DOI: 10.5216/cab.v11i4.5088

EFEITO DO PREBIÓTICO E DO ÁCIDO BUTÍRICO IN OVO SOBRE O
DESEMPENHO, DIGESTIBILDADE DOS NUTRIENTES DA RAÇÃO E BIOMETRIA DO TRATO GASTRINTESTINAL DE PINTOS SUBMETIDOS AO JEJUM
 

Nadja Susana Mogyca Leandro,1,3 Adson Santa Cruz de Oliveira,2 Marcos Barcelos Café,1,3 Elisabeth Gonzales,3 José Henrique Stringhini,1,3 Fabyola Barros de Carvalho4 e Maria Auxiliadora Andrade1

1. Professores doutores da EV/UFG. E-mail: mogyca@vet.ufg.br
2. Pós-graduando em Ciência Animal EV/UFG
3. Bolsista CNPq
4. Pós-doutoranda EV/UFG.




RESUMO

Desenvolveram-se dois experimentos para avaliar o desempenho, a digestibilidade de nutrientes da ração e a biometria de órgãos do trato gastrintestinal de pintos, oriundos de ovos inoculados com prebiótico ou ácido orgânico, submetidos a jejum hídrico e alimentar. Os ovos férteis foram inoculados com uma solução contendo prebiótico (experimento I) ou água (grupo placebo), no saco alantoide aos dezesseis dias de incubação. No experimento II, os ovos embrionados foram inoculados com água (placebo) ou ácido orgânico (butirato de sódio). Depois da eclosão, selecionaram-se duzentos pintos pelo peso, sendo distribuídos de acordo com os tratamentos em baterias. O delineamento foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 2x2 (inóculos x períodos de jejum), totalizando quatro tratamentos e dez repetições. Os períodos de jejum estudados foram de oito (grupo-controle) e 36 horas após a eclosão. O prebiótico inoculado reduziu o ganho de peso (P<0,05) e não afetou a digestibilidade e a biometria dos órgãos. A inoculação in ovo não prejudicou o peso inicial dos pintos e não houve interação entre o inóculo e o período de jejum. A inoculação com ácido orgânico não afetou o desempenho das aves e a digestibilidade dos nutrientes, mas aumentou a biometria intestinal (P<0,05). A suplementação de prebiótico ou butirato de sódio não melhorou o desempenho dos pintos até os dez dias de idade, tampouco a digestibilidade dos nutrientes da ração, independentemente se submetidos ou não ao jejum inicial. Porém, o butirato de sódio favoreceu o desenvolvimento intestinal.

PALAVRAS-CHAVES: Ácido orgânico, digestibilidade de nutrientes, ovos, pinto de corte, manano.


ABSTRACT

EFFECT OF PREBIOTIC AND BUTYRIC ACID IN EGG ON THE PERFORMANCE, NUTRIENTS DIGESTIBILITY OF THE DIET AND BIOMETRY OF THE GASTOINTESTINAL TRACT OF CHICKS UNDER FASTING

Two experiments were conducted to evaluate the performance, digestibility of nutrients of the diet and biometry of the gastrointestinal tract of chicks from eggs inoculated with prebiotic or butyric acid, submitted to water and food fasting. The fertile eggs were inoculated with a solution containing prebiotic (experiment I) or water (placebo group), in the allantoic sac on the 16th day of the incubation. In experiment II, the fertile eggs were inoculated with water (placebo group) or organic acid (sodium butyrate). After hatching, 200 chicks were selected and classified by weight and distributed according to the treatments in battery cages. A randomized complete block design in 2x2 factorial scheme (inoculants x fasting time) was used, totaling four treatments and 10 replicates. The fasting times evaluated were eight (control group) and 36 hours after hatching. The inoculation of butyric acid did not affect the performance of chicks and nutrients digestibility, but the gastrointestinal biometry was increased (P<0.05). The prebiotc reduced the weight gain (P<0.05) and affected neither the nutrients digestibility nor the gastrointestinal biometry.  The inoculation in the eggs did not harm the initial weight of the chicks as well as there was no interaction between the inoculant and the fasting time. The supplementation with prebiotic or butyric acid neither improved the performance of chicks until ten days of age nor the nutrients digestibility of the diet, irrespective if the chicks were under fasting or not. However, the butyric acid enhanced the gastrointestinal tract development.  

