DOI: 10.1590/1809-6891v21e-51379


Desempenho de novilhos nelore castrados e não-castrados sob pastejo em Brachiaria humidicola (Rendle) Schweick (Poaceae) exclusiva e em consórcio com amendoim forrageiro


Performance of intact and castrated nelore steers grazing Brachiaria humidicola (Rendle) Schweick (Poaceae) alone and intercropped with forage peanut


Marcelo Luan Costa Machado1 , Maykel Franklin Lima Sales2*


1Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, Brasil.
2Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, Rio Branco, Acre, Brasil.
*Correspondente - maykel.sales@embrapa.br

Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de bovinos de corte castrados e não castrados em pasto exclusivo de Brachiaria humidicola e consorciado Arachis pintoi cv. BRS Mandobi. O experimento foi conduzido em propriedade particular de produtor parceiro da Embrapa Acre, de fevereiro a junho de 2016. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2, sendo duas classes sexuais (castrados e não-castrados) e dois tipos de pasto (exclusivo e consorciado). A relação folha/caule foi superior (P<0,05) no pasto exclusivo. Não houve diferença significativa para as taxas de lotação. O consumo de matéria seca foi superior (P<0,05) no pasto consorciado em relação ao exclusivo, com médias de 8,96 e 6,66 kg/dia, respectivamente. Os animais manejados nos pastos consorciados tiveram desempenho superior (P<0,05) aos castrados do pasto exclusivo. Novilhos Nelore castrados aos 20 meses de idade, manejados em pastos consorciados, apresentam desempenho produtivo similar (P>0,05) a animais não castrados.
Palavras-chave: Amazônia Ocidental, Arachis pintoi, Braquiária humidícola, Ganho de peso, Produtividade.


Abstract
This study aimed to assess the performance of intact and castrated beef cattle on the pasture of Brachiaria humidicola alone and intercropped with Arachis pintoi cv. BRS Mandobi. The experiment was carried out from February to June 2016 on the private property of a partner of Embrapa Acre. The experimental design was completely randomized in a 2×2 factorial arrangement, with two sex classes (intact and castrated) and two types of pasture (alone and intercropped). The leaf to stem ratio was high (P<0.05) in the pasture alone. No significant difference was found for stocking rates. Dry matter intake was high (P<0.05) in the intercropped pasture compared to that alone, with means of 8.96 and 6.66 kg/ day, respectively. Animals managed in intercropped pastures had better performance (P<0.05) than those castrated under pasture alone. Nelore steers castrated at 20 months of age, managed under intercropped pastures, showed similar productive performance (P>0.05) to intact animals.
Keywords: Arachis pintoi, koronivia grass, productivity, weight gain, Western Amazon.

Seção: Zootecnia

Recebido
5 de fevereiro de 2018.
Aceito
17 de junho de 2019.
Publicado
13 de março de 2020

www.revistas.ufg.br/vet
Como citar - disponível no site, na página do artigo.

Introdução

A intensificação nos sistemas de produção, em especial na pecuária de corte, é realidade em diversas regiões do Brasil. Atingir o potencial máximo de produção, tornando o uso dos fatores de produção mais eficientes, é resultado da aplicação de tecnologias economicamente viáveis e que podem ser implementadas sem maiores riscos. Tradicionalmente, a pecuária brasileira emprega baixo nível tecnológico e sua produção baseia-se no uso de grandes áreas de pastagens naturais ou cultivadas(1).

Gramíneas tropicais do gênero Brachiaria, apesar da excelente adaptabilidade e alta produção de matéria seca, muitas vezes não tem qualidade nutricional adequada às necessidades de produção dos animais. Recorre-se então ao fornecimento de outros materiais que possam complementar a dieta, seja pelo aporte proteico, energético ou mineral, a depender das necessidades nutricionais do rebanho(2).

