DOI: 10.5216/cab.v13i1.5547

PRODUÇÃO ANIMAL 

 

 

 

 

 

 

 

 

SIMBIÓTICO E EXTRATOS NATURAIS NA DIETA DE CODORNAS JAPONESAS NA FASE DE POSTURA

 

Janaina Della Torre da Silva1*, Alexandra da Silva Matos1, Fabricio Hirota Hada1, Rodrigo Antonio Gravena1, Rafael Henrique Marques1, Vera Maria Barbosa Moraes1

 

1Departamento de Zootecnia – FCAV/UNESP Jaboticabal – SP – Brasil
e-mail: janainadts@yahoo.com.br


RESUMO

Objetivou-se avaliar o desempenho, tempo de permanência em imobilidade tônica (TIT), intensidade de ferimentos (IF) e relação heterófilo:linfócito (H:L) de codornas japonesas alimentadas com ração contendo simbiótico e extrato vegetal (Aloe vera e confrei). Noventa codornas em postura foram distribuídas em delineamento em blocos ao acaso e submetidas a três tratamentos (0 – controle; 250 e 750 mg de simbiótico e extrato vegetal/kg de ração), com cinco repetições e seis aves por parcela. Avaliou-se o consumo de ração, conversão alimentar (consumo/dúzia e kg de ovos), produção e peso dos ovos, viabilidade, TIT, IF e H:L. Os resultados obtidos mostraram que a adição do produto na dieta não influenciou o desempenho, porém, diminuiu o TIT, a IF e a H:L das aves que receberam a maior dosagem do produto na dieta. Dessa forma, pode-se concluir que o uso de simbiótico e extrato vegetal na dieta foi promissor quanto aos parâmetros comportamentais e fisiológicos, tornando os animais mais calmos, principalmente para a dosagem de 750 mg do produto/kg de ração.

 
PALAVRAS-CHAVE: Aloe vera; Coturnix coturnix japônica; prebiótico; probiótico; Symphytum officinale L.

 
SYMBIOTIC AND NATURAL EXTRACTS IN DIETS FOR JAPANESE QUAILS AT LAYING PERIOD

 


ABSTRACT

The objective of this study was to assess the performance, tonic immobility time (TIT), intensity of injuries (II) and heterophil to lymphocyte ratio (H:L) by the addition of the symbiotic and plant extract (Aloe vera and Symphytum officinale) to the diet of Japanese quails. Ninety quails were used, distributed in randomized blocks with 3 treatments (0 – control; 250 and 750 mg symbiotic and plant extract/kg of diet), five repetitions and six birds per cage. Feed intake, feed conversion, production and weight of eggs, viability, TIT, II and H:L were evaluated. Results showed that the addition of the product to the diet did not affect the performance, however, it decreased the TIT, II and the H:L of quails which received the highest level of the product in the diet. Thus, the use of symbiotic and plant extract in the diet has been promising regarding the behavioral and physiological parameters, decreasing the stress of the animals, mainly for the level of 750 mg/kg diet.

 
KEYWORDS: Aloe vera; Coturnix coturnix japonica; prebiotic; probiotic, Symphytum officinale L.

 

INTRODUÇÃO

 A criação de codornas para a produção de ovos vem crescendo a cada ano no Brasil. Esse crescimento se deve primeiro ao baixo investimento inicial e pelo rápido retorno de capital que essa exploração propicia por se tratar de ave de crescimento rápido, de boa conversão alimentar e que atinge a maturidade sexual precocemente (Murakami & Ariki, 1998). No entanto, trata-se de animais facilmente estressáveis, sendo esse o fator responsável pelo surgimento de comportamentos indesejáveis tais como a bicagem das penas, desvio social e depressão, que afetam o bem-estar das aves e sua produtividade (Mills & Faure, 1990; JONES, 1996).

Assim como outras aves, codornas apresentam comportamento peculiar quando ameaçadas, conhecido como estado de imobilidade tônica, que se manifestada quando as aves são expostas a situações adversas, principalmente aquelas que geram medo ou estresse (JONES et al., 1988). A partir desse comportamento e da intensidade de ferimentos na cabeça e no corpo das aves, torna-se possível avaliar o estresse nessa espécie por meio da indução da imobilidade tônica, pelo tempo de permanência das aves nesse estado e observação e quantificação dos ferimentos.

