DESEMPENHO PRODUTIVO E QUALIDADE DE OVOS DE POEDEIRAS SEMIPESADAS COM ADIÇÃO DE EXTRATO DE LEVEDURAS NA DIETA
Fabiane Pereira Gentilini,1 Fernanda Medeiros Gonçalves,2 Rita Albernaz Gonçalves da Silva,2 Perlem Meireles Nunes,3 Marcos Antonio Anciuti4 e Fernando Rutz5
1. D.Sc., médica veterinária, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Pelotas, RS, Brasil.
E-mail: fabianepg@brturbo.com.br
2. Mestranda, PPGZ/DZ/FAEM/UFPEL
3. Graduanda, Faculdade de Veterinária – UFPEL
5. DSc, professor nível E, CAVG/GEASPEL/UFPel
6. Ph.D., professor adjunto DZ/FAEM/UFPEL.
RESUMO
As leveduras são microrganismos utilizados na
alimentação humana e animal. Com o objetivo de se avaliar
o efeito de níveis crescentes de extrato de leveduras (ExL)
sobre o desempenho produtivo e qualidade de ovos de poedeiras
semipesadas, utilizaram-se 320 poedeiras Hysex brown (26 a 42 semanas
de idade) alojadas em oitenta gaiolas de postura, com quatro
aves/gaiola, em galpão tipo dark house. O delineamento
experimental foi completamente casualizado, com quatro tratamentos e
vinte repetições. Os tratamentos consistiam em
níveis de inclusão de ExL: T1 – dieta basal de
milho e farelo de soja (DB); T2 –1% de ExL; T3 –2% de ExL;
e T4 – 3% de ExL. Água e ração foram
fornecidas à vontade. Avaliaram-se consumo de
ração, produção de ovos, conversão
alimentar (consumo/dúzia de ovos), peso corporal, peso dos ovos,
gravidade específica, unidade Hugh e espessura da casca.
Observou-se que os tratamentos não influenciaram as
variáveis analisadas. Conclui-se que o uso de extrato de
levedura na dieta de poedeiras não afetou o desempenho produtivo
das poedeiras, nem a qualidade externa e interna dos ovos.
PALAVRAS-CHAVES: consumo, nucleotídeos, produção de ovos.
ABSTRACT
PERFORMANCE AND EGG QUALITY OF LAYING HENS SUPPLEMENTED WITH YEAST
EXTRACT IN THE DIET
Yeast have been used in feeds and foods. A total of 320 Hysex brown
layers (26 to 42 weeks of age) were fed diets containing increasing (0,
1, 2 and 3%) levels of an yeast extract. The animals were allocated in
cages (4 birds per cage), in a total of 80 cages (replicates) per
treatment. Birds were subjected to a completely randomized experimental
design. Feed and water were supplied ad libitum. Feed intake, egg
production, feed conversion (intake/dz eggs), body weight, egg weight,
specific gravity, Haugh units and shell thickness were not influenced
by the dietary treatments. These results indicate that yeast extract
does not influence performance and external and internal quality of
eggs.
KEY WORDS: Egg production, intake, nucleotides
INTRODUÇÃO
Proteínas dietéticas são tradicionalmente
conhecidas como fontes fornecedoras de energia e de aminoácidos,
essenciais para crescimento e manutenção de várias
funções corporais. Adicionalmente, elas contribuem para
as propriedades físico-químicas e sensoriais de alimentos
(KORHONEN & PIHLANTO, 2006).
Com o constante aumento nos preços das fontes proteicas
convencionais utilizadas nas dietas de poedeiras, tem-se observado
maior procura por subprodutos agroindustriais. Desse modo, a
produção de proteína microbiana, caracterizada
pelo rápido crescimento celular e elevado índice de
produtividade por área, pode constituir uma alternativa
viável para uso em rações de poedeiras (MAIA et
al., 2002). Os recentes avanços nas pesquisas com ingredientes
para inclusão em dietas animais têm possibilitado o uso do
extrato de levedura (ExL) de cepa específica na
alimentação animal em substituição
às proteínas de origem animal. O ExL, rico em
nucleotídeos, é tradicionalmente utilizado na
alimentação humana. O novo cenário da
nutrição animal tem estimulado pesquisadores a explorar
novas aplicações para ingredientes como o ExL de cepa
específica (TIBBETS, 2004).