Os teores de proteína bruta (PB) presentes nas braquiárias podem não ser satisfatórios, principalmente nos períodos mais secos do ano, quando a qualidade e a produção de matéria seca da forragem caem significativamente. Teores de PB inferiores a 7% limitam a taxa de fermentação pela alteração da atividade microbiana ruminal, afetando inclusive o consumo de matéria seca(3).

Diversas estratégias podem ser utilizadas para o aumento do aporte de nitrogênio na dieta de bovinos. A mais usada é a suplementação proteica pelo fornecimento de ureia ou alimentos ricos em proteína, como o farelo de soja. Contudo, essa prática, muitas vezes, não é viável economicamente, pelo alto custo, particularmente nos estados da região Norte, de difícil acesso e com fretes caros. Com isso, surge a opção do consórcio de pastagens, no qual duas espécies vegetais, geralmente uma gramínea e uma leguminosa forrageira, se estabelecem numa mesma área, diversificando o ambiente forrageiro, reduzindo os potenciais impactos de pragas e doenças, melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo, otimizando a ciclagem e clivagem de nutrientes, além de participarem diretamente na dieta selecionada pelos animais.

O amendoim forrageiro (Arachis pintoi Krapov. & W.C. Gregory (Fabaceae)) é uma leguminosa forrageira estudada para esse fim há muito tempo. Essa espécie possui de 13 a 22% de PB e 60 a 67% de digestibilidade in vitro de matéria seca (DIVMS)(4), o que justifica o crescente interesse da pesquisa para o uso em consórcio com gramíneas forrageiras. Apesar disso, existem poucos estudos relativos ao desempenho de bovinos em pastos consorciados com essa leguminosa na Amazônia Ocidental, região carente de tecnologias que possam ser aplicadas na pecuária.

A adequada nutrição animal é, sem dúvida, um dos principais fatores que podem influenciar no desempenho do rebanho. Porém, outros fatores, como sexo, raça, idade, genética, ambiente etc. podem afetar de modo relevante os resultados da produção(5). A castração é uma técnica de manejo utilizada tradicionalmente na pecuária brasileira, com a justificativa de que o animal se torna mais dócil, o que facilita o manejo, além de melhorar a qualidade final da carcaça(6).

Animais não castrados são mais eficientes na utilização dos alimentos e tendem a ganhar peso mais rapidamente que os castrados. No entanto, muitas vezes a qualidade da carcaça desses animais deixa a desejar, principalmente no que diz respeito à gordura de cobertura e marmoreio. A castração favorece o acabamento uniforme da carcaça, obtendo como resultado uma carne mais macia e com aspecto superior(7).

Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o desempenho produtivo e os parâmetros nutricionais de novilhos Nelore castrados e não castrados em pasto exclusivo de Brachiaria humidicola e em consórcio com Arachis pintoi cv. BRS Mandobi, no Acre.

Material e métodos

O experimento foi realizado no período de 16 de fevereiro de 2016 a 30 de junho de 2016, em propriedade particular de produtor parceiro da Embrapa Acre (Agropecuária Guaxupé - Rodovia AC 90, km 33, Rio Branco, AC), localizada a 9° 57' 52.33" Sul e 68° 6' 4.27" Oeste, com 203 metros de altitude. O solo da região é classificado como ARGISSOLO VERMELHO Distrófico plíntico com caráter epieutrófico(8). A análise química do solo da área experimental foi realizada na camada de 0-20 cm (Tabela 1).

O local apresenta pluviosidade média de 1.900 mm, com estação chuvosa bem definida, de outubro a abril, sendo fevereiro o mês mais chuvoso, com temperatura média de 26,7ºC e 87% de umidade relativa do ar(9).

A área experimental foi constituída de 6 módulos com uma área média de 1,431 ha cada, três formados exclusivamente com a Brachiaria humidicola cv. Tully (pasto com mais de 30 anos de estabelecimento, nunca foi adubado) e três com o consórcio dessa gramínea com o Arachis pintoi cv. BRS Mandobi. Cada módulo experimental (repetição de campo) foi divido em três piquetes para a realização do manejo rotacionado do pastejo, com um período de ocupação de sete dias e 14 dias de descanso.

