DOI: 10.1590/1809-6891v20e-52626
ZOOTECNIA
LEVELS OF MACAÚBA BRAN IN THE DIET FOR BROILERS NAKED NECK
Milena
Wolff Ferreira1* ORCID http://orcid.org/0000-0001-9763-2239
Gabriel Correa Dias1 ORCID http://orcid.org/0000-0001-9146-115X
Thiago Rodrigues Silva1 ORCID http://orcid.org/0000-0001-5151-8510
Charles Kiefer2 ORCID http://orcid.org/0000-0001-9622-2844
Ulisses
Simon Silveira3 ORCID http://orcid.org/0000-0001-9416-0571
Rubia Renata Marques1 ORCID http://orcid.org/0000-0002-6994-8938
1Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, Brasil.
2Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo
Grande, MS, Brasil.
3Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul,
Campo Grande, MS, Brasil.
*Autora para correspondência - mailto:milenawolff@ucdb.br
Para avaliar níveis de farelo de macaúba na dieta de frangos de corte tipo colonial foram utilizados 375 pintos de um dia, da linhagem pescoço pelado, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado. em 5 dietas com níveis de 0, 2; 4; 6; e 8% de farelo de macaúba. Os dados obtidos foram submetidos a análises de regressão linear ou quadrática, conforme o melhor ajustamento obtido para cada variável estudada, utilizando-se o programa estatístico SAS 9.0. Os níveis de farelo de macaúba aumentaram o consumo de ração sem influenciar no ganho de peso, resultando na piora da conversão alimentar. Causaram redução linear no peso de abate aos 85 dias e redução nos rendimentos de carcaça em função da maior deposição de gordura abdominal. Foram observados efeitos lineares nos teores de a*, pH, extrato etéreo e cinzas no peito e sobre os teores de b*, umidade, extrato etéreo e cinzas na coxa + sobrecoxa. Conclui-se que a inclusão do farelo de macaúba na dieta de frangos de pescoço pelado prejudica o desempenho por aumentar o consumo da dieta, prejudicando a conversão alimentar e reduzindo os rendimentos de carcaça. Entretanto, por ser rico em carotenoides favorece a coloração de peito, coxa e sobrecoxa.
A total of 375-day-old naked neck chicks were distributed in a completely randomized design in five diets with 0, 2, 4, 6, and 8% macaúba meal levels to evaluate colonial broiler chickens. The data were submitted to linear or quadratic regression analysis according to the best fit for each studied variable using the statistical program SAS 9.0. Macaúba meal levels increased feed intake without influencing weight gain, resulting in worsening feed conversion and leading to a linear reduction in slaughter weight at 85 days and reduction in carcass yields due to higher abdominal fat deposition. Linear effects were found on the contents of a*, pH, ethereal extract, and ash in the breast and b*, moisture, ethereal extract, and ash in the drumstick + thigh. Thus, macaúba meal inclusion in the diet of naked neck broilers impaired performance by increasing diet intake, impairing feed conversion and reducing carcass yields. However, it favors breast, drumstick, and thigh colors because it is rich in carotenoids.
Recebido
em: 23 de abril de 2018.
Aceito em 20 de maio de 2019.
A busca por alimentos alternativos, que não competem com a alimentação humana, é um grande desafio para a produção animal.
A alimentação representa a maior parcela dos custos de produção na criação avícola e, por isso, a utilização de alimentos alternativos de qualidade e de composições conhecidas para formulação de rações de custo mínimo possibilitam uma adequação econômica mais conveniente ao produtor(1).
Neste sentido, trabalhos foram desenvolvidos com os objetivos de atualizar os valores nutricionais dos alimentos comumente utilizados em rações para aves e conhecer o valor nutritivo de novos alimentos. Porém, ainda são necessárias pesquisas que demonstrem o desempenho dos animais ante à substituição de alimentos convencionais por fontes alternativas de nutrientes.