Embora nas aves não seja possível comparar as vantagens
dos nucleotídeos com o leite materno, pesquisas com frangos de
corte comprovaram que, sob condições de estresse, o
fornecimento de ExL no período de um a sete dias de idade das
aves proporciona melhora significativa no ganho de peso, perfazendo
cerca de 70 gramas adicionais no momento do abate (RUTZ et al., 2006).
O ExL utilizado neste estudo é considerado de alta qualidade
nutricional, derivado de uma cepa selecionada, sendo uma fonte de
proteína altamente disponível sob forma de
aminoácidos livres e peptídeos. Este ingrediente
é, igualmente, rico em inositol, importante promotor de
crescimento, glutamato, estimulante de palatabilidade, vitaminas e
minerais (TIBBETS, 2004). À medida que a indústria de
ração é forçada a reduzir a
utilização de proteínas de alta qualidade de
origem animal, o produto torna-se uma alternativa interessante com a
sua alta concentração de nucleotídeos.
Objetivou-se avaliar o desempenho produtivo e a qualidade de ovos de poedeiras semipesadas suplementadas com ExL nas dietas.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no aviário experimental do Conjunto
Agrotécnico Visconde da Graça (CAVG), da Universidade
Federal de Pelotas – UFPel/RS – no período de agosto
a novembro de 2006, totalizando 112 dias experimentais, dividido em
quatro ciclos de 28 dias cada.
Utilizaram-se 320 poedeiras, da linhagem Hisex Brown, com idade inicial
de 26 semanas. As aves foram mantidas em galpão tipo dark house,
alojadas em gaiolas de postura, dispostas em dois andares, contendo
quatro aves cada, que representaram a unidade experimental.
Distribuíram-se as poedeiras nos tratamentos num delineamento
completamente ao acaso, tendo-se 80 aves/tratamento, com vinte
repetições/tratamento. Os tratamentos consistiam em
dietas reformuladas à base de milho e farelo de soja, com a
inclusão de níveis crescentes de ExL, sendo: T1 –
dieta basal (DB, controle); T2 –1% de ExL; T3 – 2% de ExL;
e T4 – 3% de ExL. As dietas eram isonutritivas, sendo o ExL
incluído na matriz nutricional como fonte de aminoácidos,
de acordo com a indicação do fabricante. A Tabela 1 mostra a composição percentual e os valores calculados das dietas experimentais.
As aves foram alimentadas à vontade, utilizando-se comedouros do
tipo calha aberta, dispostos na frente das gaiolas e isolados por
divisórias, para que a ração fosse fornecida para
cada unidade experimental, separadamente.
A água foi fornecida através de bebedouros tipo nipple,
à vontade, de maneira que as aves de cada gaiola tivessem acesso
a dois bebedouros. O regime de luz seguiu as orientações
estabelecidas pelo manual da linhagem com dezesseis horas e trinta
minutos de luz diária, com 60 lux/m2 de intensidade luminosa.
A temperatura interna do galpão foi registrada pela
observação de um termômetro de mínima e
máxima, tendo oscilado, durante o período experimental,
entre 14,6°C a 22,0°C. Realizou-se ventilação do
ambiente com o uso de exaustores, localizados no centro do
galpão, acionados através de termostatos. Além
disso, a saída de ar ocorria por meio de aberturas localizadas
em ambos os lados dos exaustores, e para a entrada de ar no interior do
galpão eram utilizadas aberturas, em ambas as laterais.
