DOI: 10.5216/cab.v11i4.507

VERMINOSE EM CAPRINOS E OVINOS MANTIDOS EM PASTAGENS DE Panicum maximum Jacq. NO PERÍODO CHUVOSO DO ANO


Danilo Gusmão de Quadros,1 Américo Garcia da Silva Sobrinho,2 Luis Roberto de Andrade Rodrigues,2† Gilson Pereira de Oliveira,3 Cláudia Pereira Xavier,4 Alexandro Pereira Andrade,4 Maria Luisa de Carvalho Souza e Cunha4 e José Valmir Feitosa5

1. Professor adjunto da Universidade do Estado da Bahia. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br
2. Professor adjunto, FCAV/UNESP – † In memoriam
3. Pesquisador do Centro de Pesquisas em Sanidade Animal, UNESP
4. Acadêmicos da Universidade do Estado da Bahia
5. Professor adjunto II da Universidade Federal do Ceará.



RESUMO

O objetivo deste trabalho foi o de avaliar a verminose em caprinos e ovinos mantidos em pastagens de Panicum maximum Jacq. na época chuvosa do ano. Quantificaram-se a densidade de massa seca (MS) dos diferentes estratos (0-15, 15-30 e acima de 30 cm) da pastagem e a contaminação da forragem por larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais (L3). Os quarenta animais foram submetidos a exames coprológicos mensais (OPG e coprocultura) no período chuvoso do ano. O experimento foi realizado em Barreiras, BA, sendo delineado em parcelas subdivididas distribuídas ao acaso, com dez repetições na pastagem e vinte nos animais, de outubro de 2003 a março de 2004, ao passo que as amostragens ocorreram nos meses de dezembro a fevereiro. O número total de larvas infectantes/kg MS não variou com o estrato, obtendo-se a média de 22,2 L3/kg MS. Na forragem, identificaram-se larvas L3 de Haemonchus sp. e Trichostrongylus sp., refletindo os resultados das coproculturas. Caprinos apresentaram maior contagem de OPG (2602) do que os ovinos (865), demandando maiores cuidados sanitários.

PALAVRAS-CHAVES: Coprocultura, massa seca, nematódeos, OPG.


ABSTRACT

WORM DISEASE ON GOATS AND SHEEP RAISED ON Panicum maximum Jacq. PASTURES IN THE RAINY SEASON

The objective of this work was to evaluate the worm disease on goats and sheep kept on Panicum maximum Jacq. pastures, in the rainy season of the year. The dry matter density (DM) of different layers (0-15, 15-30 and above 30 cm) of Panicum maximum Jacq. pastures, and the forage contamination by gastrintestinal nematode infective larvae (L3) were quantified. Forty animals were submitted monthly to coproparasitological examinations (ECG and coproculture) during the rainy season. The experiment was carried out in Barreiras-Bahia-Brazil,  in a split-plot design, with 10 replications on pastures and 20 replications on animals, from October of 2003 to March of 2004, and samples were taken from December to February. The number of infective larvae per kg/DM did not change with the grass layer, with average of 22.2 L3/kg DM. On the forage, Haemonchus sp. and Trichostrongylus sp. L3 larvae were indentified, reflecting the coproculture results. Goats showed higher ECG counting (2602) than Sheep (865), demanding more sanitary care.

KEYWORDS: Coproculture, dry matter, ECG, nematodes.


