O Nordeste brasileiro destaca-se na
caprinocultura, onde as helmintoses gastrintestinais estão entre os
maiores problemas. Mesmo com drogas anti-helmínticas de amplo espectro,
o controle dos parasitos vem sendo prejudicado pela resistência
parasitária. O objetivo deste trabalho foi verificar a sensibilidade
dos nematodeos de caprinos à ação dos vermífugos ivermectina 1% e
albendazole 10%, como também determinar o perfil das propriedades com
helmintos resistentes aos princípios ativos em questão. O trabalho foi
realizado no período de janeiro a novembro de 2008 em trinta criações
de caprinos em Mossoró, RN. Em cada propriedade, selecionaram-se 45
animais, divididos em três categorias. Eram vermifugados dez dias
pós-tratamento, coletaram-se amostras de fezes. As coordenadas
geográficas de todas as propriedades foram obtidas por GPS.
Analisaram-se os dados pelo programa estatístico RESO. Das propriedades
estudadas, o Haemonchus contortus
teve percentual de 90% resistência ao albendazole em 30,6% à
ivermectina. Este, por sua vez, foi o mais prevalente em todos os
grupos tratados. Já o Trichostrongylus
sp. foi encontrado em 70% das propriedades e percentual da população de
helmintos resistentes à ivermectina foi de 33,3%, e ao albendazole de
42,8%. A redução na contagem de ovos nas fezes (RCOF) dez dias
pós-tratamento com ivermectina e albendazole variou entre 43% e 100% e
29% e 100%, respectivamente. O perfil das propriedades demonstrou
que os anti-helmínticos mais utilizados pertenciam aos grupos dos
benzimidazóis (63,3%), das avermectinas (33,3%) e dos imidazois (3,3%).
PALAVRAS-CHAVES: Anti-helmínticos, caprinos, resistência.
The Brazilian Northeast area is known
for the caprineculture, whose main problem is the gastrointestinal
nematodes, and the control of the parasites has been jeopardized by the
anthelmintic resistance. The purpose of this study was to verify the
sensibility of the goat nematodes to the activity of the substances
ivermectin 1% and albendazole 10%. The work was carried out in 30 goat
herds located in the city of Mossoró, Rio Grande do Norte, Brazil,
within January and November, 2008. In each property, 45 animals were
selected and divided into three groups (one control and two
treatments). The geographical coordinates of all the properties were
obtained by GPS. The obtained data were analyzed by the statistical
program RESO. The animals received the vermifude and 10 days
after-treatment feces were collected. In the studied properties, the Haemonchus contortus
showed greater prevalence in all the treated groups, 90% of the
helmints population was resistant to albendazole and 36.6% to
ivermectina. Trichostrongylus
sp. was found in 70% of the properties and its percentile of the
helmint population resistant to ivermectina and to albendazole was of
33.3% and 42.8%, respectively. The reduction in the egg counting in the
feces (RECF) after 10 days of treatment with ivermectina and
albendazole varied within 43% and 100%, and within 29% to 100%,
respectively. The profile of the properties demonstrated that the
anthelmintic most commonly used were from the following groups:
benzimidazol (63.3%), ivermectin (33.3%), and imidazol (3.3%).
KEYWORDS: anthelmintic, goats, resistance.
No semiárido brasileiro, o Nordeste
tem sido, durante séculos, área de vocação pecuária, especialmente para
a exploração dos ruminantes domésticos. Dentre as várias alternativas
encontradas para a exploração agropecuária da região, destaca-se a
caprinocultura como uma alternativa econômica viável de geração de
emprego e renda (SIMPLICIO, 2006), sendo uma das principais atividades
econômicas das áreas mais secas do Nordeste (COSTA JÚNIOR
et al., 2005).
No estado do Rio Grande do Norte o rebanho está em ascensão. Em 2003, a
população de caprino era de 406 mil (IBGE, 2003). Atualmente, o Estado
destaca-se na produção de carne e leite (ACOSC, 2006). No entanto, a
caprinocultura sofre grandes perdas econômicas, em virtude das
verminoses, que, dentre os fatores que as favorecem, estão o manejo, o
estado fisiológico, as condições climáticas, a lotação e a nutrição
(MATTOS & CASTRO, 2002).
O parasitismo por nematoides gastrintestinais tem-se constituído em um
dos principais fatores limitantes à exploração da caprinocultura, sendo
um aspecto importante no manejo sanitário, pelo fato destes animais
serem relativamente sensíveis a endoparasitas, principalmente os
gastrintestinais.
