RESUMO
O objetivo deste estudo foi descrever índices reprodutivos – taxa de
prenhez (TP), cio do potro (CP), duração média da gestação (DG), idade
ao primeiro parto (IPP), idade (ID), intervalo parto-primeira cobertura
(IPPC) e parto concepção (IPC), intervalo entre partos (IEP), número de
ciclos por concepção (NC) e de serviços por concepção (NS), porcentagem
de mortalidade embrionária (ME), aborto (A), mês da concepção e do
parto – em equinos da raça Morgan. Para tal, foi realizado um estudo
retrospectivo dos dados de 42 éguas durante um período de 14 anos. As
médias observadas foram: TP 71%; ME 6,2%; A 2,4%; DG 340,2 dias; IPP
4,5 anos; ID 7,6 anos; IPPC 19,0 dias; IPC 27,2 dias; IEP 374,0 dias;
NC 1,2 e NS 3,0. A porcentagem de utilização do cio do potro foi de
76,1%. A maioria das coberturas e dos partos (78,9 e 87,1%) ocorreu nos
meses de setembro e dezembro, respectivamente. O registro desses
índices reprodutivos de equinos da raça Morgan criados no RS pode
servir de base para trabalhos de melhoramento da raça bem como apontar
áreas nas quais a pesquisa deverá investir para tornar sua exploração
mais rentável.
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PALAVRAS-CHAVE: equinos; fertilidade; Morgan; reprodução.
ABSTRACT
REPRODUCTIVE EFFICIENCY IN MORGAN HORSES
The purpose of this paper was to describe the following reproductive
parameters observed in mares of the Morgan breed: pregnancy rate (TP),
foal rate (CP), average length of the gestation (DG), age at the first
parturition (IPP), age (ID), interval from parturition to first service
(IPPC) and interval from parturition to conception (IPC), foaling
interval (IEP), number of cycles per conception (NC) and services per
conception (NS), embryo mortality rate (ME), abortion (A), month of the
conception and parturition. Data was obtained from 42 mares in 14
years. Values obtained were: TP 71%; ME 6.2%; A 2.4%; DG 340.2 days;
IPP 4.5 years; ID 7.6 years; IPPC 19.0 days; IPC 27.2 days; IEP 374.0
days; NC 1.2 and NS 3.0. The frequency of utilization of the foal heat
was 76.1%. The distribution of mating and parturition, in the breeding
season, was concentrated in the months of September to December (78.9
and 87.1%, respectively). These data may be useful to genetic
improvement of the breed as well as to indicate areas in which research
must concentrate for a more profitable husbandry.
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KEYWORDS: fertility; horses; Morgan; reproduction.
INTRODUÇÃO
A raça Morgan conta com mais de 147.000 animais registrados nos EUA e
em outros 20 países (American Morgan Horse Association – AMHA, 2008).
Essa raça teve origem a partir do garanhão denominado Figure, que se
destacou por seus atributos de velocidade, resistência e capacidade de
transmitir suas características morfológicas e funcionais à sua
descendência (prepotência). Através dos tempos, Figure se tornou
conhecido pelo nome do seu proprietário Justin Morgan, tornando-se esse
também o nome da raça. As características mais marcantes dos equinos da
raça Morgan são a sua beleza, versatilidade, longevidade e aptidão para
tração leve e montaria (EDWARDS, 1994; MELLIN, 1996).
A raça Morgan contribuiu para a formação de outras raças americanas,
entre elas o Quarto de Milha, o Americano de Sela, o Standardbred e o
Marchador do Tenesse (AMHA, 2008).
No Brasil, a raça Morgan foi introduzida em 1920, através de duas
importações: uma do Ministério da Agricultura e outra particular, sendo
os primeiros registros realizados em 1934, no Rio Grande do Sul (ABCCM,
2008). No caso específico da raça Morgan, não existem ainda estudos
sobre a adaptabilidade no Brasil, país que detém um expressivo
contingente de equinos, sendo que, atualmente, a Associação Brasileira
de Criadores de Cavalo Morgan (ABCCM) conta com 501 cavalos
registrados, número que vem apresentando incremento significativo em
diversos estados brasileiros.
A adaptabilidade de qualquer espécie a um determinado ambiente pode ser
estimada através de sua fertilidade. A ABCCM vem estimulando a
divulgação da raça e sua difusão para novos criadores; entretanto, não
estão disponíveis dados científicos do comportamento reprodutivo de
equinos dessa raça no Brasil.