Outra grande preocupação mundial está em torno da produção de energia “limpa e renovável” que possa substituir o uso dos derivados de petróleo. Entre as várias alternativas encontra-se a produção de biodiesel e entre as espécies de oleaginosas que podem ser utilizadas para produção desse biocombustível encontra-se a Macaúba (Acrocomia aculeata). A macaúba apresenta melhores condições de rendimento em terras de cerrado, praticamente não sofre ataque de doenças e apresenta elevado teor de óleo(2). A polpa da macaúba representa em torno de 45% da composição do fruto(3) e fornece um óleo com coloração amarelo-alaranjado, rico em compostos bioativos e, na composição de ácidos graxos, elevados teores de ácido oleico e palmítico(4, 5, 6).
O farelo de macaúba, resíduo da extração do óleo da polpa do fruto, pode ser um coproduto viável para a alimentação animal. Em trabalhos com alimentação de ruminantes, diferentes autores verificaram que é possível a substituição de alimentos proteicos convencionais, como farelo de soja por farelo ou torta de macaúba(7, 8, 9, 10, 11). Porém, são escassas as informações na literatura com relação à utilização desse alimento na dieta de frangos de corte. Por isso, a realização do estudo poderá gerar informações sobre os efeitos desse alimento como fonte alimentar alternativa no desempenho e na carcaça e indicar o melhor nível de inclusão a ser utilizada na prática.
Portanto, realizou-se este estudo com o objetivo de avaliar níveis de farelo de macaúba na dieta de frangos de corte tipo colonial no desempenho e nas características de carcaça.
Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica Dom Bosco (CEUA) com o protocolo nº067/2014, o experimento foi conduzido nas instalações do setor de avicultura da Fazenda Escola – Instituto São Vicente e no Laboratório de Nutrição Animal, pertencente à Universidade Católica dom Bosco (UCDB), na cidade de Campo Grande – MS.
Foram utilizados 375 pintos de um dia da linhagem pescoço pelado, com peso médio inicial de 42,56+1,32 g, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com 5 dietas experimentais (níveis de inclusão de farelo de macaúba, %), 5 repetições, e 15 aves por unidade experimental.
As aves foram alojadas em um mesmo galpão, equipado com 25 boxes com as medidas internas de 1,75 x 2,40 m. Cada box continha um comedouro tubular suspenso, um bebedouro pendular automático, uma campânula de 100W e foram utilizados aproximadamente 6 cm de maravalha.
O sistema de criação adotado foi o semi-intensivo. As aves permaneceram em confinamento até 28 dias e, após a fase inicial, cada box passou a ter acesso a piquete de 60 m2 de área verde, constituída de gramínea da espécie Tifton, durante o dia.
O farelo de macaúba foi obtido por prensagem da polpa a frio, para extração do óleo, e em seguida, secagem da torta. A composição química e valor de energia bruta do farelo de macaúba utilizado na formulação das dietas experimentais estão apresentados na Tabela 1.
As dietas experimentais foram formuladas para atender às necessidades nutricionais das aves de acordo com o manual da linhagem (12) e a fase de crescimento e continham, cada uma, um dos cinco níveis de farelo de macaúba: 0; 2; 4; 6 e 8% (Tabelas 2, 3 e 4).
A exigência nutricional em minerais e aminoácidos foi atendida com a utilização de fontes minerais e aminoácidos industriais, visando a manter os valores mínimos obtidos para as dietas isentas do alimento alternativo nas diferentes fases.
Durante o período experimental, a umidade e as temperaturas de máxima e mínima foram mensuradas por termohigrometro digital. As características de desempenho avaliadas foram: ganho de peso, peso final, consumo médio de ração e conversão alimentar, mensuradas de 01 a 28 dias, de 29 a 56 dias e de 57 a 85 dias de idade.
Ao final da fase de criação, 85 dias, as aves foram submetidas a jejum pré-abate por 8 horas, pesadas e insensibilizadas por eletronarcose, sangradas e depenadas. Todo processo foi realizado manualmente e as carcaças não passaram por chiller. As carcaças foram evisceradas e pesadas para o cálculo do rendimento de carcaça e porcentagem de gordura e em seguida refrigeradas. As medições de pH foram realizadas nos músculos do peito e coxa das aves, utilizando peagâmetro digital 24 horas após o abate com as carcaças resfriadas. Em seguida, as carcaças foram acondicionadas em sacos plásticos e congeladas a -20 ºC. Após 7 dias, as carcaças foram
descongeladas, moídas e homogeneizadas para análise dos teores de matéria seca, extrato etéreo, proteína bruta e cinzas conforme normas da AOAC(14).
