RESUMO
Este experimento foi conduzido no período de julho de 2004 a setembro
de 2005 na Depressão Cuiabana, MT. O objetivo foi avaliar a produção e
a estrutura do dossel de cinco forrageiras do gênero
Brachiaria
submetidas às intensidades de corte de 10 e 20 cm. As forrageiras foram
irrigadas e receberam três adubações de cobertura. Os cortes foram
realizados com intervalos de 30 dias. As variáveis analisadas foram:
acúmulo de forragem, altura da planta, densidade de forragem,
porcentagem de lâmina foliar, porcentagem de colmo, relação folha–colmo
e porcentagem de material senescente. O delineamento adotado foi em
blocos ao acaso, no esquema de parcelas subdivididas no tempo. O
maior acúmulo de forragem foi do capim-mulato (4,2 t/ha de MS), seguido
pelos capins xaraés, decumbens e ruziziensis, com médias superiores a
3,5 t/ha de MS, enquanto a menor produção foi do capim-marandu. As
intensidades de corte afetaram as características estruturais
independentes das forrageiras, mas o corte a 20 cm propiciou maior
porcentagem de folhas para o capim-xaraés (67%). A menor intensidade de
corte proporcionou maior produção de forragem, com maior percentual de
folhas e menor perda por senescência, ao longo do período experimental.
As forrageiras avaliadas apresentam potencial para serem utilizadas nos
sistemas de produção intensivos na Depressão Cuiabana, especialmente o
capim-mulato e o capim-xaraés.
PALAVRAS-CHAVES: Acúmulo de forragem, altura de corte, densidade de forragem, produtividade, relação folha–colmo, senescência.
ABSTRACT
HERBAGE YIELD AND STRUCTURAL CHARACTERISTICS OF FIVE Brachiaria GENUS FORAGES UNDER INTERMITTENTLY DEFOLIATION SWARD
This experiment happened from July 2004 to September 2005 in the
Depressão Cuiabana region-MT. The objective of this study was to verify
the yield and sward structure of five
Brachiaria
genus forages submitted to 10 and 20 cm cutting intensities. The
forages were irrigated and fertilized. The cutting happened with the
frequency of 30 days. The variables analyzed were forage yield, plant
height, forage bulk density, leaf blade percentage, stem percentage,
leaf blade/stem relation and senescence percentage. A complete
randomized block design was used with treatments in a split-plot
arrangement and three replications. The Mulato grass showed highest
green dry matter yield (4,2 t DM/ha) followed by Xaraés palisadegrass,
Signalgrass and Ruzi grass, with averages greater than 3,5 t DM/ha,
while the smallest forage yield was the Marandu palisadegrass (2,9 t
DM/ha). The defoliation intensity interfered in the forage structures
characteristics, but cutting intensity at 20 cm favored the highest
leaf blade percentage for Xaraés palisadegrass. The smallest
defoliation intensity propitiated greater forage yield with higher leaf
blade percentage and smaller senescence losses during the experimental
period. The evaluated forages presented a potential to be used on
livestock pasture-based system in the Depressão Cuiabana region,
specially Mulato grass and Xaraés palisadegrass.
KEYWORDS: Herbage production, cutting height, bulk density forage, productivity, leaf blade stem relation and senescence.
INTRODUÇÃO
A pecuária brasileira se caracterizou, desde seus primórdios, pelo
processo de exploração dos recursos naturais, isto é, pelo
extrativismo. As pastagens nativas ou naturalizadas, como os capins
gordura, jaraguá e colonião, formavam a base da alimentação do rebanho.
A atividade intensificou-se com o estabelecimento das pastagens cultivadas, especialmente com forrageiras do gênero
Brachiaria.
A capacidade das plantas desse gênero de apresentar produção e
qualidade de forragem, satisfatórias em solos de baixa fertilidade, foi
o grande atrativo para que os pecuaristas as utilizassem para formar
extensas áreas, especialmente com
B. decumbens, B. humidicola e
B. brizantha
cv. Marandu. Essas pastagens perfazem cerca de 85% da área cultivada;
no entanto, tem-se observado que de 70 a 80% das pastagens cultivadas
estão em processo de degradação (MACEDO, 2004).