Outro modo de se verificar o estresse em aves é pela relação entre heterófilos e linfócitos, que indica o estresse crônico (Elrom, 2000), sendo a medida mais confiável para se dosar o nível de estresse em frangos de corte (Gross & Siegel, 1983).

Estudos com fitoterápicos de caráter ansiolítico e sedativo como a passiflora, valeriana e camomila têm sido realizados com o intuito de se diminuir o estresse em codornas e, dessa forma, melhorar o desempenho e o bem-estar dessas aves (Gravena et al., 2010; Marques et al., 2010; Silva et al., 2010a).

Outra forma de se controlar o estresse em aves seria por meio da suplementação de triptofano na dieta. O triptofano é um aminoácido precursor do neurotransmissor serotonina, substância sedativa e calmante, capaz de diminuir o estresse e proporcionar bem-estar. Nesse contexto, Guandolini et al. (2005) e Rizzo et al. (2008) suplementaram dietas de codornas com diferentes níveis de triptofano, porém, não verificaram efeito no desempenho, no tempo de permanência em imobilidade tônica e na intensidade dos ferimentos.

Atualmente, tem-se pesquisado novos aditivos e ingredientes que promovam a integridade, o desenvolvimento e o bom funcionamento da mucosa intestinal, já que esta é responsável pela digestão e absorção dos nutrientes, tem importante papel de defesa do sistema imune (Silva et al., 2010b) e ainda sintetiza cerca de 80 a 90% de toda a serotonina necessária para o bom funcionamento do organismo. Os prebióticos e probióticos se enquadram nessas características, pois auxiliam na manutenção, equilíbrio e integridade da mucosa intestinal, promovendo o crescimento da flora microbiana benéfica e protegendo o organismo da microbiota patogênica.

O simbiótico e o extrato vegetal constituído de babosa (Aloe vera) e confrei (Symphytum officinale) poderiam ser alternativas para melhorar o desempenho de codornas e amenizar o estresse que acomete essas aves justamente por melhorar a flora intestinal e, com isso, aumentar a síntese de serotonina pelo intestino, proporcionando sensação de calma e bem-estar às codornas.

Tanto a babosa quanto o confrei possuem propriedades antiinflamatória, cicatrizante, antimicrobiana e bactericida (Lorenzi & Matos, 2006). Nesse contexto, a adição do simbiótico e do extrato vegetal poderia melhorar o desempenho, bem como diminuir o comportamento nervoso/agitado e a incidência de ferimentos em codornas de postura.

Dessa forma, objetivou-se avaliar o efeito de diferentes níveis de inclusão de simbiótico e extratos vegetais na alimentação de codornas na fase de postura sobre o desempenho, o tempo em imobilidade tônica, a intensidade de ferimentos e a relação heterófilo:linfócito.

 MATERIAL E MÉTODOS

 O experimento foi realizado no setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Campus de Jaboticabal – Unesp.

Noventa codornas em postura (42 dias de idade) foram pesadas e alojadas em gaiolas medindo 32 x 36 x 16 cm, nas quais permaneceram por uma semana para adaptação. As gaiolas de postura foram dispostas em degraus que ficavam a 70 cm do piso do galpão. Os bebedouros utilizados eram do tipo nipple e a ração era fornecida em comedouro contínuo de chapa galvanizada.

As codornas foram distribuídas em blocos ao acaso, para controle do peso no início do experimento, submetidas a três tratamentos (0 – controle, 250 e 750 mg de simbiótico e extratos vegetais/kg de ração), com cinco repetições e seis codornas em cada parcela. Adotou-se essa densidade por gaiola pelo fato de as aves não serem debicadas. Tendo-se a preocupação em deixar sempre constante a densidade populacional no experimento, outras 12 codornas foram distribuídas igualmente em duas gaiolas por tratamento, as quais receberam as mesmas rações experimentais, para substituição das aves no caso de eventuais mortes.

O simbiótico é constituído de prebiótico (mananoligossacarídeo – MOS) e probiótico (Poliprobiótico: Saccharomyces cerevisiae; Lactobacillus acidophilus; L. sp; Bacillus subtilis; Bifidobacterium bifidum; Enterococcus faecium) e o extrato vegetal de babosa, confrei, antioxidante, palatabilizante e veículo.

