RESUMO
Objetivou-se com este estudo comparar a viabilidade do sêmen de cães
diluído nos meios Mínima Contaminação (MMC) e Lactose-gema Modificado
(LGM), conservado a 4ºC por doze e 24 horas. Foram utilizados treze
ejaculados de cinco cães adultos, obtidos através de manipulação
digital. Avaliaram-se volume do ejaculado, concentração espermática,
motilidade progressiva e vigor espermático no sêmen fresco
imediatamente após a coleta. A seguir o sêmen foi diluído (1:3) em MMC
e LGM e posteriormente refrigerado em Equitainer®. Motilidade
progressiva e vigor espermáticos, patologia espermática, integridade da
membrana plasmática, viabilidade espermática e integridade acrossômica
foram avaliados no sêmen fresco e após doze e 24 horas de refrigeração
a 4ºC. Não houve diferença entre os meios na conservação do sêmen após
doze horas de refrigeração. Decorridas 24 horas, apenas a motilidade
progressiva foi diferente entre os tratamentos (p>0,05). Porém,
observou-se, que o meio LGM manteve, após esses períodos, a maioria das
características do sêmen fresco (p>0,05). As taxas médias de reação
acrossômica verdadeira e falsa não ultrapassaram 2% em ambos os meios,
o que demonstra que a 4ºC os componentes dos meios diluídores e a
conservação não afetaram a integridade acrossômica. Concluiu-se que
ambos os meios podem ser utilizados na conservação sob refrigeração
(4ºC em contêiner de transporte) do sêmen de cães por um período de até
doze horas, sem que ocorram mudanças significativas nas características
verificadas no sêmen fresco.
PALAVRAS-CHAVES: Refrigeração, espermatozoides, caninos.
ABSTRACT
EFECT OF MINIMUM CONTAMINATION MEDIUM (MMC) AND MODIFIED EGG YOLK
LACTOSE (LGM) EXTENDERS ON CANINE SEMEN VIABILITY AFTER COOLING AT 4ºC
FOR 24 HOURS IN EQUITAINER®
The aim of this study was to compare the viability of canine semen
after dilution in Minimum Contamination Medium (MMC) and Modified
Lactose-Egg yolk extender (LGM) and incubation at 4ºC for 12 and 24
hours. Thirteen ejaculates were collected from 5 adult dogs by digital
manipulation. Macroscopic and microscopic characteristics were assessed
right after collection. Semen was divided to be diluted (1:3) in MMC
and LGM and subsequently chilled in Equitainer®. Seminal parameters of
motility and spermatic morphology, membrane integrity (hyposmotic
test), spermatic viability and spontaneous acrosome reaction
(Trypan-blue Giemsa stain) were evaluated in fresh and chilled semen
after 12 and 24 hours of incubation at 4ºC. No difference between
extenders was identified in semen conservation after 12 hours. After 24
hours just spermatic motility was different (p>0.05). But, after
both periods of conservation, semen diluted in LGM maintained most of
the characteristics verified in the fresh semen. The mean of true and
false acrosome reaction did not exceed 2% in both semen extenders,
which demonstrates no influence of media component and incubation
period on these phenomena at 4ºC. In conclusion, these results indicate
that both extenders can be used in canine semen conservation at 4ºC in
contêiner during 12 hours without significant changes in semen
characteristics.
KEYWORDS: Dogs, sperm, cooling.
INTRODUÇÃO
A utilização do sêmen resfriado na inseminação artificial (IA) na
espécie canina vem aumentando potencialmente. O resfriamento do sêmen
visa à conservação por um maior período, viabilizando o seu transporte.
Durante o processo de resfriamento, ocorre a redução do metabolismo das
células espermáticas, de forma a restringir perdas de energia e a
diminuir a formação de metabólitos tóxicos no armazenamento e
transporte (AMANN & PICKETT, 1987; HOLT, 2000). O resfriamento do
sêmen é um complexo processo que envolve modificações estruturais na
célula espermática, podendo provocar lesões irreversíveis no
espermatozoide. Ocorrem alterações na fluidez da membrana plasmática e
no influxo de cálcio na célula, culminando com a ruptura das membranas
plasmática e acrossomal. Essas alterações são conhecidas como choque
térmico (TARTAGLIONE & RITTA, 2004).
