FIBRA MUSCULAR, DESEMPENHO E A QUALIDADE DA
CARCAÇA DE QUATRO GRUPOS GENÉTICOS DE SUÍNOS*
Julian Cristina
Borosky1, Marco Antonio da Rocha2, Caio Abércio da Silva2,
Ana Maria Bridi2, Roberta Abrami Monteiro3
1Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Estadual de Londrina, PR.
2Professor Doutor do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Londrina, PR
3Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Estadual de Londrina, PR
(*) Projeto financiado pelo CNPq.
RESUMO
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PALAVRAS-CHAVE: deposição de carne; diâmetro celular;
gênero; grupos genéticos.
MUSCLE FIBER,
PERFORMANCE AND CARCASS QUALITY OF FOUR GENETIC GROUPS OF PIGS
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
Segundo DWYER et al. (1993), o número de fibras musculares está
relacionado com um crescimento mais rápido e eficiente do animal e tem efeito
negativo na deposição de gordura (SEIDMAN et al., 1989). Vários pesquisadores
verificaram que animais de linhagem de crescimento rápido têm mais fibras
musculares que animais de linhagem de crescimento lento (EZEKWE & MARTIN,
1975; DWYER et al., 1993; STICKLAND, 1996).
LEFAUCHEUR (2006) também sugere que o diâmetro celular é um parâmetro que
pode estar relacionado com o rendimento de carne, quando não há diferença no
número de fibras musculares, não obstante essa influência ainda gere muita
discussão.
Neste sentido, objetivou-se com este trabalho verificar o desempenho e a
qualidade da carcaça de quatro linhagens genéticas de suínos e correlacionar
estes dados com o número e diâmetro das fibras musculares.
Foram utilizados 48 suínos, sendo 24 machos
castrados e 24 fêmeas, 12 de cada linhagem genética, distribuídos em um delineamento experimental
inteiramente casualizado em arranjo fatorial 4 x 2 (4 linhagens genéticas e 2
gêneros). As linhagens genéticas
avaliadas foram: linhagem comercial melhorada para crescimento/produção
de carne magra; linhagem comercial melhorada para fins de prolificidade; suínos
resultantes de cruzamentos entre as raças Large White X Landrace; suínos sem
genética definida. Os suínos entraram no experimento com peso vivo médio e
idade inicial de 12,18 ± 0,86 kg e 43 ± 0,00 dias; 12,21 ± 1,48 kg e 53 ± 0,04
dias; 12,07 ± 1,57 kg e 49 ± 0,03 dias e; 12,11 ± 1,44 kg e 41,83 ± 5,06 dias,
respectivamente.
Na análise do desempenho, a unidade experimental foi formada por dois
animais de mesmo gênero alojados em uma mesma baia. Na análise das
características da carcaça e fibra muscular, cada animal definiu uma unidade
experimental. Na análise do desempenho foi verificado o ganho diário de peso, o
consumo diário de ração e a conversão alimentar. As características de carcaça
avaliadas foram peso de carcaça quente e resfriada, rendimento de carcaça,
comprimento de carcaça, profundidade e área do músculo longissimus dorsi e espessura de toucinho.
Os suínos foram alojados em baias de alvenaria (dois indivíduos do mesmo
gênero por baia), com piso compacto, com 3 m2 de área, equipadas com
um bebedouro tipo nipple e comedouro
semi-automático, onde foram
alimentados ad libitum até o abate. As dietas experimentais (Tabela 1)
foram fornecidas à vontade, sendo isonutrientes e formuladas para atender as
exigências mínimas orientadas por ROSTAGNO (2005), de acordo com as diferentes
fases: inicial (12 a 20 kg de peso vivo), crescimento I (20 aos 50 kg de peso
vivo), crescimento II (50 aos 80 kg de peso vivo) e terminação (80 aos 100 kg
de peso vivo).
Os suínos foram pesados semanalmente e no início do período de jejum pré-abate, para avaliar o ganho em peso. A ração fornecida foi pesada e o desperdício e as sobras no comedouro foram descontadas do total administrado. Assim, calculou-se o ganho diário de peso, o consumo diário de ração e a conversão alimentar.
Ao atingirem o peso médio de 100,00 ± 3,45 kg, os animais foram abatidos em um frigorífico comercial distante 45 km da Fazenda Escola. A ração foi retirada 12 horas antes do embarque, permanecendo os animais sob dieta hídrica até o abate. O embarque dos suínos foi realizado às seis horas da manhã, sendo o tempo de transporte até o frigorífico de aproximadamente uma hora.
O processo de abate consistiu
de insensibilização via corrente elétrica, com um equipamento da marca Petrovina®
IS 2000 com dois eletrodos, utilizando-se 350 volts e 1,3 ampéres. A descarga
elétrica foi aplicada por aproximadamente três segundos. A sangria foi
realizada através do corte da veia jugular, com os animais na posição vertical,
suspensos pelo membro posterior.