A morte de pastagens cultivadas, como a
Brachiaria brizantha
cv. Marandu, foi notificada em 1995, nos estados de Mato Grosso, Acre e
Rondônia. O processo de morte tem ocorrido no início do período
chuvoso, independentemente da posição no relevo. Inicialmente, as
touceiras apresentam parte das folhas secas e o sistema radicular
bastante reduzido. Mais adiante as pastagens apresentam extensas áreas
de plantas mortas, ocorrendo em grandes reboleiras. As causas prováveis
são diversas e frequentemente atuam em conjunto. Podem ser de natureza
fisiológica, entomológica e fitopatogênica.
As causas fisiológicas deve-se, provavelmente, ao excesso ou à falta de
umidade, à perda da fertilidade do solo e ao excesso de lotação, que
dificulta a rebrotação da planta e causa o adensamento do solo. A causa
entomológica seria caracterizada por ataques do percevejo castanho e da
cigarrinha-das-pastagens dos gêneros
Deois ou
Mahanarva, e a causa fitopatogênica, pelo ataque do fungo
Pythium periilum.
A escolha inadequada da planta forrageira e a sua utilização podem
promover desequilíbrio do bioma e ao longo do tempo, baixos índices de
produtividade e de qualidade. No entanto, se a escolha, a implantação e
o manejo forem adequados, as pastagens proporcionam um aumento na
produção de leite e de carne. Esses produtos são alimentos de elevado
valor nutricional, que fazem parte da pirâmide alimentar do ser humano
e são fundamentais para a nutrição e a manutenção da sanidade da
população. As características estruturais do relvado são variáveis
fundamentais para o estabelecimento de práticas de manejo que promovam
a conservação e a dominância das espécies.
A estrutura do pasto pode ser definida como a distribuição e o arranjo
dos componentes tais como acúmulo de forragem, altura da planta,
densidade de folhas, relação folha–colmo, proporção de material
senescente (SIMON & LEMAIRE, 1987) da parte aérea da planta dentro
de uma comunidade. De forma geral, pode ser descrita por variáveis que
expressam a quantidade de forragem existente de forma bidimensional, ou
seja, as dimensões vertical e horizontal da distribuição da matéria
seca no perfil da pastagem.
O estudo da estrutura do pasto permite verificar como a comunidade
vegetal está utilizando os recursos abióticos (luz, água e nutrientes)
disponíveis e quais são os efeitos diretos que ocorrem sobre o
comportamento ingestivo do animal, especialmente sobre o consumo
(NEWMAN
et al., 1994), uma
vez que há interferência no tamanho do bocado, na taxa de bocado e no
tempo de pastejo, afetando a facilidade de colheita.
Assim, este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a produção e a estrutura do dossel de cinco forrageiras do gênero
Brachiaria sp. submetidas a duas intensidade de corte.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido no período de julho de 2004 a setembro de
2005, em área do Viveiro Experimental da FAMEV, pertencente à
Universidade Federal de Mato Grosso, no município de Cuiabá, MT, na
região fisiográfica da Depressão Cuiabana. A Depressão Cuiabana é parte
integrante da Depressão do Rio Paraguai, com latitude 15º33’S e
longitude 56º04’W. O clima da região é do tipo Aw, isto é, tropical
semiúmido, de acordo com a classificação Köppen. Na
Figura 1
encontram-se as médias mensais de precipitações pluviométricas e as
temperaturas do ar registradas durante o período experimental.
O preparo da área foi realizado no mês de julho de 2004 e, em dezembro
do mesmo ano, as forrageiras foram implantadas em canteiros irrigados
de 5 m², com área útil de 1 m² e espaçamento de 100 cm.
A análise do solo apresentou os seguintes valores médios: pH (H
2O)
= 6,0; MO (mg/dm³) = 17,7; P (mg/dm³) = 1,4; K (mg/dm³) = 160; Ca
(cmolc/dm³) = 2,9; Mg (cmolc/dm³) = 1,2; H+Al (cmolc/dm³) = 1,2; Al
(cmolc/ dm³) = 0,0; SB (cmolc/dm³) = 4,5; T (cmolc/dm³) = 5,7; V (%) =
79,0; saturação por alumínio de 0,0 e areia = 40,5 %; silte = 25,0 %;
argila = 34,5 %.
Com base na análise do solo e segundo as recomendações de CANTARUTTI
et al.