O sucesso da conservação do sêmen sob refrigeração está na dependência
de fatores, como o uso do diluídor adequado, cujos componentes protejam
os espermatozoides contra o choque térmico e não permitam a ocorrência
da capacitação espermática precoce, da taxa de resfriamento lenta e da
temperatura de manutenção, minimizando os danos na membrana e no
metabolismo da célula espermática (AMANN & GRAHAN,1993). Os meios
diluídores mais utilizados na conservação do sêmen são aqueles que
possuem macromoléculas presentes no leite e/ou na gema de ovo, que são
protetoras da membrana celular (HOLT, 2000).
A gema de ovo contém lecitina, o componente de origem biológica mais
utilizado na composição dos diluídores para sêmen (ENGLAND, 1993). Sua
ação protetora contra os efeitos prejudiciais do resfriamento celular
parece advir de uma ação estabilizadora da membrana espermática através
de seus componentes fosfolipídicos, os quais atuam na restauração da
perda de fosfolipídios celulares e na prevenção contra rupturas das
membranas (ROTA
et al., 1995;
HOLT, 2000). PHILLIPS & LARDY (1993) observaram que as
lipoproteínas presentes na gema de ovo promovem a proteção dos
espermatozoides contra o choque térmico provocado pelo resfriamento
(MAXWEEL & SALOMON, 1993).
Uma lipoproteína de baixa densidade (LDL) foi previamente isolada e
identificada como componente efetivo na preservação e proteção do
espermatozoide. De acordo com vários autores, há melhor motilidade
espermática com meios contendo maior quantidade de LDL (MOUSSA
et al., 2002; AMIRAT
et al., 2004).
O leite é também bastante utilizado, devido à sua capacidade tampão e à
ação protetora contra o choque térmico exercida pela lactose e pelas
proteínas que o compõem. O meio diluente à base de leite
desnatado e glicose utilizado para resfriamento de sêmen equino tem
sido utilizado com sucesso no resfriamento de sêmen canino (ENGLAND
& PONZIO, 1996).
Os meios MMC, Tris-gema e LGM vêm sendo testados e utilizados no resfriamento de sêmen de cães (IVANOVA-KICHEVA
et al., 1997; CUNHA & LOPES, 2000; SILVA
et al., 2001), sendo que IVANOVA-KICHEVA
et al. (1997) relataram ligeira superioridade do LGM na conservação das características seminais estudadas.
Para avaliar a qualidade do sêmen conservado, têm-se utilizado diversos
testes; porém, há um consenso de que não existe um único teste in vitro
que possa predizer com exatidão o potencial de fertilidade do sêmen
fresco ou conservado (ARRUDA
et al., 2003).
Os parâmetros seminais como motilidade progressiva, vigor espermático,
morfologia espermática, integridade de membrana plasmática e avaliação
da integridade acrossomal têm sido indicados na avaliação do sêmen de
diversas espécies domésticas (CUNHA
et al.,
2005). A motilidade progressiva e o vigor espermático refletem
indiretamente a capacidade fertilizante do espermatozoide (VANNUCCHI
et al.,
1998). A integridade das membranas plasmática e acrossômica, verificada
no teste hiposmótico e na coloração para avaliação da capacitação
espermática através da reação acrossômica, também é parâmetro para
medir a capacidade do espermatozoide de penetrar o oócito (JEYENDRAN
et al., 1984). Já os métodos de coloração vital ajudam a determinar o percentual de espermatozoides vivos no sêmen (DIDION
et al.,1989).
Sendo assim, objetivou-se com este estudo verificar a viabilidade
espermática após a diluição nos meios comumente utilizados na
conservação do sêmen de cães (MMC e LGM), após doze e 24 horas sob
refrigeração (4 ºC). Compararam-se a motilidade progressiva, o vigor, o
percentual de células vivas e a integridade das membranas plasmática e
acrossomal.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados treze ejaculados de cinco cães (três coletas em três
cães e duas coletas em dois cães) adultos (de três a seis anos de
idade), hígidos, das raças Pastor alemão, Beagle com pesos entre 15 e
40 kg e provenientes do canil da polícia militar. Alimentaram-se os
animais com ração comercial (Champ®), duas vezes ao dia, e água
ad libitum.
Após a realização de exame andrológico e esgotamento das reservas
espermáticas, o sêmen de cada animal foi coletado em intervalos de sete
dias, durante a primavera, através de manipulação digital, sendo
utilizadas apenas a segunda fração espermática e parte da terceira
fração seminal (de um a dois primeiros jatos da ejaculação clara e
límpida).
