Realizou-se este estudo com o
objetivo de avaliar níveis de sódio e balanço eletrolítico em dietas de
leitões, mantidos em ambiente de alta temperatura (35ºC). Foram
utilizados cinquenta leitões (de 8,32 ± 0,90 kg aos 25,14 ± 0,77 kg),
distribuídos em delineamento experimental de blocos ao acaso, composto
por cinco tratamentos (0,136; 0,276; 0,415; 0,555 e 0,695% de sódio,
correspondendo a 131, 192, 253, 313 e 374 mEq/kg de balanço
eletrolítico), cinco repetições e dois animais por repetição. Os níveis
de sódio e balanço eletrolítico das dietas não influenciaram
(P>0,05) o peso final, o consumo diário de ração, o ganho diário de
peso, a conversão alimentar, a produção diária de fezes e o pH da urina
dos leitões. A produção diária de urina e o pH fecal aumentaram
(P<0,05) linearmente em função do aumento dos níveis de sódio e
balanço eletrolítico das dietas. Concluiu-se que o nível de 0,136% de
sódio, equivalente a 131 mEq de balanço eletrolítico por kg de dieta
atende às exigências de leitões, dos 8 aos 25 kg, mantidos em ambiente
de alta temperatura.
PALAVRAS-CHAVES: Desempenho, eletrólitos, estresse por calor, exigências nutricionais.
SODIUM AND ELECTROLYTE BALANCE IN DIETS FOR PIGLETS FROM 8 TO 25 KG MAINTAINED IN HIGH TEMPERATURE ENVIRONMENT
This study was carried out to
evaluate the sodium and electrolyte balance levels in piglets´ diets,
maintained in high temperature (35ºC) environment. A total of 50
piglets (from 8.32 ± 0.90 kg to 25.14 ± 0.77 kg) were used, distributed
into a randomized block design, with five treatments (0.136,
0.276, 0.415, 0.555 and 0.695% of sodium, corresponding to 131, 192,
253, 313 and 374 mEq/kg of electrolyte balance), five replicates and
two pigs per replicate. The sodium and electrolyte balance levels of
the diets did not influence (P>0.05) the final weight, daily feed
intake, daily weight gain, feed conversion, daily feces production and
urine pH of piglets. The daily urine production and fecal pH increased
linearly with the increase of the sodium and electrolyte balance levels
of the diet. It was concluded that the level of 0.136% sodium,
equivalent to 131 mEq electrolyte balance per kg of diet, meets the
requirements of piglets from 8 to 25 kg, maintained on high temperature
environment.
KEYWORDS: Electrolytes, heat stress, nutritional requirements, performance.
INTRODUÇÃO
As exigências nutricionais dos animais têm sido modificadas pelo
intenso melhoramento genético, o que fez com que os suínos passassem a
apresentar maior deposição de tecido muscular em detrimento da
deposição de gordura na carcaça. Constata-se, na literatura científica,
um número expressivo de pesquisas visando determinar as exigências
proteicas, aminoacídicas e energéticas para as linhagens geneticamente
melhoradas (OLIVEIRA
et al.,
2009). Contudo, existem poucas informações relacionadas às exigências
de microminerais, principalmente referentes às de eletrólitos como o
sódio em dietas para suínos quando submetidos a temperaturas ambientais
elevadas.
Em situações práticas, os nutricionistas têm utilizado níveis de sódio
superiores aos recomendados pelos comitês científicos nas dietas dos
suínos (PUPA
et al., 2005).
Este procedimento tem sido justificado considerando-se que níveis
elevados de sódio na dieta podem reduzir os problemas de canibalismo, a
incidência de problemas digestivos e favorecer o consumo de ração
(ACEDO-RICO
et al., 2000).
Por sua vez, o balanço eletrolítico das dietas pode afetar o consumo
voluntário, o crescimento, a qualidade óssea, a resposta ao estresse
térmico e causar problemas metabólicos, assim como influenciar o
metabolismo de nutrientes essenciais ao desenvolvimento normal dos
animais (PATIENCE, 1990). Dietas contendo adequado balanço eletrolítico
também podem reduzir a emissão de amônia e o pH dos dejetos e minimizar
a excreção de nutrientes e a quantidade de dejetos produzidos pela
melhora proporcionada sobre a eficiência alimentar e pela redução do
consumo e excreção de água (WHITNEY
et al., 2001).
Constata-se ainda que as exigências nutricionais de sódio para suínos
apresentadas pelas principais publicações (NRC, 1998; ROSTAGNO
et al., 2000; CARLSON & BOREN, 2005; ROSTAGNO
et al.,
2005) variam consideravelmente. Dentre os fatores responsáveis pela
variação da exigência nutricional de sódio está o peso corporal, sendo
que suínos mais leves possuem exigência percentual superior aos mais
pesados. Contudo, os mecanismos fisiológicos que possam explicar a
maior exigência de sódio para leitões jovens são desconhecidos. Neste
contexto, realizou-se este estudo com o objetivo de avaliar níveis de
sódio e balanço eletrolítico das dietas sobre o desempenho, produção e
pH das fezes e urina de leitões, dos 8 aos 25 kg, mantidos em ambiente
de alta temperatura.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na câmara climática da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, MS. Utilizaram-se cinquenta
leitões machos castrados, Duroc/Pietran x Large White/Landrace, de alto
potencial genético para deposição de proteína na carcaça, com peso
médio inicial de 8,32 ± 0,90 kg e peso médio final de 25,14 ± 0,77 kg.
