COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA DE QUATRO HÍBRIDOS DE SORGO FORRAGEIRO SOB DOSES DE NITROGÊNIO
Régis de Paula Oliveira1, Aldi Fernandes de Souza França2, Alzira Gabriela da Silva3,
Eliane Sayuri Miyagi4, Euclides Reuter de Oliveira5 e Hugo Jayme Mathias Coelho Perón6
1. Mestre em Ciência Animal, IBAMA
2. Professor doutor da Escola de Veterinária da UFG. E-mail: aldi@vet.ufg.br
3. Doutoranda em Ciência Animal, EV/UFG
4. Doutora em Ciência Animal, bolsista PRODOC do Programa de
Pós-Graduação em Ciência Animal da EV/UFG
5. Professor adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados
6. Graduando em Medicina Veterinária/DPA/UFG.
RESUMO
Avaliou-se
a composição bromatológica de quatro
híbridos de sorgo forrageiro sob doses de nitrogênio (N).
Utilizou-se o delineamento de blocos casualizados em esquema fatorial 4
x 3, com quatro repetições. Foram determinados os teores
de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), carboidratos
solúveis (CHOs), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente ácido (FDA), hemicelulose (Hem) e lignina (Lig), de
acordo com a técnica da espectrofotometria de refletância
no infravermelho proximal. Analisaram-se os dados pelo programa SISVAR
4.6, testando-se os fatores pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Os
valores de MS diferiram (P<0,05) em função das doses
de N e entre os híbridos avaliados no primeiro corte (21,1% a
28,7%). Os teores de PB (6,4% e 7,5%) e Lig não diferiram
(P>0,05) entre os híbridos e doses de N, em ambos os cortes.
Os CHOs apresentaram variação entre as doses no primeiro
corte e entre os híbridos no segundo corte (13,7%). Os teores de
FDN e FDA não diferiram (P>0,05) em função das
doses de N em ambos os cortes, entretanto houve diferença entre
os híbridos. A Hem diferiu entre os híbridos e as doses
de N. Os híbridos avaliados apresentaram boas
composições bromatológicas, para o processo de
ensilagem.
PALAVRAS-CHAVES:
Adubação nitrogenada, carboidratos solúveis,
fibras, proteína bruta e Shorgum bicolor.
ABSTRACT
CHEMICAL COMPOSITION OF FOUR FORAGE SORGHUM HYBRIDS UNDER
INCREASING NITROGEN RATES
The chemical
composition of four forage sorghum hybrids was evaluated under three
doses of nitrogen (N). The experimental design was in randomized blocks
in a 4x3 factorial scheme with four repetitions. Dry matter (DM), crude
protein (CP), soluble carbohydrates (SCs), neutral detergent fiber
(NDF), acid detergent fiber (ADF), hemicellulose (Hem) and lignin (Lig)
were determinate through Spectrophotometry of Reflectance in Proximal
Infrared. The dates were analysed for SISVAR 4.6 program comparing
average by Tukey test 5% probability. The DM contents differed
(P<0.05) between N doses and varieties in the first cut (21.1% to
28.7%). The PB tenors (6.4% and 7.5%) and lignin (Lig) didn’t
differed (P>0.05) among varieties and N doses, both cuts. The SCs
ranged between doses in the first cut and the varieties in the second
cut (13.7%). The ADF and NDF tenors didn’t differed (P>0.05)
in N doses in both cut, however the varieties showed difference. The
Hem differed between varieties and N doses. The hybrids evaluated
presented adequate chemical compositions regarding the process of
ensilaging.
KEY WORDS: Crude protein, nitrogen fertilization, fibers, Shorgum bicolor and soluble carbohydrates.
