EFEITO DE TRÊS ESPÉCIES DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS SOBRE A ESTRUTURA DA
PASTAGEM E DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DE LARVAS INFECTANTES DE NEMATÓDEOS
GASTRINTESTINAIS DE OVINOS
Danilo Gusmão
de Quadros1, Américo Garcia da Silva Sobrinho2, Luís
Roberto de Andrade Rodrigues2, Gilson Pereira de Oliveira2,
Cláudia Pereira Xavier3, Alexandro Pereira Andrade3
O
conhecimento da interação entre a disposição das larvas infectantes e o tipo de
capim é fundamental nos estudos epidemiológicos e no controle das nematodioses gastrintestinais em ovinos. Objetivou-se, com
este trabalho, avaliar os efeitos de três espécies de gramíneas forrageiras
sobre a estrutura da pastagem e a distribuição de larvas infectantes (L3) de
nematódeos gastrintestinais de ovinos deslanados no perfil vertical das
gramíneas forrageiras, na época chuvosa do ano. Foram utilizadas 60 ovelhas, não
periparturientes, naturalmente infectadas,
distribuídas igualmente ao acaso em três piquetes de
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PALAVRAS-CHAVE:
Andropogon gayanus; Cynodon
plectostachyus; Panicum maximum
EFFECT OF THREE SPECIES OF FORAGE GRASSES ON PASTURE STRUCTURE AND
VERTICAL DISTRIBUTION OF INFECTIVE LARVAE OF GASTROINTESTINAL NEMATODES OF
SHEEP
ABSTRACT
The knowledge of interaction between infective larvae setting and the
type of grass is important to epidemiological studies and the control of
gastrointestinal nematodes in sheep. The objective of this work was to evaluate
the effects of three species of forage grasses on pasture characteristics and
the vertical distribution of infective larvae (L3) of gastrointestinal nematodes
of woolless sheep on the grasses during the rainy
season. Sixty
non-periparturients ewes were used, naturally
infected, equally distributed on
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INTRODUÇÃO
As pastagens se constituem na mais econômica fonte de nutrientes
para ovinos. Entretanto, nesse ecossistema, as verminoses se constituem no
principal problema sanitário da criação, especialmente a causada por nematódeos
gastrintestinais (AMARANTE, 2011). Ovinos mantidos em pastagens apresentam
verminose durante todo o ano, com intensidade bem mais elevada no período
chuvoso (GIRÃO et al., 1998).
A infecção do hospedeiro ocorre por meio de forragem contaminada
com a forma larvar infectante (L3). Condições climáticas adequadas de umidade e
temperatura favorecem o desenvolvimento de grande número de larvas infectantes
que, uma vez ingeridas pelo hospedeiro, podem resultar na ocorrência de casos
agudos de verminose (anemia, graus variados de edema submandibular, letargia,
fezes escuras e perda de peso progressiva) (PINTO et
al., 2009). Porém, a ingestão de menor número de larvas continuamente permite
aos animais se adaptarem à infecção, ocorrendo sinais clínicos menos evidentes,
mas afetam negativamente a taxa de crescimento e conformação de carcaça (KAWANO
et al., 2001).
As diferenças na estrutura da pastagem de gramíneas forrageiras
e as condições climáticas afetam o número e a disposição de larvas infectantes
(MARTIN NIETO et al., 2003; CARNEIRO & AMARANTE,
2008; QUADROS et al., 2010). Estrutura da pastagem é conceituada como a
disposição horizontal e vertical sob a qual a forragem se apresenta aos animais,
variando conforme o genótipo, idade da planta, época do ano e manejo.
A escolha da planta forrageira e o manejo da pastagem com ovinos
devem favorecer as condições para rebrota rápida e
abundante, um satisfatório valor nutritivo, uma eficiente utilização da
forragem produzida e permitir a adoção de práticas para redução da população de
larvas infectantes como parte do controle integrado de parasitos no rebanho.