Os animais foram distribuídos em delineamento experimental de blocos ao
acaso composto por cinco tratamentos (níveis de 0,136%; 0,276%; 0,415%;
0,555% e 0,695% de sódio, correspondendo aos níveis de 131, 192, 253,
313 e 374 mEq/kg de balanço eletrolítico na dieta) e cinco repetições,
sendo cada unidade experimental composta por dois animais. Levou-se em
consideração o peso inicial dos animais como critério para a formação
dos blocos.
Os leitões foram alojados em gaiolas metálicas elevadas (1,0 x 1,0m),
equipadas com comedouro semiautomático e bebedouro de inox tipo
econômico com tampa móvel. Sob as gaiolas instalaram-se calhas para
realizar a coleta total de fezes e de urina.
A temperatura da câmara foi regulada em 35ºC. Registraram-se
diariamente as temperaturas e a umidade relativa do ar. Converteram-se
os valores registrados no índice de temperatura de globo e umidade,
conforme BUFFINGTON
et al. (1981), para caracterizar o ambiente térmico em que os animais foram mantidos.
As dietas experimentais (
Tabela 1)
foram isonutritivas, exceto para o nível de sódio, compostas à base de
milho, farelo de soja, farinha de peixe e lactose. Foram formuladas de
modo a atender às exigências nutricionais dos animais de acordo com
recomendações de ROSTAGNO
et al.
(2005). Obtiveram-se os níveis de balanço eletrolítico e de sódio
mediante ainclusão de bicarbonato de sódio em substituição ao caulim. O
balanço eletrolítico foi calculado utilizando-se a fórmula: N° de
Mongin = mEqNa+ + mEqK+- mEqCl-, em mEq/kg de dieta (BORGES
et al., 2003).
Forneceram-se à vontade as dietas experimentais e água aos animais
durante todo o período experimental. Os animais foram pesados no início
e no final do experimento, sendo que permaneceram no experimento até
atingirem o peso médio de 25 kg.
Durante o período experimental, de cinco em cinco dias (às 9h), foram
avaliadas a frequência respiratória e temperatura retal dos animais.
Obteve-se a frequência respiratória tomando-se por base a contagem dos
movimentos do flanco do animal durante quinze segundos e
multiplicando-se o resultado por quatro, para o resultado ser em
minutos. A temperatura retal foi determinada por meio de um termômetro
clínico digital, introduzido no reto dos animais durante um minuto.
Foram coletados e pesados diariamente os dejetos produzidos (fezes e
urina separadamente), obtendo-se a produção total diária por animal.
Após cada coleta diária, foi determinado o pH de cada amostra. As
variáveis avaliadas foram as de desempenho (consumo de ração diário,
ganho de peso diário e conversão alimentar), respostas fisiológicas
(frequência respiratória e temperatura retal) e de dejetos (produção
diária e pH de fezes e urina).
Submeteram-se os dados obtidos à análise de variância e de regressão em
função dos níveis de sódio e de balanço eletrolítico das dietas
experimentais, adotando-se os modelos de regressão linear ou
quadrático, conforme o melhor ajuste do modelo obtido para cada
variável. As análises estatísticas foram realizadas por meio do
programa estatístico SAS (2001), adotando-se o nível de 5% de
significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período experimental, os registros foram os seguintes:
temperatura, 34,5 ± 1,6°C; umidade relativa, 82,6 ± 7,2%, temperatura
de globo negro, 34,9 ± 1,5°C; e índice de temperatura de globo e
umidade calculado, 80,5 ± 2,1. A temperatura média do ar registrada
durante o período experimental pode ser considerada como de estresse
por calor para os leitões, por estar acima da faixa de temperaturas
(22oC a 25ºC) considerada ideal para essa fase (LE DIVIDICH, 1991). O
índice de temperatura de globo e de umidade obtido também caracteriza o
ambiente como sendo de estresse por calor, por estar próximo àquele de
81,2 registrado por VIEIRA VAZ
et al. (2005), para leitões dos 15 aos 30 kg, submetidos a ambiente de estresse por calor.
Não houve efeito (P>0,05) dos tratamentos sobre a frequência
respiratória e a temperatura retal dos animais. A frequência
respiratória média registrada durante o período experimental foi de
107,2 ± 20,0 movimentos/minuto. Esse resultado também evidencia que os
animais permaneceram sob estresse por calor, uma vez que está em
conformidade com a frequência respiratória de 106 movimentos/minuto
obtida para leitões submetidos a estresse por calor por MANNO
et al.