(1999), realizou-se a adubação do solo antes do plantio, com sulfato de
amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio, equivalentes a 50
kg/ha de nitrogênio, 100 kg/ha de P2O5 e 50 kg/ha de K2O, de modo a
garantir um crescimento adequado das plantas ao longo do período
experimental. Foram feitas três adubações em cobertura após cada corte,
à base de 50 kg/ha de nitrogênio por aplicação. As irrigações ocorreram
a cada três dias, mantendo o solo em sua capacidade de campo de forma a
garantir o suprimento de água para as plantas.
Testaram-se as forrageiras B. brizantha cv. Marandu, B. brizantha cv.
Xaraés, B. decumbens, B. ruziziensis e B. hibrida cv. Mulato, que foram
submetidas a um corte de uniformização, no mês de fevereiro de 2005, e
a seis cortes no período de março a agosto de 2005. As intensidades de
corte foram a 10 e 20 cm do solo, com intervalo de 30 dias.
O acúmulo de forragem (kg/ha de MSV) foi determinado pelo método do
corte direto (‘tMANNETJE, 1978), seguido de separação manual dos
componentes morfológicos e determinação dos teores de massa seca, de
acordo com a metodologia de SILVA & QUEIROZ (2002).
Obteve-se a altura média do dossel por meio de mensurações em três
pontos da subparcela, com uma régua graduada em centímetros, tomando-se
o comprimento do perfilho principal da base até a última folha (sem
contar a inflorescência). As densidades de forragem (kg/ha/cm de MS)
foram calculadas dividindo-se a massa seca de forragem pela altura
média em centímetros (STOBBS, 1973).
As determinações da percentagem de lâmina foliar, da percentagem de
colmo, da percentagem de material senescente e da relação folha–colmo
foram realizadas após o corte, a separação manual e a pesagem dos
componentes, segundo metodologia descrita por ‘tMANNETJE (1978).
O ensaio foi conduzido segundo um delineamento experimental em blocos
ao acaso no esquema de parcela subdividida no tempo, com três
repetições. Submeteram-se os dados à análise de variância, sendo as
médias dos tratamentos principais (forrageiras) e o desdobramento das
interações comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. O
modelo estatístico utilizado foi:
em que:
Y
ijkl = variáveis dependentes na r-ésima repetição, no
j-ésimo bloco, do tratamento ik no l-ésimo mês de avaliação, com i =
1,2,...,5; j = 1,2,3; k = 1,2; l =1,2,3,4,5,6 e r = 1,2,3; μ = média
geral; F
i = efeito da i-ésima forrageira; B
j = efeito do j-ésimo bloco; α
ij = efeito de interação entre a i-ésima forrageira e o j-ésimo bloco (erro A); I
k= efeito da k-ésima intensidade; (F*I)
ik = efeito de interação entre a i-ésima forrageira e a k-ésima intensidade; M
l = efeito do l-ésimo mês de avaliação; (F*M)
il = efeito de interação entre a i-ésima forrageira e o l-ésimo mês; (I*M)
kl = efeito de interação entre a k-ésima intensidade e o l-ésimo mês; (F*I*M)
ikl = efeito de interação entre a i-ésima forrageira, a k-ésima intensidade e o l-ésimo mês; ε
ijkl = erro residual (erro B).
As análises estatísticas foram realizadas por meio do programa
computacional Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG),
desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa (Universidade Federal de
Viçosa, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As forrageiras apresentaram diferenças (P<0,05) quanto ao acúmulo de
forragem, porém essas diferenças foram independentes da intensidade de
corte e dos meses de avaliação (
Figura 2). Os acúmulos de forragem variaram de 29.216,7 a 4.215,4 kg/ha de MSV no período de 30 dias.
O maior acúmulo de forragem (P<0,05) foi do capim-mulato, com média
de 4.215,4 kg/ha de MSV, seguido pelos capins xaraés, decumbens e
ruziziensis, com médias superiores a 3.500 kg/ha de MSV, enquanto o
menor acúmulo (P<0,05) foi do capim-marandu (
Figura 2).
Apesar de pertencerem ao mesmo gênero, essas forrageiras apresentaram
características estruturais diferenciadas, o que possibilita respostas
adaptativas às condições de ambiente e de manejo também diferenciadas.
