DOI:
10.1590/1809-6891v20e-53529
MEDICINA
VETERINÁRIA
OCORRÊNCIA
DE FILARÍDEOS PARASITOS EM CÃES DOMICILIADOS E PROVENIENTES DE ABRIGO
ANIMAL DE JOINVILLE – SANTA
CATARINA
OCCURRENCE OF FILARID PARASITES IN DOMICILED AND SHELTER
DOGS IN THE CITY OF JOINVILLE – SANTA CATARINA
Anna Karina Kannenberg1 - http://orcid.org/0000-0001-6501-2369
Luca
Frondana1 - http://orcid.org/0000-0003-4468-1648
Igor
Henrique Rodrigues Martins1 - http://orcid.org/0000-0003-1355-3686
Charlene
Edianez Longhi1 - http://orcid.org/0000-0003-4515-2756
Michele
Müller Fialkowski2 - http://orcid.org/0000-0001-9067-169X
Viviane
Milczewski1* - http://orcid.org/0000-0002-7117-5380
1Instituto
Federal Catarinense, Araquari, SC, Brasil.
2Laboratório
Badanievet, Araquari, SC, Brasil.
*Autora
para
correspondência –
viviane.milczewski@ifc.edu.br
Resumo
Dentre
os diversos nematódeos filarídeos que parasitam cães, alguns podem ser
apatogênicos como Acanthocheilonema
reconditum, e outros como Dirofilaria
immitis podem levar esses animais a óbito, além de terem potencial
zoonótico. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi realizar um
levantamento da ocorrência de filarídeos em cães residentes em domicílio
fixo e cães errantes que estavam
temporariamente em um abrigo animal de Joinville-SC. Entre 2015 e 2017,
amostras de sangue de 429 animais foram submetidas à busca de
microfilárias ou antígenos de D.
immitis, utilizando-se o Método
de Knott modificado e o kit comercial
de diagnóstico clínico. Vinte e quatro amostras (5,6%) apresentaram
microfilárias de A. reconditum
e três (0,7%) foram positivas para D.
immitis, totalizando 27 (6,3%) cães positivos para a presença de
filarídeos parasitos. A.
reconditum teve maior ocorrência em cães provenientes de abrigos,
já os três cães positivos para D.
immitis eram domiciliados e não apresentavam suspeita clínica de
dirofilariose. A presença desses parasitos em cães da região denota a
importância do diagnóstico diferencial das espécies de microfilárias
para o encaminhamento clínico adequado dos cães parasitados. As
informações epidemiológicas obtidas podem orientar a comunidade médica e
veterinária em relação à atenção para as suspeitas clínicas de
dirofilariose canina e humana, assim como na orientação das medidas de
prevenção visando a saúde pública e animal.
Palavras-chave:
Acanthocheilonema reconditum.
Dirofilaria immitis. Microfilárias.Zoonose.
Abstract
Parasites from the Filariidae family are among the nematodes that can
infest dogs. Some maybe apathogenic as Acanthocheilonema reconditum, and
others such as Dirofilaria are potentially
zoonotic and may lead to dog death. Thus, the aim of this work was to
perform a survey on filarid infection in dogs with fixed domicile
domiciled and errant dogs temporarily sheltered
dogs in the city of Joinville-SC. Blood samples from 429 animals were
collected from 2015 to 2017 and they were submitted to screening for
microfilariae and/or D. immitis antigens. Our results revealed displayed
twenty-four samples (5.6%) of A. reconditum microfilariae and three
samples (0.7%) of D. immitis, totaling 27 (6.3%) animals with positive
animals confirmed the presence of filarid parasites. Additionally, A.
reconditum was more prevalent in dogs from shelters, whereas the three
D. immitis positive samples were from domiciled dogs and they displayed
no clinical signs of the presence of parasites. The occurrence of these
parasites in dogs from in Joinville indicates the importance of
differential diagnosis of microfilaria species for correct clinical
management of infected dogs. Our epidemiological information may help
the medical and veterinary community of the region regarding clinical
suspicion of canine and human dirofilariasis, as well as guide
preventive actions targeting public and animal health professionals.
