O presente estudo avaliou a presença
de histamina em 122 amostras de sardinha em conserva, produzidas com
três diferentes espécies, por três indústrias, localizadas nos
municípios de São Gonçalo e Niterói. As amostras foram divididas em
cinco lotes com exemplares de sardinhas provenientes da Venezuela (Sardinella aurita), Marrocos (S. pilchardus) e do Brasil (S. brasiliensis).
Avaliou-se a qualidade inicial da matéria-prima por meio de parâmetros
sensoriais e pelo teor de histamina utilizando-se o método de
cromatografia em camada delgada. As amostras oriundas da Venezuela e
Marrocos apresentaram valores abaixo de 5 mg/100 g e as nacionais,
valores semelhantes ou superiores a 10 mg/100g. Conclui-se que há
necessidade de um maior controle e monitorização da temperatura da
sardinha desde a captura até o processamento, para que o produto final
apresente boa qualidade e não represente perigo de intoxicação ao
consumidor.
PALAVRAS-CHAVES: Conserva, histamina, qualidade, sardinha.
In this study, the presence of
histamine in 122 samples of canned sardines produced with three
different species by three industries located in the municipalities of
Sao Goncalo and Niteroi was evaluated. The samples were divided into
five lots with copies of sardines from Venezuela (Sardinella aurita), Morocco (S. pilchardus) and Brazil (S. brasiliensis).
The initial quality of raw material was evaluated by sensorial
parameters and by the histamine level using a semi-quantitative method
of thin-layer chromatography. The results of the samples from Venezuela
and Morocco showed values below 5 mg/100g, and the national samples
showed values similar or greater than 10 mg/100g. It follows that there
is need for greater control and monitoring of temperature from capture
to processing, to guarantee good quality to the final product, and to
avoid risk of poisoning to the consumer.
KEY WORDS: Canned fish, histamine, quality, sardines.
A histamina [4-(2aminoetil)imidazol]
é uma diamina biogênica primária e heterocíclica, não volátil,
termoestável, presente no produto até mesmo após processo de
esterilização comercial, caso tenha sido formada antes do enlatamento.
Tem origem da descarboxilação da L-histidina quando as condições de
manuseio e estocagem são inadequadas, favorecendo, portanto, a
multiplicação de bactérias que produzem a enzima histidina
descarboxilase e, ainda, a manutenção de condições que favoreçam sua
atividade. OLIVEIRA
et al.
(2004) alertam para o fato de que, além de as aminas serem estáveis ao
calor, algumas descarboxilases permanecem ativas mesmo após tratamento
térmico. Bactérias como
Morganella morganii,
Hafnia alvei, Proteus sp.,
Escherichia coli, Salmonela
sp, são capazes de produzir a enzima histidina descarboxilase que, ao
atuar sobre a histidina livre, a transformam em histamina. As bactérias
produtoras de aminas biogênicas não fazem parte da microbiota normal
intestinal, da pele ou brânquias dos peixes marinhos recém-capturados
e, na maioria dos casos, se origina a partir da contaminação por
práticas inadequadas de higiene durante a captura ou estão associadas
ao ambiente marinho. Desse modo, é possível afirmar que a presença de
histamina é um indicador de qualidade bacteriológica ruim. Quando o
pescado, após-captura, é mantido em temperaturas que favoreçam o
crescimento bacteriano, inicia-se um processo de degradação proteica
com formação de histamina e outras aminas. LEITÃO
et al.
(1983) relatam a ampla distribuição de bactérias produtoras de
histamina no ambiente marinho, particularmente na superfície e vísceras
de espécies de pescado mais comumente comercializadas.
A histamina é termoestável e, segundo IENISTEA (1973), é apenas
parcialmente destruída após três horas de aquecimento a 102°C ou
noventa minutos a 116°C em conservas de sardinha de 250 g, podendo
estar presente em alimentos comercialmente esterelizados, considerados
seguros sob o ponto de vista sanitário. Nessas condições, mesmo
produtos enlatados de baixa acidez, como, por exemplo, o pescado, pode
apresentar níveis tóxicos dessa amina, independente de quaisquer
alterações evidentes no produto, após o processamento térmico. OLIVEIRA
et al. (2004) relatam que a
histamina em geral é estável em altas temperaturas, podendo estar
presente em conservas de pescado, caso tenha sido formada antes do
enlatamento.
Segundo HUSS (1997), a análise de histamina tem sido usada como índice
de frescor do pescado, já que sua produção ocorre por meio de
bactérias, porém peixes com grandes quantidades de histamina podem
apresentar aparência e odor normais. NTZIMANI
et al.