INTRODUÇÃO

Na região Nordeste, encontram-se 93% dos caprinos e 58% dos ovinos do Brasil, tendo o Estado da Bahia cerca de quatro e três milhões de cabeças, respectivamente, sendo o maior rebanho caprino e segundo rebanho ovino do território brasileiro (IBGE, 2006). Apesar da elevada importância socioeconômica da caprinovinocultura, constata-se que a maioria dos criatórios apresenta baixos índices produtivos, devido, entre outros, à alimentação e sanidade.
A forragem produzida na pastagem é a fonte mais barata de alimentos para viabilizar a produção de pequenos ruminantes. Entretanto, nesse ecossistema, a verminose é considerada o principal problema sanitário na criação de caprinos (BOMFIM & LOPES, 1994) e ovinos (AMARANTE, 2001), sendo que a infecção do hospedeiro ocorre por meio da pastagem contaminada com a forma larval infectante (L3). Dentre os helmintos, considerando-se a distribuição geográfica e os danos econômicos, os nematódeos gastrintestinais são mais significativos.
Gramíneas forrageiras eretas apresentam estruturas que permitem certa penetração de raios solares nas bases das plantas, que poderia reduzir o número de ovos e larvas infectantes pela dessecação (BUENO et al., 2008). Estrutura da pastagem conceitua-se como a disposição horizontal e vertical que a forragem apresenta-se aos animais, sendo variável com o genótipo, idade da planta, época do ano e manejo, além de afetar diretamente o comportamento ingestivo (CARVALHO et al., 2007; PAULA et al., 2009).
No semiárido brasileiro, os caprinos e ovinos geralmente são criados juntos. A associação de diferentes espécies animais em lotação múltipla é prática antiga, cujos objetivos são o controle biológico de plantas indesejáveis, o aproveitamento de áreas topograficamente inacessíveis, a manipulação biológica da vegetação, a oferta de forragem com alto valor nutritivo aos animais em produção, a estabilização da vegetação manipulada (ARAÚJO FILHO & CRISPIM, 2002), além do controle de nematódeos gastrintestinais (AMARANTE, 2001). A utilização mais intensiva dos recursos pode ser possível considerando as diferenças anatômicas, fisiológicas e comportamentais das espécies envolvidas, utilizando a forragem produzida de maneira complementar (ARAÚJO FILHO & CRISPIM, 2002). Contudo, em relação às nematodioses, não há benefício direto da associação das espécies caprina e ovina, dada a ocorrência de infecção cruzada (QUADROS & VIEIRA, 2009). Quando mantidos em pastagens exclusivas de gramíneas, considerando os hábitos alimentares ramoneiador, dos caprinos, e mais pastejador, dos ovinos, as espécies podem comportar-se diferentemente em relação ao grau de infecção por nematódeos gastrintestinais (POMROY et al., 1986).
Sendo base do sistema alimentar dos ruminantes, as plantas forrageiras concentram de 80% a 90% da produção anual de massa seca (MS) na época quente e chuvosa do ano, considerando a maior parte do território nacional, consequentemente melhor período de utilização. A estacionalidade é marcante em Panicum maximum Jacq., no qual ocorre drástica redução quantitativa e qualitativa da forragem, diminuindo a capacidade de suporte (CORRÊA & SANTOS, 2003).
Com o presente trabalho objetivou-se avaliar a verminose em caprinos e ovinos mantidos em pastagens de Panicum maximum Jacq. na época chuvosa do ano.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado na Fazenda Cabanha Santo Ângelo, no município de Barreiras (12º09’S de latitude, 45º00’W de longitude e 439 m de altitude), na região oeste do Estado da Bahia. Utilizaram-se três piquetes de aproximadamente 1,0 ha de Panicum maximum Jacq., o primeiro do cv. Mombaça, que fora irrigado para suprimento de forragem aos animais da propriedade no período seco do ano, ao passo que o segundo e o terceiro, dos cvs. Tanzânia e Mombaça, respectivamente, eram mais recentes, os quais, um a um, foram submetidos à lotação de quarenta animais – vinte ovinos e vinte caprinos. As amostragens foram realizadas após o tempo mínimo de permanência dos animais nos piquetes de 21 dias. A primeira delas ocorreu no final de dezembro e no início de janeiro. As demais, em fevereiro e março.