Haemonchus contortus, Trichostrongylus sp.,
Cooperia sp.,
Oesophagostomum columbianum, Trichuris sp.,
Cysticercus sp., e
Strongyloides papilosus
são responsáveis por significativas perdas econômicas, em decorrência
da elevada taxa de mortalidade de animais e atraso no crescimento
(COSTA JR.
et al., 2005). Na região oeste do Rio Grande do Norte, os helmintos de maior prevalência são os
Strongyloides sp., seguidos por
Haemonchus sp.,
Trichostrongylus sp. e, em menor escala, por
Oesophagostomum sp. (AHID
et al., 2008).
O controle dos parasitos vem sendo realizado através do uso de
anti-helmínticos pertencentes a diversos grupos químicos, na maioria
das vezes, sem considerar os fatores epidemiológicos predominantes na
região, os quais interferem diretamente na população parasitária
ambiental e, consequentemente, na infecção do rebanho (VIEIRA &
CAVALCANTE, 1999).
Vários princípios ativos vêm sendo utilizados no tratamento de
nematoides de caprino, os quais são classificados em quatro grandes
grupos, conforme seu mecanismo de ação, espectro de atividade e
eficácia: grupo I – benzimidazóis e pró-benzimidazóis; grupo II-
imidazóis e pirimidinas; grupo III – salicilanilidas e substitutos
nitrofenólicos; grupo IV – organofosforados (MATTOS & CASTRO,
2002). Além desses grupos, a partir da década de 1980 foi criada a
ivermectina, que atua tanto em ectoparasitos como em endoparasitos.
Esta, por sua vez, é derivada de um novo grupo, denominado lactona
macrocíclica (avermectinas) (MELO
et al., 2003).
A resistência anti-helmíntica (RA) é um fenômeno pelo qual alguns
organismos de uma população são capazes de sobreviver após constante
utilização de um composto químico (MOLENTO, 2004). A resistência dos
nematodeos gastrintestinais de caprinos aos anti-helmínticos foi
descrito inicialmente no Texas, Estados Unidos (THEODORIDES
et al., 1970), posteriormente, na Nova Zelândia (KETTLE
et al.,
1983) e França (KERBOUEF & HUBERT, 1985). No Brasil, a primeira
suspeita de nematoides gastrintestinais de caprinos resistentes aos
anti-helmínticos foi descrita por VIEIRA (1986) no estado do Ceará,
posteriormente foi identificada RA de caprinos em Pernambuco (CHARLES
et al., 1989) e na Bahia (BARRETO & SILVA, 1999).
Segundo PAIVA
et al. (2007), o
mecanismo de instalação da resistência ocorre pelo uso frequente e
continuado de uma mesma base farmacológica destinada ao controle dos
parasitos. De acordo com MELO et. al. (1998), a resistência é agravada
pela frequência de tratamentos anti-helmínticos e pela rotação rápida
de principio ativo. A utilização de medicamentos de longa persistência
e a aquisição de animais contaminados devem ser considerados como
causas predisponentes ao aparecimento da RA (MOLENTO, 2004).
Acrescenta-se ainda o uso de subdoses, que também pode ser um fator
para a formação da RA (VIEIRA & CAVALCANTE 1999).
A RA pode ser diagnosticada pela utilização de testes específicos, por
métodos diretos ou indiretos. No método direto, tem-se o teste in vivo
controlado. Nos métodos indiretos, são comumente empregadas duas
abordagens na identificação de possibilidade de resistência: as
análises in vitro e o teste de redução na contagem de ovos por grama de
fezes (FECRT – fecal egg count reduction test) (ALBERTI
et al.,
2001). Para este último, o diagnóstico será positivo para “resistência”
quando uma determinada droga que apresentava redução acima de 99% da
carga parasitária apresentar redução menor do que 95% contra
determinado organismo após certo período de tempo (MOLENTO, 2004).
Diferentes esquemas de tratamento são utilizados a fim de reduzir ou
eliminar os efeitos adversos do parasitismo. Dos esquemas de controle,
o estratégico é o mais utilizado, sendo aplicados tratamentos com um
anti-helmíntico de alta eficácia, antes que ocorra um aumento
significativo da população de parasitos em épocas do ano
predeterminadas. Um dos grandes riscos desse controle refere-se à
pequena ou nenhuma população de nematoides em refúgio durante a época
seca. Esse fato, aliado à utilização de tratamento anti-helmínticos
nesses períodos, possibilita que a resistência anti-helmíntica
desenvolva-se rapidamente (SANGSTER, 2001).