Keywords:
Acanthocheilonema reconditum.
Dirofilaria immitis. Microfilariae. Zoonosis.
Recebido em: 15 de junho de 2018
Aceito em: 25 de abril de 2019
Introdução
Filarídeos (superfamília Filarioidea) são parasitos nematódeos que se localizam em diferentes órgãos do hospedeiro definitivo e apresentam ciclo biológico caracterizado pela liberação de microfilárias na circulação, as quais são ingeridas e transmitidas pelo hospedeiro intermediário hematófago.
No Brasil, diversos gêneros de filarídeos foram relatados em mamíferos domésticos e selvagens. Moraes et al.(1) encontraram Acanthocheilonema reconditum, Brugia sp., Dirofilaria immitis, Dirofilaria (Nochtiella)repens e Mansonella sp. em quatis (Nasua nasua) em área de preservação da floresta Atlântica em Foz do Iguaçu – Paraná.
Na espécie canina, sempre houve grande interesse na identificação de filarídeos parasitos, seja pela relevância clínica ou pelo possível potencial zoonótico. Foram relatadas várias filárias de cães domésticos em diversas partes do mundo como Brugia pahangi(2), Dirofilaria (Nochtiella) repens(3), Dipetalonema dracunculoides(4), Brugia malayi(5), Cercopithifilaria baine(6). Essa última foi recentemente relatada em cão na região nordeste do Brasil(7).
Assim como em outras as regiões do mundo, Dirofilaria immitis e Acanthocheilonema reconditum são os filarídeos mais prevalentes no Brasil(7-10). Filárias de Acanthocheilonema sp. são transmitidas biologicamente por pulgas (Ctenocephalides canis, Ctenocephalides felis, Pulex irritans, P. simulans, Echidnophaga gallinae) ou piolhos hematófagos (Heterodoxus spiniger, Linognathus setosus) durante o repasto sanguíneo(11). São consideradas pouco patogênicas, provavelmente por parasitarem preferencialmente o tecido subcutâneo(12). Já D. immitis é transmitida por uma variedade de mosquitos como Aedes vexans (Meigen), Anopheles quadrimaculatus (Say), Anopheles punctipennis (Say), Culex pipiens quinquefasciatus (Say), Culex erraticus (Dyer e Knab), Culiseta inornata (Williston), Psorophora columbiae (Dyer e Knab), Psorophora fierox (Humboldt) e Psorophora howardii (Coquillett)(13). D. immitis parasita preferencialmente canídeos domésticos e selvagens. Na fase adulta, instala-se na artéria pulmonar e no ventrículo direito podendo causar sinais de apatia, intolerância ao exercício, distúrbios circulatórios como síndrome da veia cava ou morte.
No Brasil, observa-se ampla variação da prevalência de dirofilariose entre as diferentes regiões(10). Segundo Labarthe e Guerrero(14), devido aos ciclos reprodutivos dos mosquitos vetores, regiões litorâneas possuem maior ocorrência de dirofilariose. A cidade de Joinville, localizada na região norte de Santa Catarina, Brasil, banhada pela Baía da Babitonga e contando com 36 km² de área de manguezais, possui características climáticas propícias para a propagação dos vetores(15). Apresenta precipitação mensal média de 183,6 mm(16) e valores médios anuais de temperatura e umidade de 22,4°C e 80,76%, respectivamente(17).
Apesar de Bublitz et al.(18) terem relatado oito casos de dirofilariose humana em Joinville, não há estudos que indiquem a prevalência de cães parasitados por filárias na cidade. Logo, o objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento da ocorrência de filarídeos parasitos de cães domiciliados e cães provenientes de abrigos animais, residentes no município de Joinville-SC.