A tipologia climática do município de Barreiras é de subúmido a seco, na classificação de Thornthwaite & Matther, com pequeno excedente hídrico, megatérmico (evapotranspiração > 1.140 mm) e com chuvas de primavera/verão. Os dados meteorológicos foram oriundos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). As chuvas praticamente iniciaram-se em novembro, mas intensificaram-se em janeiro e fevereiro (Tabela 1). Comparado à média histórica, o índice pluviométrico foi baixo nos meses de outubro e novembro, intensificando-se em dezembro, janeiro e março. s da raça Anglonubiana e mestiças, fora do período periparto, com massas corporais estimadas em 45 e 50 kg PV, respectivamente, e idade variando de 1,5 a 3 anos. O propósito da criação desses animais era produção de carne, e o manejo foi semelhante, permanecendo em lotação associada. Durante a noite, eram presos em instalações rústicas e no início da manhã, aproximadamente às 7 h 30 min, tiveram acesso ao piquete, dispondo de água e mistura mineral ad libitum.
A MS das frações lâminas foliares verdes (folha), colmos + bainhas (colmo) e material morto dos estratos de 0-15, 15-30 e acima de 30 cm, da parte aérea dos capins, foi determinada pelo corte, separação e secagem da forragem contida em quadrado de 0,5 m de lado (0,25 m2), em dez touceiras por piquete, seguindo linhas transectas imaginárias. A secagem das amostras, para cálculo do percentual de matéria seca e da MS/estrato (kg/ha), foi realizada em estufa com circulação forçada de ar, a 60ºC por 72 horas (SILVA & QUEIROZ, 2002).
O percentual de cobertura do solo pelo capim, plantas daninhas e área descoberta foi estimado visualmente por dois observadores, em avaliação não destrutiva, utilizando-se quadrado com 1m de lado, em oito pontos por piquete (ANDRADE et al., 2005). Não houve influência do observador (p>0,05) na avaliação visual da cobertura do solo. Os valores de cobertura do solo pelo capim foram multiplicados pela MS/ha de cada estrato, transformando-se os dados conforme o perfil de ocupação do solo.
A altura das plantas foi medida em vinte pontos por piquete, com o auxílio de régua graduada em centímetros. Dividindo-se a MS dos componentes morfológicos de cada estrato pela altura, calculou-se a densidade de folhas, colmos e material morto (kg MS/ha/cm).
Uma subamostra, de aproximadamente 200 g da forragem de cada estrato, foi utilizada para extração das larvas infectantes, pela técnica adaptada de MARTIN et al. (1990). As amostras do capim foram colhidas de 9 às 10 h da manhã, levando-as ao Laboratório no câmpus IX-UNEB, situado a 12 km da Fazenda Experimental, para pesagem e colocação em baldes contendo 10 L de água por dezoito horas. Em seguida, o capim foi retirado e o líquido remanescente permaneceu decantando por mais seis horas, para ser sifonado até restar aproximadamente 300 mL, o qual foi posto em aparelho de Baermann. Após 24 horas, coletaram-se 15 mL do decantado em tubo de ensaio e, depois de, no mínimo 24 horas em geladeira, 3 mL foram pipetados para identificação e contagem das larvas infectantes (KEITH, 1953) em câmara de vidro, acrescidos de três gotas de lugol fraco (1%), utilizando microscópio ótico com aproximação de 10x e 30x. O número de larvas na MS da subamostra foi convertida para kg de MS.
CASTRO et al. (2003), ao utilizarem a técnica de Baermann em Paspalum notatum Flugge, relataram quantidades consideráveis de sujidades, as quais podem dificultar a identificação e a contagem de larvas infectantes. No presente trabalho, ocorreu esse problema, principalmente nos estratos com grande quantidade de material morto.
Os animais experimentais foram naturalmente infectados por nematódeos gastrintestinais, não sendo submetidos à aplicação de anti-helmíticos desde noventa dias antes do experimento até o final do experimento. As fezes dos animais foram colhidas na mesma ocasião das amostragens no piquete. Para a contagem de OPG, utilizou-se solução saturada de cloreto de sódio (NaCl) e realizou-se leitura no microscópio óptico em câmara McMaster (GORDON & WHITLOCK, 1939). Parte das amostras de fezes foi utilizada para coprocultura (ROBERT & O’SULLIVAN, 1950), usando como substrato a serragem úmida ou vermiculita. As larvas foram classificadas pelo gênero (KEITH, 1953).