O maior percentual da massa acumulada pelo capim-mulato foi composto por lâminas foliares verdes, acima de 62% (
Figuras 3A e
3B), enquanto a porcentagem de colmo foi de 34,1% (
Figura 4A), e por uma relação folha–colmo de 2,49 (
Tabela 1).
Além disso, essa forrageira apresentou um dos menores (P<0,05)
percentuais de material senescente entre as forrageiras analisadas (
Figura 4B).
Segundo EUCLIDES
et al. (2000), existe uma relação assintótica entre o consumo animal e o aumento na massa seca; CHACON
et al.
(1978), estudando pastagens de capim-setária e capim-pangola,
verificaram que o tamanho do bocado esteve altamente correlacionado com
a massa de forragem verde e com a relação folha–colmo, enquanto o tempo
de pastejo esteve negativamente correlacionado com a produção e com a
altura do pasto.
GARCIA & NAVA (2003) relataram observações realizadas em onze
locais contrastantes da Rede Colombiana de Avaliação de Brachiaria,
promovidas pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT). O
capim-mulato obteve acúmulo de forragem durante a época de chuva de
4.200 kg/ha de MS a cada oito semanas após o corte; durante a época
seca, o acúmulo foi reduzido a 2.700 kg/ha de MS a cada 12 semanas. Os
autores destacaram que uma característica adicional do capim-mulato é
sua alta proporção de lâmina foliar, de 75%, que diminui um pouco na
época das chuvas, devido ao seu rápido crescimento.
Nas condições da Depressão Cuiabana, sob irrigação, o capim-mulato
alcançou esses valores de acúmulo relatados anteriormente, porém em
intervalos de cortes menores, de 30 dias (
Figura 2).
Considerando que o capim-mulato apresenta rápido crescimento; que seu
mecanismo de rebrotação ocorre por gemas basais e este emite estolões
que enraízam (MILES, 1999); que os percentuais de lâmina foliar, de
colmo e de material senescente foram 64,4, 32,9 e 2,7, respectivamente (
Figura 3 e
Tabela 1),
sugere-se que, para o nível de adubação utilizado e sob irrigação, o
intervalo de corte de 30 dias possa ser reduzido, sem prejuízo para o
desenvolvimento da planta e com vantagem de haver um aporte maior de
lâmina foliar para o animal no momento do pastejo.
O capim-xaraés foi a única forrageira a apresentar as porcentagens de
folha e de colmo afetadas (P<0,05) pela intensidade de corte (
Figuras 3A e
4A).
O corte a 20 cm propiciou uma porcentagem de lâmina foliar e de colmo
de 66,98% e 31,3%, respectivamente, quando foi atingida a altura de
72,98 cm (
Tabela 1).
As folhas são o principal constituinte da área foliar
fotossinteticamente ativa e eficiente e são produzidas de acordo com
uma programação morfogênica das plantas que sofre influência direta de
fatores de meio ambiente, até mesmo da desfolhação (LEMAIRE &
MILLARD, 1999).
Sob pastejo intermitente, PEDREIRA
et al.
(2007) verificaram que a maior altura atingida pelo capim-xaraés foi de
41,6 cm, quando o intervalo de pastejo correspondeu a 100% de
interceptação luminosa pelo dossel e a intensidade de pastejo foi de 15
cm (recomendação da Embrapa para capim-xaraés), equivalendo a 31,7
dias, período no qual o acúmulo de forragem foi semelhante ao observado
na
Figura 2, porém com o dobro do percentual de senescência observado na
Tabela 1.
Segundo PEDREIRA & PEDREIRA (2007), o manejo adequado do
capim-xaraés, submetido à intensidade de pastejo de 15 cm, deve ser
feito com intervalos inferiores a 28 dias, a fim de possibilitar
maiores valores de fotossíntese do dossel ao longo do ciclo de
rebrotação, uma vez que assim é permitida maior entrada de luz no
interior do dossel. Para FLORES
et al.
(2008), o capim-xaraés, mantido em uma altura de 40 cm em pastejo com
lotação contínua, apresentou uma porcentagem de lâmina foliar e de
colmo de 29,3% e 31,9%, respectivamente.