Material e métodos
O trabalho foi desenvolvido no município de Joinville, localizado no litoral norte do estado de Santa Catarina (26° 18' 14" S 48° 50' 45" O), região Sul do Brasil. Possui extensão total de 1.124,10 km2, sendo 913,7 km2 de área rural e 210,4 km2 de área urbana(15), limítrofe à Serra do Mar e à Baía da Babitonga (Figura 1). A altitude varia de zero a 1325 metros e, segundo a classificação de Köppen e Geiger(19), o clima da região é do tipo Cfa, descrito como úmido a superúmido, dependente da Massa Polar Atlântica (inverno e outono) e da Massa Tropical Atlântica (verão e primavera) para as mudanças de estação e temperatura. Não há estação seca e as temperaturas variam de 31ºC (máximas médias) em janeiro a 13ºC (mínimas médias) em julho, com umidade relativa média anual do ar de 76,04%.
Os estudos foram conduzidos em três etapas durante os anos de 2015 a 2017, totalizando 429 cães com mais de seis meses de idade, domiciliados (considerando animais residentes em domicílios fixos com tutor responsável) ou provenientes de resgate das ruas e temporariamente recolhidos em um abrigo animal, residentes em Joinville. Nenhum dos cães participantes do estudo apresentava suspeita clínica de dirofilariose.
A primeira etapa do estudo foi realizada no período de maio a setembro de 2015, com 196 amostras de sangue provenientes de cães domiciliados. As amostras foram coletadas de cães atendidos em clínicas veterinárias da cidade, os quais tiveram exames laboratoriais requeridos por médicos veterinários clínicos por motivos diversos e encaminhadas para laboratório clínico prestador de serviços. Quando havia material excedente, após a realização dos exames solicitados pelo clínico, essas eram encaminhadas para o laboratório de pesquisa e utilizadas em nosso estudo.
A segunda etapa compreendeu o período de outubro de 2015 a outubro de 2016, com 95 amostras de sangue de cães recolhidos pelo Abrigo Animal da cidade de Joinville, identificadas pelo sexo e número da baia do animal.
A terceira etapa, efetuada entre os meses maio a dezembro de 2017, utilizou 138 amostras de sangue provenientes de cães domiciliados da cidade de Joinville, levados por seus tutores a consultas veterinárias por diversos motivos. Foram coletadas informações sobre sexo e possível presença de sinais clínicos indicativos de dirofilariose, como anorexia, emagrecimento, apatia, tosse e intolerância ao exercício. Participaram do estudo cães que não receberam drogas preventivas para dirofilariose num período inferior a 30 dias ou moxidectina microencapsulada (ProHeart® SR-12) no período de um ano anteriormente à coleta da amostra. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética do Instituto Federal Catarinense, Campus Araquari, sob o número 0177/2016.
As amostras foram armazenadas sob refrigeração em tubos contendo EDTA e encaminhadas ao Laboratório de Ensino e Diagnóstico Veterinário – Parasitologia, do Instituto Federal Catarinense, Campus Araquari para processamento. O sangue total foi submetido à técnica de Knott modificado(21) e o plasma obtido por meio de centrifugação foi congelado a -18ºC. As vinte e quatro amostras microfilarêmicas, encontradas durante todo o experimento, tiveram larvas mensuradas em microscópio Olympus utilizando-se o programa Software Cellsens Standard®. Todas as amostras da segunda e terceira etapas, assim como aquelas que apresentaram microfilárias no primeiro experimento, foram submetidas ao kit de diagnóstico clínico SNAP 4Dx® Plus, IDEXX. Adicionalmente, as amostras da primeira e segunda etapas também foram avaliadas no Método da Gota Espessa(22).
As frequências de infecção de D. immitis e A. reconditum conforme sexo e origem dos cães (domiciliados e provenientes de abrigos) foram comparadas utilizando-se o teste estatístico qui-quadrado, rejeitando-se a hipótese nula ao nível de significância de 5%. Foi utilizado o programa PAST versão 3.16(23). Para a comparação de sensibilidade dos métodos de detecção de microfilárias, foi utilizado o teste qui-quadrado com correção da continuidade (Teste de McNemar).