Os objetivos deste trabalho foram avaliar os efeitos de três
espécies de gramíneas forrageiras (capins Tanzânia, estrela-africana e andropógon), manejadas sob lotação
contínua, sobre a estrutura da pastagem e a distribuição de larvas infectantes
em diferentes estratos da parte aérea dos capins (0-15, 15-30 e
>
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na Fazenda Santa Bárbara, município de
Barreiras, Bahia (12º05’ lat. S; 45º20’ long. W), região fisiográfica de cerrados, área que vem apresentando grande
crescimento da ovinocultura de corte. Foram utilizados três piquetes de
aproximadamente
As pastagens foram mantidas sob lotação
contínua durante toda a estação de pastejo, de outubro de
A massa seca (MS) das frações lâminas foliares
verdes (folha), colmos + bainhas (colmo) e material morto dos estratos de
0-15, 15-30 e >
A estimativa visual do percentual de cobertura do solo por
gramíneas forrageiras, plantas daninhas e de solo sem cobertura vegetal foi
mensurada por amostragem não-destrutiva, com quadrado
de 1m de lado, em 8 pontos/piquete e a leitura efetuada por dois observadores. O
valor de cobertura de solo pelas gramíneas forrageiras foi multiplicado pela
MS/ha de cada fração, para apresentação dos resultados conforme o grau de
ocupação em cada capim estudado. A altura média das plantas foi medida com o
auxílio de régua graduada em centímetros, em 20 pontos/piquete, seguindo linhas
transectas imaginárias.
Conforme os dados meteorológicos, cotados pelo Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), as chuvas no município concentraram-se de
novembro de
As fezes dos
animais experimentais foram colhidas diretamente da ampola retal usando-se sacos plástico identificados. Em seguida, foram levadas, em
recipiente isotérmico com gelo, para o Laboratório do Núcleo de Estudo e
Pesquisa em Produção Animal, do campus IX da UNEB, localizado a cerca de
A
amostragem de forragem, para fins de levantamento demográfico das larvas
infectantes L3, ocorreu até as 10 h da manhã, e o material foi imediatamente
levado ao Laboratório do NEPPA/UNEB para extração das larvas infectantes. Uma
sub-amostra de forragem de
cada estrato (cerca de
Constatou-se que o material do
aparelho de Baermann, oriundo de estratos com grande
proporção de material morto, apresentou quantidades consideráveis de sujidades.
Nesses casos, a retirada do líquido para análise ocorreu logo acima do sedimento
escuro.
Os valores da
contagem de larvas infectantes L3 foram transformados em log10 (x +
5) e submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas
pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade,
com desdobramento das interações significativas, utilizando o programa SAS
(1996). Os dados foram analisados em parcelas subdidividas, estudando-se o efeito do capim na parcela e do
estrato na sub-parcela, com
10 repetições e três períodos de amostragem.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
O
percentual de ocupação do solo por gramíneas forrageiras foi semelhante entre os
capins testados (P>0,05), com média de 56,3% (Tabela 2). A pastagem de
capim-Tanzânia apresentou percentual mais elevado (P<0,05) de solo
descoberto, enquanto os capins estrela-africana e andropógon não diferiram entre si (P>0,05) (Tabela 2).
O
capim-estrela-africana apresentou altura menor (P<0,05) do que os capins
cespitosos, exceto na primeira avaliação no início da rebrotação, fato que se relaciona com os hábitos de
crescimento distintos das gramíneas forrageiras estudadas (Tabela 2). Nenhum dos capins superou altura de
Houve
interação significativa (P<0,05) entre a espécie de gramínea e o estrato da
pastagem sobre a densidade de folhas, a qual foi maior (P<0,05) no estrato
acima de
O
capim-andropógon apresentou menor (P<0,05)
densidade de colmos do que os capins Tanzânia e estrela-africana, em virtude da
alta quantidade de material morto, que resultou em baixas densidades da fração
verde (folhas e colmos) (Tabela
3).
A eventual
redução da altura de manejo de gramíneas forrageiras tropicais, visando à
diminuição da população de larvas de nematódeos na pastagem pela insolação, pode
ser limitada pelo fato da estrutura apresentar alta densidade de colmos,
resultando, segundo HUMPHREYS (1991), em alterações no comportamento ingestivo e
redução da qualidade da dieta.