Após o abate, escaldagem e
evisceração, as carcaças foram divididas ao meio longitudinalmente, pesadas
(peso de carcaça quente) e resfriadas à temperatura de 2 ± 1ºC, por 24 horas,
na câmera de resfriamento do frigorífico. Após esse período, as carcaças foram
novamente pesadas (peso de carcaça resfriada). A partir do peso vivo, obtido ao
início do período de jejum, e o peso de carcaça quente, estimou-se o rendimento
de carcaça.
As carcaças foram avaliadas
individualmente de acordo com as orientações da ABCS (1973), para obtenção dos
dados de comprimento de carcaça, profundidade do músculo longissimus dorsi, espessura de toucinho e área de olho de lombo. A
espessura de toucinho e a profundidade do músculo longissimus dorsi foram
medidas na altura da última costela, a 6 cm da linha média do corte.
Para a contagem e mensuração do diâmetro celular do longissimus dorsi, uma amostra foi retirada da meia carcaça esquerda, na altura da
última costela. As amostras foram armazenadas em solução de Bouin por 24
horas, sendo então lavadas e mantidas em álcool 70%. Posteriormente, o material
foi desidratado, emblocado em parafina e colorido pela Hematoxilina e Eosina
para a preparação das lâminas.
O número médio de fibras musculares foi estimado indiretamente pela contagem aleatória de 13 campos (capturados ao acaso), com o auxílio de uma Câmera digital Pro-series 3-chipcolor e um microscópio Olympus BX 50. O número total de fibras do músculo (NTF) foi estimado pela fórmula:
Em que: AT = Área total do
músculo; NFC = Número de fibras contadas em todos os campos; C = Número de
campos lidos; AC = Área de cada campo lido.
Para determinação do diâmetro
da fibra muscular foram capturados 13 campos de cada lâmina e medido o menor
diâmetro de 15 fibras por campo, totalizando 195 fibras por lâmina.
Os resultados foram
submetidos à análise de variância utilizando-se o programa estatístico SAEG
(1993) e as médias foram comparadas pelo teste de Duncan ao nível de 5% de
significância. Para a análise de correlação foi utilizando o teste de Pearson.
Entre os gêneros não foi
observada diferença (P>0,05) para o número de fibras no músculo longissimus dorsi, concordando com
MILLER et al. (1975).
Os animais cruzados Large
White x Landrace e a linhagem selecionada para deposição de carne apresentaram
maior diâmetro celular no longissimus dorsi (P<0,05) e os animais sem
genética definida e a linhagem melhorada para prolificidade apresentaram o
menor diâmetro (P<0,05); entretanto, as linhagens selecionadas para
deposição de carne não diferiram do segundo grupo. Esses resultados concordam
parcialmente com STICKLAND (1996) e LARZUL et al. (1997), que observaram que
animais com um maior número de fibras musculares apresentam fibras de menor
diâmetro. Segundo MILLER et al. (1975), suínos selecionados para o crescimento
rápido apresentam maior número de fibras, porém de menor diâmetro. O aumento do
número de fibras musculares em suínos está associado ao rápido crescimento e à
maior proporção de tecido magro.
Os valores médios observados
para as características de desempenho estão apresentados na Tabela 3. Para o
ganho diário em peso foi observada diferença (P<0,05) entre os grupos
genéticos. Suínos da linhagem prolificidade apresentaram melhor ganho diário em
peso, seguidos dos grupos genéticos da linhagem carne e cruzamento Landrace x
Large White. Os suínos sem genética definida apresentaram o menor ganho diário
em peso. Observa-se que a linhagem sem genética definida foi a que apresentou o
menor número de fibras musculares e o menor ganho em peso, confirmando a
associação positiva entre o número de fibras e a velocidade de crescimento dos
suínos.
Para o consumo diário de ração, os animais melhorados para característica de crescimento apresentaram menor consumo (P<0,05) em relação ao grupo de animais sem genética definida, mas não diferiram do grupo proveniente de animais cruzados Large White x Landrace. Para o gênero, os machos castrados apresentaram maior consumo (P<0,05), porém não houve interação entre os grupos genéticos e o gênero. As diferenças observadas entre os gêneros foram semelhantes aos resultados obtidos por CISNEROS et al. (1996) e HAMILTON et al. (2003), que verificaram que os machos castrados consumiram mais ração que as fêmeas.
Quanto
à conversão alimentar, o grupo de animais não melhorados comercialmente
apresentou o pior índice (P<0,05) em relação aos demais. Os machos foram
piores que as fêmeas (P<0,05) para a característica, não havendo interação
entre os gêneros e os grupos genéticos.
Em
relação à idade ao abate, os animais de linhagens não melhoradas atingiram o
peso de 100 kg mais tardiamente (P<0,05) que as demais linhagens
(aproximadamente 14 dias de diferença daqueles de linhagem comerciais
selecionados para deposição de carne). Se comparados somente dentro do período
experimental, observa-se que os suínos não melhorados demoraram, em média, 20
dias a mais para atingir o peso de abate. BULLOCK et al. (1991) verificaram que
suínos provenientes do cruzamento entre Duroc e Landrace apresentaram idade de
abate mais precoce (15,9 dias a menos) que leitões oriundos de linhagem não
selecionada. Esses resultados indicam que animais com mais fibras musculares
são mais precoces ao peso ao abate. Os machos castrados atingiram o peso ao
abate aproximadamente 7 dias mais cedo que as fêmeas (P<0,05).