A leguminosa foi introduzida na área em março de 2010. O plantio foi realizado por sementes em faixas de 70 cm de largura, três sementes por cova, espaçadas em 25 cm entre covas e 3 metros entre as faixas. Por ocasião do plantio foi realizada uma adubação básica, seguindo o resultado da análise de solo, utilizando a formulação NPK 8-28-16, na dose de 150 kg/ha.

Foram utilizados 36 animais da raça Nelore, sendo 18 castrados e 18 não-castrados, com idade e peso médio iniciais de 20 meses e 324 kg (±9,3DP), respectivamente. Foram utilizados animais provenientes da mesma estação de nascimento, visando à homogeneidade do grupo. Após a pesagem inicial, os animais foram selecionados obedecendo ao critério de peso médio do lote, com o menor coeficiente de variação possível dentro e entre lotes, e distribuídos aleatório e uniformemente entre os tratamentos.

A castração cirúrgica foi realizada conforme prática adotada na propriedade, quando os animais atingiram o peso médio de 11 arrobas e idade aproximada de 20 meses, pelo método tradicional de ablação testicular, através da remoção do ápice da bolsa escrotal. O presente experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal do Acre, registrado com número de processo 23107.003960/2017-94 e protocolo nº 07/2017.

No primeiro dia e a cada 28 dias foram avaliadas as características estruturais, químicas e físicas dos pastos exclusivos de Brachiaria humidicola e consorciados com Arachis pintoi cv. BRS Mandobi e as variações na capacidade suporte dos pastos para subsidiar ajustes nas taxas de lotação dos piquetes. O método de pastejo utilizado foi rotacionado, com altura de entrada e saída dos piquetes em 20 e 10 cm, respectivamente, de acordo com manejo da gramínea.

Para avaliação das características físicas e estruturais do pasto foram selecionadas trinta áreas delimitadas por um quadrado metálico de 0,25 m², escolhidas aleatoriamente em cada piquete experimental.

A estimativa da composição botânica dos pastos, na base do peso seco das espécies presentes, foi realizada pelo método Botanal(10), utilizando os multiplicadores derivados 70,1; 21,1 e 8,7.

Em cada período de pastejo foram registradas as alturas de entrada e saída dos animais nos piquetes, com o uso de um bastão graduado de 100 cm, introduzido no centro de uma lâmina de acetato, obtendo os valores de altura em 30 pontos por piquete(11).

A disponibilidade de matéria seca total (DMST) foi determinada através do corte rente ao solo de cinco áreas delimitadas por um quadrado metálico de 0,25 m² em cada piquete. Cada amostra foi pesada individualmente, subamostrada e levada imediatamente à estufa com circulação forçada de ar, a 55º C por 72 horas, para determinação da disponibilidade total de MS do pasto.

O restante das amostras foi agrupado para preparação de amostras compostas, sendo que as cinco amostras coletadas resultaram em uma composta, desta foi retirada outra subamostra, agora para determinação da composição física do pasto, por meio da separação dos componentes morfológicos da forragem, como folhas, colmos, material morto e plantas invasoras.

Para determinação da qualidade nutricional da forragem disponível foram realizadas coletas simulando manualmente o pastejo dos animais a cada 28 dias. Essas amostras foram analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina, sendo realizadas conforme técnicas descritas por Detmann et al.(12).

A proteína bruta (PB) foi obtida pelo produto entre o teor de nitrogênio total (NT) e o fator de multiplicação 6,25. A determinação do nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) foi obtida conforme descrição de Van Soest, Robertson e Lewis(13).

A proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) foi calculada multiplicando-se os valores de NIDN por 6,25(14). A digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi determinada de acordo com as recomendações de Tilley e Terry(15), utilizando o método de dois estágios.

Para avaliação do ganho de peso médio diário (GMD) foram realizadas pesagens a cada 30 dias, sempre no mesmo horário do dia, após jejum absoluto por 14 horas. Para assegurar a condição de jejum, todos os animais foram presos em um curral de manejo, com sete divisórias, onde estão instalados o brete e a balança de pesagem.