INTRODUÇÃO
A
utilização de silagem como forma de
suplementação nos sistemas de produção de
carne e leite torna-se cada vez mais evidente entre os pecuaristas e,
de acordo com RESTLE et al. (2002), constitui-se no método de
conservação de forragem mais utilizado no mundo. Dentre
as espécies forrageiras destinadas à ensilagem, o sorgo
(Sorghum bicolor (L.) Moench) é uma planta adaptada ao processo,
em virtude de suas características fenotípicas, as quais
determinam facilidade de semeadura, manejo, colheita e armazenamento,
aliadas ao alto valor nutritivo e concentração de
carboidratos solúveis, essenciais para uma adequada
fermentação lática, bem como aos rendimentos
significativos de massa seca por unidade de área (NEUMANN et
al., 2002; DALLA CHIESA et al., 2008).
A cultura do
sorgo visando à produção de silagem destaca-se
principalmente em regiões que apresentam particularidades
edafoclimáticas que limitam o cultivo ou o potencial produtivo
da cultura do milho (NEUMANN, 2001; NEUMANN et al., 2005). A
variabilidade genética dessa espécie permitiu o
desenvolvimento de trabalhos de melhoramento que proporcionaram a
obtenção de um grande número de híbridos.
Cada um desses materiais apresenta características
agronômicas e valor nutritivo diferenciados, com consequentes
variações quanto à produtividade e padrões
de fermentação, resultando em silagens de diversas
qualidades. Esses fatores podem afetar diretamente o desempenho dos
animais que irão consumir esse alimento, confirmando a
necessidade de estudos que conduzam à seleção de
híbridos mais adequados aos sistemas de produção
animal (PEDREIRA et al., 2003). De acordo com CÂNDIDO et al.
(2002), a grande demanda por materiais de melhor qualidade favoreceu o
surgimento de inúmeros genótipos, que devem ser sempre
avaliados entre si, independentemente da aptidão, com o
propósito de obter resultados mais consistentes em
relação ao seu potencial para produção de
silagem de alto valor nutritivo.
O teor de
matéria seca da planta forrageira é um dos mais
importantes fatores no processo da ensilagem, uma vez que
determinará o tipo de fermentação que irá
se desenvolver no interior do silo. McDONALD (1991) considerou o teor
ideal de matéria seca na faixa de 30% a 35%. No entanto,
McDONALD et al. (1991) enfatizaram que valores de matéria seca
acima de 25%, quando associados a um nível adequado de
carboidratos solúveis, seriam suficientes para
produção de silagens de boa qualidade. JOHNSON et al.
(1971) sugeriram um teor de 15% de carboidratos solúveis, como
valor mínimo para garantia de uma boa fermentação
lática, enquanto valores mais baixos, da ordem de 6,0% a 8,0%,
também são considerados adequados (GOURLEY & LUSK,
1978).
A
determinação das frações fibrosas torna-se
importante na caracterização da qualidade de forrageiras,
uma vez que são negativamente correlacionadas com a
digestibilidade e o consumo voluntário (VAN SOEST, 1994).
Segundo MERTENS (1992), os métodos rotineiros mais utilizados
para determinação dessas frações fibrosas
são as fibras em detergente ácido (FDA) e fibras em
detergente neutro (FDN), por serem os mais efcientes na
quantificação da fibra total.
O correto
conhecimento do potencial produtivo e da composição da
forrageira a ser ensilada é primordial para o sucesso da
ensilagem e obtenção de uma silagem nutricionalmente
adequada. Diante disso, realizou-se um trabalho visando avaliar a
composição bromatológica de quatro híbridos
de sorgo forrageiro para fins de ensilagem submetidos à
adubação nitrogenada.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento
foi realizado nas dependências do Departamento de
Produção Animal da Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Goiás, Campus II, no município de
Goiânia, GO, localizada na latitude S 16º36’ e
longitude W 49º16’, altitude de 727 m. O clima da
região é classificado como a Aw (KÖPPEN, 1948),
caracterizado como quente e semiúmido, com estação
seca bem definida durante os meses de maio a outubro. A temperatura
anual média é de 23,2ºC, com média
mínima de 17,9ºC, e a precipitação anual de
1759,9 mm (BRASIL, 1992).