O ejaculado foi imediatamente avaliado quanto ao volume, concentração
espermática, motilidade progressiva e vigor espermáticos, patologia
espermática, integridade de membrana plasmática, viabilidade
espermática e integridade da membrana acrossômica, sendo mantido em
banho-maria a 37ºC até o procedimento da diluição. Os padrões mínimos
do sêmen fresco para sofrer posterior diluição foram: 70% de motilidade
progressiva e vigor 3.
Os ejaculados foram divididos em partes iguais e diluídos lentamente (taxa de diluição 1:3) em Meio Mínima Contaminação (KENNEY
et al., 1975) e Lactose-gema Modificado (SILVA FILHO
et al., 1997). Após a diluição, as amostras foram acondicionadas em tubos plásticos de 1,5 mL para o armazenamento.
Na refrigeração e manutenção do sêmen a 4ºC durante 24 horas foi
utilizado contêiner de transporte comercial (Equitainer II®) que
apresenta curva de temperatura em declínio de 37ºC a 5°C em dez horas
(declínio médio de 0,3°C por minuto).
Os parâmetros seminais de motilidade progressiva e vigor espermáticos,
patologia espermática, integridade de membrana plasmática do
espermatozoide, viabilidade espermática e integridade do acrossoma
foram novamente avaliados no sêmen refrigerado após doze e 24 horas.
Antes da reavaliação do sêmen, alíquotas das amostras foram
pré-aquecidas.
Testes realizados
A concentração espermática foi determinada utilizando-se câmara
hematocitométrica (Neubauer) em microscópio óptico com aumento de 400x,
sendo utilizadas amostras de sêmen na diluição 1:20.
Avaliaram-se a motilidade progressiva e o vigor espermáticos
subjetivamente, em microscopia óptica comum, sendo a motilidade
determinada como a porcentagem de espermatozoides com movimento
retilíneo progressivo, e o vigor classificado numa escala de 0 a 5, de
acordo com a intensidade do movimento observado (HENRY &
NEVES,1998).
A patologia espermática foi avaliada através de preparação úmida,
utilizando-se microscópio de contraste de fase em aumento de 1.000x, em
imersão, em duzentas células. Determinaram-se os percentuais de
defeitos maiores, menores e totais (BLOM, 1973).
A integridade da membrana plasmática foi determinada através do teste
hiposmótico (KUMI-DIAKA, 1993). Uma alíquota de 50 µL de sêmen foi
diluída em 450 µL de solução hiposmótica 150 mosmol/L (taxa de diluição
1:10) previamente aquecida a 37ºC, sendo a seguir incubada por trinta
minutos em banho-maria a 37°C. Após a incubação, uma gota da amostra
foi colocada entre a lâmina e a lamínula, aquecidas a 37°C, e foi
avaliada em microscopia óptica com aumento de 400x para contagem de cem
células. O resultado foi expresso em porcentagem de células íntegras
(que apresentaram dobramento de cauda por alterações de osmolaridade).
A avaliação da viabilidade espermática e da integridade do acrossomo
foi realizada pela técnica citoquímica de coloração dupla Trypan-blue
Giemsa (DIDION
et al., 1989).
Uma alíquota de 100 µL de sêmen foi diluída em 100 µL de azul de Tripan
0,2%, previamente aquecido a 37ºC. A amostra foi incubada por trinta
minutos em banho-maria a 37ºC. Após a incubação, uma gota de sêmen foi
colocada sobre cada lâmina previamente aquecida a 37ºC em placa
aquecedora, para a confecção de esfregaços finos secos ao ar.
Incubaram-se essas lâminas em solução de Giemsa 10% com água destilada
pH 6.8 – 6.9, por 24 horas. Os esfregaços foram lavados em água
corrente e secos ao ar. A leitura das lâminas foi realizada através da
contagem de cem células em microscópio óptico com aumento de 400x. Essa
técnica possibilitou a diferenciação de quatro classes diferentes de
espermatozóides: (sptz) mortos com acrossoma intacto – cabeça azul e
acrossoma rosado; sptz morto com acrossoma reagido (falsa reação
acrossômica) – cabeça azul ou roxa com acrossoma descorado (ausente);
sptz vivo com acrossoma intacto (viável) – cabeça rosada ou branca com
acrossoma rosado; sptz vivo com acrossoma reagido (verdadeira reação
acrossômica) – cabeça rosada ou branca e acrossoma descorado.