(2008) comentam que a histamina é considerada o mais importante
indicador de frescor do pescado. ARNOLD & BROWN (1978) descrevem
que não há produção de histamina em atum mantido a 1°C por 42 dias,
indicando que a adequada refrigeração pode impedir a formação de
histamina. Segundo GILBERT
et al.
(1980), peixes estocados a 0°C com gelo em fusão permanecem comestíveis
por doze dias com uma concentração final de histamina entre 3 a 4
mg/100 g, entretanto, sob temperatura de 12°C a 20°C rapidamente
são obtidas altas concentrações de histamina. VISCIANO
et al. (2007) estudaram o efeito da temperatura sobre a produção de histamina em
S. pilchardus e
Engraulis
encrasicolus e observaram que, após 24 horas em temperatura ambiente
(22ºC), os valores médios observados foram de 146,5 mg/100 g em
amostras em que se detectou essa amina logo após-captura.
BERSOT
et al. (1996)
recomendam que o pescado não seja mantido a temperaturas acima de 10ºC
por períodos longos, evitando com isso a multiplicação de bactérias
formadoras de histamina, e alerta sobre a necessidade de se avaliar os
métodos de obtenção de
Sardinella aurita
venezuelana. O propósito é comprovar os problemas ligados à captura
e/ou armazenamento, pois foi verificado que 40% das amostras de
sardinhas analisadas apresentaram, como resultados, teores de histamina
acima de 10 mg/100 g de peixe.
O consumo de pescado com níveis elevados de histamina pode provocar
intoxicação com sintomatologia bem variada, uma vez que a histamina é
um potente vasodilatador. A dilatação é acompanhada por um aumento da
permeabilidade capilar, possibilitando a perda de líquidos de vasos
para o meio extracelular juntamente com proteínas plasmáticas e células
vermelhas. Os sintomas podem aparecer alguns instantes após a ingestão
do produto, variando de acordo com a quantidade consumida e a
sensibilidade do indivíduo. Os sintomas principais são náuseas,
vômitos, diarreia, dor abdominal, edema cutâneo, urticária, hipotensão,
cefaleia, vertigens, rubor, ardência na boca. Em casos graves, em curto
espaço de tempo podem ocorrer broncoespasmo, asfixia, dores
respiratórias e choque (RUSSEL & MARETIC, 1986).
O limite preconizado pela legislação brasileira, de 100 ppm (10mg/100
g), encontra-se no Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de
Peixe Fresco Resfriado e Congelado, Portaria 185 (BRASIL, 1997). Em
função de seus efeitos tóxicos, a histamina é a única amina biogênica
com limite regulatório também na União Europeia de 100 mg/Kg
(COMMISSION REGULATION, 2005).
Tendo em vista as considerações feitas, o presente trabalho foi
desenvolvido com o objetivo de investigar a ocorrência de
histamina em conservas de sardinha elaboradas a partir de diferentes
espécies, assim como fornecer subsídios à indústria pesqueira, aos
laboratórios de Controle de Qualidade e aos órgãos de Saúde Pública,
que poderão contar com mais um dado no julgamento da matéria-prima e do
produto final.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram analisadas 122 amostras de sardinha em conserva, em óleo
comestível adquiridas diretamente das Indústrias A, B e C, logo após o
processo de esterilização comercial. Considerou-se cada lata uma
amostra. Os lotes foram compostos por amostras relacionadas ao
container que transportava a matéria-prima até a indústria (
Tabela 1).
Após o descarregamento dos containers, o pescado foi acondicionado em
câmara fria com temperatura próxima a 2ºC, para posterior
processamento. Após descongelamento, submeteram-se as amostras de
S. pilchardus e S
. aurita
e de sardinha fresca nacional à avaliação sensorial do
pescado, com o intuito de se obter informações sobre a qualidade do
peixe que estava sendo enlatado. Realizou-se essa avaliação de acordo
com o RIISPOA (BRASIL, 2007) e RABELO (1988), visando classificar a
qualidade de acordo com as características sensoriais das sardinhas
importadas evisceradas e sem cabeça, que foram avaliadas de acordo com
os atributos textura e odor. Após a avaliação, toda a matéria-prima foi
considerada, em sua maioria, de boa qualidade, à exceção das que
compuseram o lote 5, que apresentaram características consideradas de
qualidade regular, apesar de ser recomendado seu processamento.