A área
experimental foi preparada com uma aração e duas
gradagens. O solo da área experimental é classificado em
Latossolo Vermelho Distrófico e, para fins de sua
caracterização química, coletaram-se amostras na
profundidade de 0 a 20 cm. Na Tabela 1,
são apresentados os dados dos atributos químicos do solo
da área experimental antes da instalação do
experimento.
A semeadura
manual foi realizada no dia 22 de novembro de 2003, empregando-se
densidade de vinte sementes por metro linear.
Constituíram-se as parcelas por quatro linhas de cinco metros
lineares, espaçadas de 0,60 m, utilizando-se, para fins de
avaliação, as duas fileiras centrais de cada parcela,
descartando-se as duas externas, além de 0,50 m das
extremidades. As adubações nitrogenada e potássica
(20 kg.ha-1 de K20), de cobertura, foram parceladas em duas
vezes, sendo que a primeira aplicação, correspondendo
à metade da dose, ocorreu dia 24 de dezembro de 2003 e a
segunda, 5 de janeiro de 2004. Constituíram-se os tratamentos
por três doses de nitrogênio: 0; 60; 120 kg.ha-1
(sulfato de amônio); e quatro híbridos de sorgo
forrageiro: BR 700 (porte médio, com tanino), 1F 305; 0369 267;
0369 255 (porte alto, sem tanino), todas com colmo seco, sendo que as
duas últimas são genótipos experimentais,
fornecidos pela Embrapa – Milho e Sorgo, localizada em Sete
Lagoas, MG.
Os cortes
manuais de avaliação foram realizados a dez
centímetros do solo, quando os grãos apresentavam-se no
estádio pastoso, tendendo para farináceo, sendo o
primeiro no dia 13 de março de 2004. Avaliou-se o estádio
de maturação dos grãos na parte mediana da
panícula. Para a produção da rebrota,
também parcelaram-se as adubações nitrogenada e
potássica de cobertura em duas vezes, sendo que a primeira
aplicação, correspondendo à metade da dose,
ocorreu em 13 de março de 2004 e a segunda em 10 de abril de
2004. O corte de avaliação da rebrota foi realizado em 5
de junho de 2004, observando-se os mesmos procedimentos adotados por
ocasião do primeiro corte.
Em seguida ao
corte, as plantas foram levadas para o Laboratório de
Nutrição Animal da Universidade Federal de Goiás,
pesadas e, posteriormente, tomou-se uma amostra de dez plantas, que
foram imediatamente trituradas em picadeira estacionária. Depois
de homogeneizada manualmente, retirou-se uma subamostra, para a
determinação da matéria pré-seca.
Realizou-se a pesagem e imediatamente essas amostras foram levadas para
estufa de ventilação forçada a 65ºC, durante
72 horas, sendo posteriormente moídas em moinho tipo Willey
(peneira de 1 mm), visando às analises químicas.
Foram
determinados os teores de matéria seca (MS), proteína
bruta (PB), carboidratos solúveis (CHOs), fibra em detergente
neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose
(Hem) e lignina (Lig), de acordo com a técnica da
espectrofotometria de refletância no infravermelho proximal
(NIRS), descrita por SHENK & WESTERHAUS (1993). Realizaram-se as
análises bromatológicas no Laboratório de
Nutrição Animal da Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Minas Gerais.
O delineamento
utilizado foi de blocos casualizados em esquema fatorial 4 x 3
(quatro híbridos x três doses de nitrogênio), com
quatro repetições, adotando-se o seguinte modelo
matemático:
Yijk = m + Bi + Cj + Ak + CAjk + eijk, em que:
Yijk =
observação referente à parcela do bloco i, com a
cultivar j e com a dose de adução k; m = média
geral; Bi = efeito do bloco i (i = 1, 2, 3); Cj = efeito da cultivar j
(j = BR 700, 1F 305, 0369 267 e 0369 255 ; Ak = efeito da dose de
adubação k (k = 0, 60 e 120 kg.ha-1); CAjk = efeito da
interação cultivar x dose de adubação; eijk
= variação aleatória.
