RESUMO
O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência do fotoperíodo
emeral na composição bromatológica da carcaça de juvenis de tambaqui (
Colossoma macropomum).
O experimento foi realizado utilizando 190 peixes com peso médio de
11,01 ± 2,08g e comprimento total de 7,8 ± 0,18cm, acondicionados em
dezesseis aquários de 56 litros com renovação de 40 vezes o volume ao
dia. A temperatura da água foi mantida em 29,1 ± 0,41°C e a densidade
de estocagem foi equivalente a 2,75 g/L, sendo que todos os aquários
possuíam aeração constante. Os fotoperíodos emerais foram mantidos com
auxílio de timers. Foram utilizados os seguintes tratamentos: T1= 6
horas de luz, T2 = 12 horas de luz, T3 = 18 horas de luz e T4 = 24
horas de luz, com quatro repetições cada. Os juvenis foram alimentados
duas vezes ao dia, com ração comercial extrusada (28% de proteína
bruta). Ao iniciar o experimento, com 32 dias e ao final do período
experimental, foram feitas análises da composição bromatológica das
carcaças evisceradas e descamadas, para avaliação da proteína bruta,
estrato etéreo, matéria mineral e extrato não nitrogenado na matéria
seca e na matéria natural. A análise estatística das variáveis foi
realizada com auxílio do aplicativo SAEG, versão 9.1, para realização
de análise de variância, regressões e correlações de Pearson. Não foi
observado efeito dos fotoperíodos emerais (p<0,05) nas variáveis.
____________
PALAVRAS-CHAVE: Aquicultura; bioclimatologia; peixes nativos
ABSTRACT
INFLUENCE OF AHEMERAL PHOTOPERIOD ON BROMATOLOGICAL CHARACTERISTICS OF CARCASSES OF TAMBAQUI (Colossoma macropomum) JUVENILES
The aim of this study was to evaluate the influence of ahemeral
photoperiod on the chemical composition of the carcasses of tambaqui (
Colossoma macropomum).
The experiment was conducted using 190 fish with average weight of
11.01± 2.08g and total lenght of 7.8± 0.18cm, stored in sixteen bowls
of 56 liters of water with daily renewal of 40-times volume. The water
temperarature was maintained at 29.1± 0.41°C and the stocking rate was
equivalent to 2.75g/L. All tanks had constant aeration. Ahemeral
photoperiods were maintained with the aid of timers. The following
treatments were used: T1= 6 hours of light, T2= 12 hours of light, T3=
18 hours of light and T4= 24 hours of light with four replications
each. The juveniles were fed twice a day with commercial extruded feed
(28% crude protein). The experiment lasted 64 days and the chemical
composition of eviscerated and shedded carcasses were analysed at the
beginning, at 32 days and at the end of it for the evaluation of crude
protein, ether extract, ash and non nitrogenous extract in dry matter
and in natural matter. Statistical analysis of variables was performed
with the aid of SAEG application, version 9.1. For performing analysis
of variance, Pearson correlations and regressions were used. There was
no effect of ahemeral photoperiods (p<0.05) in variables.
____________
KEYWORDS: Acquaculture; Bioclimatology; Native fish.
INTRODUÇÃO
O volume pescado proveniente da aquicultura vem apresentando um
crescimento contínuo nos últimos 10 anos enquanto a atividade
extrativista durante este mesmo período de tempo apresentou queda na
sua produção (FAO, 2007).
A aquicultura, por seu crescente aporte na produção mundial de pescado,
surge como alternativa para aumentar a produção de alimentos. HUSS
(1998), previu que nos próximos anos haverá um aumento na demanda de
pescado nos países em desenvolvimento por ser uma alternativa de
alimento de alto valor nutritivo e possuir relativamente baixos teores
de gordura e uma proteína de alta digestibilidade.