Na análise estatística, avaliaram-se todas as características seminais
em relação ao tipo de meio e tempo de conservação. Os dados observados
foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias foram
comparadas pelo teste SNK (Student-Newman-Keuls), utilizando-se o
Software GraphPad Instat 3.05 32 bit for Win 95/NT. O mesmo sistema
estatístico foi usado na obtenção das médias e desvios padrão. As
diferenças foram consideradas significativas quando p < 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O volume e concentração espermática médios verificados nos ejaculados dos cães foram 3,08 (± 0,08) mL e 496,92 (± 304,92) x 10
6sptz/mL,
respectivamente. Não houve variação do volume do ejaculado entre cães,
uma vez que a metodologia adotada preconizou a coleta somente da fração
espermática e parte da terceira fração, com o intuito de padronizar o
volume para posterior diluição. Observaram-se variações (p < 0,05)
na concentração espermática entre os animais. Variações individuais
foram relatadas por ENGLAND & PONZIO (1996), que observaram
concentrações entre 400 x 106 e 900 x 10
6 sptz/mL.
Nota-se na
Tabela 1 que os parâmetros do sêmen fresco encontram-se adequados para a utilização na inseminação artificial (IA) (VERSTEGEN
et al.,
2005), com exceção da patologia espermática, com média acima do limite
(31,84 (± 5,64), pelo fato de não ter sido um critério de seleção para
os ejaculados. A porcentagem média de defeitos maiores e menores foi
22,77 (± 2,98)% e de 9,08 (± 4,37)%, respectivamente. Os valores de
patologia espermática total foram mais elevados dos que aqueles
encontrados por VERSTEGEN
et al. (2005) e RIJSSELAERE
et al.
(2002). Esses autores verificaram menos do que 15% de defeitos totais,
o que pode ter se devido ao fato de os animais terem uma rotina de
exercícios de treinamento de segurança, ocasionando diferentes níveis
de estresse (HATAMOTO
et al., 2006; BAPTISTA SOBRINHO
et al., 2009).
No entanto, as médias de motilidade progressiva (MP) e vigor (V) no
sêmen fresco foram elevadas, possivelmente em virtude da prévia seleção
dos ejaculados (motilidade progressiva superior a 70% e vigor mínimo
3). A motilidade progressiva bem como a patologia espermática têm sido
utilizadas como parâmetros de seleção de ejaculados que serão
armazenados (refrigerados e/ou congelados) pelo fato de terem uma
correlação elevada com a resistência ao choque térmico (VERSTEGEN
et al.,
2005). No entanto, TARTAGLIONE & RITTA (2004) relataram a
superioridade dos parâmetros integridade e funcionalidade de membrana
plasmática e integridade de membrana acrossomal em relação à morfologia
e motilidade espermáticas na predição da fertilidade do sêmen de
touros. Verificou-se que as porcentagens de espermatozoides viáveis e
com membranas plasmática e acrossomal íntegras também foram elevadas no
sêmen fresco.
Após doze horas de conservação dos ejaculados observa-se melhor
conservação das características do sêmen diluído em LGM em relação ao
sêmen fresco. O mesmo não ocorreu naquele diluído em MMC, possivelmente
devido à proteção contra o choque térmico dos componentes da gema de
ovo do meio LGM (ENGLAND, 1993), cujos fosfolipídicos promovem uma ação
estabilizadora da membrana espermática, restaurando-a após a perda de
fosfolipídios que ocorre durante o processo de refrigeração, prevenindo
as rupturas (ROTA
et al., 1995; HOLT, 2000)
Verifica-se na
Tabela 1
que não houve diferença significativa entre as características do sêmen
fresco e do conservado por doze horas, com exceção do vigor espermático
(p<0,05). Embora isso tenha ocorrido, nota-se que o vigor médio foi
superior a 3.
As médias de todas as características do sêmen diluído em LGM após doze
horas de conservação encontram-se dentro dos padrões indicados para a
IA (CONCANNON & BATTISTA, 1989; VERSTEGEN
et al.,
2005), com exceção da patologia espermática (36,77%), provavelmente por
essa característica já ter sido de 31, 84% no sêmen fresco. Porém, os
dois valores não diferiram significativamente. Os defeitos mais
frequentemente observados após a conservação foram os dobramentos de
cauda, o pode estar relacionado ao choque térmico (PARKS & GRAHN,
1992). Já o sêmen diluído em MMC apresentou características inferiores
(p<0,05) às do sêmen fresco após doze horas de conservação, com
exceção da reação acrossômica e da patologia espermática. Mesmo assim,
a maioria das características também se encontra dentro dos padrões
para a IA (VERSTEGEN
et al., 2005).