Este trabalho teve por objetivo documentar índices reprodutivos
observados em um haras de equinos da raça Morgan, visando a estabelecer
parâmetros reprodutivos que sirvam de alicerce para novos criadores e
técnicos que venham a atuar com a raça.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um estudo retrospectivo de 14 anos das características
reprodutivas de 42 éguas da raça Morgan (com idade variando entre 2 e
20 anos) criadas em uma propriedade localizada no sul do Rio Grande do
Sul – Brasil, paralelo 32ºS. Neste estudo foram considerados idade da
égua (ID), início e fim do cio do potro (CP), idade ao primeiro parto
(IPP), intervalo parto-primeira cobertura (IPPC), intervalo
parto-concepção (IPC), duração média da gestação (DG), intervalo entre
partos (IEP), número de ciclos por concepção (NC), número de serviços
por concepção (NS), taxa de prenhez (TP), mês da concepção e mês do
parto. A mortalidade embrionária (ME) foi determinada após um
diagnóstico de gestação seguido de ausência de sinais indicativos de
gestação no exame seguinte e o aborto (A) foi considerado como perda da
gestação a partir de 50 dias.
As éguas foram classificadas quanto à sua origem em Puras de Origem
(PO) e Puras por Absorção (PA). Entende-se por éguas Puras por Absorção
aquelas com grau de sangue de, no mínimo, 31/32 (trinta e um, trinta e
dois avos), filhas de garanhão PO ou PA, com registro definitivo. Os
dados relativos à prenhez dessas éguas, foram submetidos à análise de
variância. Todas as éguas utilizadas para reprodução foram mantidas em
pastagem de campo nativo.
O diagnóstico de gestação era realizado através de ultra-sonografia
transretal no 14º dia ou palpação retal a partir do 18º dia após a
última cobertura, com acompanhamento da evolução da gestação aos 30, 40
e 60 dias pós-cobertura.
As éguas foram cobertas através de monta dirigida por três garanhões de
fertilidade comprovada, submetidos a exames andrológicos periódicos. A
estação reprodutiva compreendia o período de setembro a março.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O período médio de gestação na égua é de 340 dias (GINTHER, 1979; LOY,
1980); entretanto, existe alguma variação entre raças. JAINUDEEN &
HAFEZ (1980) citam que o período de gestação na raça Morgan é de 344
dias em média, discretamente superior à encontrada neste trabalho
(340,2 dias).
A IPP média de 4,5 anos é consideravelmente superior àquela tida como
ideal por CARNEIRO & VAL (1978), que seria de 30 meses (2,5 anos),
com o primeiro parto ocorrendo aos 41 meses (3,5 anos). Entretanto os
animais do criatório estudado neste trabalho eram manejados em
condições extensivas, as quais não proporcionavam um desenvolvimento
corporal adequado, aliado ao fato de que as éguas não tinham sua função
reprodutiva monitorada antes dos 2,5 anos.
O IPPC teve uma média de 19 dias. Esse intervalo foi relativamente
alto, quando comparado aos de outros trabalhos, como os de BAIN (1957)
e BADI
et al. (1981) que
encontraram, em éguas Puro Sangue Inglês (PSI), intervalos do parto à
primeira cobertura de 9 a 10 dias. Já os índices encontrados por
CUMMINGS (1942), citado por BELLING (1985) e LOWIS & HYLAND (1991),
foram semelhantes aos deste estudo. Esse intervalo relativamente alto
talvez se deva ao fato de que nem todas as éguas utilizadas neste
estudo foram cobertas no cio do potro, pois as éguas que eram cobertas
cedo na estação reprodutiva adotada pela propriedade (setembro) pariam
no final do inverno (agosto). Uma cobertura nessa época levaria a uma
nova parição no inverno, estação em que a disponibilidade de alimentos
é menor, o que vai de encontro ao IPC médio de 27,2 dias (
Tabela 1). Essa medida sugere que a maior parte das concepções ocorreu após o cio do potro.
A cobertura do cio do potro é frequentemente praticada e recomendada como um meio de reduzir o intervalo entre partos (BADI
et al.,
1981), como no caso do Puro Sangue Inglês (PSI), no qual o intervalo
entre partos deve ser de no máximo 12 meses, devido às exigências de
seu calendário hípico. Entretanto, segundo McKINNON (1988), a
fertilidade tem sido de 11 a 33% menor em éguas cobertas no primeiro
período ovulatório pós-parto, comparado com éguas cobertas durante os
ciclos subsequentes, e a mortalidade embrionária tem sido relatada como
alta para éguas cobertas no cio do potro. No presente estudo, a
porcentagem de utilização do cio do potro foi de 76,1% (89/117) e não
foi detectada diferença (P>0,05) quanto à gestação quando este foi
utilizado. Em algumas éguas, esse procedimento não foi utilizado,
porque elas pariram cedo na estação reprodutiva e a cobertura nesse
primeiro cio ocasionaria o nascimento no final do inverno, quando as
condições são desfavoráveis ao desenvolvimento do produto.