Em geral, a composição química do pescado varia entre peixes da mesma
espécie e entre diferentes partes do mesmo peixe. Essas variações são
devidas a fatores como época do ano, alimentação, diferença entre sexos
e características genéticas, entre outras causas (GURGEL & FREITAS,
1972; CONTRERAS-GUZMÁN, 1994; OGAWA & MAIA, 1999; KUBTIZA, 2000;
GARDUÑO-LUGO
et al., 2003).
Dentre os fatores relacionados ao ambiente de cultivo, o fotoperíodo
emeral influencia o desenvolvimento e a sobrevivência em diferentes
fases ontogênicas, pois a luz auxilia tanto na estratégia alimentar
como no estímulo a outras atividades metabólicas de várias espécies de
peixes (REYNALTE-TATAJE, 2002). O fotoperíodo corresponde a um dos
diversos estímulos ambientais e está relacionado à duração do tempo de
luz ao longo de um dia (BEZERRA
et al., 2008). A intensidade e o aumento desse tempo de luz se modificam com as estações do ano e o clima da região (BROMAGE
et al., 2001).
Sabe-se que o fotoperíodo influencia no crescimento e no ciclo reprodutivo da tilápia (BROMAGE
et al.,
2001). Contudo, existem poucas informações sobre os efeitos desses
fatores ambientais na composição bromatológica de peixes tropicais como
o tambaqui, nas diferentes fases de produção dessa espécie.
O conhecimento da composição bromatológica dos peixes é necessário para
que sua introdução no mercado seja mais efetiva, possibilitando a
competição com outras fontes protéicas de origem animal amplamente
utilizadas, como a carne bovina, suína e de aves (BELLO & RIVAS,
1992). Esse conhecimento também permitirá avaliar a eficiência da
transferência de nutrientes do alimento para o peixe e os manejos mais
adequados para melhor composição das carcaças.
As análises dos parâmetros bromatológicos em peixes confinados têm sido
largamente utilizadas para avaliar o estado de saúde de animais sob
cultivo intensivo (TAVARES-DIAS
et al., 2001), podendo auxiliar no diagnóstico, prevenção e controle de patologias associadas ao estresse (CHAGAS
et al., 2002).
Objetivou-se com este trabalho avaliar a existência de efeito ou
não, do fotoperíodo emeral sobre a composição bromatológica da carcaça
de juvenis de tambaqui.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Setor de Aquicultura da Universidade
Estadual do Norte Fluminense (UENF/RJ), situado no Colégio Agrícola
Estadual Antônio Sarlo em Campos dos Goytacazes – RJ, durante o período
de quatro de maio a sete de julho de 2006, totalizando 64 dias de
experimento.
Foram utilizados 190 juvenis de tambaqui (
Colossoma macropomum)
provenientes do Projeto Piabanha localizado em Itaocara, município do
Rio de Janeiro, com idade aproximada de 60 dias e peso inicial de 11,01
± 2,08g, distribuídos em 16 aquários com medidas aproximadas de 30 x 60
x 50 cm (largura x comprimento x altura), utilizando um volume total de
56 litros e volume útil de 40L cada, com densidade inicial equivalente
a 2,75g/L por aquário. Ao iniciar o experimento, 30 peixes do lote
inicial foram abatidos para análise bromatológica das carcaças.
Os juvenis passaram por um processo de adaptação à rotina experimental
de 12 dias, sendo esse período dividido em sete dias no laboratório de
aquicultura e cinco dias dentro dos aquários experimentais, onde foi
feita a reposição de qualquer animal que por razoes distintas
apresentasse comportamento irregular, que pudesse comprometer os dados
finais do experimento. Após inicio do período experimental nenhum
juvenil foi reposto nas unidades experimentais. Os peixes foram
alimentados duas vezes ao dia.