Verifica-se que as médias das características do sêmen diluído em LGM
após 24 horas de conservação não foram diferentes daquelas verificadas
no sêmen conservado por doze horas. Ocorreu um declínio significativo
(p<0,05) apenas da motilidade progressiva, que se manteve, ainda,
acima de 50%. Algumas características, no entanto, diferiram
pelas do sêmen fresco.
Observa-se, contudo, no entanto, que após 24 horas os dois diluídores
também não diferiram estatisticamente entre si, sendo apenas a
motilidade progressiva menor no sêmen conservado em MMC (56,54 (±
7.00)). Verifica-se, ainda, que o sêmen conservado por 24 horas
apresenta, em ambos os meios, valores bastante satisfatórios em relação
à viabilidade espermática, à integridade de membrana plasmática e à
porcentagem de espermatozoides apresentando reação acrossômica.
O número de espermatozoides no sêmen fresco apresentando reação
acrossômica (RA) falsa ou verdadeira foi pequeno. De fato, não se
espera encontrar no sêmen fresco número expressivo de espermatozoides
capacitados e apresentando reação acrossômica (CORMIER
et al.,
1996). Sabe-se que o tempo, a temperatura e os componentes dos meios
diluídores são fatores que podem induzir a reação acrossômica
espontânea (SIRIVAIDYAPONG
et al.,
2000). Porém, as taxas médias de reação acrossômica verdadeira e falsa
não ultrapassaram 1% após a conservação sob refrigeração em ambos os
meios, o que demonstra que após 24 horas, a 4ºC, os componentes dos
meios diluídores e a conservação não induziram esses fenômenos e
impediram danos do acrossoma. IGUER-OUADA & VERSTEGEN (2001)
verificaram também menos de 5% de reação acrossômica após a diluição do
sêmen de cães em meio TRIS Gema e a conservação por 72 horas a 4ºC.
Tanto a viabilidade espermática (VE) quanto a integridade de membrana
plasmática (IM) mantiveram-se relativamente elevadas após 24 horas de
conservação nas amostras diluídas em ambos os meios. RIJSSELAERE
et al.
(2002) observaram em torno de 93% de espermatozoides vivos apresentando
acrossoma intacto, após diluição do sêmen de cães em meio TRIS Gema e
conservação por 72 horas a 4ºC.
Apesar de ocorrerem algumas alterações na qualidade do sêmen após a
conservação, muitas características mantiveram-se ainda satisfatórias
no sêmen diluído em LGM após 24 horas de refrigeração. CUNHA e LOPES
(2000) obtiveram 70% de motilidade progressiva e vigor 5, após 24 horas
de conservação do sêmen de cães diluído em Glicina-gema, não diferindo
das características do sêmen fresco. VERSTEGEN
et al.
(2005) também não constataram queda significativa desses parâmetros
após 24 horas de conservação em meio TRIS-gema glicose a 4ºC. Em cães,
60% de espermatozoides com motilidade progressiva e 10% ou menos
apresentando reação acrossômica podem ser considerados bons parâmetros
de qualidade seminal após refrigeração (VERSTEGEN
et al.,
2005). CONCANNON & BATTISTA (1989) sugeriram que é necessário
o mínimo de 40% a 50% de MP para o sucesso da IA. Sabe-se que os meios
diluídores são de suma importância para minimizar as alterações que
ocorrem durante o choque térmico na refrigeração do sêmen, porém,
deve-se ressaltar a importância de se terem inicialmente amostras de
sêmen de boa qualidade para garantir a conservação mais prolongada das
características necessárias para a fecundação.
Reitera-se a importância de inclusão da avaliação da morfologia
espermática na seleção de ejaculados, pois a motilidade progressiva nem
sempre reflete determinadas condições patológicas dos espermatozoides e
viabilidade espermática (CASTRO
et al.,
2007). Caso houvesse seleção dos animais incluindo a patologia
espermática, provavelmente os resultados obtidos após 24 horas de
conservação do sêmen pudessem ser mais próximos aos do sêmen fresco.
CONCLUSÃO
Nas condições deste experimento, conclui-se que ambos os meios
diluídores podem ser utilizados na conservação do sêmen de cães por
pelo menos doze horas, sob refrigeração a 4ºC, em contêiner de
transporte, sem que ocorram intensas mudanças nas características
verificadas no sêmen fresco.
AGRADECIMENTO
Ao 12º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, pela fundamental colaboração neste projeto. À Capes pelo apoio concedido.
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Protocolado
em: 4 set. 2008. Aceito em: 18 jan.
2011.