As sardinhas processadas nas indústrias A e B foram mantidas
refrigeradas e adequadamente em torno de 4ºC até o pré-cozimento. Na
indústria C, o processamento ocorreu em temperatura que variou de 10 a
24ºC. A matéria-prima importada da Venezuela fez parte de um lote na
qual a temperatura de refrigeração pós-captura manteve-se em torno de
4ºC até seu congelamento. A manipulação após o descongelamento obedeceu
aos mesmos cuidados de refrigeração já mencionados, tendo sido
realizado um monitoramento da temperatura e avaliada a qualidade da
matéria-prima para posterior enlatamento. O lote 6 foi formado por
amostras mantidas propositalmente por 12 e 24 horas em temperatura
ambiente para, posteriormente, entrarem no fluxo de produção.
Produziram-se seis latas com
S. pilchardus e seis com
S. brasiliensis, processadas na indústria C.
A técnica utilizada para determinação de histamina em mg/100g foi
a cromatografia em camada delgada descrita por SCHUTZ, CHANG &
BJELDANES (1976), com pequenas modificações.
Para o preparo das amostras, após limpas e identificadas, procedeu-se à
abertura das latas e esgotou-se o líquido de cobertura (óleo vegetal),
que foi vazado, e por leve compressão da própria tampa sobre as
sardinhas, esgotou-se o óleo restante. Uma porção de músculo foi
retirada com espátula e homogeneizada com auxílio de gral e pistilo,
coletando-se 1g dessa porção em tubo de ensaio tomando-se o cuidado
para evitar transferências de óleo. Adicionaram-se 2mL de metanol e
aqueceu-se em banho-maria sob agitação até a fervura, deixando depois
em repouso, até que uma porção límpida de sobrenadante fosse
visualizada.
No preparo das soluções de histamina, pesaram-se 165,8mg de histamina 2HCI em 100 mL de metanol (1mg/mL) (SCHUTZ
et al.,
1976). Esse padrão equivalia ao teor de 1 mg/100 g de peixe quando
aplicado na quantidade de 1µL. Para o preparo da solução ninhidrina,
dissolveu-se 0,3g de reagente em 100mL de metanol.
A fase móvel constituiu-se por uma mistura de 20mL de acetona, e 1mL de
hidróxido de amônia colocada em uma cuba retangular bem vedada.
As placas de sílica-gel em poliéster (SIGMA T-6770) foram cortadas, tomando-se cuidado para não desprender a camada de sílica.
Fez-se uma leve marcação a lápis a 1,5cm da parte inferior da placa e
marcados os locais onde seriam aplicadas as amostras e os padrões. O
tamanho das placas utilizadas foram 5x10 e 10x10cm. Utilizaram-se três
padrões em cada placa, de 2, 5 e 10 mg/100 g.
Aplicaram-se 10 µL do sobrenadante límpido das amostras com auxílio de
micropipetas, secando-se a placa com calor fluente entre as aplicações
(mancha em torno de 0,5cm de diâmetro).
Para o padrão de histamina, utilizou-se o mesmo procedimento, com
auxílio de uma microsseringa de 10 µL, aplicando-se 2µl para o padrão
equivalente a 2mg/100g, 5 µL para o padrão equivalente a 5 mg/100g e 10
µL para o padrão equivalente a 10 mg/100g (
Quadro 1)
Após o preparo, a placa foi inserida no interior da cuba
cromatográfica, com auxílio de uma pinça, fechando-a e aguardando até
completar a “corrida”, ou seja, subida do solvente até aproximadamente
2 cm da parte superior da placa, quando então a placa foi
retirada e secada em calor fluente até completa eliminação dos
resíduos de amônia.
Segurando a placa com uma pinça pela extremidade superior, aspergiu-se
uniformemente, com o auxílio do compressor, um reagente cromogênico
para detecção das manchas ou revelação da placa usando a solução de
ninhidrina 0,3% em metanol. A placa foi secada e aquecida, até a
obtenção de uma boa visualização das manchas correspondentes aos
padrões de histamina, comparando-se estes, visualmente, com as manchas
de mesmo deslocamento das amostras. Estimaram-se os valores prováveis
do conteúdo de histamina em mg/100g de peixe pela intensidade das
amostras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Relativamente às vinte amostras pertencentes ao lote 1, em quinze (75%)
não se detectou histamina, enquanto cinco (25%) apresentaram teores de
histamina abaixo de 5 mg/100 g.
No lote 2, que totalizou trinta amostras, quatro (13,34%) apresentaram
teor de histamina abaixo de 5 mg/100 g, enquanto que nas outras 26
(86,66%) não foi detectada histamina.