Analisaram-se os dados pelo programa SISVAR 4.6 (FERREIRA, 2000),
testando-se os fatores pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. O ajuste
das médias por regressão não foi implementado em
razão do pequeno número de doses utilizadas, o que
não permitiria uma descrição adequada da resposta
à adubação nitrogenada, sabidamente de
comportamento curvilíneo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2
são apresentados os teores médios de matéria seca
(MS), proteína bruta (PB) e carboidratos solúveis (CHOs)
dos híbridos de sorgo, determinados por ocasião do
primeiro e segundo corte. As médias, em porcentagem, de
matéria seca diferiram (P<0,05), em função das
doses de N e entre os híbridos avaliados no primeiro corte. No
segundo corte, o cultivar 0369 267 diferiu (P<0,05) em
relação aos demais genótipos na dose equivalente
à aplicação de 120 kg.ha-1 de N.
Os teores
médios de matéria seca determinados nos híbridos
avaliados, todos de colmo seco, em ambos os cortes, se encontram abaixo
do limite de 30% a 35%, sugerido por McDONALD (1981) para que haja o
favorecimento da fermentação láctica. Entretanto,
tais valores se encontram próximos de 25%, como descrito por
McDONALD et al. (1991), e dentro da faixa estabelecida por MEESKE et
al. (1993), que obtiveram silagens com bons padrões de
fermentação quando a matéria original apresentava
variação de 20% a 29% de MS.
Segundo WHITE
et al. (1991), baixos teores de MS podem ser
atribuídos à baixa participação da
panícula na matéria natural. Nesse sentido, SILVA et al.
(1999) afirmaram que esta é a fração que mais
contribui para a elevação dos teores de MS no sorgo
destinado à ensilagem, o que está de acordo com ZAGO
(1992), que determinou correlação de 0,76 entre a
porcentagem de panículas e o teor de matéria seca total
do material original.
Os teores de PB
não diferiram (P>0,05) entre os híbridos e as doses de
N, em ambos os cortes, com teores variando entre 6,4% e 7,5% no
primeiro corte e entre 6,6% e 7,5% no segundo corte. A
adubação nitrogenada não promoveu incrementos nos
teores de PB dos híbridos de sorgo, o que não vem a
comprometer diretamente o processo de ensilagem, porém teores
inferiores de PB podem influenciar negativamente sobre o consumo da
silagem pelos animais, visto que, segundo VAN SOEST (1994), o
nível mínimo de PB deve ser 7% para o adequado
funcionamento do rúmen. Os dados de PB determinados corroboram
com os relatados por DALLA CHIESA et al. (2008), quando desenvolveram
ensaio com o objetivo de avaliar os aspectos agronômicos de
híbridos de sorgo e determinaram valores de PB de 5,93% (AG
2005E), 6,64% (AG 60298) e 5,91% (BR 101).
Valores de PB
superiores aos observados nos experimentos supracitados são
relatados por NEUMANN et al. (2001), quando avaliaram quatro
híbridos de sorgo com a aplicação de 150 kg.ha-1
de ureia e determinaram teores de PB entre 10,9% a 11,6%. A idade de
corte é um fator que interfere no teor de PB, uma vez que
RODRIGUES et al. (2002) citaram teores de 13,0%, no híbrido
Agroceres cortado aos 97 dias de crescimento. GONTIJO NETO et al.
(2002) avaliaram quatro híbridos de sorgo forrageiros e um de
duplo propósito sob adubação nitrogenada (0; 45,5;
91 e 182 kg.ha-1de N) e determinaram teores de PB variando
entre 5,36% e 8,08%. Nessa mesma faixa percentual, PEDREIRA et al.
(2003) quantificaram a composição bromatológica de
oito híbridos de sorgo, submetidos à
adubação nitrogenada equivalente a 60 kg.ha-1, e relataram teores de PB da ordem de 6,5% a 8,8%.
