 3,20/ kg PV, com B/C>1,0; VPL>0 e RL positiva (Tabela 8).
O
sistema com o nível de suplementação de 1,2% PV
apresentou melhores resultados em relação ao status fisiológico do
animal, o
qual foi promovido pela melhoria na digestibilidade da fibra,
aumentando a taxa
de passagem ruminal (FARIA & HUBER, 1984) e, consequentemente,
maior
consumo da forragem, caracterizando efeito aditivo; nesse nível de
suplementação, a sincronização entre os níveis de proteína e de energia
no
rúmen propiciou condições adequadas para a fermentação microbiana,
promovendo
melhores condições de digestão e de aproveitamento do alimento.
Ademais,
observou-se que à medida que se elevou o preço do produto,
viabilizou-se o
empreendimento de áreas a partir de 3,0 ha (Tabelas 9 e 10).
Com uma área de pastagem de 5,0 ha dotada com cerca elétrica, o sistema só obteve retorno econômico com um preço de venda acima de R$ 3,00/kg PV. Considerando a exploração do mesmo sistema, mas com preço de venda de R$ 3,20/kg PV, para uma taxa de juros de 8,75% o valor presente líquido (VPL) foi superior a zero (Tabela 9); portanto, esse sistema de produção possibilita um lucro superior ao custo de oportunidade do capital, ou seja, as vantagens desse empreendimento foram suficientes para pagar os custos de oportunidade de sujeitá-lo à outras alternativas de investimento. Além disso, a TIR mostrou-se maior (24%) do que a taxa de juros de oportunidade do capital, tornando o investimento economicamente viável. A relação benefício/custo (B/C) desse sistema de produção mostrou que o valor presente dos benefícios é superior aos dos custos, ou seja, para cada real aplicado no empreendimento, há acréscimo de R$ 1,071 na receita.
Para o sistema de
produção com cerca de tela, somente foi
verificada viabilidade econômica com preços de venda a partir
R$ 3,20/kg
PV, para as áreas de 3,0 e 5,0 ha, com TIR de 10 e 18%, respectivamente
(Tabela 10). Para ambos os sistemas, observou-se que aqueles que
utilizaram cerca de tela apresentaram maiores custos de implantação e
de
manutenção em relação à cerca elétrica (Tabelas 2 e 4). Para ambos os sistemas,
o item que mais onerou a estrutura de custo de implantação foi a compra
e o
manejo dos animais, cuja participação no custo total para exploração
com cerca
elétrica foi de 45,44; 43,80 e 44,24% e com cerca de tela de 40,99;
38,52 e
38,71% para 1,0; 3,0 e 5,0 ha, respectivamente. Quanto ao custo total
de
manutenção, os custos com a aquisição de animais representaram cerca de
49,31;
58,15 e 60,32%, para o sistema de cerca elétrica, enquanto que para o
sistema
com cerca de tela esse item representou 48,71; 57,33 e 59,44% dos
custos,
considerando as áreas de 1,0; 3,0 e 5,0 ha, respectivamente. Os custos
com a
ração concentrada foi o terceiro item que mais onerou a atividade,
representando não mais do que 17% dos custos totais de manutenção dos
sistemas
simulados (Tabela 4).
Para
o sistema de
produção com suplementação ao nível de
1,8% PV, observou-se que à medida que se elevou o preço do produto,
viabilizou-se a exploração de áreas a partir de 3,0 ha (Tabelas 11 e
12).
Quando foi simulado o preço de venda variando entre R$ 2,60 e
3,00/kg PV,
a taxa interna de retorno (TIR) foi inferior à taxa de juros de
oportunidade do
capital para todos os tamanhos de pastagens e tipos de contenção
avaliados. Com
uma área de pastagem de 5,0 ha, o sistema só obteve retorno econômico
com um
preço de venda de R$ 3,20/kg PV para os dois tipos de
contenção. Vale
ressaltar que a suplementação com 1,8% PV proporcionou maior ganho por
área,
sugerindo um efeito substitutivo, devido à maior proporção de
concentrado na
dieta total e com alta densidade energética, o que favoreceu o
desenvolvimento
da microbiota ruminal amilolítica. Esse possível aumento dos
microrganismos
amilolíticos acarreta redução do pH ruminal, inibindo a atividade da
microbiota
celulolítica, bastante sensível à queda do pH, acarretando decréscimos
no
consumo de forragem (FERRELL, 1988; VAN SOEST, 1994) e aumentando a
taxa de
lotação pelo efeito substitutivo.