KEYWORDS: Broilers, inoculated eggs, manano, nutrients digestibility, organic acid.


INTRODUÇÃO

O jejum pós-eclosão prejudica o desempenho de pintos de corte até a fase final de criação (NIR & LEVANON, 1993; PINCHASOV & NOY, 1993). Do mesmo modo, o jejum afeta o desenvolvimento do trato gastrintestinal (TGI) das aves. GONZALES et al. (2008) observaram que aves alimentadas logo após a eclosão apresentaram maior desenvolvimento do intestino e do pâncreas e concluíram que o período de restrição alimentar pós-eclosão prejudica a maturidade do TGI. GONZALES et al. (1999, 2008) relataram que pintos de corte submetidos a 36 horas de jejum após a eclosão apresentaram dificuldades na absorção dos nutrientes do saco vitelino e menores pesos dos órgãos secretores (fígado, pâncreas e intestino), refletindo em prejuízos no desempenho aos 42 dias de idade. Do mesmo modo, ALMEIDA et al. (2006) observaram pior desempenho aos 42 dias de idade para as aves submetidas a jejum de 48 horas. UNI et al. (1998) e MAIORKA et al. (2000) observaram que a restrição alimentar após a eclosão prejudicou o desenvolvimento intestinal de pintos de corte.
Normalmente entre a eclosão e o alojamento, os pintos de corte são submetidos a uma restrição hídrica e alimentar, período esse que pode variar de 24 a 48 horas, resultantes da preparação e descanso dos pintos no incubatório associado ao tempo de transporte até as granjas. Em consequência desse jejum, os pintos podem sofrer uma desidratação e uma perda de peso de até 10% (BAIÃO & CANÇADO, 1998). No entanto, a maturidade do TGI e o estabelecimento precoce da microbiota intestinal podem ser estimulados pela suplementação exógena de nutrientes ou aditivos (GUILLOT, 2000; LEANDRO et al., 2010), promovendo maior desempenho dos pintos de corte. Dentre os produtos que podem ser considerados fatores tróficos para induzir a maturidade do TGI estão os probióticos e prebióticos (MAIORKA, 2001) e acidificantes orgânicos (DIBNER & BUTTIN, 2002; RICKE, 2003).
Os prebióticos são definidos como ingredientes alimentares não hidrolisáveis pelas enzimas endógenas dos animais e que beneficiam o animal, por estimularem seletivamente o crescimento e/ou a atividade de um limitado número de bactérias no intestino, favorecendo a saúde e o desempenho do animal. Carboidratos oligo e polissacarídeos, alguns peptídeos e proteínas e certos lipídeos e fibras são considerados prebióticos (GIBSON & ROBERFROID, 1995). Entretanto, as substâncias que têm sido mais estudadas como aditivos prebióticos em alimentação animal são os oligossacarídeos, especialmente os frutoligossacarídeos (FOS), glucoligossacarídeos (GOS) e mananooligossacarídeos (MOS).