Realizou-se o experimento segundo delineamento inteiramente casualizado em esquema de parcela subdividida, com dez repetições, para medidas dos efeitos dos estratos (0-15, 15-30 e acima de 30 cm) sobre a densidade de MS de folhas, colmos e material morto, além da concentração de larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais. Entretanto, utilizaram-se vinte repetições (animal como unidade experimental), quando avaliado o efeito da espécie caprina ou ovina sobre a contagem de OPG e resultados das coproculturas. Foram amostradas três épocas de avaliação, com medidas repetidas no tempo, dentro da época chuvosa do ano, conforme regime pluvial da região dos cerrados baianos.
Os dados obtidos na contagem de OPG e de larvas infectantes/kg MS obtidos foram transformados em log10 (x + 1) e submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade, utilizando-se o Programa Estatístico ESTAT, da UNESP-Jaboticabal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A altura média da gramínea forrageira não atingiu 1 m, evitando-se o fenômeno de rejeição da forragem pelos animais. No manejo de pastagens com pequeno ruminantes, recomendam-se alturas de entrada dos animais nos piquetes quando o capim atingir medidas inferiores à do focinho dos animais, conforme SANTOS et al. (2002). Segundo esses autores, dado o hábito social gregário dos ovinos, quando o capim supera 1 m há grande rejeição de forragem, pois eles buscam uns aos outros ao redor das cercas, adentrando-se relativamente pouco ao interior do piquete.
A altura do capim de 36 a 75 cm, observada neste trabalho, foi semelhante à observada por BRÂNCIO et al. (2003) (35-80 cm), comparando-se os cultivares Tanzânia, Mombaça e Massai de P. maximum sob pastejo de bovinos, em área de cerrados.
A cobertura do solo por gramíneas forrageiras, situada entre 57,6% e 71,2 % (Tabela 2), foi considerada satisfatória, quando comparada aos 52%-60 %, observados por ANDRADE et al. (2005), em avaliação dos capim-tanzânia, estrela-africana e andropógon sob pastejo ovino.
A densidade de folhas foi menor no estrato basal em relação aos superiores (Tabela 3), semelhante ao observado por HOLDERBAUN & SOLLENBERG (1992) nas metades basal (25 kg/ha/cm) e superior (36 kg/ha/cm) do capim-hemártria (Hemarthria altissima (Poir.) Stapf & Hubbard). A variação de 10,4 a 84,8 kg/ha/cm, dos diferentes estratos, encontrada no presente trabalho, foi próxima dos 30 a 100 kg/ha/cm relatada por SOLLEMBERGER & BURNS (2001) para gramíneas forrageiras tropicais e de 7 a 221 kg/ha/cm observada por RÊGO et al. (2001) em capim-tanzânia manejado com diferentes alturas por bovinos.
Foi evidenciada alta densidade de colmos no estrato abaixo da altura de resíduo pós-pastejo para cultivares de maior porte de P. maximum, como Tanzânia e Mombaça (Tabela 3). HOLDERBAUM et al. (1992) observaram maiores densidades de colmos na metade inferior do capim-hemártria em relação ao topo, sendo de 222 e 74 kg/ha/cm, respectivamente. Altas densidades de colmos podem ocasionar alterações na ingestão e redução da qualidade da dieta. Dificuldades de manejo de gramíneas forrageiras tropicais são reconhecidas, em virtude, entre outros, da alta variação sazonal de crescimento, do alongamento e formação dos colmos (DA SILVA & NASCIMENTO JÚNIOR, 2007).
A densidade de material morto concentra-se nos estratos inferiores (Tabela 3), tendo relação com o percentual de utilização da forragem produzida. O sombreamento na base das plantas, intra ou interespecífica, pode acelerar a morte dos tecidos e, considerando na morfogênese o crescimento acropetalar dos perfilhos, as folhas baixeiras senescem primeiro, pois têm idade fisiológica mais avançada (DA SILVA & NASCIMENTO JÚNIOR, 2007). A estrutura da pastagem e a proporção de forragem verde, em oposição à morta, são os dois fatores de maior influência na seleção da dieta pelos herbívoros, apesar da importância de fatores sensoriais (gosto, odor e textura) (FAGUNDES et al., 1999).
A grande variação na estrutura da pastagem, observada no presente trabalho, corrobora a de SOLLEMBERGER & BURNS (2001), que verificaram alto grau de heterogeneidade na distribuição horizontal e vertical em pastagens tropicais, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.