O ganho de peso total foi determinado pela diferença entre o peso corporal final e o inicial. A produtividade animal foi calculada pela multiplicação do número de animais por dia em cada piquete e o ganho médio diário de cada lote e pela divisão desse resultado pela área do piquete.

A taxa de lotação foi obtida pela razão entre a soma do peso total dos animais no piquete e a área de cada piquete. Para a conversão em unidade animal (UA), esse valor foi dividido por 450, que representa o peso à maturidade de um animal adulto.

Para a avaliação do consumo e da digestibilidade total da dieta foram utilizados cinco animais do pasto exclusivo e cinco do pasto consorciado, os quais foram submetidos a um ensaio de digestão, por um período de dez dias, sendo os sete primeiros dias destinados à adaptação dos animais e à estabilização do fluxo do indicador.

Para estimar a excreção de MS fecal (EF) foi utilizado o indicador externo óxido crômico, segundo recomendações de Smith e Reid(16), aplicado em dose única diária (10g/animal), acondicionado em cartucho de papel e introduzido com o auxílio de um aplicador diretamente no esôfago dos animais durante dez dias consecutivos. Após os sete dias de adaptação foram coletadas amostras de fezes dos animais no sétimo (16h00), oitavo (13h00), nono (10h00) e décimo (7h00) dias.

O cálculo da EF foi realizado tendo como base a razão entre a quantidade de indicador fornecido e sua concentração nas fezes, segundo a equação:

EF(g)=[CrFo(g)/CrFe(%)] x100
Em que: CrFo – quantidade de cromo fornecida (g) e CrFe – concentração do indicador nas fezes (%).

A estimativa do consumo voluntário foi calculada pela relação entre excreção fecal e a indigestibilidade da dieta, por intermédio da equação:

CMS=[EF÷(1-DIVMS÷100)]

Em que: EF – excreção de matéria seca fecal (kg/dia); DIVMS – digestibilidade in vitro de matéria seca da dieta consumida. As análises laboratoriais foram realizadas de acordo com as técnicas descritas por Detmann et al.(12).

A digestibilidade aparente total da dieta e dos nutrientes foi calculada pela razão entre a ingestão de cada nutriente e sua excreção nas fezes:

DIGMS=(CMS-EF)÷CMS
Em que: DIGMS – digestibilidade aparente total da matéria seca; CMS – consumo de matéria seca e EF – excreção fecal.

A digestibilidade dos nutrientes foi calculada da seguinte forma:

DIGNUT=(CONSNUT-EXCNUT)÷CONSNUT
Em que: DIGNUT – digestibilidade aparente total do nutriente (PB, FDN, etc.); CONSNUT – consumo estimado do nutriente e EXCNUT – excreção do nutriente nas fezes.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2, sendo duas classes de sexo (castrados e não-castrados) e dois tipos de pasto (exclusivo e consorciado), com nove repetições para a avaliação do desempenho individual (ganho médio diário e ganho de peso total) e três repetições para avaliação das variáveis relacionadas ao pasto (lotação e produtividade).

Os dados provenientes da avaliação das características produtivas e estruturais dos pastos foram avaliados no delineamento inteiramente casualizado com 15 repetições para produção de matéria seca e dos componentes: folhas, colmos, invasoras e material morto e 30 repetições para as avaliações de altura e composição botânica.

As análises estatísticas das variáveis estudadas foram realizadas utilizando-se o programa SISVAR versão 5.6(17). As comparações entre as médias dos tratamentos foram feitas pelo teste t, ao nível de 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

Em consequência da estratégia de manejo de pasto adotada, utilizando-se de animais reguladores, as disponibilidades de matéria seca (DMST) foram semelhantes (P>0,05) entre os tratamentos, o que indica a eficiência do manejo visando equiparar ambas as pastagens quanto à disponibilidade de forragem. Também não foi observada diferença significativa (P>0,05) para as variáveis colmo verde, folhas secas, colmos secos e plantas invasoras, tanto no pasto consorciado como no exclusivo.