Em virtude da importância do assunto e pelo fato de
estar diretamente ligado ao fator econômico da região, este trabalho
teve por objetivo detectar a ocorrência de resistência aos
anti-helmínticos ivermectina 1% e albendazole 10% em nematodeos
gastrintestinais de caprinos, como também determinar o perfil das
propriedades com helmintos resistentes aos princípios ativos em
questão, no município de Mossoró, RN.
MATERIAL E MÉTODOS
Durante o período de janeiro a novembro de 2008 desenvolveu-se o
experimento em explorações tradicionais do sistema produtivo de
caprinos no município de Mossoró, RN, onde estão concentrados os
maiores efetivos do Rio Grande do Norte. A escolha das propriedades
obedeceu ao método de amostragem aleatória. As análises laboratoriais
foram enviadas e processadas no Laboratório de Parasitologia Animal da
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), Mossoró, RN.
Visitaram-se ao total trinta assentamentos rurais, cadastrados junto
aos programas assistencialistas do Instituto de Assistência Técnica e
Extensão Rural do RN (EMATER-RN) e junto às Associações organizadas de
criadores de caprinos e ovinos no Estado, onde foi feita a coleta das
fezes e obtiveram-se, por meio de questionários, as informações sobre
os métodos antiparasitários usados. Para o experimento, foram
utilizados dois grupos de medicamentos pertencentes aos benzimidazóis
(albendazole) e lactonas (ivermectina). Para a seleção e inclusão dos
animais no experimento, obedeceu-se aos seguintes critérios:
diagnóstico positivo para helmintos gastrintestinais, através da
contagem do número de ovos por grama de fezes (OPG); animais que não
tenham sido tratados com qualquer tipo de droga anti-helmíntica por um
período mínimo de trinta dias.
Por propriedade, selecionaram-se 45 animais da espécie caprina,
variando entre a primeira e segunda muda dentária, marcados por meio de
brincos e/ou colares, sendo em seguida distribuídos aleatoriamente por
rebanho de caprinos em três grupos de quinze animais cada. O grupo I
recebeu tratamento com albendazole a 10%, o grupo II recebeu
ivermectina e o grupo III foi o controle, não recebendo o tratamento
convencional. As doses utilizadas seguiram as recomendadas pelos
fabricantes. O grupo I foi tratado com anti-helmíntico à base de
albendazole, administrado oralmente, na dose 10mg/Kg; o grupo II,
tratado com anti-helmíntico à base de ivermectina, administrado por via
subcutânea, na dose 0,2mg/Kg.
De cada animal hospedeiro (caprino), naturalmente infectado por
nematoides gastrintestinais, foram coletadas amostras fecais
diretamente da ampola retal, identificadas em sacos plásticos e
mantidas sob refrigeração até o processamento da determinação do número
de ovos por grama de fezes e para a obtenção das larvas. As coletas
foram feitas no dia do tratamento e dez dias pós-tratamento.
Das amostras coletadas, retiraram-se dois gramas de fezes para a
análise quantitativa pela contagem de ovos por grama de fezes (OPG),
pela técnica de GORDON & WHITLOCK (1939). Para recuperação de
larvas infectantes, empregou-se a técnica de coprocultura quantitativa,
descrita por UENO & GONÇALVES (1998), as quais foram identificadas
de acordo com as características descritas por KEITH (1953). De cada
grupo experimental, coletaram-se e analisaram-se cem larvas de terceiro
estádio (L3) obtidas das culturas de cada grupo estabelecido em cada
propriedade.
As médias aritméticas do número de ovos nas fezes, para cada grupo
tratado (OPGt), foram calculadas e comparadas com as médias contadas no
grupo-controle (OPGc) e a redução da contagem de ovos nas fezes (RCOF)
determinada pela fórmula descrita por COLES
et al. (2006):
RCOF = [ 1 - ( OPGt / OPGc ) ] x 100,
em que: RCOF= teste de redução da contagem de ovos por grama de fezes;
OPGt= média do número de ovos por grama de fezes do grupo de animais
tratados; OPGc= média do número de ovos por grama de fezes do
grupo-controle.