Para determinação da cor, foi utilizado um colorímetro da marca Minolta, que considera a coordenada L* (preto/branco), responsável pela luminosidade, a* (verde/vermelho), pelo teor de vermelho, e b* (azul/amarelo), pelo teor de amarelo(15). A capacidade de retenção de água foi determinada conforme a metodologia descrita por Silva Sobrinho(16).
Os dados obtidos foram submetidos a análises de regressão linear ou quadrática, conforme o melhor ajustamento obtido para cada variável estudada, utilizando-se o programa estatístico SAS 9.0(17).
Durante todo o período experimental as temperaturas médias de mínima e máxima registradas no interior do aviário foram de 26 e 29 ºC.
No período de 1 a 28 dias não foram observados efeitos significativos (P>0,05) da inclusão de diferentes níveis de farelo de macaúba das dietas sobre o consumo de ração, entretanto foi constatado efeito linear decrescente sobre o ganho de peso (Y= -18,488x + 1152,7; R2=0,95) e efeito linear crescente sobre a conversão alimentar conforme apresentado na equação: Y= 0,0424x
+ 1,9456; (R2= 0,89) (Tabela 5).
Nos períodos de 29 a 56 dias e de 57 a 85 dias os níveis de farelo de macaúba não influenciaram (P>0,05) o desempenho das aves, demostrando adaptação à dieta. Entretanto, no período experimental acumulado (1 a 85 dias) houve influência (P<0,05) dos níveis de farelo de macaúba, causando acréscimo linear na conversão alimentar (Y= 0,0218x + 2,3884; R2= 0,78), decréscimo linear sobre o ganho de peso (Y= -24,8x + 3143,4; R2= 0,810) e sobre o peso corporal aos 85 dias, conforme demonstrado na equação: Y= -24,558x + 3187; (R2= 0,81).
Com relação aos rendimentos de carcaça (Tabela 6), os níveis de farelo de macaúba nas dietas proporcionaram aumento linear da gordura abdominal (Y= 0,078x + 2,434; R2=0,87) e consequente redução do rendimento de carcaça (Y= -0,0905x + 70,254; R2= 0,93).
Os rendimentos de peito e coxa + sobrecoxa não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de farelo de macaúba na dieta.
Verificou-se que a luminosidade (L*) do peito e da coxa+sobrecoxa não foi influenciada (P>0,05) pela inclusão de farelo de macaúba na alimentação das aves (Tabela 7).
Houve efeito linear decrescente sobre o teor de vermelho (a*) do peito, acompanhando a inclusão do farelo de macaúba (Y= -0,0705x + 4,696; R2 =0,616).
Os níveis de inclusão do alimento alternativo resultaram em comportamento linear crescente sobre o pH do peito (Y= 0,0286x + 2,242; R2= 0,622) e sobre a deposição de extrato etéreo no peito (Y= 0,0286x + 2,242; R2= 0,621) e na coxa + sobrecoxa (Y=-0,0114x+0,9525: R2=0,748).
Os níveis de farelo de macaúba resultaram em efeito linear decrescente sobre a umidade da coxa + sobrecoxa (Y= -0,0461x + 75,711; R2= 0,737), no teor de cinza do peito (Y= -0,0114x + 0,9525; R2= 0,748) e sobre o teor de cinza na coxa + sobrecoxa (Y= -0,011x + 1,038; R2= 0,444).
O teor de amarelo (b*) na coxa + sobrecoxa aumentou linearmente de acordo com a equação: Y= 0,0392x + 8,6055; (R2= 0,783) com o acréscimo de farelo de macaúba na dieta dos frangos.
Em relação à temperatura registrada no período experimental, pode-se inferir que a faixa de variação apresentada está de acordo com o bem-estar térmico dos frangos de corte(12).