As rações fornecidas foram isoprotéicas (18% PB) e isoenergéticas (2800 kcal EM/kg). Para o balanceamento da ração foram utilizadas as tabelas de composição de ingredientes propostas por Rostagno et al. (2005), estando as exigências nutricionais de acordo com o proposto por Murakami et al. (1993). O programa de luz adotado foi o de 17 horas de luz por dia.

A produção de ovos foi registrada diariamente, iniciando-se depois de um período de 12 dias nos quais as aves se adaptaram às rações experimentais. A partir dessa data, a cada 14 dias estabeleceu-se um novo ciclo de produção até se completarem seis ciclos.

Ao término de cada ciclo foi realizada a pesagem da sobra de ração e dos ovos de cada repetição, sendo a pesagem dos ovos realizada nos três últimos dias de cada ciclo. Dessa forma, foi possível avaliar o consumo de ração, a conversão alimentar (consumo de ração/dúzia de ovos e consumo de ração/massa de ovos), a produção de ovos e a viabilidade.

O tempo em imobilidade tônica (TIT) e a intensidade dos ferimentos na cabeça e no corpo foram avaliados no final de cada ciclo de produção, totalizando seis avaliações.

Para a avaliação do TIT, todas as aves de uma mesma gaiola foram colocadas em uma caixa e uma codorna por vez era virada abruptamente e colocada em decúbito dorsal em uma mesa. Antes de tirar a mão da ave, era feita uma leve pressão, de aproximadamente três segundos sobre o animal. Depois desse procedimento, iniciou-se a contagem do tempo em que permaneceram em imobilidade com o auxílio de um cronômetro digital. Para ser considerado estado de imobilidade tônica, a ave deveria permanecer imóvel por no mínimo dez segundos (Jones & Faure, 1981).

A intensidade de ferimentos foi avaliada nos mesmos dias em que se realizou o teste de imobilidade tônica, seguindo-se a metodologia descrita por Savory et al. (1999). Para essa avaliação, observaram-se os ferimentos na cabeça, dorso, cauda e asas, sendo esses três últimos considerados como corpo. As avaliações foram feitas por escores da seguinte forma:

- escore 0: sem lesão;

- escore 1: lesão leve (área afetada apresentando algumas penas e sem ferimentos);

- escore 2: lesão moderada I (área totalmente sem penas e sem ferimentos);

- escore 3: lesão moderada II (área com poucos ferimentos);

- escore 4: lesão intensa (área com muitos ferimentos);

- escore 5: lesão muito intensa (área com sangramento).

Aos 70, 105 e 140 dias de idade, foram coletadas amostras de sangue de duas aves ao acaso por parcela, perfazendo um total de 30 amostras em cada coleta. O sangue foi utilizado na confecção das lâminas para a contagem de heterófilos e linfócitos de acordo com o descrito por Campo & Dávila (2002).

As análises estatísticas dos resultados obtidos foram realizadas pelo procedimento GLM do SASâ (STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM, 1995), exceto para os resultados de intensidade de ferimentos, que foram obtidos pelo Qui-quadrado. Para verificar a significância entre as médias dos tratamentos foi utilizado o teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 Não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) nos resultados de desempenho entre os diferentes tratamentos (Tabela 1). Esses resultados estão de acordo com os encontrados por Rizzo et al. (2008) que avaliaram o desempenho de codornas submetidas a diferentes inclusões de triptofano na dieta.

Estudos com diferentes níveis de probióticos na alimentação de poedeiras comerciais mostraram resultados semelhantes aos encontrados neste estudo, contudo não verificaram benefícios no consumo de ração, conversão alimentar e porcentagem de postura (Pedroso et al., 2001; Giampauli et al., 2005).

Da mesma forma, o uso de prebióticos na alimentação de frangos de corte não influenciou o desempenho do lote (Cavalvanti et al., 2003; Souza et al. 2010).

Resultados semelhantes foram observados por Hernández et al. (2004) que empregaram orégano e labiatae em substituição ao antibiótico na alimentação de frangos de corte de 21 a 42 dias de idade, também não encontraram diferenças entre os tratamentos para os resultados de desempenho.

Avaliando o uso de fitoterápicos, tais como alho e orégano, na alimentação de frangos de corte em substituição aos antibióticos, Freitas et al. (2001) e Fukayama et al. (2005) não observaram efeito dos tratamentos sobre o consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar.