No lote 3, que totalizou dez amostras, encontraram-se duas (20%) com
aproximadamente 5 mg/100 g, cinco (50%) com aproximadamente 10 mg/100 g
e três (30%) com teor de histamina acima de 10 mg/100 g.
No lote 4, que totalizou quinze amostras, duas (13,33%) apresentaram
teores de histamina de 5 mg/100 g, oito (53,33%) entre 5 e 10 mg/100
g e as outras cinco amostras (33,34%) mais de 10 mg/100 g.
O lote 5 apresentou duas amostras (5,71%) com teores de 5 mg/100 g e
seis (14,14%) entre cinco e 10 mg/100 g. As outras 27 (77,14%)
apresentaram teores acima de 10 mg/100 g.
O lote 6 apresentou níveis de histamina acima de 10 mg/100 g de sardinhas em todas as amostras.
A variação nos teores de histamina ocorrida principalmente nos lotes
três e quatro sugere que o frio não foi uniformemente distribuído aos
peixes nos barcos, câmaras frias e em outras etapas do processamento
tecnológico. Isto fez com que alguns exemplares fossem resfriados
adequadamente e outros permanecessem em condições favoráveis ao
crescimento bacteriano e, consequente, produção de histamina.
Não foi observada diferença significativa (p>0,05) entre as três
espécies que apresentavam as mesmas condições de processamento.
Diversos autores relatam que não há correlação direta entre produção de
histamina e alterações sensoriais do pescado, ou seja, a presença de
histamina não pode ser considerada, isoladamente, um indicador
universal de decomposição do pescado. Entre eles, BERSOT
et al.
(1996) consideram que não há uma correlação direta entre a produção de
histamina e as alterações sensoriais e que a histamina pode alcançar
níveis tóxicos mesmo antes que o pescado seja rejeitado sensorialmente,
embora o inverso também possa ocorrer. Para certificar a qualidade do
pescado, é necessário avaliar outros parâmetros, além de outras aminas
biogênicas, segundo relatos.
Os resultados obtidos no presente estudo encontram respaldo nos
trabalhos de ARNOLD & BROWN (1978) e BALDINI (1982),
principalmente, em relação aos dados dos lotes 3 e 4, que apresentaram
teores de histamina acima de 10 mg/100 g em três e cinco latas
respectivamente, mesmo a matéria-prima apresentando
características sensoriais aceitáveis. No entanto, o lote 5, muito
embora mostrasse características sensoriais que recomendavam sua
utilização, apresentou 27 (77,14%) das amostras com teores de histamina
muito acima de 10 mg/100 g.
Teores de histamina abaixo de 5 mg/100 g foram encontrados em todas as
amostras dos lotes 1 e 2, considerados como sardinhas de boa qualidade,
após desembarque na indústria. Já os lotes 3 e 4, também considerados
de boa qualidade, oito amostras, ou seja, 40% do total das latas,
revelaram teores de histamina acima do recomendado pela Legislação
Internacional (10 mg/100 g).
LUTEN (1981), ao analisar trinta latas de sardinha, encontrou
resultados que variaram entre menores que 1 mg/100 g e 100 mg/100
g de histamina. Desse total, 13% apresentaram valores acima de 10
mg/100 g. No presente estudo, 31,81% das amostras apresentaram teor
acima de 10 mg/100 g.
NOVAES (1989), em estudo realizado com sardinhas armazenadas a 4ºC por
oito dias, encontrou teor de histamina de 4,9mg/100g. No presente
trabalho, nos quatro primeiros lotes, nos quais a temperatura de
manipulação estava em torno de 4ºC, 54 (72%) das amostras apresentaram
teor de histamina abaixo de 5 mg/100 g de sardinha. Ainda segundo
NOVAES (1989), sardinhas (
S. brasiliensis)
armazenadas a 0ºC durante dez dias apresentavam valores de histamina
inferiores a 1 mg/100 g. Nos peixes armazenados a 4ºC, o valor
máximo foi de 4,9 mg/100 g no oitavo dia. Os peixes armazenados à
temperatura ambiente apresentaram teores de histamina em torno de 5
mg/100 g em apenas doze horas.
BERSOT
et al. (1996), após analisarem noventa amostras de sardinha enlatada (
S. aurita),
verificaram que 36 (40%) apresentavam níveis de histamina entre 10 e
100 mg/100 g e sugeriram que esses resultados eram devidos a
falhas na captura e no armazenamento dos peixes. Os resultados
obtidos neste estudo corroboram as argumentações do autor, pois, no
lote 1, 100% das amostras apresentaram teores de histamina menor que 5
mg/100 g. Vale ressaltar que este lote foi composto por amostras
oriundas de uma empresa que tinha a preocupação em manter a temperatura
de 4ºC desde a captura dos peixes até o processamento.