A disponibilidade de folhas verdes do pasto exclusivo foi superior (P<0,05) à do consorciado, apresentando médias de 1,17 t/ha e 0,86 t/ha (±0,078EP) respectivamente. A relação folha/caule foi maior (P<0,05) no pasto exclusivo que no pasto consorciado, o que pode ser explicado pela menor produção de folhas verdes no pasto consorciado (Tabela 2).

A altura de relvado para entrada e saída dos animais nos piquetes foi preestabelecida em 20 e 10 cm respectivamente, visando não comprometer a estrutura e a recuperação do capim humidícola durante o período de descanso de 30 dias.

De maneira geral, o pasto exclusivo de B. humidicola manteve-se com maior altura média que o tratamento em consórcio com A. pintoi. Mesmo durante a época seca do ano, o manejo da altura do pasto mostrou-se eficiente, com alturas médias de 18 e 20,7 cm, nos pastos consorciado e exclusivo, respectivamente (Figura 1).

A composição botânica de um pasto é influenciada por diversos fatores, sendo a espécie de gramínea presente e leguminosa associada um dos principais. Na Figura 2 encontram-se as percentagens da composição botânica dos pastos exclusivo e consorciado de B. humidicola e A. pintoi BRS Mandobi. No pasto exclusivo a gramínea teve participação de 94,5% na composição botânica, além da presença de 5,5% de plantas invasoras, especialmente do gênero Cyperus. No pasto consorciado, o amendoim forrageiro chegou a 6% da composição botânica, com pequena redução na participação da braquiária humidícola em relação ao pasto exclusivo, devido, provavelmente, à competição por água e nutrientes entre as duas espécies.

Urbanski(18) reportou decréscimo de 14,6 para 7,9% na proporção de amendoim forrageiro no pasto da mesma área deste trabalho, consorciado entre julho e setembro de 2015, em razão do déficit hídrico ocasionado pela época seca e atribuído principalmente a um ataque severo de ácaro vermelho (Tetranychus ogmophallos).

Logo, a baixa participação de A. pintoi BRS Mandobi no pasto consorciado pode ser explicada pela recuperação dos estresses causados pela seca e pelo ataque de pragas no ano anterior ao início do experimento, levando também à menor produção de matéria verde de B. humidicola provocada pela disputa de água e nutrientes necessários para o restabelecimento da leguminosa no pasto.

No pasto exclusivo, a participação de B. humidicola foi ligeiramente maior (5,29%) que no pasto consorciado, entretanto, a presença de plantas invasoras foi 29,41% maior em relação ao pasto consorciado (Figura 2). A presença da leguminosa no pasto consorciado pode ter inibido o crescimento de plantas invasoras, reduzindo sua participação na composição botânica.

Na Tabela 3 encontram-se os teores médios resultantes da análise bromatológica de B. humidicola do pasto exclusivo e consorciado, e de A. pintoi cv. BRS Mandobi. Em ambos os pastos, a gramínea obteve médias semelhantes (P>0,05) para suas características químicas, com pouca diferença entre consórcio e pasto exclusivo. Destacam-se os teores de PB e DIVMS do amendoim forrageiro, com teores de 15,64% e 72,95% respectivamente.

Os teores de PIDN também foram superiores na leguminosa (7,44%) contra 2-2,13% encontrados na gramínea. Segundo estimativa em trabalho de Balsalobre et al.(19), cerca de 50% da PB é constituída de PIDN, sendo que quanto maiores forem os valores para estas variáveis, menor será a degradação da PB.

Os teores de PB da braquiária, em ambos os tratamentos, estão aquém do mínimo de 7%, sendo que abaixo desse valor há comprometimento do crescimento das bactérias celulolíticas, prejudicando a adequada fermentação ruminal(20).