Alguns autores atribuem a ineficiência no uso de probióticos e prebióticos às boas condições sanitárias que o lote apresenta por ocasião do experimento. Assim, a falta de desafios proporcionada por um adequado vazio sanitário e excelentes condições de manejo podem ter impossibilitado a obtenção de resultados favoráveis à utilização dos agentes (Junqueira, 1997; Pedroso et al., 2001).

Observou-se efeito significativo (P<0,05) entre os tratamentos quanto ao tempo em imobilidade tônica - TIT (Tabela 2), sendo que as aves alimentadas com a maior dosagem de simbiótico e extrato vegetal na dieta obtiveram os menores valores para TIT quando comparadas às aves que receberam a dieta controle, mostrando que houve diminuição do estresse nesses animais. Talvez esse resultado seja reflexo da maior produção de serotonina pelo intestino, uma vez que o uso de prebióticos e probióticos melhoram a integridade intestinal.

Em estudo realizado com codornas de postura recebendo passiflora na dieta, Silva et al. (2010a) verificaram que as aves alimentadas com as maiores dosagens de passiflora (500 e 750 mg de passiflora/kg de ração) apresentaram menor TIT em relação às aves que não a receberam na dieta. Esse fato evidencia que a passiflora foi capaz de acalmar as codornas, que possuem comportamento nervoso e agitado, aliviando o estresse que acomete essas aves.    

Em contrapartida, pesquisas com a inclusão de valeriana e de camomila na dieta de codornas japonesas mostraram que esses fitoterápicos nas dosagens de 0, 250, 500 e 750 mg/kg de ração não influenciaram no tempo de permanência das aves em imobilidade tônica (Gravena et al., 2010; Marques et al., 2010).

Para a intensidade de ferimentos, verificou-se neste estudo que as aves que receberam a maior dosagem do produto composto por fitoterápico, prebiótico e probiótico foram as que apresentaram menos lesões (Tabela 3).

Esses resultados são semelhantes aos encontrados por Marques et al. (2010) e Silva et al. (2010a), que avaliaram o efeito de diferentes dosagens de camomila e passiflora sobre os escores de lesões apresentados pelas codornas. Entretanto, Guandolini et al. (2005) não observou efeito da adição de triptofano sobre a intensidade de ferimentos na cabeça e no corpo de codornas na fase de postura, da mesma forma que Gravena et al. (2010) não verificaram efeito da inclusão de valeriana sobre a intensidade de ferimentos em codornas.

Em toda a literatura consultada não foi possível encontrar algum relato sobre a atuação do simbiótico e extrato vegetal no comportamento de codornas, assim como sobre o tempo de permanência em imobilidade tônica e a intensidade de ferimentos.

Houve diferença entre os tratamentos para a relação heterófilo:linfócito, sendo que as aves que receberam os maiores níveis de simbiótico e extrato vegetal na dieta foram as que apresentaram menor relação entre heterófilos e linfócitos quando comparadas às aves que receberam a dieta controle (Tabela 4), indicando menor estresse crônico nessas aves (Elrom, 2000).

Silva et al. (2010a), avaliando o efeito da passiflora sobre o estresse em codornas japonesas, não observaram diferenças entre os tratamentos para a relação heterófilo:linfócito. Da mesma forma, Gravena et al. (2010) e Marques et al. (2010) não encontraram diferenças nesse parâmetro quando submeteram codornas na fase de postura a diferentes dosagens de valeriana e camomila, respectivamente.

            De acordo com Gross & Siegel (1983), a relação heterófilo:linfócito é a medida mais confiável para a indicação do nível de estresse em aves, sendo que ocorre aumento do número de heterófilos e um decréscimo no número de linfócitos em resposta ao estresse.

Campo & Dávila (2002) também não encontraram diferenças significativas para esse parâmetro em frangos criados sob diferentes programas de luz. McFarlane & Curtis (1989) testaram diferentes situações de estresse em frangos e não verificaram efeito significativo na relação heterófilo:linfócito quando as aves foram submetidas a debicagem, coccidiose e barulho.

 
CONCLUSÃO

 Por meio dos resultados obtidos nesta pesquisa, concluiu-se que o simbiótico e o extrato vegetal foram eficazes na redução do estresse em codornas, sendo os resultados mais promissores observados quando se aplicaram as maiores dosagens do produto por kg de ração. Além disso, o uso de simbiótico e extrato vegetal não afetou a produção das aves.

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Protocolado em:12 fev. 2009.  Aceito em: 30 jan. 2012