O aquário mais os dez juvenis de tambaqui, juntos, formavam uma unidade
experimental. As unidades experimentais foram distribuídas em um
delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos, e cada
tratamento com quatro repetições, totalizando 16 unidades
experimentais. As mesmas foram isoladas de qualquer tipo de iluminação
que não fosse proveniente dos seus respectivos tratamentos, através de
lona plástica preta para evitar a incidência de luz durante o período
de escuro de cada tratamento, garantindo com isso que o fornecimento de
luz só fosse feito durante os períodos estipulados para cada tratamento.
Foram mensurados os parâmetros oxigênio dissolvido mg/L, pH,
temperatura ºC, condutividade elétrica µS e intensidade de luz em µmol m
-2 s
-1,
sempre após as refeições feitas às 8:20 e às 13:20 horas. Os níveis de
oxigenação foram mantidos com auxilio de aeradores e mensurados através
de um oxímetro. O pH, a temperatura, a condutividade elétrica e a
intensidade luminosa foram medidos, respectivamente, por meio de
peagâmetro, termômetro digital, condutivímetro digital e medidor de
fotometria digital.
O sistema utilizado durante o experimento foi do tipo recirculação
fechada e contínua, contendo uma caixa para filtragem da água (através
de processos físicos e biológicos), uma caixa depósito (onde a água foi
mantida para retorno às unidades experimentais), bombas submersas para
retorno da água do sistema e dois termostatos de 300W para a manutenção
da temperatura durante o experimento.
Os sistemas possuíam abastecimento e escoamento da água com uma
renovação de 40 vezes o volume total utilizado nos aquário por dia. O
fluxo da água foi constante visando manter elevado o teor de oxigênio,
eliminar as fezes e evitar a formação de plâncton.
O manejo alimentar foi realizado utilizando uma ração comercial
contendo 28% de PB e 3.100 kcal de ED/kg. A ração foi fornecida à
vontade, às 8:20 e às 13:20 horas. Após 15 minutos as sobras eram
retiradas. Nos aquários onde não havia sobra, a alimentação foi
repetida até que os mesmos apresentassem sobras.
Foram feitas coletas de sangue para mensuração de glicose sanguínea com
o objetivo de verificar indicadores de estresse nos peixes e análises
bromatológicas das carcaças evisceradas e escamadas, para verificar
possível efeito causado pelos diferentes fotoperíodos na composição
bromatológica das carcaças de 30 juvenis de tambaqui.
As coletas de sangue foram realizadas em três momentos: no início do
experimento, com 32 dias e ao término do mesmo (64 dias). Dos cinco
peixes que foram retirados aos 32 e aos 64 dias de cada unidade
experimental para análise bromatologica, três foram utilizados para
coleta de sangue, a qual foi realizada com auxilio de seringas de 3,0
mL com agulhas 25/7. O conjunto de seringas e agulhas foi lavado com
fluoreto de potássio com o objetivo de evitar a coagulação e a
glicólise sanguínea.
Os peixes foram anestesiados com uma solução contendo 65ppm de eugenol.
A coleta de sangue foi feita poe meio de punção da veia caudal,
retirando um volume mínimo de 0,4 mL de sangue por peixe. O sangue foi
transferido das seringas para tubos de ensaio que foram centrifugados a
uma velocidade de 3500rpm por cinco minutos. Retirou-se o plasma das
amostras que foi centrifugado novamente à mesma velocidade e tempo para
eliminação total de resíduos dos plasmas provenientes das amostras.
Após as coletas de sangue os peixes utilizados foram abatidos (cinco
juvenis com 32 dias e cinco juvenis com 64 dias, de cada unidade
experimental) através de choque térmico, acondicionados em sacolas
plásticas devidamente identificadas e levados ao freezer para
congelamento. Após o término do experimento, os peixes foram
descongelados e as escamas e as vísceras foram retiradas. As carcaças
foram pesadas, trituradas com processador industrial de pequeno porte e
pesadas novamente. A massa obtida foi congelada e, após 24 horas de
congelamento, foi levada ao liofilizador para retirada da umidade.