Resultados e discussão
Considerando a população canina utilizada neste estudo (n=429), 6,3% apresentaram parasitismo por filarídeos, sendo 5,6% para A. reconditum e 0,7% para D. immitis. Em estudos de prevalência realizados em cidades litorâneas localizadas a partir de 74 km ao norte de Joinville, Leite et al.(24) verificaram no município de Guaratuba-PR e Reifur et al.(9) no litoral paranaense, 0,94% e 5,47% de cães positivos para D. immitis, respectivamente, e 22,6% positivos para A. reconditum. Da mesma forma, em cidades litorâneas localizadas a partir de 80 km ao sul de Joinville, Lira et al.(25) verificaram 4,8% de cães parasitados por A. reconditum e nenhum por D. immitis em Itajaí-SC enquanto que Araújo et al.(26) encontraram 15% de cães positivos para D. immitis e nenhum para A. reconditum em Florianópolis-SC. As variações de ocorrências de filarídeos em diferentes áreas geográficas estão correlacionadas à disponibilidade dos hospedeiros definitivos, da possibilidade de serem parasitados pelos hospedeiros intermediários e às condições ambientais de multiplicação das populações desses artrópodes hematógafos.
A cidade de Joinville possui condições ambientais propícias para a manutenção da multiplicação de mosquitos transmissores. Segundo Silva e Langoni(27), áreas onde as condições são favoráveis à presença de mosquitos infectados durante o ano todo, a frequência de repasto na população canina acaba sendo constante, podendo aumentar a taxa de transmissão do agente. Além disso, o município conta com uma Área de Preservação Ambiental Dona Francisca onde foram registradas 112 espécies de mamíferos silvestres incluindo procionídeos e canídeos que são potenciais hospedeiros de D. immitis(28). Com relação à transmissão de D. reconditum, realizada por pulgas, a dispersão do parasito pode sofrer interferência por condições específicas do microambiente onde o cão permanece. Em nosso estudo, os cães provenientes de abrigos apresentaram maior prevalência (p=1,99x10-8; c2= 31,50) de A. reconditum em relação aos cães domiciliados (Tabela 1).
O confinamento dos animais em grandes grupos e as dificuldades para o controle de pulgas em ambientes de abrigos pode ter colaborado para a transmissão de A. reconditum. Com relação ao sexo, em cães domiciliados, houve maior prevalência de A. reconditum em machos (p=0,01; c2=6,38), porém em cães de abrigo não foi observada diferença significativa entre sexos (p=0,21; c2=1,56). Brito et al.(29), no Brasil, e Brianti et al.(11), na Itália, também não observaram diferenças significativas na ocorrência desse parasito entre machos e fêmeas. Entretanto, Hashem e Badawy(30) encontraram maior prevalência em machos. Esses autores relacionaram a suscetibilidade desses cães para infecção a eventuais efeitos hormonais.
Em nosso estudo, os cães de abrigo podem não ter apresentado diferença de prevalência conforme o sexo porque 68 animais eram castrados (70%), impedindo, dessa forma, a manifestação hormonal de suscetibilidade. Dois dos cães com A. reconditum apresentaram sinais clínicos relatados pelos veterinários como dor articular, letargia, inapetência, anorexia, emagrecimento e tosse. Embora Hashem e Badawy(30) afirmem que anemia hemolítica com distúrbios na função hepática e renal são os principais resultados da infecção por A. reconditum, não é possível afirmar que as alterações encontradas neste estudo tenham relações com o parasito, já que os animais poderiam possuir outras doenças concomitantes com o parasitismo.
Microfilárias foram encontradas em ambos os métodos parasitológicos utilizados, porém o Método Knott modificado (Newton e Wright, 1956) se mostrou mais sensível (p=0,003; c2=9,09) (Tabela 2) que o Método da Gota Espessa, além de possibilitar a avaliação morfológica das microfilárias, propiciando a diferenciação da espécie. Segundo Dillon et al.(31), é necessário que o animal possua pelo menos 20 a 50 microfilárias/ml de sangue para que sejam detectadas pelo Método da Gota Espessa.