CASLICK (1937) afirmou que seriam necessários três ciclos para produzir
uma prenhez. Neste trabalho o número de ciclos por concepção foi de 1,2
ciclos, índice também descrito por LOY (1980), que afirmou que são
necessárias coberturas em até dois ciclos para que haja a concepção. No
presente estudo, 91,8% das éguas gestantes conceberam no primeiro ciclo
(123/147), enquanto que 8,2% (24/147) conceberam nos cios subsequentes.
Isso demonstra uma excelente fertilidade da raça.
Como a ejaculação na espécie equina é intra-uterina, há uma maior
predisposição à ocorrência de endometrites na égua quando certos
cuidados de higiene não são observados. Devido a isso, um maior número
de serviços poderia influenciar negativamente a taxa de prenhez. A
média do número de serviços foi de três saltos por concepção, resultado
encontrado em 43% (68/158) das éguas. O mesmo foi observado por BAIN
(1957), o qual relatou que três saltos ou mais são necessários para a
concepção. Já DOWSETT & PATTIE (1982), estudando a fertilidade do
garanhão, encontraram uma média de quatro serviços por gestação. Das
158 éguas do presente estudo, 131 (82,9%) necessitaram de até quatro
saltos por concepção.
A taxa de prenhez observada neste estudo foi de 71% (147/207), semelhante àquela registrada por SULLIVAN
et al. (1975), CASLICK (1937), LOWIS & HYLAND (1991) e GIBBS & DAVISON (1992).
A análise de variância revelou uma maior taxa de prenhez (P<0,05)
nas éguas PO (88,2%) em relação às PA (63,2%). Isso talvez se deva a um
melhor manejo dispensado às éguas PO que eram alocadas em potreiros com
maior disponibilidade alimentar.
Baixas taxas de concepção em éguas falhadas (40%), comparadas às de
éguas lactantes (54%) e virgens (44%), foram citadas por SULLIVAN
et al.
(1975). No entanto, neste trabalho, a TP observada foi de 74,2% (n=35)
para as éguas virgens, 72,2% (n=54) para as falhadas e 69,6% (n=112)
para as lactantes, não havendo diferença entre essas categorias
(P>0,05), o que pode ser devido ao fato de que algumas éguas se
apresentavam vazias, não por problemas reprodutivos, mas, sim, por
terem partos ocorrendo no final da estação reprodutiva o que
impossibilitaria uma nova concepção.
A taxa de mortalidade embrionária (ME) foi de 6,2% (13/198), valor
bastante inferior ao estimado em equinos, que é de 20% (GINTHER, 1979).
Inferior também aos 8,53% encontrados por DUARTE
et al. (2002), estudando a perda de prenhez até o 50º dia em éguas Quarto de Milha.
A égua apresenta um comportamento poliéstrico estacional, possuindo um
ótimo período de fertilidade no fim da primavera e meses de verão
(OSBORNE, 1966; VAN NIEKERK, 1967; HUGHES
et al.,
1975). Neste estudo, a distribuição das coberturas e dos partos (78,9 e
87,1%, respectivamente), concentrou-se nos meses de setembro a
dezembro, como observado na
Figura 1.
Neste criatório, diferentemente do que ocorre em algumas raças, como,
por exemplo, Puro Sangue Inglês (PSI), não existe uma preocupação tão
acentuada com o calendário hípico, sendo que as coberturas ocorreram em
um período mais próximo da estação reprodutiva fisiológica.
Segundo CARNEIRO & VAL (1978), o IEP ideal para a égua é de 11,4
meses (343 dias), considerando a utilização do cio do potro. O IEP
médio encontrado neste trabalho foi de 383,5 dias (12,7 meses), sendo
menor em relação ao intervalo médio de 563,9 dias (18,7 meses)
registrados por CAMPOS (2007) em éguas das raças Brasileiro de Hipismo
(BH), Hanoveriano (Han), Puro-Sangue Inglês (PSI) e Sem Raça Definida
(SRD), sendo encontrado efeito significativo da raça sobre essa
característica, o que poderia ser importante no caso do presente estudo.
CONCLUSÃO
O registro dos índices reprodutivos de equinos da raça Morgan criados
em uma propriedade no estado do Rio Grande do Sul não difere do que
havia sido documentado na bibliografia, porém apresenta discretas
variações que podem ser úteis no acompanhamento técnico de criadores da
raça. Esses dados também podem servir de base para trabalhos de
melhoramento da raça bem como apontar áreas nas quais poderá haver
investimentos de pesquisa, a fim de tornar sua exploração mais rentável.
REFERÊNCIAS
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Protocolado em: 11 set. 2008. Aceito em: 09 fev. 2011.