Passado um período de 48 horas as amostras foram pesadas em balança
digital com precisão de 0,1 e moídas no moinho de bola. Após o
processamento das amostras foram feitas análises através da adaptação
da metodologia descrita por SILVA & QUEIROZ (2000) para análise de
extrato etéreo, proteína bruta, matéria mineral. Foram quantificados
também o extrato não nitrogenado, além de matéria seca, teor de unidade
das amostras e glicemia sanguínea.
Todas as análises foram feitas no Laboratório de Zootecnia e Nutrição
Animal (LZNA) da UENF-CCTA. Com os valores obtidos nas análises
anteriores foram calculados os valores de eficiência de retenção de
proteína bruta (ERPB) e taxa de eficiência protéica (TEP).
Para a análise estatística do experimento foi utilizado o programa
estatístico SAEG versão 9.1. Foram feitas análise de variância,
regressões lineares simples e múltiplas e correlações de Pearson, com
os dados obtidos através das análises feitas no LZNA.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores dos parâmetros relacionados à qualidade da água, oxigênio dissolvido (O
2D), temperatura (TºC), pH e condutividade elétrica (COND.), mensurados durante o período experimental, estão na
Tabela 1.
Durante o período experimental, o teor médio de oxigênio dissolvido foi
de 5,75mg/L. Segundo ARAUJO-LIMA & GOMES (2005), o tambaqui tem seu
crescimento normal em níveis de oxigênio acima de 3,0mg/L; portanto, os
valores de oxigênio dissolvido obtidos no experimento ora descrito
atendem perfeitamente à exigência do tambaqui. Da mesma forma, a média
do pH manteve-se dentro dos padrões recomendados por ARIDE
et al.
(2004), entre 4,0 e 6,5. A temperatura dos aquários experimentais
mostrou-se adequada para espécies de clima tropical, apresentando
médias 29,45ºC pela manhã e 28,8ºC pela tarde.
Os valores de condutividade elétrica da água também se mantiveram
dentro de faixas ideais para o cultivo de peixes tropicais. Tais
valores estão bem próximos ao encontrados por POLESE
et al. (2010) trabalhando com alevinos de pacu (
Piaractus mesopotamicus).
Os maiores valores encontrados desse parâmetro provavelmente esta
associado a presença de íons de cálcio na água de abastecimento das
unidades experimentais. O que permite afirmar que esses parâmetros de
qualidade da água não interferem nos resultados do presente.
Os resultados observados no experimento quanto à composição
bromatológica da carcaça de juvenis de tambaqui indicaram uma tendência
ao aumento da porcentagem de gordura na carcaça em detrimento da
porcentagem de proteína em relação aos valores alcançados no inicio e
ao final do período experimental. (
Tabela 2)
Os valores de proteína bruta encontrados neste trabalho, apesar de
diminuírem entre o inicio e o fim, estão próximos aos resultados que
TERRAZAS
et al. (2002)
encontraram quando trabalharam com peixes da mesma espécie e obtiveram
valores de 44,08 a 45,65% de PB na carcaça dos juvenis. Pôde-se
verificar um aumento na porcentagem de proteína bruta quando se
consideraram trabalhos que só avaliaram a composição bromatológica do
filé, como o de LANNA
et al.
(2004), que apresentou valor de proteína bruta média igual a 87,86% na
matéria seca do filé de juvenis de tilápia do Nilo, e o de SANTOS
et al. (2000) e SANTOS
et al. (2001) que, trabalhando com filé de trairão (
Hoplias lacerdae),
obtiveram valores de proteína bruta na matéria seca em torno de 81,34%.
Independente da variação no trabalho, ambos obtiveram valores finais
bem superiores aos encontrados no presente estudo.