O
grupo de suínos sem genética definida foram os que apresentaram menor número de
células musculares e pior conversão alimentar. Esses resultados estão de acordo
com DWYER et al. (1993). BARK et al. (1992) observaram que suínos de alto
potencial para deposição de carne magra apresentaram melhor conversão alimentar
que suínos de baixo potencial para deposição de carne magra, crescendo mais
rápido e consumindo menos ração por unidade de ganho em peso.
Na Tabela 5 estão apresentados os resultados referentes às
características de carcaça. Não houve diferença (P>0,05) entre as linhagens
para as características peso de carcaça quente e peso de carcaça fria. Os
maiores rendimentos de carcaça foram obtidos, respectivamente, pelos animais
selecionados para deposição de carne, não melhorados geneticamente e cruzados
Landrace x Large White, enquanto que os da linhagem prolificidade apresentaram
os piores rendimentos de carcaça (P<0,05). Os machos, todavia, apresentaram
rendimentos inferiores às fêmeas (P<0,05).
Quanto
ao comprimento de carcaça, os animais provenientes do cruzamento Landrace x
Large White apresentaram carcaças mais compridas que os das linhagens
comerciais selecionados para carne e para prolificidade (P<0,05). As
linhagens selecionadas para prolificidade não diferiram das demais linhagens
(P>0,05) e os machos castrados tiveram menor comprimento de carcaça que as
fêmeas (P<0,05). Resultados de pesquisas indicam que animais de linhagem magra tendem a ter carcaças
mais compridas e mais pesadas que suínos de linhagem obesa (SEIDMAN et al.,
1989; WISEMAN, 2006).
Para
a profundidade do músculo longissimus dorsi, as linhagens comerciais
apresentaram maiores médias (P<0,05) comparados com os animais sem genética
definida, que têm menos fibras musculares. Os animais provenientes do
cruzamento Landrace x Large White não diferiram das demais linhagens
(P>0,05) e os machos castrados apresentaram menor profundidade de músculo
que as fêmeas (P<0,05). MILLER et al. (1975) verificaram que o aumento no
número de fibras no músculo longissimus
dorsi estava associado a maior proporção de tecido magro na carcaça.
Para a espessura de toucinho os grupos de suínos selecionados para carne e os para prolificidade apresentaram valores menores (P<0,05) em relação aos demais grupos, indicando menor deposição deste tecido. Os machos castrados apresentaram maior espessura de toucinho, havendo interação entre os grupos genéticos e os gêneros, sendo que somente os machos castrados do grupo de animais não melhorados e do cruzamento Landrace x Large White apresentaram maior espessura de toucinho que as fêmeas do mesmo grupo. A profundidade de músculo se relaciona negativamente com a deposição de gordura na carcaça e sinergicamente com a área de olho de lombo, sendo que animais com menor espessura de toucinho comumente têm maior profundidade de músculo.
Na Tabela 6 estão apresentados os resultados da correlação entre as características histológicas do longissimus dorsi e as características de desempenho. A correlação fenotípica entre o número e o diâmetro celular foi negativa e moderada (-0,33), indicando que quanto mais fibras musculares, menor tende a ser seu diâmetro. A correlação fenotípica entre o número de fibras e a conversão alimentar e a idade aos 100 kg de peso vivo foi de moderada a baixa, indicando que animais com mais fibras musculares têm melhor conversão alimentar e atingem os 100 kg de peso vivo mais precocemente.
A correlação entre o número de fibras e
as características de carcaça apresentou valores de moderado a alto, sendo
negativo para a espessura de toucinho e positivo para as características de
profundidade de músculo, área de olho de lombo, porcentagem de carne magra e
quantidade de carne magra na carcaça. Os resultados apontam que animais com
mais fibras musculares produzem carcaças com menor espessura de toucinho, maior
profundidade de músculo e área de olho de lombo. Esses animais ainda têm maior
porcentagem de carne e maior quantidade de carne magra na carcaça.
A correlação entre o diâmetro das fibras
musculares e o consumo diário de ração e o ganho diário de peso foi negativa e
de moderada a baixa indicando que animais que têm fibras musculares de maior
diâmetro consomem menos ração por dia e têm menor crescimento diário que
animais que exibem fibras musculares de menor diâmetro.
CONCLUSÕES
O incremento no número de fibras
musculares de suínos atua de maneira positiva nas características de
crescimento e de qualidade da carcaça, produzindo animais precoces ao peso de
abate e com maior deposição de carne magra na carcaça.
Há grande influência do gênero sobre as
características de desempenho e qualidade de carcaça. Os machos castrados
crescem mais rapidamente, porém apresentam maior deposição de gordura na
carcaça que as fêmeas.
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