As fraturas são afecções bastante
frequentes na rotina clínica de cães e gatos, e vários métodos para sua
estabilização são propostos na literatura. Neste trabalho, avaliou-se
uma nova técnica de estabilização das fraturas femorais e umerais
constituída pelo uso de pino intramedular e fixação de pinos
paracorticais com polimetilmetacrilato. Foram utilizados doze animais
(seis gatos e seis cães), sendo que três deles apresentaram fratura de
úmero e os demais apresentaram fratura femoral. A cicatrização óssea
foi avaliada através do acompanhamento radiográfico trinta, sessenta e
noventa dias após o procedimento cirúrgico. Observou-se imediatamente
após a implantação da técnica (período transoperatório) que o método
neutralizou eficientemente as forças de rotação, flexão, deslocamento
axial e cisalhamento, proporcionando graus de alinhamento e aposição
adequados. No entanto, ao longo do tempo, a estabilidade requerida não
permaneceu, gerando, em alguns animais, retardo na união óssea. Além
disso, foram observados fenômenos de deiscência de ferida, perda da
integridade dos implantes e osteomielite. Essa técnica de estabilização
de fraturas é aplicável apenas a fraturas transversas ou levemente
oblíquas e pode ser considerada pouco eficiente, diante do número de
vicissitudes, observadas durante a pesquisa.
PALAVRAS-CHAVES: Cães, cirurgia, fratura, gatos, ortopedia.
STABILIZATION OF FEMORAL AND HUMERAL
FRACTURES OF DOGS AND CATS USING INTRAMEDULLARY PIN AND
PARACORTICAL FIXATION WITH PINS AND POLYMETHYLMETHACRYLATE
Fractures are very frequent
affections in clinical routine of dogs and cats, and several methods of
stabilizing them are proposed in the literature. In this work, a new
technique for stabilization of femoral and humeral fractures
constituted by the use of intramedullary pin and paracortical pins
fixed with polymethylmethacrylate was evaluated. Twelve animals (six
cats and six dogs) were used. Three of them had humeral fracture and
the others had femoral fractures. The bone healing was evaluated by
radiographic monitoring 30, 60 and 90 days after the surgery. It was
observed, immediately after the deployment of the technology
(trans-operative period), that the method effectively neutralized the
forces of rotation, bending, shear and axial displacement, providing
degrees of alignment and adequate affixing; however, over time, the
required stability did not remain, causing delay in bone union of some
animals. Moreover, wound dehiscence, integrity loss of the implants and
osteomyelitis were observed. This approach to fractures stabilization
is applicable only to transverse fractures or slightly oblique ones,
and can be considered inefficient, facing the number of imperfections
observed during the research.
KEY WORDS: Cats, dogs, fracture, orthopaedics, surgery.
As fraturas constituem problema comum
na clínica de animais de companhia, sendo, normalmente, decorrentes de
acidentes automobilísticos, quedas de alturas excessivas, traumatismos
por armas de fogo e brigas (mordeduras) (SLATTER, 2003). São três os
princípios de reparo de uma fratura: redução anatômica, estabilização
rígida e rápido retorno à função do membro acometido. Um rápido retorno
à função mantém o tono muscular, leva à movimentação da articulação
normal e a sua nutrição, e usa a força de sustentação do peso para
manter a densidade óssea. A estabilidade rígida elimina a movimentação
dos fragmentos e melhora o nível de conforto do animal, pela redução da
dor (JOHNSON
et al., 1998; ROUSH & McLAUGHLIN, 1998).
O reparo das fraturas de animais de pequeno porte se divide em três
categorias: redução fechada com apoio externo, apenas fixação interna e
fixação interna com apoio externo secundário (SLATTER, 2003). A escolha
do método de fixação deve ser feita baseando-se no tipo e localização
da fratura; tamanho, temperamento e idade do animal; grau de cooperação
do proprietário e fatores econômicos (DeYOUNG & PROBST, 1998;
SANTOS JR. & SCHOSSLER, 2002). Além dos critérios precedentes, há
necessidade de levar em consideração as forças atuantes na fratura que
são flexão, torção, cisalhamento, tensão axial e compressão axial,
devendo estas serem bloqueadas (SLATTER, 2003).