O MOS não é digestível pelas aves, mas é alimento específico para as bactérias consideradas úteis (ROBERFROID, 1998). Além de funcionar como substrato para as bactérias úteis, estimulando o seu crescimento e/ou ativando o metabolismo, o MOS atua como bloqueador dos sítios de aderência de certas bactérias patogênicas, imobilizando e reduzindo a capacidade desses agentes de se manterem no TGI (COLLINS & GIBSON, 1999).
Estudos com desempenho de frangos de corte suplementados com prebióticos apresentam resultados contraditórios. Algumas pesquisas mostram melhoras no desempenho com uso do produto (TOLEDO et al., 2003; PELICANO et al., 2004; ALBINO et al., 2006; SILVA et al., 2009). Um estudo refere que não houve efeito significativo sobre o ganho de peso e conversão alimentar (PAZ et al., 2010). Um outro estudo demonstrou efeito positivo do produto sobre o desenvolvimento intestinal de pintos criados em ambientes com alta temperatura (SILVA et al., 2010).
Outro produto pesquisado com o objetivo de favorecer o balanço da microbiota intestinal é o ácido orgânico. Trata-se de uma substância que facilita a colonização do TGI pelas bactérias úteis, promovendo um amadurecimento mais rápido da mucosa do intestino delgado de pintos (JANSSENS & NOLLET, 2002). O efeito inibidor da proliferação de enterobactérias no trato digestório, provocado pela utilização do ácido orgânico na ração, deve-se à redução do pH na parte superior do intestino delgado, promovendo um aumento de disponibilidade de nutrientes e potencializando os ganhos nutricionais das dietas (FREZZA, 2008; FARIA et al., 2009). Os ácidos orgânicos mais usados na avicultura são o fórmico, o acético, o propiônico, o butírico, o lático, o cítrico e o fumárico, apresentando, respectivamente, os seguintes pKa: 3,75; 4,76; 4,87; 4,81; 3,86; 3,09/4,75/5,41; 3,03/4,54.
GARCIA et al. (2000) não encontraram qualquer efeito dos ácidos orgânicos sobre o ganho de peso e conversão alimentar dos frangos até abate (42 dias de idade). No entanto, estudos em que aves foram desafiadas mostraram resultados positivos com o uso de ácidos orgânicos, como a redução das unidades formadoras de colônia de Campylobacter (CHAVEERACH et al., 2002) e do número total de coliformes e de Escherichia coli no duodeno, jejuno e ílio (IZAT et al., 1990) e o favorecimento no desenvolvimento de bactérias aeróbicas na água (CHAVEERACH et al., 2004).
De acordo com PEDROSO et al. (2005), a colonização do trato gastrintestinal pela microbiota natural nas aves se inicia antes mesmo da eclosão. Assim, a inoculação de prebiótico e ácido orgânico via ovo pode favorecer a colonização de bactérias desejáveis, antecipando a maturidade do TGI das aves.
Objetivou-se, com este estudo, avaliar o efeito do prebiótico ou do ácido orgânico inoculado em ovos embrionados e do período de jejum após a eclosão sobre o desenvolvimento do TGI e desempenho de pintos de corte até os dez dias de idade.