(2005) e está bem acima de 59 movimentos/minuto obtida para leitões, na
mesma faixa de peso corporal, submetidos ao ambiente de conforto
térmico por esses mesmos pesquisadores.
A temperatura retal média dos leitões registrada durante o período
experimental foi de 39,1 ± 0,2ºC. Pode-se inferir que a temperatura
ambiente não causou alterações na temperatura corporal dos leitões, uma
vez que a temperatura retal média obtida está dentro da faixa de
temperaturas (38,3 a 39,3°C) considerada como normal para suínos,
conforme ANDERSSON & JÓNASSON (1993).
Os resultados de desempenho, produção e pH de fezes e de urina estão apresentados na
Tabela 2.
Os níveis de sódio e balanço eletrolítico não influenciaram (P>0,05)
o peso final, o consumo diário de ração, o ganho diário de peso e a
conversão alimentar dos leitões.
A produção diária de fezes também não foi influenciada (P>0,05)
pelos níveis de sódio e balanço eletrolítico das dietas. No entanto, os
tratamentos influenciaram (P<0,05) a produção diária de urina, que
aumentou linearmente (ŷ = 507,15 + 182, 36, R² = 66,2), de acordo com o
aumento dos níveis de sódio e balanço eletrolítico das dietas.
Os níveis de sódio e balanço eletrolítico não influenciaram (P>0,05)
o pH da urina. Contudo, verificou-se efeito linear (P<0,05) dos
tratamentos sobre o pH das fezes, sendo que seus valores aumentaram
linearmente (ŷ = 5,89 + 0,11x, R² = 54,70) em função do aumento dos
níveis de sódio e balanço eletrolítico das dietas. De acordo com os
resultados de desempenho obtidos, pode-se inferir que o nível de sódio
da dieta basal (0,136%) foi adequado para leitões submetidos ao
ambiente de estresse por calor. Pode-se inferir ainda que este nível
foi inferior ao de 0,20% recomendado para leitões dos 5 aos 10 kg e
próximo ao de 0,15% preconizado para leitões dos 10 aos 20 kg de peso
corporal, conforme estabelecido pelo NRC (1998).
Por sua vez, níveis superiores são recomendados por ROSTAGNO
et al.
(2000), que estabelecem a exigência de 0,22 e 0,18% de sódio,
respectivamente, para leitões dos 6 aos 15 kg e dos 15 aos 30 kg. Em
outra publicação, ROSTAGNO
et al.
(2005) propõem exigências de 0,23 e 0,20% de sódio, respectivamente,
para leitões dos 7 aos 15 kg e dos 15 aos 30 kg de peso corporal.
Níveis superiores aos obtidos neste estudo também são recomendados por
CARLSON & BOREN (2005), que estabelecem concentrações de 0,25 e
0,20% de sódio, respectivamente, para leitões dos 6 aos 10 kg e dos 10
aos 20 kg de peso corporal.
Num levantamento dos níveis nutricionais utilizados pelas principais empresas brasileiras de nutrição, PUPA
et al.
(2005) constataram que os níveis de sódio variam entre 0,23 a 0,34% nas
dietas dos leitões na fase inicial de crescimento. O resultado obtido
por esses pesquisadores corrobora a informação publicada por ACEDO-RICO
et al. (2000), de que, em
situações práticas, os níveis de sódio utilizados nas dietas são
superiores às exigências especificadas pelos comitês científicos. Esta
proposição pode ser justificada pelo resultado obtido neste estudo, uma
vez que níveis de sódio superiores às exigências nutricionais não
prejudicam o desempenho dos leitões, mesmo quando submetidos a
temperaturas ambientais elevadas.
Da mesma forma que observados para os níveis de sódio, os resultados
indicam que níveis entre 131 e 374 mEq de balanço eletrolítico por kg
de ração não afetam o desempenho de leitões submetidos a temperaturas
ambientais elevadas. Dentre os níveis de balanço eletrolítico
estabelecidos na literatura estão os de 150 a 170 mEq/kg e 250 mEq/kg
de ração, respectivamente para leitões entre 7 e 11 semanas e para
suínos dos 20 aos 105 kg (MESCHY, 1998). Por sua vez, para suínos em
crescimento os níveis recomendados variam de 200 a 240 mEq/kg
(ACEDO-RICO
et al., 2000) e de 200 a 250 mEq/kg de ração (SAVARIS
et al.,
2006). Contrastando os resultados obtidos com a literatura, pode-se
observar variação nas conclusões dos estudos. Este pode ser um
indicativo consistente de que os leitões são pouco sensíveis às
variações de eletrólitos nas dietas.
CONCLUSÕES
Conclui-se que o nível de 0,136% de sódio, equivalente a 131 mEq de
balanço eletrolítico por kg de ração, atende à exigência de leitões,
dos 8 aos 25 kg, mantidos em ambiente de alta temperatura.
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Protocolado em: 4 dez. 2008. Aceito em: 18 maio 2010.