Fernando de Almeida Borges,¹ Aguinaldo Yoshio Nakamura,¹ Gabriel Daltoé de Almeida² e
Victor Hugo Araujo Cadamuro²
1. Departamento de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFMS.
E-mail: faborges@nin.ufms.br
2. Universidade Estadual de Maringá.
O objetivo do presente trabalho foi
avaliar a eficácia de anti-helmínticos comerciais em equinos. Em três
propriedades rurais, no município de Douradina, Paraná, selecionaram-se
51 equinos sem raça definida, machos e fêmeas, de diferentes faixas
etárias, portadores de nematodiose gastrintestinal e submetidos aos
seguintes tratamentos: (I) closantel, solução oral (10mg/kg); (II)
pasta contendo oxifendazol (2,5mg/kg) + triclorfon (40mg/kg); ou (III)
gel contendo ivermectina (200mcg/kg) + praziquantel (2,5mg/kg) +
vitamina E (1mg/kg). Em função do número de animais disponíveis na
propriedade B, realizaram-se apenas os tratamentos II e III e, na
propriedade C, apenas o tratamento III. Contagens de OPG e
coproculturas foram realizadas no dia do tratamento e sete dias
após. O tratamento I apresentou eficácia de 68,78%, enquanto o
tratamento II apresentou 72,74% e 92,11% nas duas propriedades
avaliadas. O tratamento III mostrou ser 100% eficaz nas três
propriedades. As coproculturas indicaram que os nematódeos
sobreviventes aos tratamentos pertenciam à subfamília Cyathostominae.
Constataram-se, assim, a ausência de resistência à ivermectina e a
reduzida eficácia de closantel e da associação oxifendazol +
triclorfon, via oral, contra ciatostomíneos, que são os nematódeos mais
comuns em equinos no Brasil.
PALAVRAS-CHAVES: Anti-helmínticos, equinos, nematódeos, resistência.
ANTHELMINTIC EFFICACY OF COMERCIAL FORMULATIONS IN HORSES FROM DOURADINA MUNICIPALITY, PARANÁ, BRAZIL
The aim of this study was to evaluate
the efficacy of commercial anthelmintics in horses. From three farms in
the municipality of Douradina, PR, Brazil, a total of 51 cross-breed
horses, male and female, from different ages was selected. The animals
were naturally infected by gastrointestinal nematodes and submitted to
treatment with (I) oral solution of closantel (10mg/kg), (II) paste
containing oxifendazole (2.5mg/kg) + triclorfon (40mg/kg) or (III) gel
containing ivermectin (200mcg/kg) + praziquantel (2,5mg/kg) + vitamin E
(1mg/kg). Due to the limited number of available horses at farm B, only
treatments II and III were used and only treatment III was used at farm
C. EPG counts and coprocultures were carried out before and seven days
after the treatment. Treatment I showed 68.78% efficacy, while
treatment II showed efficacy of 72.74% and 92.11% at the two evaluated
farms. Treatment III showed 100% efficacy at the three farms. The
coprocultures indicated that the nematode that survived to the
treatment belonged to the
Cyathostominae
sub-family. Therefore, the lack of resistance to ivermectin and the
reduced efficacy of closantel and of the association of oxifendazole +
triclorfon against cyathostomes, the most common nematode in horses in
Brazil, was demonstrated.
KEYWORDS: Anthelmintics, horse, nematode, resistance.
INTRODUÇÃO
Estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação – FAO – demonstrou que o Brasil possui o terceiro maior
rebanho equino do mundo, com 5.900.000 animais, superado apenas por
China (8 milhões) e México (6.260.000). O potencial econômico dessa
atividade ainda é subexplorado no Brasil. Nos Estados Unidos da
América, que possui rebanho com número semelhante ao brasileiro
(5.300.000), estima-se que as atividades relacionadas à equideocultura
tenham impacto direto na economia acima de U$ 39 bilhões (AMERICAN
HORSE COUNCIL, 2005), enquanto o complexo do agronegócio do cavalo no
Brasil movimenta valor acima de R$ 7,5 bilhões anuais, gerando cerca de
3,2 milhões de empregos diretos e indiretos (CEPEA, 2006).
Os esquemas de controle de verminose equina preconizados no Brasil e em
outros países são, normalmente, supressivos, com seis tratamentos por
ano para todos os equinos da propriedade (HONER & BIANCHIN, 1995).
Essa prática, associada à ausência de medidas de controle não químico,
tem reduzido a população em refugia. Trata-se dos parasitos que não são
expostos à seleção para resistência e fornecem uma fonte de genes
susceptíveis (SANGSTER, 1999), cuja manutenção poderia reduzir a
velocidade de desenvolvimento da resistência.