Para as condições da Depressão Cuiabana, o manejo intermitente do
capim-xaraés deveria ocorrer na intensidade de corte de 20 cm, devido à
sua morfologia (planta erectófila), à sua produção de folhas, ao
percentual de colmo e ao baixo percentual de material senescente
(4,28%). Esse manejo favoreceria as respostas das dimensões do bocado
do animal, pois segundo LACA
et al. (1992), a profundidade do bocado aumenta linearmente à altura e inversamente à densidade do dossel.
Em geral, quanto maior a altura do pasto, maior o tamanho de bocados.
No entanto, um determinado limite, pois à medida que o relvado torna-se
reprodutivo, a densidade e a relação folha–colmo começam a diminuir e
aumenta a quantidade de material morto. Nesse caso, o animal tende a
selecionar mais, e, portanto, deve ocorrer um declínio do consumo por
bocado (FORBES, 1988).
Quanto aos capins ruziziensis e decumbens, em relação às demais
forrageiras, a variável que mais contribuiu para a produção foi a
porcentagem de colmo, apesar de a relação folha–colmo ter sido superior
a 1 (
Tabela 1). Porém, o capim-ruziziensis foi a forrageira que apresentou maior (P<0,05) percentual de material senescente (
Tabela 1).
FAGUNDES
et al. (2006)
reportaram a participação relativa do componente colmo na taxa de
acúmulo da Brachiaria decumbens. Segundo esses autores, as
contribuições da taxa de alongamento do colmo na taxa de acúmulo foram
de 62% no verão, 40% no outono, 43% no inverno e 64% na primavera.
Em capim-ruziziensis, a percentagem de lâmina foliar tem relação com o
peso e a idade dos perfilhos. Perfilhos mais velhos e desenvolvidos
possuem menor percentagem de folhas, ou seja, a relação folha em
capim–colmo diminui à medida que a rebrotação envelhece. Perfilhos
jovens apresentam cerca de 8% a mais de lâminas foliares que os
perfilhos velhos. Além disso, a percentagem de folhas tende a variar de
73% para 47% quando a rebrotação passa de duas para cinco semanas de
idade. Então, os dados para essa forrageira estão de acordo com a
afirmativa de FAGUNDES
et al. (2006), uma vez que o percentual de folha para uma rebrotação de 30 dias esteve em torno de 50% (
Figuras 3A e
3B).
Em estudos desenvolvidos na Zona da Mata de Minas Gerais, BROTEL
et al.
(1999) verificaram que o capim-ruziziensis apresentou-se menos
produtivo, sendo o rendimento anual dessa espécie, em média, três vezes
inferior aos do capim-marandu e do capim-decumbens. Ao contrário do que
foi observado por aqueles autores, neste estudo o capim-marandu
apresentou um comportamento semelhante àquelas espécies com uma ligeira
vantagem na relação folha–colmo (
Tabela 1).
A relação folha–colmo é uma variável de grande importância para a
nutrição animal e para o manejo das plantas forrageiras. A alta relação
folha–colmo representa forragem de maior teor de proteína e
digestibilidade, maior facilidade de preensão da forragem e,
consequentemente, maior consumo. Essa relação também confere à gramínea
melhor adaptação ao pastejo ou tolerância ao corte, por representar um
momento de desenvolvimento fenológico, em que os meristemas apicais se
apresentam mais próximos do solo, e, portanto, menos vulneráveis à
destruição (PINTO
et al., 1994).
Mesmo apresentando a menor produção (P<0,05) entre as forrageiras avaliadas (
Figura 1), o capim-marandu teve, na Depressão Cuiabana, produções maiores que aquelas observadas por COSTA
et al.
(2005) no Cerrado Goiano durante o período das águas. Eles avaliaram o
capim-marandu sob pastejo intermitente, com intervalo de desfolhação de
32 dias e período de ocupação do piquete de oito dias. Os autores
observaram um aumento da produção de massa seca total a partir de
outubro, época em que se iniciou o período chuvoso, atingindo uma
produção de 2.400 kg/ha de MS no mês de fevereiro.
Neste estudo observou-se o acúmulo de forragem, a densidade
volumétrica, a porcentagem de lâmina foliar e de senescência,
independente do tipo de forrageira, não foram uniformes (P<0,05) ao
longo do período experimental e foram afetadas (P<0,05) pela
intensidade de corte (
Tabela 2).
Segundo MARCELINO
et al.