Os dados obtidos foram analisados pelo programa estatístico RESO
(WURSTHORN & MARTIN, 1990), seguindo-se as instruções WAAVP (COLES
et al.,
1992), em que a resistência está presente se a percentagem de
redução da contagem de ovos for inferior a 95% e se o limite inferior
do intervalo de confiança a 95% for menor que 90%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao se comparar o desempenho dos medicamentos ivermectina e albendazole
no controle das espécies de endoparasitas específico para caprinos
utilizados nas propriedades, de acordo com os critérios estabelecidos
pelo programa RESO, a ivermectina apresentou menor resistência que o
albendazole. Das trinta propriedades estudadas, na análise do
percentual individual de
Haemonchus contortus e
Trichostrongylus sp., o resultado é como segue: em relação ao
H. contortus,
o percentual de população de helmintos resistentes ao albendazole foi
de 90% nas propriedades estudadas e à ivermectina de apenas 36,6% (
Tabela 1). Trata-se de resultados que se assemelham aos encontrados por MELO
et al. (2003).
O
H. contortus foi também o
helminto mais prevalente, sendo encontrado em todos os grupos tratados.
Resultados similares foram encontrados por VIEIRA & CAVALCANTE
(1999) e BARRETO
et al. (2002), no Nordeste brasileiro, e MATTOS
et al. (2000), no Rio Grande do Sul. MATTOS
et al.
(2003), em análise da sensibilidade dos nematodeos gastrintestinais de
caprinos à ivermectina, na região da Grande Porto Alegre, verificaram
que o
H. contortus foi o helminto mais prevalente, representando um percentual de 96% da população encontrada no grupo-controle.
Em relação ao
Trichostrongylus
sp., a prevalência foi de 70% nas propriedades estudadas. O percentual
de população de helmintos resistentes atingiu, para o tratamento com
ivermectina, a resistência de 33,3% nas propriedades. No tratamento com
albendazole, foi de 42,8% (
Tabela 2).
O percentual de helmintos resistentes para os dois princípios ativos é
alto e torna-se alarmante, ao se verificar o percentual de nematodeos
que possuem resistência ao albendazole: 90% das propriedades (
Tabela 3). Resultados semelhantes referem a resistência de nematodeos de caprinos aos benzimidazóis, como obtidos por THEODORIDES
et al. (1970), ANDERSEN & CHISTOFFERSON (1973) e McGREGOR
et al. (1980). MELO
et al.
(2003), em um experimento utilizando 25 criações de ovinos e caprinos
localizadas no estado do Ceará, verificaram que 87,5% delas
apresentaram nematodeos resistentes aos benzimidazóis e 37,5% à
ivermectina.
Em ordem de resistência, observou-se que a espécie
H. contortus foi a que obteve maior índice de resistência, seguida pelos gêneros
Trichostrongylus sp. e
Oesophagostomun sp. (
Tabela 4). Esses resultados estão de acordo com os relatados por MELO
et al. (2003), que encontraram
Haemonchus sp.,
Trichostrongylus sp.,
Ostertagia sp., no Nordeste.
Ostertagia sp. não é encontrado no município de Mossoró, RN.
A redução na contagem de ovos nas fezes (RCOF) após o tratamento com
ivermectina e albendazole variou entre 43% e 100% e 29% e 100%,
respectivamente (
Tabela 5). O percentual de redução diverge do encontrado por MELO
et al.
(2003). Esses autores, avaliando o percentual de RCOF, obtiveram, como
resultado, uma variação de 60% a 100% e 2% a 96% para ivermectina e
benzimidazol, respectivamente. Resultados similares foram relatados por
MATTOS
et al. (2003), ao
testarem a ivermectina na região sul do Brasil. Já BARRETO & SILVA
(1999), em avaliação do RCOF no estado da Bahia para albendazole após
dez dias de tratamento, obtiveram a percentagem de 79,31%. Em Porto
Alegre, MATTOS
et al. (2004)
verificaram a eficácia da ivermectina em 42,10 % aos quatorze dias
pós-tratamento. VIEIRA & CAVALCANTE (1999), em experimento
utilizando drogas anti-helmínticas derivadas dos benzimidazóis e
imizóis, por meio do RCOF, verificaram que, de 34 rebanhos caprinos no
estado do Ceará, 17,6% dos nematodeos gastrintestinais estavam
resistentes ao oxfendazole (derivado do benzimidazol), 20,6% ao
levamizole e 35,3% apresentaram resistência múltipla a ambos os grupos
químicos avaliados.