O teste de diagnóstico rápido SNAP 4Dx® Plus detecta antígenos circulantes de D. immitis e apresenta em média 97,5% de sensibilidade e 94% de especificidade(32). Em nosso estudo, os três cães soropositivos para D. immitis apresentaram antígenos detectáveis por meio desse método diagnóstico, porém em uma dessas amostras, não foram encontradas microfilárias. A dirofilariose oculta pode ocorrer devido a presença de parasitos de apenas um sexo, baixa taxa de infecção(33), animais tratados com fármacos microfilaricidas e em cães que desenvolveram resposta imune eficiente às microfilárias(8). Sabe-se também que a antigenemia, causada pelas fêmeas adultas, geralmente precede o aparecimento de microfilárias no sangue(34). Inicialmente, os três cães infectados detectados nesse estudo foram avaliados por médicos veterinários clínicos e não tinham suspeita clínica de dirofilariose, apesar de um deles apresentar tosse e outro apresentar apatia, sinais que poderiam ser compatíveis com o parasitismo.
Com o intuito de auxiliar o diagnóstico dos casos, foi solicitado hemograma e, no momento da realização da extensão sanguínea, foram encontradas microfilárias. Em seguida, essas amostras foram processadas pela equipe desse experimento, quando se confirmou a presença de microfilárias compatíveis com D. immitis e positividade no teste antigênico. O terceiro cão tinha suspeita de erliquiose e apresentou-se portador de anticorpos contra Ehrlichia canis ou Ehrlichia ewingii e D. immitis quando o sangue foi submetido ao SNAP 4Dx® Plus. Posteriormente, essa amostra foi processada por nossa equipe confirmando-se a presença de antígenos de D. immitis e a ausência de microfilárias na circulação. A ausência de sinais clínicos pode ser frequentemente observada em cães parasitados. Larsson et al.(34), por sua vez, verificaram que 42,86% dos cães infectados por D. immitis não apresentavam alterações na avaliação clínica. Da mesma forma, Meriem-Hind e Mohamed(35) encontraram 75,56% de cães portadores assintomáticos. A ausência dos sinais está relacionada ao número de parasitos presentes, à resposta imune individual e ao nível de exercícios ao qual o cão é submetido(36).
Com relação à morfologia das microfilárias encontradas, verificou-se que as amostras positivas para A. reconditum possuíam larvas de aspecto típico(7), com anterior arredondado e presença de “dente”, e algumas delas com cauda em gancho (Figura 2; Tabela 3). Por outro lado, as microfilárias de D. immitis eram maiores, possuíam porção anterior cônica e caudas retas (Figura 3; Tabela 3).
Todas as amostras positivas para microfilárias de A. reconditum apresentaram resultado negativo para a presença de antígenos de D. immitis. O comprimento médio das microfilárias de A. reconditum (269,54 µm) (Tabela 3) foi semelhante aos encontrados em cães do nordeste do Brasil (272,3 ± 4,3 µm)(7) e da Itália (273,1±9,4 µm)(11).
Entretanto, ao considerar as medidas mínimas e máximas, verificamos 19,8% de microfilárias de A. reconditum fora das dimensões limite de 250-288 µm de comprimento, como limites sugeridos por Zajac e Conboy(37). As microfilárias de D. immitis apresentaram em média 321,55 µm de comprimento, medidas semelhantes às encontradas por Reifur et al.(9) (323,49 ± 12,73 µm) que estudou cães localizados em litoral vizinho àqueles de nosso experimento. Medidas menores, porém, foram encontradas por Ramos et al.(7) no estado de Pernambuco (301,2 ± 7,6 µm). Das 65 microfilárias de D. immitis mensuradas a partir dos dois cães microfilarêmicos, 19 (29,23%) apresentaram comprimento acima do limite sugerido por Zajac e Conboy(36). Reifur et al.(9) encontraram exemplares de microfilárias com morfologia distinta, não identificada pelos autores. Esses dados indicam que há variações métricas e morfológicas entre microfilárias encontradas em cães que devem ser melhor estudadas.