Teores de PB
das plantas de sorgo podem variar de 2,5% a 13,6%, o que pode ser
atribuído a diversos fatores, tais como o nível de
fertilidade do solo, o estádio de maturidade, híbridos e
altura de corte, dentre outros (VILELA, 1983). Nesse contexto, RESTLE
et al. (2002) desenvolveram experimento para avaliar o efeito da
manipulação da altura de corte das plantas de sorgo, para
produção de silagem, sobre alguns parâmetros, e
observaram que teor de PB apresentou valores similares entre as
silagens produzidas com alturas de corte de 14 cm (6,63%) e 45 cm
(6,56%). Entretanto, esses autores relataram que algumas
características foram alteradas quando a colheita foi realizada
a 45 cm, tais como as concentrações de FDN e FDA, que
foram reduzidas, e a DIVMO, que sofreu acréscimo em
função da elevação da altura de corte das
plantas, com contribuição para maior
participação do componente panícula na massa
ensilada.
Segundo
FRIBOURG (1974), a resposta de produção e o aumento dos
teores de proteína bruta de plantas forrageiras anuais de
verão, em geral, são evidenciados com
aplicação de doses de 200 a 300 kg.ha-1 de N.
Outro fator a ser considerado, com relação aos teores de
PB, diz respeito à pequena participação de
grãos da panícula na matéria natural dos
híbridos testados, provavelmente, em função da
ausência de tanino, o que contribuiu para uma excessiva
redução da quantidade de grãos do material, pelo
ataque de pássaros.
Os
híbridos avaliados apresentaram proporção de
panículas com variação de 10% (0369 267) a 17,5%
(BR 700), bastante inferior aos 40% sugeridos por SILVA (1997), como
sendo a participação adequada dessa estrutura da
planta de sorgo, visando à obtenção de silagem de
boa qualidade. Tal situação corrobora as
afirmações de RESENDE et al. (2003), de que os maiores
teores de PB são determinados em híbridos
graníferos, por apresentarem maiores proporções de
panículas, fator esse primordial para a obtenção
de maiores teores de PB. Pode-se ainda ressaltar que, em
função da boa produtividade de matéria natural dos
híbridos avaliados, provavelmente tenha ocorrido o efeito
diluição, impedindo, assim, maiores
concentrações de PB.
Portanto, os
resultados obtidos nesta pesquisa são bastante
satisfatórios e se enquadram dentro dos limites relatados pelos
referidos autores, tendo em vista que as doses de N aplicadas podem ser
consideradas medianas a baixas, porém proporcionaram teores
médios de PB em torno de 7%, além de terem mantido as
características de uma planta-padrão para o processo da
ensilagem.
Conforme se verifica na Tabela 2,
por ocasião do primeiro corte a concentração de
CHOs não diferiu (P>0,05) entre os híbridos,
entretanto apresentou significância (P<0,05) em
relação à adubação nitrogenada com a
aplicação da dose equivalente a 60 kg.ha-1 de
N, com variação de 17,6% a 21,0%. Em
relação ao segundo corte, a cultivar 0369 255 (P<0,05)
diferiu em relação aos demais genótipos avaliados,
com média de 13,7%. Os teores de CHOs determinados no
experimento são superiores aqueles relatados por BORGES et al.
(1999), quando avaliaram sorgo de porte baixo com diferentes teores de
tanino e de umidade, com variação de 8,51% a 13,84% de
CHOs. Segundo McBEE & MILLER (1982), as variedades de sorgo de
porte alto tendem a apresentar uma maior concentração de
carboidratos solúveis em função da maior
participação da fração colmo em sua
composição estrutural. Diferenças entre
híbridos, estágio de desenvolvimento, temperatura,
fertilidade do solo e precipitação pluviométrica
são alguns dos fatores que podem influenciar a
concentração de carboidratos solúveis (McDONALD et
al., 1991), A concentração de carboidratos
solúveis deve ser no mínimo da ordem de 6,0% a 8,0%, para
garantir uma boa fermentação lática. Entretanto,
JOHNSON et al. (1971) consideraram que esses teores devem ser de no
mínimo 15,0%, limite que se encontra próximo dos valores
determinados no presente trabalho, principalmente para o primeiro
corte, e um pouco superior àqueles obtidos no segundo corte, o
que pode ser atribuído ao bom nível de fertilidade do
solo e também ao estádio de desenvolvimento em que os
híbridos foram avaliados.