O
capim-andropógon apresentou altas densidades de
material morto, principalmente abaixo de
O número
de larvas infectantes de Haemonchus
spp./kg MS foi influenciado pela interação estrato x época (Figura 1 - a),
com distribuição
variável em relação a cada tipo de capim..
A
habilidade das larvas infectantes em migrarem verticalmente é reconhecida,
alcançando a parte superior das plantas na dependência da hora do dia (YAMAMOTO
et al., 2004) e das condições ambientais, enquanto a
migração horizontal é limitada a apenas
A distribuição
das larvas infectantes de Trichostrongylus
spp. não seguiu padrão definido no perfil vertical
dos capins (P>0,05) (Figura 1-b). É comum a ocorrência de grandes
variações no número de larvas recuperadas em amostras de capim (AMARANTE et al., 1996). Chuvas torrenciais podem eliminar muitas
larvas ou resultarem em umidade excessiva, impedindo a aeração da massa fecal e
da camada superficial do solo, influenciando negativamente o desenvolvimento das
larvas (CARNEIRO & AMARANTE, 2008).
Por outro lado, as chuvas são fundamentais no rompimento da camada
externa das síbalas de fezes, proporcionado condições
à migração das larvas L3.
Foram
encontradas na forragem predominantemente larvas infectantes de nematódeos
gastrintestinais dos gêneros Haemonchus spp.
e Trichostrongylus spp. (Figura 1), em nível
semelhante ao observado por AMARANTE et al. (1996), em
pastagem de capim coast-cross colhido a mais de
Em menor número,
foram encontradas larvas infectantes de Oesophagostomum spp. e Strongyloides sp.
(Figura 1 – c, d). Dentre os cinco gêneros identificados nas coproculturas, apenas larvas de Cooperia spp. não foram recuperadas na
forragem.
A presença
de larvas infectantes nos estratos superiores da pastagem pode favorecer a
ingestão de maior número de larvas. Conforme SYKES (1994), menos de 600 larvas
infectantes consumidas diariamente podem ser responsáveis por reduções de até
50% no ganho de peso e na eficiência de utilização dos nutrientes pelos animais,
além de queda no consumo de forragem, devido à nematodiose crônica.
Na época chuvosa
do ano nos cerrados, pastagens dos capins Tanzânia, estrela-africana e andropógon, sob lotação contínua de
ovinos, proporcionaram condições adequadas ao desenvolvimento das larvas
infectantes, apesar de apresentarem diferentes estruturas. A sobrevivência das
larvas infectantes depende de um ambiente com umidade e sombra, pois a
dessecação é o mais letal de todos os fatores climáticos (HANSEN & PERRY,
1994).
O risco de
ingestão de larvas pelos animais provavelmente é mais intenso no
capim-estrela-africana, cujo hábito de crescimento é prostrado e a faixa de
pastejo é mais baixa, em relação aos capins Tanzânia e andropógon. Entretanto, FERNANDÉZ et al. (2001) observaram maior disponibilidade de larvas
infectantes de Ostertagia ostertagi sobreviventes em gramíneas mais altas,
presumidamente em consequência de melhor proteção ao calor e a dessecação.
Aparentemente a
utilização de capins eretos, cespitosos, visando diminuição de nematodioses em ovinos, por si só, não foi eficaz, quando a
pastagem é manejada sob lotação contínua, provavelmente
pela ocorrência de reinfestação dos animais com a
ingestão de larvas infectantes L3 oriundas dos ovos excretados nas fezes dos
próprios animais.
CONCLUSÕES
A estrutura da
pastagem foi bem diferente entre os capins, relacionando-se com o hábito de
crescimento e manejo da pastagem. As larvas infectantes L3 não apresentaram
padrão bem definido de distribuição nos diferentes perfis da pastagem dos
diferentes capins. Contudo, considerando-se a altura de manejo adequada ao capim
estrela-africana, o risco da ingestão de larvas pode ser maior.
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