Conclusões
Este trabalho é o primeiro relato da presença de D. immitis em Joinville-SC. A presença de A. reconditum e D. immitis em cães nativos indica que existem as condições epidemiológicas (ambiente – hospedeiro – agente etiológico) para a transmissão e manutenção dessas filárias na região. Considerando que A. reconditum é tido como um parasito apatogênico enquanto que a dirofilariose pode ser uma doença grave, ressalta-se a importância da diferenciação morfológica das microfilárias encontradas na circulação de cães da região. As informações epidemiológicas obtidas podem orientar a comunidade médica e veterinária em relação à atenção para as suspeitas clínicas de dirofilariose canina e humana, assim como na orientação das medidas de prevenção visando à saúde pública e animal em habitantes da região.
Referências
1.
Moraes MFD; Silva MX; Matos PCM; Albuquerque ACA; Tebaldi JH; Mathias
LA; Hope EGL. Filarial nematodes with zoonotic potential in ring-tailed
coatis (Nasua nasua Linnaeus, 1766, Carnivora: Procyonidae) and
domestic dogs from Iguaçu National Park, Brazil. Veterinary
Parasitology: Regional Studies and Reports. 2017;8:1-9. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.vprsr.2017.01.003.
2. Schacher JF; Sahyoun PF. A chronological study of the
histopathology of filarial disease in cats and dogs caused by Brugia
pahangi (Buckley and Edeson, 1956). Transactions of the Royal Society of
Tropical Medicine and Hygiene, 1967. 61(2):234-236. Disponível em: https://doi.org/10.1016/0035-9203(67)90162-9
3. Hermosilla C; Pantchev N; Dyachenko V; Gutmann M; Bauer
C. First autochthonous case of canine ocular Dirofilaria
repens infection in Germany – Short Communication. Veterinary
Record, 2006. 158(4):134-135. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1136/vr.158.4.134.
4. Giannetto S; Poglayen G; Gaglio G; Brianti E; Ferlazzo
M; Giudice E. Dipetalonema
dracunculoides (Nematoda: Onchocercidae): first report in dog in
Italy. Parasite, 2003. 10(2):188.
5. Ravindran R; Varghese S; Nair SN; Balan VM; Lakshmanan B; Ashruf RM;
Kumar SS; Gopalan AKK; Nair AS; Malayil A; Chandrasekhar L; Juliet S;
Kopparambil D; Ramachandran R; Kunjupillai R; Kakada SAM. Canine
Filarial Infections in a Human Brugia
malayi Endemic Area of India. Biomed Research International
[Internet]. 2014, May; 2014:1-9. Available from: https://www.hindawi.com/journals/bmri/2014/630160/ https://doi.org/10.1155/2014/630160. English.
6. Ionică A.M.; D'Amico G.; Mitková B.; Kalmár Z.; Annoscia G.; Otranto
D.; Modrý D.; Mihalca A.D. First
report of Cercopithifilaria
spp. in dogs from Eastern Europe with an overview of their geographic
distribution in Europe. Parasitology
Research,
2014. 113(7):2761-2764. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00436-014-3931-8.
7. Ramos RAN; Rêgo AGO; Firmino
EDF; Ramos CAN; Carvalho GA; Dantas-Torres F; Otranto D; Alves LC. Filarioids infecting dogs in northeastern Brazil.
Veterinary Parasitology, 2016. 226:26–29. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.vetpar.2016.06.025.
8. Fernandes CGN; Moura ST; Dias AR; Vieira Filho WS. Ocorrência de
dirofilariose canina na região da Grande Cuiabá, Estado de Mato Grosso -
Brasil. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal
Science, 1999. 36(5):258-261. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-95961999000500007.
9. Reifur L; Thomaz-Soccol V; Montiani-Ferreira F.
Epidemiological aspects of filariosis in dogs on the coast of Paraná
state, Brazil: with emphasis on Dirofilaria immitis. Veterinary
Parasitology, 2004. 122(4):273-286. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.vetpar.2004.05.017.