Os resultados obtidos com a cultura de larvas demonstraram que 100% das
infecções helmínticas de caprinos eram por helmintos da superfamília
Trichostrongyloidea e
Rhabdiasoidea. Os nematodeos encontrados foram
Haemonchus contortus, Strongyloides sp.,
Trichostrongylus sp. e
Oesophagostomun sp. (
Tabela 6), o que está de acordo com o descrito por AHID
et al.
(2008) em avaliação dos parasitos gastrintestinais de caprinos da
região oeste do Rio Grande do Norte. A identificação das larvas
infectantes mostrou que os nematodeos sobreviventes às medicações
testadas foram principalmente
Haemonchus contortus, seguido pelo
Strongyloides sp. Trata-se de resultados que concordam com os encontrados por AHID
et al. (2007), em pesquisas feitas em caprinos da zona da mata em Alagoas.
No presente trabalho, de acordo com as coordenadas geográficas de cada propriedade no município de Mossoró, RN (
Tabela 7), nas trinta propriedades marcadas por GPS (
Figura 1),
houve nematodeos resistentes para o albendazole. A resistência ao
medicamento encontra-se largamente distribuída por todo município,
concentrando-se na região oeste da cidade (
Figura 2).
A resistência à ivermectina está distribuída no município de Mossoró,
RN, mas em menor proporção, ao se comparar com o albendazole. A
distribuição geográfica das treze propriedades resistentes à
ivermectina concentrou-se nas regiões oeste e sudeste da cidade (
Figura 3).
Em todas as propriedades que continham nematodeos resistentes à
ivermectina, 100% delas estavam resistentes ao albendazole
simultaneamente.
A análise dos questionários revelou que os anti-helmínticos mais usados
pertenciam aos grupos dos benzimidazóis e avermectinas, e em menor
escala dos imidazóis.
Em dezenove propriedades (63,3%) os anti-helmínticos utilizados
pertenciam apenas ao grupo dos benzimidazóis, dez (33,3%) à ivermectina
e um (3,3%) aos imidazóis. Não foi evidenciado uso simultâneo de dois
ou mais princípios ativos em uma mesma propriedade. Tais dados
discordam de VIEIRA & CAVALCANTE (1999), em estudo realizdo em
rebanhos caprinos no estado do Ceará. Esses autores verificaram que em
dez propriedades (29,4%) os anti-helmínticos utilizados pertenciam
apenas ao grupo dos imidazóis (20,6%) ou apenas ao dos benzimidazóis
(8,8%) e que algumas propriedades utilizavam simultaneamente grupos de
princípios ativos diferentes. O perfil epidemiológico das propriedades
resistentes no município de Mossoró, RN, revelou que, de acordo com os
questionários, os criadores de caprinos adotavam um sistema de manjo
animal ineficiente. Também evidenciou um despreparo e desconhecimento
quanto ao uso e dosagem correta dos anti-helmínticos. Em diversas
ocasiões, realizaram-se subdosagem e superdosagem dos medicamentos. Os
proprietários vermifugavam todo o rebanho sem respeitar um intervalo
considerável de dias entre uma administração e outra. Evidenciou-se
rápida rotação de grupos de princípios ativos em curtos intervalos de
tempo.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos indicam que os nematoides gastrintestinais de
caprinos localizados no município de Mossoró, RN, estão resistentes, em
sua maioria, ao anti-helmíntico albendazole e em menor escala à
ivermectina.
AGRADECIMENTOS
À Associação dos Caprinos e Ovinos de Mossoró e Região (ASCCOM), à
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), à BIOFARM –
Tecnologia em Veterinária e à Embrapa Caprinos.
REFERÊNCIAS
ACOSC. Caprinovinocultura é
um bom negócio para o pequeno produtor. Disponível em :<
http://www.acosc.org.br />. Acesso em: 2 nov. 2006.
AHID, S. M. M.; CAVALCANTE,
M. D. A.; BEZERRA, A. C. D. S.; SOARES, H. T. S.; PEREIRA ,R. H. M. A. Eficácia
anti-helmíntica em rebanho caprino no Estado de Alagoas, Brasil. Acta
Veterinária Brasílica, v. 1, n. 2, p. 56-59, 2007.
AHID, S. M. M.; SUASSUNA, A.