(2006), o aumento na intensidade de corte de 10 cm para 20 cm
proporcionou maiores quantidades de pseudocolmo e material morto do
capim-marandu, refletindo um aumento na produção de massa verde
compensada pelo maior acúmulo de colmos. Conforme observado na
Tabela 2,
a intensidade de corte afetou (P<0,05) o acúmulo de forragem apenas
nos meses de junho e agosto, e, ao contrário do que foi observado por
MARCELINO
et al. (2006), não há relação com alterações no acúmulo de colmos.
No entanto, observou-se que o percentual de material senescente ao
longo do período experimental foi maior nos meses de março e maio para
a intensidade de 10 cm. Cortes mais altos permitem deixar nas plantas
suas partes mais velhas e, dependendo do período de descanso, o
resultado pode ser maior perda de forragem. Os maiores percentuais de
material senescente que ocorreram nesses meses foram devidos à fase
inicial do experimento e ao período de florescimento da maioria das
forrageiras.
Mesmo sob irrigação, as condições climáticas influenciaram nas
características estruturais das forrageiras, especialmente no acúmulo
de forragem (
Tabela 2).
As menores produções do mês de julho (P<0,05) refletem a baixa
precipitação registrada nesse mês e as consequências das baixas
temperaturas do mês de junho (média de 18ºC). As temperaturas noturnas
abaixo de 15ºC não permitem atividade metabólica satisfatória e
formação de tecidos da parte aérea de forrageiras tropicais. Além
disso, baixas temperaturas e menor número de horas de luz determinam
mudanças fisiológicas na forrageira, desencadeando o processo
reprodutivo e afetando o crescimento.
Essa variação estacional, segundo FAGUNDES
et al.
(2006), reflete a atuação dos fatores climáticos na morfologia das
plantas, alterando o número de folhas vivas por perfilho, o alongamento
foliar, o comprimento final da folha, a relação folha–colmo e a
densidade populacional de perfilhos. A contribuição diferenciada dos
componentes da pastagem ao longo das estações explica os menores
valores da produção de massa seca verde encontrados no período de
inverno, uma vez que a sequência natural da estacionalidade na produção
de massa seca de folhas e de colmo resulta da influência das estações
do ano no ciclo anual de crescimento da gramínea.
Durante a estação seca/fria, as pastagens tropicais normalmente
apresentam baixa disponibilidade de forragem de boa qualidade, em razão
da avançada idade fisiológica das plantas forrageiras e da baixa
rebrotação, decorrente da inibição causada pela presença de grande
quantidade de perfilhos maduros, pela baixa umidade no solo, pelas
temperaturas mais reduzidas e pelos dias mais curtos. Assim, a
sazonalidade da produção forrageira conduz, frequentemente, à
sazonalidade da produção animal (SANTOS
et al.,
2004). Segundo STOBBS (1973), em pastagens de clima temperado, a
densidade volumétrica de forragem é o principal componente da estrutura
a determinar a taxa de consumo, enquanto em pastagens tropicais é feita
a associação com a relação folha–colmo.
Observou-se, neste trabalho, que as densidades volumétricas médias
foram inferiores àquelas reportadas na literatura para outras espécies
forrageiras, como B. decumbens de 98,7 kg/cm/ha de MS (FAGUNDES
et al., 2006);
Cynodon spp., de 403 kg/cm/ha de MS (FAGUNDES
et al., 1999); Coastcross (
Cynodon spp.), de 290 kg/cm/ha de MS (CARNEVALLI
et al., 2001); e capim-tanzânia, de 81 kg/cm/ha de MS (PEDREIRA
et al., 2005). No entanto, os resultados de densidades volumétricas observados na
Tabela 2 corroboram os valores estabelecidos por STOBBS (1975), de 14 a 200 kg/cm/ha de MS para forrageiras tropicais.
CONCLUSÕES
As forrageiras avaliadas apresentam potencial para serem utilizadas nos
sistemas de produção intensivos na Depressão Cuiabana, especialmente o
capim-mulato e o capim-xaraés.
As intensidades de corte adotadas afetaram as características
estruturais independente do tipo de forrageira, mas o corte a 20 cm
propiciou maior porcentagem de folhas para o capim-xaraés.
A menor intensidade de corte proporcionou maior produção de forragem,
com maior percentual de folhas e menores perdas por senescência, ao
longo do período experimental.
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em: 22 set. 2008. Aceito em: 21 jun.
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