10. Labarthe NV; Paiva JP; Reifur L; Mendes-de-Almeida F; Merlo A; Pinto
CJC; Juliani PS; Almeida MAO; Alves LC. Updated canine infection rates for Dirofilaria immitis in
areas of Brazil previoulsy identified as having a high incidence of
heartworm-infected dogs. Parasites & Vectors, 2014. 7:493-500.
Disponível em: https://doi.org/10.1186/s13071-014-0493-7.
11. Brianti E; Gaglio G; Napoli E; Giannetto S; Dantas-Torres F; Bain O;
Otranto D. New insights into the ecology and biology of Acanthocheilonema
reconditum (Grassi, 1889) causing canine subcutaneous filariasis.
Parasitology,
2012.
139(4):530-536. Disponível em:
https://doi.org/10.1017/S0031182011002198.
12. Rani PAMA; Irwin PJ; Gatne M; Coleman GT; Traub RJ. Canine vector-borne diseases in India: a review of the
literature and identification of existing knowledge gaps. Parasites
& Vectors, 2010. 3:28. Disponível em: https://doi.org/10.1186/1756-3305-3-28.
13. Mckay T; Bianco T; Rhodes L; Barnett S. Prevalence of Dirofilaria
immitis (Nematoda: Filarioidea) in mosquitoes from Northeast
Arkansas, the United States. Journal of Medical Entomology, 2013.
50(4):871-878. Disponível em: https://doi.org/10.1603/ME12197.
14. Labarthe NV; Guerrero J. Epidemiology of heartworm: what is
happening in South America and Mexico? Veterinary
Parasitology, 2005. 133(2-3):149-156. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.vetpar.2005.04.006.
15. SEPUD: Joinville Cidade em Dados, 2017. Prefeitura Municipal de
Joinville. Joinville. 2017. 73p. (SEPUD – Secretaria de Planejamento
Urbano e Desenvolvimento Sustentável).
16. Mello YR;
Oliveira TMN. Análise estatística e geoestatística da precipitação média
para o município de Joinville (SC). Revista Brasileira de Meteorologia,
2016. 31(2):229-239. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0102-778631220150040.
17. Mello YR; Koehntopp PI. Características climáticas da Bacia
Hidrográfica do Rio Cachoeira, Joinville (SC). Acta Biologica
Catarinense, 2017. 4(3):18-28. Disponível em: http://dx.doi.org/10.21726/abc.v4i3.415.
18. Bublitz GS; Serapião MJ; Roberge VD; Coelho KMPA; Serapião CJ.
Dirofilariose humana em Joinville-SC: avaliação clinicopatológica dos
primeiros casos relatados na região Sul. Jornal Brasileiro de Patologia
e Medicina Laboratorial, 2012. 48(5):383-389. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1676-24442012000500012.
19. Köppen W; Geiger R. Klimate der Erde. Gotha: Verlag
Justus Perthes. 1928. Wall-map 150cmx200cm.
20. IPPUJ: Joinville Cidade em Dados 2016. Prefeitura Municipal de
Joinville. Joinville. 2016. 158p. (IPPUJ - Fundação Instituto de
Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de
Joinville).
21. Newton WL; Wright WH. The occurrence of a dog filarid other than
Dirofilaria immitis in the U.S.A. Journal of Parasitology, 1956.
42(3):246-258. Disponível em: https://doi.org/
10.2307/3274849.
22. Knight DH. Heartworm heart disease. Advances in
veterinary science and comparative medicine, 1977. 21:107-149.
23. Hammer Ø; Harper DAT; Ryan PD. PAST: Paleontological Statistics
Software Package for Education and Data Analysis. Palaeontologia
Electronica [internet]. 2001, May. 4(1):1-9. Disponível em: http://palaeo-electronica.org/2001_1/past/issue1_01.htm.