A sustentabilidade dos esquemas de controle da verminose equina está
ameaçada pela seleção de populações de parasitos resistentes, cujo
número de relatos é crescente em todo o mundo (KAPLAN, 2004). Outro
agravante é o fato de haver pouca perspectiva de surgimento de um novo
grupo químico de anti-helmínticos para equinos (NIELSEN
et al.,
2007). Por isso, é muito importante o conhecimento da susceptibilidade
das populações de nematódeos aos antiparasitários para a realização de
seu efetivo controle.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar, por meio de teste de
redução na contagem de ovos por grama de fezes (OPG), a eficácia de
formulações anti-helmínticas comerciais, contendo closantel,
oxifendazol + triclorfon ou ivermectina + praziquantel, em equinos em
três propriedades rurais, no município de Douradina, Paraná.
MATERIAL E MÉTODOS
Local
Foi realizado o teste de redução na contagem de ovos tipo estrongilídeo
por grama de fezes (OPG), em agosto e setembro de 2007, em três
propriedades rurais de Douradina, Paraná. Esse município localiza-se a
latitude 23º22’51” sul e longitude 53º17’30” oeste, a 406 metros de
altitude, clima Subtropical Úmido Mesotérmico (
Figura 1),
verões quentes com tendência de concentração das chuvas (temperatura
média superior a 22° C e pluviosidade média de 189,7mm entre
novembro/2006 a fevereiro/2007), invernos com geadas pouco frequentes
(temperatura média inferior a 18° C), sem estação seca definida.
Seleção de animais
Selecionaram-se 51 equinos sem raça definida, machos e fêmeas, de
diferentes faixas etárias, portadores de nematodiose gastrintrestinal
(acima de 250 OPG) e sem histórico de tratamento com anti-helmínticos
nas últimas oito semanas. A distribuição das repetições dentro dos
tratamentos foi inteiramente ao acaso.
Em cada propriedade, os animais eram mantidos em piquetes formados com gramíneas do gênero
Cynodon sp. pastejados exclusivamente por equinos.
Tratamentos
Os equinos da propriedade A foram submetidos aos seguintes tratamentos:
(I) closantel, solução oral (10mg/kg); (II) pasta contendo oxifendazol
2,5mg/kg + triclorfon 40mg/kg ou (III) gel contendo ivermectina
(200mcg/kg) + praziquantel (2,5mg/kg) + vitamina E (1mg/kg). Em função
do número de animais disponíveis na propriedade B, realizaram-se apenas
os tratamentos II e III e, na propriedade C, apenas o tratamento III.
Todos os tratamentos foram realizados via oral, após pesagem individual
dos animais, seguindo recomendações dos fabricantes. Após o tratamento,
os equinos foram observados por trinta minutos quanto a possíveis
reações adversas.
Procedimentos laboratoriais
Amostras de fezes foram colhidas diretamente da ampola retal de cada
equino, no dia do tratamento e sete dias após. Para a quantificação de
OPG, realizou-se a técnica de GORDON & WHITLOCK (1939) modificada,
sendo utilizados dois gramas de fezes diluídos em 28 mL de solução
saturada de NaCl (densidade específica de 1200), com sensibilidade para
o mínimo de 50 OPG. As amostras dos animais com contagens de OPG mais
elevadas em cada grupo em cada data experimental foram utilizadas para
a realização de coproculturas, utilizando serragem como substrato,
conforme a técnica de ROBERTS & O’SULLIVAN (1950). Identificaram-se
as larvas de terceiro estágio conforme chave descrita por THIEPONT
et al. (1979)
Análise estatística
Os percentuais de eficácia foram calculados utilizando-se as médias
aritméticas das contagens de OPG antes e após o tratamento, por meio do
programa ‘Reso’ FECRT Analysis Program, version 2.0 (WURSTHORN &
MARTIN, 1989). Também calcularam-se os limites inferiores e superiores
do intervalo de confiança a 95%. Consideraram-se, como critérios para a
suspeita de resistência, percentuais de eficácia inferiores a 95% e
limite inferior do intervalo de confiança a 95% abaixo de 90% (COLES
et al., 1992).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foi observada nenhuma reação adversa decorrente da administração dos anti-helmínticos nos equinos avaliados.
Os resultados das contagens de OPG e os percentuais de eficácia das
formulações avaliadas nas três propriedades rurais estão apresentados
na
Tabela 1.
De acordo com os critérios adotados, constatou-se resistência na
Fazenda 1 ao closantel e à associação oxifendazol + triclorfon. Também
foi observada resistência a esta última formulação na Fazenda 2. O
composto contendo ivermectina foi 100% eficaz nas três propriedades
avaliadas.
As coproculturas indicaram que os nematódeos sobreviventes aos tratamentos pertenciam à subfamília
Cyathostominae. Grandes estrôngilos e
Trichostrongylus axei, presentes nas coproculturas antes dos tratamentos, foram totalmente eliminados pelos anti-helmínticos.