Ressalta-se que tais valores abaixo de 7% compreendem apenas o teor na gramínea, não incluídos os teores de PB da leguminosa, que geralmente são elevados. Nesse caso, seria recomendável o uso de suplementos proteicos na dieta dos bovinos do pasto exclusivo para atender aos teores mínimos de PB.

Os teores de FDN foram semelhantes aos descritos na literatura(21) para B. humidicola, variando de 74,6 a 75,51%. Para FDA, os valores médios ficaram abaixo dos resultados encontrados em trabalho de Crispim e Barioni Júnior(22), que obtiveram variação em torno de 37,9-41,6%.

Análises químicas de amostras de braquiária humidícola coletadas na mesma área deste trabalho, no período de estiagem em 2015, revelaram valores médios de FDN e FDA variando em torno de 73,67-75,87% e 36,21-37,38%, respectivamente(19).

Brito et al.(23), estudando o perfil químico da parede celular de B. humidicola, encontraram 74,69% de FDN, além de 53,49% e 31,53% de digestibilidade in situ de matéria seca e de FDN, respectivamente.

Lascano(4), em extenso trabalho sobre A. pintoi, descreve teores médios de PB variando de 13 a 22%, corroborando os teores encontrados neste estudo. Portanto, a PB encontrada no amendoim forrageiro do pasto consorciado é mais do que suficiente para atender à demanda proteica dos animais e otimizar a fermentação ruminal, mesmo que a gramínea não satisfaça tal demanda.

Na Tabela 4 encontram-se as estimativas de excreção fecal (EF), consumo de matéria seca (CMS) e digestibilidade (DIG) dos nutrientes do capim humidícola durante o período experimental. Houve diferença significativa (P<0,05) para as variáveis EF, CMS, DIGPB e DIGFDN.

O CMS no pasto consorciado foi superior (P<0,05) em relação ao pasto exclusivo. O incremento de nitrogênio por meio do amendoim forrageiro na dieta dos animais pode ter potencializado a fermentação ruminal e dado maior eficiência ao processo, aumentando a taxa de passagem e, por conseguinte a ingestão de forragem. Martins et al.(24), comparando as cultivares BRS Tupi e Comum de B. humidicola no período das águas em Campo Grande, MS, não encontraram diferenças no CMS, com resultados de 1,81 e 2,10 kg de matéria seca por 100 kg de peso vivo por dia.

Portanto, a adição de uma leguminosa forrageira no pasto pode aumentar o consumo de matéria seca, promovendo melhoria no aporte proteico da dieta do animal sem elevar significativamente os custos, em comparação com alimentos ricos em proteína, que geralmente são caros.

A digestibilidade da PB e FDN da braquiária humidícola também foram superiores no pasto consorciado. Outra vez, a ciclagem de nitrogênio promovida pelo amendoim forrageiro no sistema solo-planta pode ter sustentado o crescimento da gramínea, desenvolvendo plantas jovens com folhas mais tenras e de melhor qualidade nutricional.

Não houve diferença estatística significativa (P>0,05) entre os tratamentos para as variáveis digestibilidade da FDA e da celulose (Tabela 4).

Não houve interação entre tipo de pasto e classe sexual (P>0,05) para ganho de peso total (GPT) e ganho médio diário (GMD) (Tabela 5). Entretanto, houve diferença estatística significativa (P<0,05) quando os tratamentos foram analisados isoladamente.

Os animais castrados do pasto consorciado tiveram ganhos de peso 37% superiores (P<0,05) aos castrados do pasto exclusivo (365 g/dia vs. 500 g/dia). Os animais não castrados tiveram desempenho estatisticamente igual em ambos os pastos, mesmo com uma diferença de 21% no desempenho produtivo. Adicionalmente, os animais não castrados do pasto consorciado apresentaram desempenho 46,8% superior aos castrados do pasto exclusivo e os animais castrados do pasto consorciado tiveram 13% a mais de ganho em comparação aos não castrados do pasto exclusivo.