MATERIAL E MÉTODOS

Realizaram-se dois experimentos, sendo estudados no experimento I a inoculação de prebióticos em ovos embrionados e no experimento II o ácido butírico. Em cada experimento foram utilizados trezentos ovos de matrizes da linhagem Cobb-500, com 46 semanas de idade, provenientes do incubatório comercial da região. Transportaram-se os ovos no 15º dia de incubação para a Escola de Veterinária da UFG, sendo distribuídos em quatro incubadoras, com capacidade para 120 ovos cada, para completar o período de incubação.
Instalaram-se as incubadoras em uma única sala, sendo os ovos pesados, uniformizados e distribuídos nas incubadoras. Estas foram reguladas e monitoradas diariamente, para se manter a temperatura e a umidade relativa em 37,5 °C e 55%, respectivamente, até o final da incubação.
No 16o dia de incubação, os ovos (experimento I) foram inoculados com 0,30 mL de água destilada (placebo) ou com o mesmo volume de solução contendo 40 mg do prebiótico comercial MOS®. Esse produto era composto por lactose (15%) e mananooligossacarídio (85%). A inoculação foi efetuada na cavidade alantoide, utilizando-se uma seringa de 1,0 mL e uma agulha de 13 mm estéreis para cada ovo de acordo com a metodologia proposta por LEITÃO et al. (2008).
Após o nascimento e seleção dos pintos de corte pelo peso corporal, duzentas aves (não sexadas) provenientes de ambas inoculações (água x prebiótico) foram alojadas em baterias de gaiolas,  equipadas com comedouros e bebedouros tipo linear e bandejas metálicas. Metade dos pintos, inoculados com água ou prebiótico, foram submetidos a um jejum hídrico e alimentar de oito a 36 horas. Estudou-se, assim, a combinação entre o tipo de inóculo (placebo ou MOS) e períodos de jejum após a eclosão (oito ou 36 horas), totalizando quatro tratamentos. O tratamento com oito horas de jejum foi considerado o grupo-controle, já que este seria o tempo mínimo necessário para um incubatório comercial entregar pintos de um dia para o alojamento.
O mesmo procedimento foi adotado para o experimento II, sendo a diferença apenas no produto inoculado. Realizou-se a inoculação no ovo de 0,30 mL de água destilada ou o mesmo volume de solução contendo 8,0 mg do butirato de sódio a 98% ± 2% (Adimix TM Butyrate-C, Invenutri-AD).
Para o alojamento, empregaram-se 240 pintos da linhagem Cobb 500 (não sexados) de um dia de idade, provenientes dos trezentos ovos inoculados com água ou ácido butírico de acordo com os tratamentos. Metade dos pintos, inoculados com água ou ácido butírico (Adimix TM Butyrate-C, Invenutri-AD), foram submetidos ao jejum hídrico e alimentar após a eclosão de 8 e 36 horas. Assim, procedeu-se ao estudo da combinação entre o tipo de inóculo (placebo ou ácido butírico) e períodos de jejum após a eclosão (controle de 8 horas de jejum ou 36 horas de jejum), semelhante ao experimento I.
A ração utilizada durante todo o período experimental era composta por ingredientes vegetais (à base de milho e farelo de soja), isentas de agentes anticoccidianos e de antibióticos como promotores de crescimento. A ração era farelada e formulada para conter 21% de proteína bruta e de 3.000 kcal EM/ kg de ração.
Para a avaliação do desempenho foram considerados: consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar (corrigida para mortalidade) e mortalidade.
Efetuou-se o ensaio de digestibilidade pelo método de colheita total das excretas, durante o perío­do de seis a dez dias de idade dos frangos. A ingestão de ração foi controlada e diariamente faziam-se duas coletas de toda a excreta produzida (pela manhã e à tarde), que era acondicionada em sacos plásticos e conservada em freezer, para análises posteriores. As análises bromatológicas da matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo e do nitrogênio foram feitas de acordo com a metodologia proposta por SILVA & QUEIROZ (2002). Calcularam-se os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (CDMS), da proteína bruta (CDPB), do extrato etéreo (CDEE) e o balanço de nitrogênio.
As análises biométricas do proventrículo, da moela, do fígado e do intestino foram realizadas com pintos de um e de dez dias de idade, utilizando-se dez aves por tratamento, sacrificadas por deslocamento cervical e pesadas individualmente para a coleta dos órgãos. 