OLIVEIRA
et al. (2004)
analisaram 45 latas de sardinha em conserva e observaram a presença de
histamina em todas as amostras. Os valores variaram entre 3,35 e 346,44
mg/kg, com 13,33%, superando o limite preconizado pela legislação
brasileira, de 10 mg/100 g (BRASIL, 1997).
Comparando os resultados apresentados na literatura consultada com os
obtidos neste estudo pode-se afirmar que os níveis encontrados são
similares e, em alguns casos, superiores, demonstrando que
algumas conservas de sardinha podem representar um perigo para o
consumidor.
Os resultados dos lotes 5 e 6 reforçam a relação entre a formação de
histamina e temperatura elevada. Ao mesmo tempo, não parecem ligar esta
formação à espécie. Mesmo constituído de matéria-prima de boa
qualidade, o lote 5 foi processado em temperatura que variou de 10 a
24ºC. Já o lote 6 foi processado em temperatura ambiente. No lote 5, os
níveis de histamina estiveram acima de 10 mg/100 g em 77,15% das
amostras, enquanto 22,85% apresentaram menos de 10 mg/100 g de
sardinha. No entanto, o lote 6 apresentou, em 100% das amostras, teores
de histamina bem acima de 10 mg/100 g.
Apesar de serem processados em temperaturas abaixo de 10ºC, os lotes 3
e 4 apresentaram, em 30% e 33,34%, respectivamente, das amostras,
níveis de histamina acima de 10 mg/100 g, portanto acima do limite
nacional (BRASIL, 1997).
SOARES & GLORIA, (1984) pesquisando a presença de histamina em
sardinha enlatada em Belo Horizonte, MG, obtiveram resultado positivo
em 91% das amostras que apresentaram teores que variaram de 0,12 a 3,98
mg/100 g, porém sugeriram que, teoricamente, não eram suficientes para
causar intoxicação.
Segundo SIKORSKI (1990), RUSSEL & MARETIC (1986) e BALDRATI
et al.
(1980), temperaturas de 18-20ºC são predisponentes à formação de
histamina. Esta afirmação encontra respaldo nos resultados do presente
estudo, pois, nos lotes 5 e 6, cuja manipulação ocorreu em temperatura
acima de 10ºC, 77,15% e 100%, respectivamente, das amostras
apresentaram teor de histamina superior a 10 mg/100 g. Por outro lado,
os lotes 1 e 2, nos quais a manipulação se deu em temperaturas em torno
de 4 ºC, 100% das amostras apresentaram menos de 5 mg/100 g de sardinha.
Portanto, pode-se afirmar que a temperatura interfere na formação da histamina, independentemente da espécie de sardinha.
SIKORSKI (1990) e IENISTEA (1973) afirmam que a sardinha pode
apresentar quantidades de histidina livre comparáveis aos peixes da
família Scombridae. Já LEITÃO
et al.
(1983b) consideram elevados os níveis de 196,6mg/100g de histidina
livre encontrado em sardinhas. Em parte, este estudo confirma as
observações dos autores, principalmente levando em consideração os
resultados dos lotes 5 e 6, nos quais a temperatura elevada facilitou a
transformação da histidina livre em histamina.
Comparando os dados citados por ABABOUCH
et al.
(1986), que também evidenciaram alta porcentagem de conservas de
sardinhas com teores acima de 10 mg/100 g nas amostras obtidas em
mercado varejista, com os encontrados neste trabalho, pode-se afirmar
que são semelhantes, principalmente em relação aos resultados dos cinco
primeiros lotes, nos quais a presença de histamina ocorreu em 62,72%
das amostras, e do lote 6, 100% das amostras, cujos teores estiveram
acima de 10 mg/100 g, considerados tóxicos e preocupantes.
CONCLUSÕES
– As conservas enlatadas de sardinhas devem ser incluídas no grupo dos
alimentos que apresentam possibilidades de intoxicação por histamina.
– O abuso de temperaturas em qualquer fase de manipulação da sardinha
para a elaboração de conserva, desde a captura até o processamento,
possibilita a formação de histamina ou aumento dos seus teores nas
conservas.
– A presença de histamina no pescado independe das
características sensoriais iniciais, das áreas de capturas e das
espécies.
– As indústrias pesqueiras necessitam monitorar a temperatura de
conservação da matéria-prima desde a captura até o processamento final,
procurando manter sempre temperaturas abaixo de 5ºC, excetuando o
tratamento térmico, visando impedir a formação de histamina.
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