Fraturas de fêmur e úmero podem ser estabilizadas utilizando-se vários
métodos de fixação, dentre eles os pinos intramedulares, placas ósseas,
parafusos, fixador externo, pino intramedular e fixador externo, fios
de Kirschner, pino intramedular e fio de cerclagem, pino em banda de
tensão, hastes intramedulares bloqueadas ou uma associação destas
(GILMORE, 1998; JACKSON, 1998; POPE, 1998; SLATTER, 2003; DALLABRIDA
et al., 2005; PIERMATTEI
et al., 2006).
Cada uma das técnicas de estabilização apresenta vantagens e
desvantagens. Os pinos intramedulares, por exemplo, resistem bem às
forças de flexão, porém são pouco resistentes às demais forças atuantes
na fratura, prejudicando assim a estabilidade, sendo melhor utilizados
em combinação com outros implantes (MARCELLIN-LITTLE, 1998; DALLABRIDA
et al.,
2005). Já as placas ósseas não apresentam tais problemas, sendo,
adicionalmente, adaptáveis a praticamente todos os tipos de fratura;
entretanto sua utilização exige ampla exposição óssea, pode acarretar
quebra e perda funcional dos implantes, osteoporose do osso abaixo da
placa, irritação e infecções ósseas. Além disso, tal técnica requer
instrumental específico e custo elevado para a sua aplicação
(PIERMATTEI
et al., 2006). O
fixador esquelético externo controla bem todas as forças atuantes na
fratura, além de ser uma técnica de fácil aplicação e baixo custo.
Entretanto pode acarretar infecção óssea, frouxidão prematura dos
implantes, união retardada, não união, fraturas ósseas, necrose da pele
por pressão, alem de lesões neuromusculares e vasculares importantes
(DAVIDSON, 1997; HARARI
et al., 1998).
As hastes intramedulares bloqueadas (HIB) também podem ser utilizadas,
promovendo estabilidade contra forças axiais que possam promover a
torção ou inclinação/dobra de implantes, vencendo muitas das limitações
associadas ao uso de pino intramedular para a fixação de fraturas,
incluindo colapso de fraturas cominutivas durante a sustentação do
peso, instabilidade rotacional e migração do pino (DUELAND
et al., 1996). Uma desvantagem se refere ao custo elevado dos implantes e materiais auxiliares utilizados.
O polimetilmetacrilato (PMMA), polímero sintético utilizado tanto na
medicina humana quanto na veterinária, vem apresentando bons resultados
tanto em cirurgias ortopédicas quanto neurológicas. LEWIS
et al. (1997) e HALLINGEN
et al.
(2000) fixaram fraturas de acetábulo com parafusos e fios de aço
cimentados com PMMA e concluíram que essa fixação composta mantém a
redução anatômica, tem poucas complicações e produz resultados clínicos
satisfatórios. ALVAREZ & MARTINEZ (1998) utilizaram pinos de
Steinmann ou parafusos e PMMA paracortical para a fixação do ílio na
osteotomia tripla da pelve, sem apresentar problemas relacionados ao
uso do PMMA. ROESIG
et al.
(2005) fixaram fraturas ilíacas utilizando parafusos ortopédicos
transfixados e imobilizados com polimetilmetacrilato paracortical, e
concluíram que tal fixação constitui-se numa técnica eficiente,
proporcionando adequada estabilidade, precoce recuperação funcional e
cicatrização óssea em período aceitável. WHEELER & SHARP (1999), ao
utilizarem pinos de Steinmann aplicados através dos corpos vertebrais e
fixados com PMMA, observaram que tal técnica forneceu estabilidade
rotacional e resistência, fatores que contribuem na cicatrização de
fraturas vertebrais.
A pesquisa ortopédica procura técnicas de estabilização de fraturas que
apresentem a vantagem de controlar as forças de flexão, torção,
cisalhamento, tensão axial e compressão axial, atuantes na fratura.
Adicionalmente, devem ser de fácil aplicação, versatilidade e baixo
custo, sem exibir as desvantagens que as técnicas de fixação já
existentes possuem como riscos de infecção, quebra dos implantes, custo
elevado, chances de desenvolvimento de união retardada e não união.
O desenvolvimento deste trabalho teve como objetivo verificar se a
utilização de pino intramedular associado à estabilização complementar
paracortical com pinos transfixados e polimetilmetacrilato, em fraturas
de fêmur e úmero de cães e gatos, constitui-se uma técnica simples,
eficiente e versátil, oferecendo estabilização, cicatrização óssea e
uma recuperação funcional em tempo hábil.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados doze animais (seis cães e seis gatos), dez deles
machos, com peso variando entre 2,3 e 15 kg (mediana de 7.3 kg), idades
entre quatro meses e oito anos, de raças variadas. Três deles (um gato
e dois cães) apresentaram fratura de úmero e os demais (cinco gatos e
quatro cães) apresentaram fratura femoral. Em todos os casos as
fraturas eram diafisárias transversais ou discretamente oblíquas.