Os dados de percentagem de mortalidade foram transformados em Arc seno e as análises estatísticas para todas as variáveis realizadas pelo procedimento GLM do SAS® (2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve interação entre os fatores inoculação de prebiótico e período de jejum após a eclosão (Tabela 1). Assim, a suplementação de prebiótico na fase embrionária não melhorou o desempenho de pintos submetidos ao jejum de 36 horas em relação aos embriões oriundos de ovos não inoculados com prebiótico (grupo placebo). O ganho de peso e o consumo de ração foram inferiores (p<0,05) para pintos que receberam o prebiótico via ovo e para aqueles submetidos ao período de 36 horas de jejum pós-eclosão.
Os menores valores para ganho de peso, observados em pintos provenientes de ovos inoculados com prebiótico, discordam dos resultados obtidos por IJI & TIVEY (1998), os quais observaram que frangos suplementados com prebiótico apresentaram maior consumo de ração e ganho de peso em relação ao grupo-controle (sem aditivos). Assim como TOLEDO et al. (2003) e ALBINO et al. (2006), que encontraram resultados positivos para desempenho em frangos suplementados com prebiótico, porém todos esses autores estudaram o uso do probiótico suplementado na ração.
As boas condições higiênicas do experimento proporcionaram baixo desafio sanitário das instalações. De acordo com a literatura, aditivos como os prebióticos são mais efetivos em condições de maior desafio. SPRING et al. (2000) explicam que o MOS atua bloqueando os sítios de ligação de bactérias patogênicas na mucosa intestinal, diminuindo, assim, as injúrias ao TGI e consequentemente reduzindo o turnover celular da mucosa, o que proporciona melhor utilização dos ingredientes da dieta e desempenho zootécnico. Esses autores, ao testarem MOS como promotor de crescimento, observaram que o prebiótico promoveu o desenvolvimento da microbiota intestinal, melhorando o desempenho das aves. SANTIN et al. (2003) observaram que aves desafiadas e alimentadas com o prebiótico apresentaram maior ganho de peso e melhor conversão alimentar que as aves do grupo-controle.
Com relação ao período de jejum, observou-se que pintos submetidos a 36 horas de restrição alimentar e hídrica, após a eclosão, apresentaram pior ganho de peso (Tabela 1) quando comparados com controle (oito horas de jejum). Corroborando este estudo, PINCHASOV & NOY (1993) e BAIÃO & CANÇADO (1998) afirmaram que pintos submetidos a um período de 24 e 48 horas de jejum após a eclosão podem sofrer desidratação e perda de peso de até 10%. Do mesmo modo, NIR & LEVANON (1993) observaram um atraso no crescimento de pintos de corte, provocado pelo jejum de 24 e 48 horas, equivalente a um ou dois dias de ganho peso, respectivamente, e GONZALES et al. (2008) observaram efeitos negativos sobre o peso vivo de frangos de corte quando os pintos foram submetidos ao período de 24 horas de jejum, após o nascimento.
Os resultados de digestibilidade da matéria seca, da proteína bruta, do extrato etéreo e o balanço de nitrogênio são apresentados na Tabela 2. As análises estatísticas demonstram que os resultados de coeficientes de digestibilidade foram semelhantes entre o grupo-controle e o suplementado com prebiótico. No entanto, o prebiótico prejudicou o balanço de nitrogênio (p<0,05).
Resultados obtidos por LODDI et al. (2000) também mostraram que não houve diferença na digestibilidade da PB e MS da ração entre pintos que recebem ou não  prebiótico na dieta. Entretanto, FERES et al. (2002), verificando os efeitos do prebiótico mananooligossacarídio, concluíram que o aditivo melhorou os coeficientes de digestibilidade da matéria seca e da proteína digestível, além de melhorar a energia metabolizável aparente e energia metabolizável aparente corrigida para o balanço de nitrogênio, pelo método de coleta ileal, quando este foi comparado com a ração-controle.
Os resultados da biometria do TGI mostraram que não houve diferenças (p>0,05) entre os tratamentos no primeiro (dados não apresentados) ou no décimo dia de vida (Tabela 3). O prebiótico não influenciou o desenvolvimento do TGI dos pintos durante o período final da fase embrionária, assim como na fase pré-inicial de crescimento. O jejum de 36 horas após a eclosão interferiu negativamente somente sobre o peso absoluto da moela  (p<0,05).