Com
relação aos teores de FDN e FDA, observa-se que
não ocorreu diferença (P>0,05) em função
das doses de N aplicadas, em ambos os cortes, e dentre os
genótipos avaliados, apenas o cultivar 1F 305 diferiu
(P<0,05) para FDN em relação aos demais, por
ocasião do primeiro corte (Tabela 3).
A semelhança entre os teores de fibras determinados nos
híbridos avaliados, provavelmente, pode ser atribuída ao
elevado nível de fertilidade do solo e às baixas doses de
N aplicadas. NEUMANN (2001) avaliou a composição
bromatológica de quatro híbridos com a
aplicação de 150 kg.ha-1
de ureia e determinou valores de FDN da ordem de 56,35% a 58,74%, e a
FDA apresentou variação de 34,49% a 38,47%. No trabalho
de DALLA CHIESA et al. (2008), foram observados teores de FDN de
58,96%, 60,56% e 59,50%, sendo os valores de FDA de 34,05%, 40,96% e
36,35% para os híbridos AG 2005E, AG 60298 e BR 101,
respectivamente.
Os teores de
FDN e FDA relatados pelos diferentes autores são semelhantes aos
determinados neste experimento, principalmente em relação
ao primeiro corte. No segundo corte, os valores de FDN encontram-se
numa faixa ligeiramente superior à relatada pelos referidos
autores.
Entretanto, os
valores determinados por RODRIGUES et al. (2002), para FDN (64,62%) e
FDA (39,30%), quando avaliaram o híbrido AG 2005, cortado aos 97
dias de crescimento vegetativo, e os relatados por PEDREIRA et al.
(2003), em experimento com oito híbridos submetidos à
adubação nitrogenada equivalente a 60 kg.ha-1
e corte efetuado no intervalo de 99 a 113 dias, que apresentaram
variação de 57,0% a 70,3% e 29,3 a 39,36%, para FDN e
FDA, respectivamente, são, de maneira geral, superiores aos
observados no presente experimento.
Dados
superiores também foram observados por NEUMMAN et al. (2008),
quando estudaram o efeito associativo do espaçamento entre
linhas de plantio (30, 50 e 70 cm), densidade de plantas (300, 450 e
600 mil plantas ha-1) e período de
avaliação, durante o ciclo vegetativo da cultura (50, 85
e 125 dias após plantio), em manejo de cortes, sobre o
desempenho vegetativo produtivo e qualitativo do sorgo forrageiro
AG-2501C. Os autores determinaram teores de FDN de colmo variando entre
66,09% e 69,08%, com ponto de máxima aos 95,28 dias, e os teores
de FDA de colmo, entre 41,57% e 44,68%, com ponto de máxima aos
85,52 dias.
Segundo DANLEY
& VETTER (1973), quando o conteúdo da parede celular se
encontra acima de 55% a digestibilidade diminui. Entretanto, no sorgo
existe uma diluição do efeito dos componentes fibrosos
à medida que a planta avança em sua maturidade, devido ao
acúmulo de carboidratos solúveis no caule (McBEE &
MILLER, 1993). Portanto, os resultados apresentados na Tabela 3,
para FDN e FDA, corroboram as afirmações de McBEE &
MILLER (1993) e MEESKE et al. (1993), em relação ao
efeito de diluição dos componentes fibrosos com o
avanço da maturidade do sorgo. Para isso, considere-se a
participação da estrutura colmo na matéria mineral
dos híbridos avaliados, que ocorreu de forma normal, ao
contrário da participação da panícula,
devendo-se ainda observar o momento ideal de corte da planta forrageira.