Com
a exploração de até
3,0 ha com a suplementação de 1,8%
PV, cerca elétrica e preço de R$ 3,20/kg PV, o valor da TIR
(9%) foi
superior ao da taxa de juros de oportunidade do capital. No entanto,
considerando a exploração de 5,0 ha com cerca elétrica e preço de venda
de
R$ 3,00/kg PV, para uma taxa de juros de 8,75%, o valor presente
líquido
(VPL) foi inferior a zero (Tabela 11);
portanto, esse
empreendimento não
permitiu um retorno em relação ao custo de oportunidade do capital, ou
seja, os
benefícios não foram suficientes para compensar os custos de
oportunidade de
sacrificar outras alternativas de investimento. Ainda nesse sistema de
produção, a TIR mostrou-se menor (1%) à taxa de juros de oportunidade
do
capital, tornando o investimento economicamente inviável. A relação
benefício/custo (B/C) desse sistema de produção mostrou que o valor
presente dos
benefícios é inferior aos dos custos, ou seja, para cada real aplicado
no
empreendimento, há decréscimo de R$ 0,029 na receita. Somente com
um preço
de venda a partir de R$ 3,20/kg PV o sistema mostrou
rentabilidade, com
uma B/C de apenas 1,036, VPL superior a zero e TIR (17%) superior à
taxa de
juros de oportunidade do capital.
Para
o sistema de
produção com cerca de tela (Tabela 12),
só foi verificada viabilidade econômica com preço de venda mais elevado
(R$ 3,20/kg PV), com B/C>1,0; VPL>0 e RL positiva.
Para
ambos os sistemas de
produção, observou-se que
aqueles que utilizaram cerca de tela apresentaram maiores custos de
implantação
e de manutenção em relação à cerca elétrica (Tabelas 2 e 4). Ainda para
ambos
os sistemas, os itens que mais oneraram a estrutura do custo de
implantação
foram a compra e manejo dos animais, seguido pela irrigação. Apesar de
esse
nível de suplementação ter apresentado elevada taxa de lotação (77
ovinos/ha) e
rendimento de peso vivo por área (3633 kg PV/ha x ano), os
custos de
produção até o preço de venda de R$ 3,00/kg PV foram elevados frente ao
nível
de produção, por ter se trabalhado com animais de baixo potencial de
produção
(SPRD), castrados e com elevada idade (entre 1 ano e 1 ano e meio). À
medida
que a idade aumenta, os rendimentos são cada vez mais decrescentes,
apesar de
ainda existir ganho de peso, pois nesta fase, o animal demanda maiores
consumos
de matéria seca com a conversão alimentar cada vez pior, exigindo mais
alimentos para produzir cada vez menos peso vivo, levando ao baixo
ganho de
peso e refletindo adversamente nos índices econômicos estudados.
Para os
sistemas que utilizaram suplementação, os dados mostraram que só é
viável
suplementar os animais quando o preço pago pelo produto for superior a
R$
3,00/kg PV, em alguns casos com áreas superiores a 5 ha (sistema com
cerca de
tela). Somente a partir desse valor o ganho adicional proporcionado
pela
suplementação será suficiente para cobrir os custos com os insumos.
Para os níveis
de preço entre R$ 3,00 e 3,20/kg PV, a suplementação superior a
0,6% PV
reduz gradativamente a receita líquida e piora todos os indicadores
econômicos.
Destaca-se
que
os resultados dessa pesquisa foram obtidos a partir dos dados oriundos
da
estação seca do ano, devendo-se, portanto, serem realizadas avaliações
durante
a estação chuvosa. Além disso, nessa pesquisa foram utilizados animais
SPRD,
com elevada idade e castrados, levando ao baixo desempenho produtivo,
que
aliado à elevada ocorrência de parasitas gastrintestinais, repercutiu
adversamente na rentabilidade do sistema.
Nesse
contexto, devem ser utilizados ovinos mais jovens e em pleno
crescimento,
proporcionando elevado ganho de peso e maiores rendimentos por área,
maior
rotatividade do sistema, e consequentemente, maior número de lotes
terminados
por ano, diminuindo riscos e refletindo em melhores índices econômicos.
Portanto,
ficou demonstrado que a intensificação dos sistemas de produção de
carne ovina
em pastagens no Semi-árido Brasileiro, tendo em vista a utilização do
método de
lotação rotativa, adubação, irrigação e suplementação alimentar durante
a
estação seca, trouxe benefícios com melhores índices de produtividade
dos
rebanhos, com possibilidades de ampliar e diversificar a oferta de
carne para a
demanda interna e fortalecer ainda mais a competitividade existente
entre os
exportadores de carne no mercado internacional.
Produção
de ovinos em áreas irrigadas de 1 ha são inviáveis, tornando-se viável
para
áreas com mais de 3 ha e preço de venda acima de R$ 3,20/kg PV ou
acima de
R$ 3,00/kg PV para 5,0 ha.
O uso
de cerca elétrica é mais viável economicamente que a cerca de tela em
qualquer
nível de suplementação ou tamanho da área.
Para
que haja viabilidade econômica utilizando o sistema testado, há
necessidade de
utilização de animais de ótimo potencial de ganho para aumentar a
rotatividade
do sistema e gerar maior lucratividade.
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