Esses dados indicam que os prejuízos observados para ganho de peso em pintos submetidos ao jejum não resultaram de alterações do desenvolvimento do TGI dos pintos, que não foram influenciados pelo período de jejum. Desse modo, o menor ganho de peso observado em pintos submetidos ao jejum de 36 horas deve estar relacionado com o baixo consumo de ração pelos pintos. Dados contrários foram observados por GONZALES et al. (2008), os quais relataram que pintos de corte submetidos a 36 horas de jejum apresentaram  menor peso dos órgãos secretores (fígado, pâncreas e intestino). MAIORKA et al. (2000, 2001) observaram que o comprimento e o peso do intestino de pintos de corte receberam influência do período de 24 horas de restrição alimentar após a eclosão.
Os resultados de desempenho de pintos de corte na fase pré-inicial oriundos de ovos embrionados inoculados com placebo ou butirato de sódio (experimento II) estão apresentados na Tabela 4. Pode-se observar que não houve interação entre os tratamentos inóculos e jejum para todas as variáveis estudadas.  A suplementação in ovo de butirato não influenciou o desempenho, resultado esse que não está de acordo com os dados de RUNHO et al. (1997), GARCIA et al. (2000) e SILVA et al. (2009), os quais mostraram que o ácido orgânico administrado na ração melhorou a conversão alimentar de frangos de corte na fase inicial. No entanto, VALE et al. (2004) verificaram piora no ganho de peso ma fase inicial de criação de frango de corte.
Da mesma forma que no experimento I, as condições ambientais possivelmente proporcionaram baixo desafio sanitário para os pintos que foram criados em baterias com baixa densidade de aves. Os ácidos orgânicos são substâncias com potencial para modificar o pH do TGI das aves, favorecendo a microbiota natural, e quando as aves são submetidas às condições de desafio o fornecimento de ácidos orgânicos melhora o desempenho destas (DIBNER & BUTTIN, 2002; RICKE, 2003).
O jejum prejudicou o ganho de peso e a conversão alimentar (p<0,05). No entanto, o balanço de nitrogênio (Tabela 5) foi influenciado positivamente (p<0,05) pelo jejum após a eclosão, o que pode estar relacionado a um ganho compensatório na utilização de nitrogênio dietético, não acompanhado de aumento na excreção de nitrogênio endógeno, embora esse resultado não tenha sido observado no Experimento I. Corroborando esses resultados, ROSTAGNO et al. (2004) explicaram que a digestão de determinadas moléculas é potencializada quando se encontram em menor concentração na dieta.
O fato de o ácido orgânico ser um produto que age como um agente antimicrobiano (JANSSENS & NOLLET, 2002) pode explicar os dados de menor peso para os órgãos do TGI combinados com o maior comprimento do intestino, encontrado, neste experimento, para pintos oriundos de ovos inoculados com ácido butírico (Tabela 6). Esses resultados sugerem que houve uma diminuição da espessura da mucosa intestinal decorrente de uma proteção do TGI, conferida pelo acidificante. Segundo FURLAN et al. (2001), a menor relação entre peso e comprimento do intestino indica uma menor espessura da mucosa intestinal, o que se deve, provavelmente, à maior proteção ou às menores injúrias pelas quais os pintos foram submetidos, pois, caso contrário, a mucosa tornar-se-ia mais espessa, resultando em maior peso e aumento na demanda por nutrientes. No entanto, os dados de digestibilidade dos nutrientes e os de conversão alimentar não diferiram entre pintos que receberam o ácido butírico e o controle.
Os resultados de desempenho com a aplicação do prebiótico ou ácido orgânico, via ovo, em pintos submetidos ao jejum não diferiram dos resultados dos pintos não suplementados com os aditivos que sofreram semelhante jejum. Assim, a inoculação desses aditivos antes da eclosão não acelerou o processo de estabelecimento da população bacteriana estável e benéfica no TGI das aves e por falta de desafio experimental não se pode concluir que esses aditivos ex­cluíram ou limitaram a colonização de patógenos.

CONCLUSÕES

A suplementação de prebióticos MOS® ou de butirato de sódio (Adimix TM Butyrate-C, Invenutri-AD®) em embriões de frangos de corte não melhorou o desempenho dos pintos ou a digestibilidade dos nutrientes da ração, na fase pré-inicial. Esses aditivos inoculados em ovos embrionados não aceleraram a maturidade do TGI de pintos submetidos ou não ao jejum alimentar por 36 horas após a eclosão.

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Protocolado em: 19 nov. 2008.  Aceito em: 17 jun. 2010.