A anestesia foi realizada mediante medicação pré-anestésica com
cloridrato de acetilpromazina, indução com propofol e manutenção com
halotano. Em pacientes com fratura de úmero, realizou-se o bloqueio do
plexo braquial, e nos casos de fratura de fêmur, anestesia epidural,
ambas com bupivacaína 0,5% (FANTONI & CORTOPASSI, 2002).
Para a estabilização das fraturas femorais, realizou-se a abordagem
lateral ao fêmur, enquanto que, para a estabilização das fraturas
umerais, abordagem craniolateral ao úmero (PIERMATTEI & JOHNSTON,
2004).
A estabilização das fraturas foi realizada mediante a introdução de
pinos intramedulares de diâmetro equivalente a 50% do diâmetro do canal
medular do osso fraturado, por via retrógrada, verificando-se o seu
posicionameto através de controle radiográfico transcirúrgico. O
excesso do pino visualizado em tuberosidade trocantérica do fêmur ou no
tubérculo maior umeral foi devidamente cortado e recalcado. Em seguida,
introduziram-se dois pinos transcorticais, de 1,0 ou 1,5 mm de diâmetro
(dependendo do tamanho do osso e do peso do paciente) na face lateral
de cada fragmento ósseo da fratura, oblíquos ao pino intramedular,
atravessando as duas corticais ósseas, tendo o cuidado para as pontas
ultrapassassem apenas dois milímetros da segunda cortical ao saírem,
evitando, assim, danos à musculatura adjacente. Cada pino foi dobrado
em direção ao fragmento oposto até se cruzarem, ficando paralelos à
cortical óssea e separados 0,5 cm da mesma (
Figuras 1 A, B e C).
O PMMA em sua forma estérila, previamente misturado a cefazolina sódica
liofilizada, foi então preparado e, ao adentrar na sua fase pegajosa,
aplicou-se sobre e por entre os pinos, tendo-se cuidado para a sua não
penetração na linha de fratura. Acompanhou-se o processo de
polimerização e endurecimento da resina, sendo o cimento ósseo
resfriado com solução fisiológica à temperatura ambiente, quando teve
início o aquecimento. O aparelho e osso fraturado foram avaliados e
testados quanto à sua estabilidade, verificando-se o bloqueio
satisfatório das forças de rotação, torção, cisalhamento, compressão
axial e tensão axial no foco da fratura.
Após a cirurgia, os pacientes foram devolvidos aos proprietários com
prescrição antibiótica (cefalexina – 25 mg/kg a cada oito horas) e
anti-inflamatória (meloxican – 0,1 mg/kg a cada 24 horas) durante sete
dias, e iodo povidine para curativo tópico até a remoção dos pontos de
pele (sete dias após a cirurgia). Recomendou-se aplicação de compressa
com gelo no local do procedimento cirúrgico durante quinze a vinte
minutos, cinco vezes ao dia nas primeiras 72 horas após a cirurgia, e a
realização de exercícios fisioterápicos passivos (flexão e extensão do
membro operado) durante uma semana, seguidos de exercícios ativos,
controlados inicialmente com o animal realizando caminhadas leves na
coleira e, posteriormente, liberados, objetivando-se o retorno
gradativo do paciente às suas atividades diárias.