Os menores valores de proteína bruta encontrados neste trabalho
devem-se ao fato de que ao analisar uma carcaça estamos analisando um
conjunto de tecidos (tecido ósseo, cartilaginoso, muscular entre
outros) e a análise desse conjunto de tecidos resulta numa menor parte
ou porcentagem de proteína bruta ao final.
Pôde-se perceber o inverso em relação ao extrato etéreo, pois neste
trabalho verificou-se valores maiores que os obtidos por SANTOS
et al. (2006), que encontraram valores de 5,81 para matéria seca e 1,21 na matéria natural, MACEDO-VIEGAS
et al. (2002) que trabalharam com trutas e obtiveram valores de 7,34 a 5,41% e CAULA
et al.
(2008) que analisaram o filé de diferentes espécies de pescados e
encontraram valores entre 1,0 e 4,6. Entretanto, ao se compararem os
resultados obtidos neste trabalho com outros que analisaram a
carcaça dos peixes constatar-se-á que os valores estão bem próximos
como verificados por TERRAZAS
et al
(2003), que obtiveram valores variando entre 40,67 a 44,75, MARENGONI
& SANTOS (2006), que avaliaram tilapias provenientes de
pesque-pague diferentes, obtendo um resultado entre 30,68 a 35,65% para
os machos e 20,90 a 38,59 para as fêmeas, e ITUASSÚ
et al.
(2004), que, trabalhando com restrição alimentar de tambaqui,
encontraram valores de proteína bruta na matéria seca da carcaça num
intervalo de 55,50 até 58,73 %, e de extrato etéreo num intervalo de
19,50 a 23,37%.
Pôde-se notar também a modificação entre os valores obtidos no inicio e
no final do trabalho para as variáveis bromatológicas. Essa diferença
deve-se ao crescimento do animal e, possivelmente, à ração que não é
especifica para a espécie, causando um acúmulo de gordura na carcaça,
devido ao desequilíbrio protéico:energético e, consequentemente, a uma
redução na proteína e aumento na gordura, que não está relacionada ou
não sofre influência dos diferentes tratamentos, uma vez que a análise
estatística não demonstrou diferença significativa entre os tratamentos.
Na
Tabela 4
estão os valores de glicemia sanguínea, os valores da taxa de
eficiência protéica (TEP) e a taxa de retenção de proteína bruta
(ERPB). Essas taxas utilizam valores obtidos na biometria e na análise
bromatológica e transformados em dados para avaliação e quantificação
do uso do nitrogênio fornecido na dieta correlacionado com a produção
de proteína do animal.
As variáveis da
Tabela 3
não apresentaram equações de regressão com grau de significância
confiável. No entanto, os valores obtidos neste experimento para essas
mesmas variáveis são próximos dos valores obtidos em outros
experimentos, como em trabalho realizado por MUÑOZ-RAMÍREZ &
CARNEIRO (2002), que obtiveram valores de TEP variando entre 2,27 e
1,76%, enquanto que para a ERPB os valores entre 29,81 e 38,56.
Já LANNA
et al. (2004)
obtiveram valores maiores que os estabelecidos neste trabalho para taxa
de eficiência protéica (TEP), entre 3,29 e 4,37g, quando trabalharam
com juvenis de tilápia, utilizando diferentes fontes de óleos e fibras
na dieta. FERNANDES
et al. (2001), trabalhando com diferentes níveis de proteína para alevinos de pacu (
Piaractus mesopotamicus), encontraram valores da TEP iguais a 3,23, 3,13 e 2,92 % para os respectivos valores de PB na ração 22, 26 e 30 %.
Esses valores menores de TEP encontrados no presente trabalho podem
estar relacionados com o estresse quantificado de forma leve na
primeira coleta de sangue para os peixes que permaneceram em
fotoperíodos maiores. Entretanto, o resultado da segunda coleta já
indicou altos valores de glicose sanguínea, o que pode caracterizar
animais estressados, para todos os tratamentos.
Quando o peixe encontra-se numa situação desfavorável, o nível de glicose sanguínea aumenta, como demonstrado por MARTINS
et al.