Na pastagem foram identificadas larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais dos gêneros Hae­monchus sp. e Trichostrongylus sp. (Figura 1), semelhante ao observado por AMARANTE & BARBOSA (1998), em capim-coast-cross (Cynodon dactilon (L.) Pers.) sob lotação ovina na região de Botucatu, Estado de São Paulo.
O número de larvas infectantes de Haemonchus sp. + Trichostrongylus sp. (total) não variou estatisticamente com o (P>0,05) com o estrato do capim (Figura 1a), com média de 22,2 L3/kg MS, valor semelhante ao observado por MACEDO et al. (2002), em pastagem de capim-tanzânia, manejada com ovinos, no oeste do Paraná. O produto da média do número de larvas/kg MS e MS/ha do capim resultou em 577 mil larvas/ha, indicativo da contaminação do pasto e das boas condições ambientais da eclosão e desenvolvimento das larvas. MISRA & RUPRAH (1972) observaram migrações de larvas de H. contortus a alturas, em geral, de 12,5 a 15 cm, podendo atingir de 17,5 a 22,5 cm nos dias mais chuvosos.
Não houve efeito significativo do estrato sobre o número de larvas infectantes de Trichostrongylus sp., com média de 9,7 L3/kg MS (Figura 1a). Entretanto, o de Haemonchus spp. foi afetado pela interação entre estrato e mês da amostragem (Figura 1b). Em dezembro, a forragem estava bem mais contaminada (P<0,05) no estrato basal, em comparação aos meses subsequentes. Possivelmente, a irrigação e permanência de alguns animais na época seca no pasto tenham influenciado o grau contaminação.
A contagem de OPG foi maior (P<0,05) nos caprinos (2602) do que nos ovinos (865). Entretanto, deve-se observar que se utilizaram ovinos de uma raça resistente, em relação aos caprinos, de uma raça susceptível. Portanto, não é possível generalizar estes resultados.
Em se tratando de infecções mistas, a contagem de OPG  na faixa de 50-800 é classificada como uma infecção de grau leve, de 800-1200, moderado, e acima de 1.200, pesado. Em relação à ação exclusiva do gênero Haemonchus sp., esse valores são de 100-2000, 2000-7000 e > 7000; e Trichostrongylus sp., de 100-500, 500-2000 e > 2000, para leve, moderado e pesado, respectivamente (HANSEN & PERRY, 1994).
A influência do comportamento alimentar sobre o número de larvas infectantes ingerido é hipótese para explicar as diferenças na intensidade de infecção por nematódeos entre espécies, ou raças (HOSTE et al., 2001). Caprinos mantidos em pastagens exclusivas de gramíneas foram mais infectados por nematódeos do que ovinos (POMROY et al., 1986). No entanto, efeito inverso foi observado quando tiveram a possibilidade do ramoneio, em vegetação botânica heterogênea (VERCRUYSSE, 1983).
Tanto caprinos quanto ovinos apresentaram nas coproculturas maior prevalência (44-94%) de nematódeos do gênero Haemonchus sp., com crescimento acentuado da participação de Trichostrongylus sp. no final das “águas” (Figura 3). Sendo reconhecidamente o H. contortus um nematódeo de alta prevalência na criação de caprinos (BOMFIM & LOPES, 1994) e ovinos (AMARANTE, 2001), o transporte de animais que vem ocorrendo acentuadamente do Nordeste para início de plantel em outras regiões brasileiras pode levar à disseminação do parasito, se as condições ambientais forem adequadas ao seu desenvolvimento.
As prevalências dos nematódeos gastrintestinais obtidas neste trabalho foram semelhantes às relatadas por AMARANTE et al. (1996), referentes aos ovinos em lotação associada aos bovinos, bem como por MARTIN NIETO et al. (2003), relativos aos ovinos mantidos em pastagens com capins de hábitos de crescimento distintos, e BORGES (2003), em marrãs caprinas leiteiras, sob criação semi-intensiva.

CONCLUSÕES

Foram identificadas, na forragem, larvas infectantes de Haemonchus sp. e Trichostrongylus sp. em densidades variáveis nos diferentes estratos da pastagem. Nesse contexto, ovinos e caprinos pastejando associadamente apresentaram graus infecção moderado e alto, respectivamente, com notáveis prevalências de Haemonchus sp., Trichostrongylus sp.

AGRADECIMENTOS

Ao professor Alvimar José da Costa, extensivos à equipe do Centro de Pesquisa em Parasitologia (CPPAR) da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista (FCAV-UNESP), câmpus de Jaboticabal, pelo treinamento das metodologias fundamentais à realização deste trabalho.

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Protocolado em: 30 nov. 2006.  Aceito em: 15 jun. 2010.