O efeito negativo sobre o ganho de peso no período de 1 a 28 dias pode estar relacionado à imaturidade do trato gastrointestinal em metabolizar os nutrientes contidos nas dietas experimentais, considerando que o aproveitamento dos nutrientes é melhorado com o avançar da idade da ave em função da maior produção de enzimas digestivas e aumento no tamanho dos órgãos(18).
A ausência de efeito sobre o consumo de ração, associado ao menor ganho de peso aos 28 dias, justifica a piora na conversão alimentar neste período. Embora não tenha ocorrido efeito sobre o consumo de ração, pode ter sido reduzida a disponibilidade da proteína e aminoácidos, nutrientes exigidos em maior quantidade na fase inicial de frangos de corte(13), influenciando diretamente no desempenho.
De acordo com os resultados observados no presente estudo, pode-se inferir que a inclusão de farelo de macaúba na dieta dos frangos pescoço pelado, devido ao elevado teor de fibra bruta (28,540%), compromete significativamente o ganho de peso e consequentemente o peso corporal ao abate e a conversão alimentar, devido ao fato de a fibra em dietas de não-ruminantes afetar a disponibilidade dos demais nutrientes, influenciar a ação sobre a taxa de passagem (19), viscosidade da digesta, capacidade de retenção de água e atuar na ligação com minerais e moléculas orgânicas (20).
Os resultados apresentados para o rendimento de carcaça é um indicativo da menor disponibilidade de proteína e aminoácidos das dietas contendo farelo de macaúba. Este desequilíbrio no aproveitamento da proteína favoreceu a deposição de tecido adiposo como gordura abdominal(21), e esse excesso influenciou nos rendimentos de carcaça, uma vez que a gordura abdominal é desprezada na evisceração, constituindo um problema para a indústria avícola (22, 23).
O efeito dos níveis de macaúba no teor de a* no corte do peito está relacionado à influência do pH na absorção de luz, afetando a mioglobina na absorção da luz verde, fazendo com que a carne apresente uma tonalidade menos vermelha (24).
Como observado, houve maior deposição de extrato etéreo no corte do peito, isso demonstra o excesso de energia disponibilizada, que contribui na formação de ATP e, consequentemente, favoreceu a deposição da reserva de glicogênio que está relacionada à velocidade no estabelecimento do rigor mortis(25), estando mais próximo da faixa de pH considerada adequada entre 5,70 e 5,96 (26,27). Já a ausência de efeito sobre o pH da coxa+sobrecoxa foi em função da dominância de fibras musculares do tipo I apresentada neste corte, resultando em menor potencial glicolítico(28).
O acréscimo sobre a deposição de extrato etéreo no peito e coxa + sobrecoxa pode estar relacionada ao perfil de ácidos graxos do farelo de macaúba. Conforme observado por Nunes et al.(29), a macaúba é rica em ácido palmítico pertencente ao grupo de ácidos graxos saturados, que possuem maior influência sobre o teor de gordura em carnes(30,31).
O maior teor de umidade na coxa segue uma relação inversamente proporcional entre extrato etéreo e umidade, assim como ocorreu em estudo de Özdogan e Aksit. (32), associando esta relação à fonte lipídica da dieta.
Considerando que houve aumento do teor de extrato etéreo dos cortes do peito e da coxa + sobrecoxa e esses constituem uma das frações orgânicas da composição total, a relação entre a proporção de matéria orgânica/inorgânica das carcaças frente ao aumento dos níveis de farelo de macaúba justifica os menores valores de cinza obtidos para ambos os cortes.
Sabendo que a pigmentação da carne de frango é fortemente afetada pela ingestão de caratenoides(33), o acréscimo sobre a coloração b* da coxa sugere que a inclusão do farelo de macaúba nas dietas das aves incrementa a pigmentação, sendo uma característica apreciada pelo consumidor da carne de frango tipo caipira.
Conclui-se que a inclusão do farelo de macaúba na dieta de frangos de pescoço pelado prejudica o desempenho por aumentar o consumo da dieta, prejudicando a conversão alimentar e reduzindo os rendimentos de carcaça por elevar a deposição de gordura abdominal. Entretanto, por ser rico em carotenoides, favorece a coloração de peito, coxa e sobrecoxa.
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