Recolheram-se os dejetos das aves mantidas no galpão à
medida que se liquefaziam, através de drenos para um fosso
localizado no lado externo da instalação.
Para a análise das variáveis de desempenho dentro de cada
período de 28 dias, consideraram-se o consumo de
ração (CR, g), a produção diária de
ovos (PDOV, %), a conversão alimentar por dúzia de ovos
(CADz) e o peso corporal (PC, g). As variáveis CR e PDOV tiveram
controle diário.
A cada 28 dias utilizaram-se, em média, 65 ovos/tratamento/ciclo
para as análises referentes às variáveis de
qualidade externa e interna dos ovos, ou seja, peso dos ovos (POV, g),
gravidade específica (GE), altura de clara (ACL, mm), e
espessura da casca (ECS, mm). Depois de obtido o valor do POV e da ACL,
calculou-se a unidade Haugh dos ovos (UH), de acordo com a seguinte
fórmula:
em que: H = altura da clara espessa (milímetros); G = constante gravitacional de valor 32; W = peso do ovo (g).
Os dados foram
submetidos à análise estatística, por meio da
análise de variância, 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de desempenho produtivo apresentados na Tabela 2
não indicam diferença significativa (P> 0,05) entre os
tratamentos para as variáveis CR, PDOV, CADz e PC.
Comparativamente a outras espécies, tais resultados discordam
com os encontrados por LUNGER et al. (2007), que observaram
diferença significativa (P< 0,0001) no ganho de peso de
peixes arraçoados com dieta contendo o ExL, comparativamente a
peixes alimentados com outras sete dietas diferentes, sugerindo que o
ExL proporciona uma fonte de aminoácidos e proteínas com
maior biodisponibilidade em nível de trato gastrintestinal.
Os parâmetros de qualidade externa e interna dos ovos, POV, GE, ACL, ECS e UH, apresentados na Tabela 3,
não diferiram significativamente (P> 0,05) entre os
tratamentos. Já YOUSEFI & KARKOODI (2007) observaram
diferença significativa na espessura da casca e peso da gema nos
ovos de poedeiras Hy-line suplementadas com ExL e probiótico na
dieta. YOUSEFI et al. (2004), da mesma forma, observaram maior
espessura de casca nos ovos de poedeiras suplementadas com
Saccharomyces cerevisiae, diferindo significativamente dos outros
tratamentos.
Tem sido
preconizado que o fornecimento de ExL deva ser realizado na primeira
semana de vida das aves, período em que os enterócitos,
as vilosidades intestinais e a imunidade são pouco
desenvolvidos, sendo a maturação dessas estruturas
influenciadas diretamente pela qualidade das dietas (NOY & SKLAN,
1997; UNI et al., 1998; GEYRA et al., 2001; RUTZ et al., 2007). Animais
jovens não possuem um sistema enzimático digestivo
eficiente na primeira semana de vida, aproveitando os nutrientes
provenientes da dieta de forma ineficiente. Os nucleotídeos
aumentam o desenvolvimento das vilosidades, a espessura da parede
intestinal, o conteúdo proteico e de DNA e RNA, sendo, de forma
indireta, essenciais para a maturação da mucosa
intestinal em animais jovens, favorecendo a secreção
enzimática no trato gastrintestinal (UAUY et al., 1990; RUTZ et
al., 2007).
A idade de
suplementação do ExL (26-42 semanas de vida) para as
poedeiras pode ser considerada o fator primordial para a igualdade de
resultados entre os tratamentos, visto que o fornecimento da
suplementação promove melhores resultados quando
realizado desde a primeira semana de idade dos animais. Sugere-se que
estudos posteriores venham a utilizar o ExL testado neste experimento
para poedeiras em final de ciclo de produção.
CONCLUSÃO
A
adição do extrato de levedura não altera o
desempenho produtivo nem a qualidade dos ovos das poedeiras entre 26 e
42 semanas de vida.
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Protocolado em: 24 dez. 2008. Aceito em: 17 ago. 2009.