A hemicelulose
é conhecida como uma reserva de carboidratos e uma fonte
potencial de energia para os microrganismos do rúmen. É
considerada a principal fonte adicional de substrato para a
fermentação da silagem, podendo ser consumida na faixa de
40% a 50% pelos microrganismos presentes no processo da ensilagem
(MUCK, 1988; HENDERSON, 1993). Os teores de Hem diferiram (P<0,05)
apenas entre os híbridos 1F 305 e 0369 267, com
variação de 24,6% a 29,7%. Em função das
doses de N, observou-se que os valores de Hem diferiram nos
tratamentos-controle e com a aplicação de 60 kg.ha-1
de N, com médias de 27,2% e 26,4%, respectivamente, por
ocasião do primeiro corte. No entanto, no segundo corte a
análise de variância não detectou
significância entre os híbridos e doses de N avaliadas.
Teores
inferiores foram relatados por NEUMANN (2001), quando avaliou a
composição bromatológica de quatro híbridos
em sistema de plantio direto, com adubação (N-P-K) de 300
kg.ha-1 da fórmula 10-20-20, além de 150 kg de
ureia em cobertura aos cinquenta dias, determinando valores de 19,48% a
21,86% de Hem. De acordo com REIS (1993), as espécies vegetais
apresentam grandes variações em seus valores de
hemicelulose, sendo que nas forragens é de 10% a 25% da MS.
Portanto, os resultados de Hem (Tabela 3)
vão de encontro à afirmação do referido
autor, além de se encontrar dentro da faixa média citada
na literatura, que é de 10% a 25%. Tais teores são
considerados satisfatórios e favorecem o processo de ensilagem,
dada a participação de carboidrato, cujos teores, no
presente trabalho, se encontram um pouco acima de 25%.
A
análise de variância não mostrou diferenças
significativas (P>0,01) para os teores de lignina em ambos os cortes
para todos os híbridos e as doses de N avaliadas, com valores
médios de 8,8%; 8,5%; 8,4% e 8,9% para o primeiro corte e 8,2%;
8,5%; 7,9% e 8,2% no segundo corte, em função das doses
de 0, 60 e 120 kg.ha-1 de N, respectivamente. NEUMANN et al.
(2002) trabalharam com quatro híbridos de sorgo forrageiro
(AGX-213, AG-2002, AGX-217 e AG-2005E), colhidos em diferentes
épocas de maturação, e determinaram teores de Lig
de 5,28%, 4,25%, 4,28% e 5,83%, respectivamente, os quais se encontram
abaixo dos valores observados no presente experimento. NEUMANN et al.
(2005) avaliaram a composição bromatológica do
híbrido de sorgo AG- 2002, de caráter forrageiro, e
determinaram valores de lignina + cinzas de 8,86% na planta inteira e
5,32%, 8,21% e 4,61% para as frações colmo, folha e
panícula.
Os mais altos valores de Lig determinados nos quatro híbridos avaliados (Tabela 3)
são atribuídos à baixa participação
de panículas na matéria original, tendo em vista que esta
é a estrutura da planta que exerce maior influência sobre
o valor nutritivo, ao mesmo tempo em que apresenta maior
digestibilidade, e seu aumento na massa de forragem reduz os teores dos
constituintes da fração fibrosa (NEUMANN et al., 2001).
De acordo com VAN SOEST (1994), o teor de lignina de uma forrageira
é o principal fator limitante da digestibilidade, em
função da incrustação dos
polissacarídeos da parede celular, tornando-os menos
acessíveis à ação das bactérias. A
lignificação altera a taxa e a extensão da
digestão das forrageiras.
CONCLUSÕES
Tendo em vista
a semelhança da composição bromatológica em
função da adubação nitrogenada e a
viabilidade econômica, sugere-se a aplicação da
dose equivalente a 60 kg.ha-1 de N. Entretanto, novos
experimentos deverão ser desenvolvidos com a
avaliação de doses superiores de nitrogênio.
REFERÊNCIAS
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Protocolado em: 5 dez. 2006. Aceito em: 30 out. 2009.