Nas reavaliações subsequentes à cirurgia (sete, quinze, trinta,
sessenta e noventa dias após o procedimento cirúrgico) observaram-se a
presença de edema, sensibilidade na região da fratura, secreção da
ferida cirúrgica, presença de instabilidade e calo ósseo palpáveis,
sínus, e proeminência do aparelho. A locomoção dos animais também foi
acompanhada, sendo classificada como insatisfatória, quando o animal
não apoia o membro para caminhar, satisfatória, com claudicação
residual enquanto caminha, e adequada, quando o animal caminha
normalmente. Exames radiográficos foram realizados também nos momentos
pós-operatório imediato e aproximadamente nos dias trinta, sessenta e
noventa após a cirurgia dos ossos afetados, nas projeções
anteroposterior e mediolateral. Nos períodos de convalescência como
determinados avaliaram-se o alinhamento e a aposição dos fragmentos da
fratura, o desenvolvimento da consolidação desta, o posicionamento e a
integridade dos implantes, a presença de sinais ósseos de estresse
decorrentes da técnica e/ou dos materiais utilizados, e sinais de
infecção óssea pós-cirúrgica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das doze fraturas tratadas, 58,33% (sete) foram decorrentes de
atropelamento, 16,66% (duas) de briga, 8,33% (uma) de queda e 16,66%
(duas) ocorreram de outro trauma (pisada e queda de uma tábua sobre o
membro). O peso dos animais variou entre 2,5 e 15 kg e a idade entre
três meses e oito anos. Em nenhum dos animais atendidos foi
identificada outra alteração orgânica significativa (não relacionada à
fratura) durante o exame físico. Na avaliação neurológica todos
apresentaram dermátomos, reflexos espinhais e reações posturais
normais. Em todos os procedimentos cirúrgicos a técnica foi realizada
sem dificuldades transoperatórias, obtendo-se estabilidade, alinhamento
e aposição esperados. A escolha do pino a ser transfixado baseou-se no
tamanho de cada paciente: os felinos (peso médio de 3,1 kg) receberam
pinos transfixados de 1,5 mm, enquanto os pacientes caninos (peso médio
de 11,6 kg) receberam pinos de 2 mm.
As alterações observadas nas avaliações subsequentes à cirurgia (sete,
quinze, trinta, sessenta e noventa dias após o procedimento cirúrgico)
encontram-se compiladas na
Tabela 1.
Dos doze animais operados, dois desenvolveram osteomielite e tiveram os
implantes removidos. Em um deles não foi necessária uma nova
estabilização, visto que já havia formação de calo ósseo rígido,
enquanto que no outro paciente foi fixada uma placa óssea. Quatro
animais desenvolveram união retardada, em outros quatro houve quebra
dos implantes e seis, dos doze animais, recuperaram completamente a
funcionabilidade do membro após noventa dias de cirurgia, apresentando
locomoção adequada. Os demais animais apresentaram algum grau de
claudicação residual ao caminhar.
Foram operados apenas doze animais, devido à particularidade do tipo da
fratura (transversa) necessária à utilização da técnica. Excluíram-se
da pesquisa muitos pacientes portadores de fraturas múltiplas,
cominutivas e aqueles que apresentavam lesões concomitantes, por serem
inviáveis à utilização e avaliação do método, diferentemente das hastes
intramedulares bloqueadas, placas ósseas e pinos transfixados, que,
segundo FOSSUM
et al. (2001),
podem ser utilizadas em praticamente todos os tipos de fratura.
Optou-se pela realização do método traumático de manejo de fraturas,
consistindo de abordagem aberta com exposição e manipulação da fratura,
acarretando lesões inevitáveis a parte dos tecidos circunvizinhos ao
osso (ROUSH & McLAUGHLIN, 1998). Procurou-se realizar mínima
manipulação e exposição em todos os casos, a fim de evitar o prejuízo à
vascularização do osso fraturado e a contaminação e inoculação de
bactérias no foco da fratura, fatores esses considerados como
desvantagens do método mecânico de manejo de fraturas, segundo SLATTER
(2003). Entretanto, a contaminação pode ter ocorrido, e levado a
osteomielite em dois casos, e a destruição de parte da vascularização
periosteal pode ter sido fator importante para o desencadeamento da
união óssea retardada observada em quatro casos.
Quando comparada aos estudos que utilizam hastes intramedulares
bloqueadas, placas e parafusos, que necessitam, além de experiência, de
materiais especiais para sua utilização (DUELAND
et al., 1996; FOSSUM
et al., 2001; PIERMATTEI
et al.,
2006), a colocação dos implantes deste trabalho mostrou-se fácil e
versátil. Já para a sua remoção, é necessário novo procedimento
anestésico e cirúrgico, diferentemente da retirada de um fixador
externo, que é de fácil execução.
O diâmetro do pino intramedular utilizado em todos os casos
correspondeu a 50% do diâmetro do canal medular, contrariando o citado
por EL-WARRAK & SCHOSSLER (1998), que recomendam o preenchimento de
60% a 70% do canal medular do osso fraturado. Entretanto, optou-se pela
utilização de pinos que correspondessem a esse diâmetro do canal
medular, para que fosse possível a transfixação dos pinos do aparelho
paracortical sem provocar danos ou rachaduras ósseas que pudessem
comprometer, assim, a estabilidade da fixação e consequentemente a
cicatrização óssea. Talvez, a utilização de um pino intramedular de
diâmetro menor do que o recomendado pela literatura possa ter
possibilitado movimentações indesejáveis dos fragmentos ósseos da
fratura durante o pós-operatório, interferindo, assim, na cicatrização
óssea, levando à união retardada observada em quatro casos. Pinos
transfixados de maior diâmetro ou parafusos poderiam ter apresentado
resultados melhores, entretanto haveria problema de espaço no canal
medular, o que exigiria um pino intramedular mais fino.