C. D.; MAIA, M. B.; COSTA, V. M. M.; SOARES, H. S. Parasitos gastrintestinais
em caprinos e ovinos da região Oeste do Rio Grande do Norte, Brasil. Ciência
Animal Brasileira, v. 9, n. 1, p. 212-218, 2008.
ALBERTI, H.; ALBERTI A. L.
L.; BORDIN, B. E. L.; SILVA JR., C. I. F. Algumas considerações sobre a
resistência dos parasitos aos antiparasitários e métodos de avaliação. A
Hora Veterinária, v. 21, n. 123, p. 36-40, 2001.
ANDERSEN, F. L.;
CHRISTOFERSON P. V. Efficacy of haloxon and thiabendazole against
gastrointestinal nematodes in sheep and goats in the Edwards Pleteau area of
Texas. Journal Veterinary, v. 34, n. 11, p. 1395-1398, 1973.
BARRETO, M. A.; ALMEIDA, M.
A. O.; SILVA, A.; REBOUÇAS, I.; MENDONÇA, L. R. Resistência anti-helmíntica em
rebanhos caprinos no estado da Bahia. In: Congresso
Brasileiro de Medicina Veterinária (CONBRAVET), 29., 2002, Anais...
Gramado: SBMV/SOVERGS, 2002. Disponível em: <
http://www.conbravet.com.br/>. Acesso em: 22 jun. 2002.
BARRETO, M. A.; SILVA, J. S.
Avaliação da resistência de nematodeos gastrintestinais em rebanhos caprinos do
Estado da Bahia: resultados preliminares. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO DE
PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 1999, Salvador, BA. Anais... Salvador:
Colégio Brasileiro de Parasitologia Veterinária, 1999, 160 p. Disponível em:
<http://www.cnpc.embrapa.br/>. Acesso em: 15 dez. 1999.
CHARLES,
T. P.; POMPEU, J.; MIRANDA, D. B. Efficacy of three broad-spectrum
anthelmintics against gastrointestinal nematode infections of goats. Veterinary
Parasitology, v. 34, p. 71-75, 1989.
COLES, G. C.; JACKSON, F.;
POMROY, W. E.; PRICHARD R. K.; SON-HIMMELSTJERNA, G. V.; SILVESTRE, A.; TAYLOR, M. A.; VERCRUYSSE, J. The detection of anthelmintic resistance in
nematodes of veterinary importance. Veterinary Parasitology, v. 136, p.
167-185, 2006.
COLES, G. C.; BAUER, C.;
BORGSTEEDE, F. H. M.; GEERTS, S.; KLEI, T. R.; TAYLOR, M. A.. World association
for the advancement of veterinary parasitology (WAAVP) methods for the
detection of anthelmintic resistance in nematodes of veterinary importance. Veterinary
Parasitology, v. 44, p. 35-44, 1992.
COSTA JÚNIOR, G, S.;
MENDONÇA, I. L.; CAMPELO, J. E. G.; CAVALCANTE, R. R.; FILHO, L. A. D.;
NASCIMENTO, I. M. R.; ALMEIDA, E. C. S.; CHAVES, R. M. Efeito de vermifugação
estratégica, com princípio ativo à base de ivermectina na incidência de
parasitos gastrintestinais no rebanho caprino da UFPI. Ciência
Animal Brasileira, v. 6, n. 4, p. 279-286, 2005.
GORDON,
H. M. ; WHITLOCK, H. V. A new technique for couting nematode eggs in sheep
faeces. Journal of the Commonwealth Scientific and Industrial Research
Organization, v. 12, p. 50-52, 1939.
IBGE. 2003. Disponível em
:< http://www.ibge.gov.br >.
Acesso em: 3 dez. 2003.
KEITH, R. K. The
differential of the infective larval of some common nematode parasites of
cattle. Australian Journal Zoollogy, v. 2, p. 223-230, 1953.
KERBOUEF, D.; HUBERT, J.
Benzimidazole resistance of field strains of nematodes from goats in France. Veterinary
Record, v. 116, n. 5, 1985, 133 p.
KETTLE, P. R.; VLASSOFF A.;
REID, T. C; HORTON, C. T. A survey of nematode control of measure used by
milking goats farmers and of anthelmintic resistance on their farms. Journal of Zoology Veterinary, v. 31, n.
8, p. 139-143, 1983.