O presente trabalho é o primeiro relato de resistência de nematoides de
equinos a closantel. Este foi um resultado inesperado, uma vez que não
havia histórico da utilização deste princípio ativo no controle de
verminose equina na propriedade avaliada. De maneira geral, seu uso em
equinos não é comum, dada sua reduzida margem de segurança clínica.
A associação oxifendazol e triclorfon apresentou reduzidos percentuais
de eficácia nas duas propriedades em que foi avaliada. COSTA
et al.
(1995) avaliaram uma pasta contendo albendazol (10mg/kg) e triclorfon
(25mg/kg) e observaram 97,71% de redução na contagem de OPG no sétimo
dia pós-tratamento e os resultados após necropsia apontaram eficácia de
100% contra
Strongylus edentatus, Triodontophorus sp. e
Oxyuris equi e 97% de eficácia contra ciatostomíneos, porém, não foi observado efeito (8,68%) contra formas imaturas desta subfamília.
Os benzimidazóis foram os primeiros anti-helmínticos para equinos com
relatos de resistência de ciatostomíneos no Brasil. PEREIRA
et al.
(1994) observaram eficácia de 44,6%, 0% e 20,1% para mebendazol e de
94,4%, 88,4% e 0% para oxibendazol em três propriedades rurais no
município de Londrina, PR. MERCADANTE
et al.
(1997) relataram eficácia de benzimidazóis inferior a 50% em Curitiba,
PR. A resistência de ciatostomíneos a benzimidazóis é amplamente
relatada em outros países (KAPLAN, 2002).
A recomendação da Associação Mundial para o Avanço da Parasitologia
Veterinária para a avaliação da resistência em parasitos de equinos é a
comparação da média aritmética de OPG pós-tratamento do grupo tratado
ao grupo-controle, considerando-se o limite de 90% de eficácia. A
redução do limiar de eficácia de 95% para 90% foi justificada pelo
reduzido número de repetições e grande variação entre as contagens de
OPG normalmente observados em experimentos com equinos (POOK
et al.,
2002). Caso este critério fosse empregado no presente trabalho, a
população de ciatostomíneos parasitando os equinos da Fazenda 2 seria
considerada susceptível à associação oxifendazol + triclorfon, que
apresentou 92,11% de eficácia.
Segundo o histórico, os animais eram submetidos à reduzida frequência
de tratamentos, sendo as lactonas macrocíclicas a principal classe
terapêutica empregada. Apesar disso, observou-se resistência ao
closantel e à associação oxifendazol + triclorfon e não à ivermectina.
Aparentemente, o desenvolvimento de resistência de ciatostomíneos a
este princípio ativo é mais lento, sendo encontrados poucos relatos na
literatura. Até o momento, a única descrição de resistência destes
parasitos às lactonas macrocíclicas no Brasil foi realizada por MOLENTO
et al. (2008), que avaliaram
abamectina 2%, ivermectina 1,8 e 2% e moxidectina 2% e observaram
eficácia no 28º dia pós-tratamento de 84%, 5%, 65% e 16%,
respectivamente. Os resultados deste estudo despertaram o interesse de
pesquisadores no Reino Unido (COLES
et al.,
2008), que ainda não constataram a presença de resistência, mas, por
meio de testes de redução na contagem de OPG, suspeitaram do início de
seu desenvolvimento.
Os resultados do presente trabalho apontam a crescente importância dos
ciatostomíneos no controle sanitário de equinos. Os nematoides desta
subfamília são os mais prevalentes e que apresentam maior intensidade
parasitária em equinos no Brasil, representando 80,5% da carga
parasitária total (BARBOSA
et al., 2001). Além disso, o esquema de controle supressivo utilizado inicialmente para o controle de
Strongylus vulgaris
resultou na seleção de populações de ciatostomíneos resistentes aos
benzimidazóis e ao pirantel em todo o mundo, sendo estes considerados,
atualmente, os principais parasitos de equinos (KAPLAN, 2004).
Não há, no Brasil, nenhum estudo amplo a respeito da frequência de
tratamentos anti-helmínticos realizada em equinos, porém, há algumas
recomendações técnicas de esquemas supressivos com tratamentos a cada
dois meses. Isso poderia levar, rapidamente, à seleção de parasitos
resistentes, como observado neste trabalho. Uma das recomendações de
MOLENTO
et al. (2008) para o
retardamento da seleção de populações de parasitos resistentes é o
tratamento apenas de equinos com OPG acima de 200 e no caso de fêmeas
adultas somente quando o valor for acima de 500.
CONCLUSÃO
A resistência a closantel e benzimidazóis está presente em equinos no
município de Douradina, PR, porém, a ivermectina continua extremamente
eficaz. Sugerem-se medidas de controle seletivo visando menor seleção
de parasitos resistentes.
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