O aparelho de fixação paracortical se tornou proeminente na grande
maioria dos casos, gerando um defeito estético perceptível, inclusive
citado por alguns dos proprietários. Tal proeminência, à medida que os
animais movimentavam o membro operado, entrava em atrito com os tecidos
circunvizinhos, o que pode ter gerado desconforto e dor, levando à
consequente claudicação e não recuperação funcional. Tal fato pode ter
afetado a cicatrização óssea, pois JOHNSON
et al.
(1998) e ROUSH & McLAUGHLIN (1998) citam que um rápido retorno à
função mantém o tono muscular, leva à movimentação articular e a sua
nutrição, o que contribui consequentemente para uma boa cicatrização
óssea.
Observou-se que o pino intramedular possibilitava unicamente o bloqueio
da força de flexão, conforme citado por MARCELLIN & LITTLE (1998) e
DALLABRIDA
et al. (2005), e
não bloqueava as cargas axiais e de rotação, ao ser testado antes da
aplicação de fixação paracortical. Já ao se implantar os pinos
transfixados e o cimento acrílico paracortical, conseguiu-se bloquear
as demais forças atuantes no foco da fratura, melhorando
significativamente a estabilidade, como citado por ROUSH &
McLAUGHLIN (1998) e PIERMATTEI
et al. (2006). Além disso, conforme PADGETT
et al. (1996), MIKAIL & PEDRO (2006) e PIERMATTEI
et al.
(2006), os pinos transfixados mostraram-se de fácil aplicação,
possibilitaram pouco contato com o foco da fratura, tendo a habilidade
de ser aplicada juntamente com o pino intramedular. Adicionalmente, a
aplicação interna e paracortical dos pinos transfixados evitou a
limpeza diária da região de inserção dos pinos, recomendada por FOSSUM
et al. (2001) na técnica do fixador esquelético externo.
A realização de exames radiográficos transcirúrgicos auxiliou
sobremaneira na correta inserção distal do pino intramedular no
epicôndilo medial, nos casos de fratura de úmero e no osso esponjoso
condilar nas fraturas de fêmur, minimizando o tempo cirúrgico e
diminuindo a ocorrência de erros conforme citado por MARCELLIN &
LITTLE (1998). A correta coaptação da fratura e inserção do pino
intramedular evitaram, assim, que este migrasse. Nas avaliações
radiográficas posteriores, pôde-se notar que o aparelho de fixação
paracortical (pinos transfixados e PMMA), quando posicionado sobre o
foco da fratura (projeção mediolateral), prejudicou sobremaneira a
avaliação da cicatrização óssea nessa incidência, interferindo na
qualidade da imagem.
A fixação paracortical utilizada tentou reproduzir estruturalmente o
fixador esquelético externo unilateral, cujos pinos penetram apenas nas
duas corticais ósseas, conforme citado por PADGETT
et al.
(1996) e ROUSH & McLAUGHLIN (1998), e o fixador esquelético interno
descrito por ZAHN & MATIS (2004), que usou pinos atravessados
apenas nas duas corticais ósseas e fixados a barras metálicas axiais
paracorticais. Diferentemente do fixador externo, que em alguns ossos
pode ser utilizado de forma biplanar e/ou fixado bilateralmente, o
aparelho de fixação paracortical somente foi colocado unilateralmente,
por acreditar-se na sua eficiência e na possibilidade de prejudicar em
demasia a irrigação paracortical, sendo o lado de colocação escolhido
àquele recomendado na literatura para a fixação de placas nesses ossos
(PIERMATTEI
et al., 2006). A
técnica de utilização de pino intramedular associado à fixação
paracortical com polimetilmetacrilato exibiu, na avaliação
transoperatória e em 50% dos casos, a estabilidade proposta tanto pelo
pino intramedular associado ao fixador esquelético externo, conforme os
autores citados, quanto também àquela oferecida pela técnica das hastes
intramedulares bloqueadas que, conforme citado por DUELAND
et al. (1996), bloqueia as forças axiais, a rotação, a torção e a flexão.