Diversos estudos abordam a superioridade de desempenho de animais não castrados em relação aos castrados. Em experimento realizado no Paraná, comparando o desempenho de bovinos castrados e não castrados, em sistema de integração lavoura-pecuária, os animais inteiros foram superiores aos castrados tanto em ganho médio diário (0,907 vs 0,698 kg) quanto na obtenção do maior peso ao abate (490,9 vs 442,2 kg), apesar de os castrados apresentarem melhor acabamento de gordura de cobertura e maiores espessuras de gordura subcutânea (3,45 vs 2,70 mm)(25), corroborando com a tese da qualidade superior de carcaça em animais castrados. Em estudo semelhante com bovinos nelore no período seco foram observados ganhos médios diários de animais inteiros superiores aos castrados (0,506 x 0,412 kg), além de terem atingido peso de abate mais cedo (480 kg aos 330 dias para os animais inteiros contra 409 dias para os castrados)(26).

Embora a literatura demonstre que animais inteiros são mais eficientes no ganho de peso, Restle, Grassi e Feijó(27) não verificaram diferença (P>0,05) no ganho de peso dos animais não-castrados em comparação aos castrados aos 8 ou 12 meses de idade. No presente estudo, os animais foram castrados aos 20 meses de vida, tempo considerado muito tardio em relação a pesquisas da mesma natureza. Isso pode ter influenciado de forma significativa o ganho de peso dos animais castrados, chegando a ponto de nivelar o desempenho em relação aos animais não castrados.

Animais terminados em menos de 24 meses dispensam a castração, pois, devido ao reduzido intervalo de tempo, o animal necessita dos hormônios andrógenos produzidos nos testículos para atingir o peso de abate mais rapidamente. No entanto, para animais abatidos tardiamente, a castração é recomendável, pois facilita o manejo, a engorda e a melhoria da qualidade da carne, principalmente quanto à gordura de cobertura na carcaça(6).

Apesar da baixa participação na composição botânica do pasto consorciado, a presença da leguminosa pode ter influenciado na seletividade animal, onde os novilhos demonstravam preferência pelo amendoim forrageiro, que também possui alta digestibilidade, fatores determinantes que podem ser observados nas diferenças de ganhos dos animais no consórcio e no pasto exclusivo. A preferência do animal pela leguminosa pode chegar a um índice de seleção de 0,65 e 0,79 no período das águas e seco, respectivamente, sendo a seletividade favorecida pela anterior exposição do animal ao sistema consorciado(28).

Sugere-se que o efeito de ganho compensatório dos animais castrados, que retornam à normalidade dos ganhos após o procedimento cirúrgico da castração, tenha equiparado o desempenho em relação aos animais não castrados, quando a comparação ocorre dentro do mesmo tipo de pasto (Tabela 5). Os animais não castrados do pasto consorciado foram superiores (P<0,05) apenas aos animais castrados do pasto exclusivo, não havendo diferença quando comparados com os não castrados do mesmo pasto.

Na Tabela 6 encontram-se as médias de produtividade e taxa de lotação dos pastos, que também não apresentaram diferença (P>0,05). Embora sem significância estatística, os animais do pasto consorciado apresentaram um aumento de 14,9% na produtividade em relação àqueles mantidos nos pastos exclusivos. A capacidade de suporte foi semelhante (P>0,05) entre os pastos exclusivos e consorciados (2,61 x 2,72 UA/ha), demonstrando que o efeito da leguminosa se restringiu à melhoria da qualidade da dieta, não interferindo nas taxas de crescimento da gramínea, efeito esperado devido ao maior aporte de nitrogênio.

Conclusões

Animais manejados em pastos consorciados apresentam consumo de matéria seca superior àqueles mantidos em pasto exclusivo de B. humidicola.

Novilhos Nelore castrados aos 20 meses de idade, mantidos em pastos consorciados, apresentam desempenho produtivo similar a animais não castrados.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela concessão de bolsa de estudo,ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e UNIPASTO pelo apoio financeiro e à Agropecuária Nova Guaxupé, por disponibilizar a área e os animais experimentais.

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