(2002), que submeteram o híbrido tambacu a estímulos consecutivos de
estresse. Esses autores observaram um valor inicial de glicose
sanguínea igual a 71,00 mg/dL no tempo zero chegando a alcançar valores
de glicose sanguínea igual a 148,35 mg/dL após duas horas de estímulos,
demonstrando um estresse agudo.
BRANDÃO
et al. (2004)
quantificaram o nível de glicose sanguínea de tambaquis durante um
experimento de densidade obtendo valores de glicose sanguínea entre 51
a 65 mg/dL. Esses resultados não demonstram sinais de estresse com
relação às densidades usadas no trabalho.
CHAGAS
et al. (2002), testando
as densidades de estocagem de tambaqui, apresentaram os seguintes
valores de glicose sanguínea, 61,80; 67,30 e 63,67 mg/dL para as
respectivas densidades de estocagem 25; 50 e 75 peixes/ m³, não
demonstrando a presença de fatores estressantes durante o experimento,
uma vez que esses valores estão dentro da faixa estipulada para os
valores de glicose sanguínea da espécie.
GOMES
et al. (2001)
quantificaram os valores de glicose sanguínea para os juvenis de
tambaqui em situação de repouso chegando a valores entre 50 a 70 mg/dL,
valores estes próximos aos obtidos nos maiores fotoperíodos do
experimento ora descrito (18 e 24 horas de luz), indicando que não
houve estresse nesses tratamentos até os 32 dias.
O estresse demonstrado pelo nível de glicose sanguínea pode explicar os
valores baixos encontrados para a TEP e a ERPB, pois o estresse diminui
a eficiência do metabolismo, aumenta a taxa de passagem do alimento,
diminui o tempo de digestão da dieta, prejudicando a utilização do
alimento para o desenvolvimento do animal.
Observa-se por meio dos valores encontrados na correlação entre PB e EE
que essas variáveis têm sentidos opostos na composição bromatológica
das carcaças avaliadas durante o experimento, sendo que, quanto maior
for a percentagem de uma variável na carcaça, menor será a outra.
Entretanto, não foram observadas correlações entre a PB e outras
variáveis analisadas bromatologicamente, como PB e MM, PB e MS e PB e
ENN.
No entanto, foi observada uma correlação negativa e superior a 60%
entre a glicose sanguínea e o extrato não nitrogenado da carcaça. É de
se esperar uma correlação entre as duas variáveis, uma vez que nos
peixes, segundo SILVEIRA
et al.
(2009), assim como ocorre com os mamíferos, a principal fonte
energética do corpo é a glicose. Quando ocorre um excesso de glicose
sanguínea, ela é transformada em glicogênio, sendo armazenada no fígado
e nos músculos. Para manter a homeostase energética durante um período
de estresse (privação de alimento, disputa territorial, fuga, entre
outros), o glicogênio é mobilizado e transformado em glicose, sendo
mantidos os valores da glicemia sanguínea, evitando, assim, a falta de
energia para as células do corpo do animal (SILVEIRA
et al;. 2009).
Na situação de estresse percebida no experimento, através dos níveis de
glicose sanguínea dos juvenis, pode-se dizer que o metabolismo
provavelmente foi prejudicado e, consequentemente, a manutenção do
glicogênio das reservas metabólicas dos juvenis foi acionada, fazendo
com que a glicemia sanguínea aumentasse, confirmando a existência da
correlação inversa entre os fatores de glicemia e extrato não
nitrogenado na carcaça.
CONCLUSÕES
A composição bromatológica dos juvenis de tambaqui (
Colossoma macropomum),
a taxa de eficiência protéica e a taxa de eficiência de retenção de
proteína bruta não foram afetadas pelo fotoperíodo emeral durante o
período experimental.
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Protocolado em: 07 out. 2008 Aceito em: 02 mar. 2011