O PMMA apresentou bons resultados quando utilizado em fraturas de acetábulo juntamente com parafusos, segundo LEWIS
et al. (1997) e HALLINGEN
et al. (2000), e em fraturas de ílio segundo ALVAREZ & MARTINEZ (1998) e ROESIG
et al.
(2005), diferentemente do que aconteceu quando de sua utilização como
auxiliar na fixação paracortical de fêmur e úmero. Isso se deve,
provavelmente, à maior estabilidade proporcionada possivelmente pelos
parafusos (diâmetro maior) e às maiores forças atuantes nas fraturas
nesses ossos longos (flexão, torção, tensão axial e compressão axial)
em relação àquelas atuantes no osso coxal, o que promoveu, assim, a
mobilização e/ou quebra dos implantes neste trabalho. A cefazolina
sódica liofilizada foi previamente adicionada ao PMMA como medida
profilática adotada com o objetivo de prevenir a infecção óssea.
Autores como MALCHAU
et al. (1993), BOURNE (2004) e ROESIG
et al.
(2005) relataram que o uso de cimento ósseo impregnado com antibiótico
diminui as infecções profundas em artroplastia coxofemoral e do joelho,
exercendo efeito bactericida durante pelo menos sete a dez dias.
Nos pacientes que apresentaram falha na integridade dos implantes, tal
fato pode ter ocorrido em virtude da perda da estabilidade durante o
pós-operatório, por esforço e exercícios bruscos dos pacientes, cujos
proprietários não respeitaram as recomendações de repouso; ou ainda
pelo tamanho dos implantes, que pode não ter sido suficiente para
suportar as forças impostas pelo próprio animal. Diante do observado,
sugere-se a utilização desta técnica apenas em pacientes jovens, com
peso abaixo de 5 kg e cujos proprietários respeitem estritamente as
recomendações de repouso.
As recomendações pós-operatórias dos pacientes envolveram, além dos
cuidados com a ferida cirúrgica, compressas frias, tratamento
antibiótico e anti-inflamatório, assim como a fisioterapia, que foi
seguida baseando-se nas recomendações de MIKAIL & PEDRO (2006),
devendo os exercícios iniciais ser suaves, já que o osso ainda está em
fase de cicatrização. A utilização de compressas com gelo durante
trinta minutos, nas primeiras 24 a 48 horas após o procedimento
cirúrgico, conforme recomendado pelos mesmos autores, contribuiu na
reabilitação dos pacientes logo após o ato cirúrgico, minimizando a dor
e a inflamação.
Segundo ROBELLO & ARON (1992), a idade dos pacientes interfere na cicatrização das fraturas. Conforme PIERMATTEI
et al.
(2006), pacientes de três a seis meses, por ocasião da aplicação de
fixações esqueléticas e pinos intramedulares, apresentam tempo de
cicatrização de uma fratura entre duas e três semanas, o que não foi
visto em dois animais (canino de três meses de idade e felino de quatro
meses de idade), cuja demora, para a cicatrização óssea completa, foi
de 92 dias e 60 dias, respectivamente. Tais períodos estariam mais
próximos do tempo de cicatrização óssea ao se utilizar placas e
parafusos, que se desenvolve dentro de dois a três meses. Os animais
com idades entre sete e nove meses, e que não apresentaram nenhum
problema referente à integridade do aparelho, apresentaram cicatrização
óssea em torno de três meses, o que, segundo PIERMATTEI
et al.
(2006), deveria ter ocorrido entre cinco e oito semanas utilizando-se
pino intramedular e fixador externo, e entre três a cinco meses quando
da utilização de placas e parafusos. Essa diferença evidencia a
incapacidade de a técnica oferecer situação propícia para uma
cicatrização óssea acelerada ou em tempo normal.
CONCLUSÃO
A técnica de estabilização de fraturas umerais e femorais em cães e
gatos mediante pino intramedular e pinos paracorticais fixados com
polimetilmetacrilato, aplicável apenas a fraturas transversas,
mostrou-se simples, de fácil aplicação, sem apresentar transtornos
transoperatórios. Entretanto, pode ser considerada pouco eficiente,
diante do número de vicissitudes pós-operatórias observadas durante a
pesquisa.
FONTE DE AQUISIÇÃO
aCimpox® – Ônix ortopedia ind. e com. Ltda., Ilha de Itamaracá, PE.
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Protocolado
em: 5 out. 2008. Aceito em: 17 mar.
2010.