24. Leite LC; Navarro-Silva MA; Luz E; Molinari HP; Círio SM; Marinoni
LP; Diniz JMF; Leite SC; Lunelli D; Scalet WR. Prevalência de Dirofilaria
immitis (Leidy, 1856) em cães do canil municipal de Guaratuba,
Paraná, Brasil. Estudos de Biologia, 2007. 29(66):73-79. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.7213/reb.v29i66.22209
25. Lira RN; Lempek MR; Neves CC; Souza Junior JC; Poffo GLD. Pesquisa de Dirofilaria
immitis e Dipetalonema reconditum no canil municipal de
Itajaí, Santa Catarina, Brasil. PUBVET [internet]. 2012. 6(17):1364.
Disponível em: http://www.pubvet.com.br/artigo/2998/pesquisa-de-dirofilaria-immitis-e-dipetalonema-reconditum-no-canil-municipal-de-itajaiacute-santa-catarina-brasil
26. Araújo RT;
Marcondes CB; Bastos LC; Sartor DC. Canine dirofilariasis in the region of Conceição Lagoon,
and in the military police kennel, São José, state of Santa Catarina,
Brazil. Veterinary
Parasitology, 2003. 113(3-4):239-242. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S0304-4017(03)00077-3.
27. Silva RC;
Langoni H. Dirofilariose: Zoonose emergente negligenciada. Ciência
Rural, 2009. 39(5):1615-1624. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782009005000062.
28. JOINVILLE.
Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Serra Dona Francisca.
Joinville: Prefeitura Municipal et al., 2012, 861p.
29. Brito AC; Vila-Nova MC;
Rocha DAM; Costa LG; Almeida WAP; Viana LS; Lopes Júnior RR; Fontes G;
Rocha EMM; Regis L. Prevalência da filariose canina
causada por Dirofilaria immitis e Dipetalonema reconditum
em Maceió, Alagoas, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 2001.
17(6):1497-1504. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2001000600021.
30. Hashem MA; Badawy AII. Blood cellular and biochemical
studies on filariasis of dogs. Research Journal of Animal Sciences,
2008. 2(5):128-134. Disponível em: http://medwelljournals.com/abstract/?doi=rjnasci.2008.128.134.
31. Dillon AR; Blagburn BL; Tillson DM; Brawner WR; Spencer
J; Welles B; Boothe D. Immature heartworm infection produces pulmonary
parenchymal, airway, and vascular disease in cats. Journal of Veterinary Internal Medicine,
2007. 21(3):608-609. Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1939-1676.2007.tb03006.x.
32. Henry
LG; Brunson KJ; Walden HS; Wenzlow N; Beachboard SE; Barr KL; Long MT.
Comparison of six commercial antigen kits for detection of Dirofilaria
immitis infections in canines with necropsy-confirmed heartworm
status. Veterinary
parasitology, 2018.
254:178-182. Disponível
em: https://doi.org/10.1016/j.vetpar.2018.02.037.
33.
Larsson
MHMA; Iwasaki M; Filho AF; D’errico AA; Ogassawara S; Dutra LF.
Contribuição ao diagnóstico clínico da dirofilariose canina. Revista da
Faculdade de Medicina Veterinária Zootecnia USP, 1987. 24(1):47-59.
Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2318-3659.v24i1p47-59.
34. Larsson
MHMA; Preterote M; Mirandola RMS. Diagnóstico de dirofilariose oculta
pelo teste de ELISA em cães do estado de São Paulo. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal
Science, 1992. 29(1):93-96. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.1678-4456.bjvras.1992.51957.
35. Meriem-Hind B; Mohamed M. Prevalence of canine
Dirofilaria immitis infection in the city of Algiers, Algeria. African
Journal of Agricultural Research [internet]. 2009, Oct. 4(10):1097–1100.
Disponível em: https://academicjournals.org/journal/AJAR/article-abstract/EB2DF7B36067 https://doi.org/10.5897/AJAR. English.
36. Venco L; Kramer L; Genchi C. Heartworm disease in dogs:
Unusual clinical cases. Veterinary Parasitology, 2005. 133:207–218.
Disponível em: https://doi:10.1016/j.vetpar.2005.04.010
37. Zajac A.M.; Conboy G.A. Detectionof parasites in the
blood. In:Veterinary clinical parasitology. 8th ed. Iowa:
Wiley-Blackwell, 2012. p.185-211. English.