MATTOS , M. J. T.; SCHMIDT,
V; BASTOS, C. D. Atividade ovicida de dois fármacos em caprinos naturalmente
parasitados por nematodeos gastrintestinais, RS, Brasil. Ciência Rural,
v. 30, n. 5, p. 893-895, 2000.
MATTOS
M. J. T.; OLIVEIRA C. M. B.; GOUVÊA A. S.; ANDRADE C. B. Haemonchus resistente
à lactona macrocíclica em caprinos naturalmente parasitados. Ciência Rural,
v. 34, n. 3, p. 879-883, 2004.
MATTOS, M. J. T.; CASTRO, E.
S. Utilização de anti-helmínticos no controle de verminose caprina no Estado do
Rio Grande do Sul. A Hora Veterinária, v. 22, n. 130, p. 52-54, 2002.
MATTOS, M. J. T.; OLIVEIRA,
C. M. B.; GOUVEA, A. S.; ANDRADE, C. B. Sensibilidade dos nematodeos
gastrintestinais de caprinos ao ivermectin na região da Grande Porto Alegre,
RS. Acta Scientiae Veterinariae, v. 31, n. 3, p. 155-160, 2003.
MCGREGOR, B. A.; ADOLPH A.
J.; CAMPBEL, N. J. Occurrence of anthelmintic resistance in goats in Victoria.
Australian Animal, p. 13-159, 1980.
MELO A. C. F. L.; BEVILAQUA
C. M. L.; VILLAROEL A. S.; GIRÃO M. D. Resistência a anti-helmínticos em
nematoides gastrintestinais de ovinos e caprinos, no município de Pentecoste,
Estado do Ceará. Ciência Animal, v. 8, p. 7-11, 1998.
MELO, A. C. F. L.; REIS, I.
F.; BEVILAQUA, C. M. L.; VIEIRA, L. S.; ECHEVARRIA, F. A. M.; MELO, L. M.
Nematodeos resistentes a anti-helmínticos em rebanhos de ovinos e caprinos do
estado do Ceará, Brasil. Ciência Rural, v. 33, p. 339-344, 2003.
MOLENTO, M. B. Resistência
de helmintos em ovinos e caprinos. Revista Brasileira de Parasitologia
Veterinária, v. 13, p.82-85, 2004.
PAIVA,
F.; SATO, M. O.; ACUÑA, A. H.; JENSEN, J. R.; BRESSAN, M. C. R. V. Resistênciaà
ivermectina constatada em Haemonchus placei e Cooperia punctata
em bovinos. Hora veterinária. Disponível em:<
http://www.veterinary-associates.com />. Acesso em: 25 fev. 2007.
SANGSTER, N. C. Managing
parasiticide resistance. Veterinary Parasitology, v. 98, p. 89-109,
2001.
SIMPLÍCIO, A. A. Caprino-ovinocultura:
uma alternativa à geração de emprego e renda. Disponível em: <
http://www.cnpc.embrapa.br/artigo-6.htm >.
Acesso em: 3 nov. 2006.
THEODORIDES V. J.; SCOTT, G.
C.; LADERMAN, M. Efficacy of parbendazole against gastrointestinal nematodes in
goats. Jornal of Veterinary, v. 31, n. 5, p. 857-863, 1970.
UENO, H.; GONÇALVES, P. C. Manual
para diagnóstico das helmintoses de ruminantes. 4. ed. Tokyo: Japan
International Cooperation, 1998, 143 p.
VIEIRA, L. S. Atividade
ovicida in vitro e in vivo dos benzimidazóis: oxfendazole,
fenbendazole, albendazole e thiabendazole em nematodeos gastrintestinais de
caprinos. 1986. 115 f. Tese, (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Departamento
de Ciências animais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
1986. Disponível em: < http://www.cnpc.embrapa.br/dissertacao.htm >.
Acesso em: 26 jun. 2009.
VIEIRA, L. S.; CAVALCANTE,
A. C. R. Resistência anti-helmíntica em rebanhos caprinos no Estado do Ceará. Pesquisa
Veterinária Brasileira, v. 19, n. 3-4, p. 99-103, 1999.
WURSTHORN, L.; MARTIN, P. Reso:
faecal egg count reduction test (FECRT) Analysis Program. 2.01. Parkville:
CSIRO Animal Health Research Laboratory, 1990.
Protocolado
em: 12 jan. 2009. Acesso em: 9 fev.
201