DOI: 10.1590/1809-6891v20e-44670
ZOOTECNIA
CLASSIFICAÇÃO ANDROLÓGICA POR PONTOS E CARACTERÍSTICAS
ANDROLÓGICAS NA AVALIAÇÃO REPRODUTIVA DE TOUROS DA
RAÇA GIR CANDIDATOS AO TESTE DE PROGÊNIE
ANDROLOGICAL POINTS CLASSIFICATION AND ANDROLOGICAL
REPRODUCTIVE EVALUATION CHARACTERISTICS IN GIR BULLS
CANDIDATES FOR PROGENIETEST
Juliano Bergamo Ronda1* ORCID - http://orcid.org/0000-0002-1882-5487
Gustavo Lima Ribeiro1 ORCID - http://orcid.org/0000-0002-8779-176X
Jose Octavio Jacomini2 ORCID - http://orcid.org/0000-0001-6930-3518
Amanda Pifano Neto Quintal3 ORCID - http://orcid.org/0000-0001-6972-1568
André Belico de Vasconcelos1 ORCID - http://orcid.org/0000-0003-1091-9531
1Universidade de Uberaba, Uberaba, MG, Brasil.
2Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil.
3Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.
*Autor para correspondência - juliano.ronda@uniube.br
Resumo
A eficiência reprodutiva deve ser avaliada em propriedades leiteiras para identificação de
indivíduos com problemas reprodutivos ligados tanto à fêmea quanto ao macho, visando minimizar
perdas na produção. A reprodução está entre os fatores que afetam a produtividade dos rebanhos e
chama atenção, em alguns momentos, pelos baixos índices na pecuária tradicional. Objetivou-se
estudar a ferramenta de avaliação espermática denominada índice CAP e sua correlação com as
análises biométricas e morfológicas do sêmen de touros da raça Gir. Foram utilizados 34 touros da
raça Gir (Bos taurus indicus) aptidão leiteira, hígidos, com 17 a 31 meses de idade e 450 kg de
massa corporal média. Os touros foram submetidos a exame andrológico (avaliação física incluindo
biometria testicular e morfológica do sêmen), seguido pela classificação andrológica por pontos
(índice CAP). Foram realizadas três coletas independentes para avaliar a qualidade espermática por
touro durante o período do experimento. De acordo com a avaliação do índice CAP, os animais
foram classificados como excelentes (17 %) e muito bons (83 %). O índice CAP correlacionou-se
positivamente com o perímetro escrotal e as características físicas do sêmen.
Palavras-chave: Andrologia, biometria, perímetro escrotal, sêmen, zebuínos
Abstract
Reproductive efficiency should be evaluated in dairy farms, when they are related to reproductive
problems in both female and male. Breeding is among factors that affect herd productivity and
draws attention by low rates of traditional livestock breeding. The aim was to study sperm
evaluation tool known as the CAP index and its correlation with the biometric and morphological
analyzes of Gir bulls semen. Thirty four healthy Gir bulls (Bos taurus indicus), dairy fitness, with
17 to 31 months of age with 450 kg of body mass were used. The bulls were submitted to
andrological examination (physical evaluation including testicular biometry and semen
morphological analysis) follow by andrological classification by points (CAP index). Three
independent collections were carried out to evaluate sperm quality per bull during the experiment
period According to the CAP index, animals were classified as excellent (17%) and as very good
(83%). The CAP Index correlated positively with scrotal perimeter and semen physical
characteristics.
Keywords: Andrology, biometrics, scrotal perimeter, semen, zebu.
Recebido em: 16 de dezembro de 2016.
Aceito em: 11 de dezembro de 2018
Introdução
A eficiência reprodutiva de machos e fêmeas deve ser avaliada em propriedades leiteiras para identificação de indivíduos com problemas reprodutivos visando minimizar perdas na produção. A reprodução está entre os fatores que afetam a produtividade dos rebanhos e chama atenção, em alguns momentos, pelos baixos índices reprodutivos na pecuária tradicional.
O número de animais subférteis e inférteis em serviço é de aproximadamente 40%(1). É chamado subfértil aquele animal, ou grupo de animais, no qual ocorre redução do potencial reprodutivo. Infértil é quando o touro apresenta, temporariamente, uma incapacidade reprodutiva. E estéril é o animal definitivamente incapacitado para a reprodução(2).
O sêmen de alguns touros pode apresentar valores espermáticos satisfatórios, mesmo assim pode apresentar baixa taxa de fertilidade. Esse fato pode estar relacionado a aspectos morfométricos, fisiológicos (integridade da membrana plasmática) e bioquímicos (qualidade do DNA do espermatozoide)(3).
Observa-se que o potencial reprodutivo de um touro é a soma de diversos fatores ligados à reprodução e, diante da importância das características andrológicas, notadamente aquelas ligadas ao perímetro escrotal (PE) e à qualidade do sêmen, têm sido propostos diferentes sistemas de pontuação que atuam como índices para a seleção andrológica.
Em vista disso, os touros podem ser avaliados e submetidos a sistemas de pontuação de tabelas por pontos que lhes confiram um ranking de classificação dependendo do seu potencial reprodutivo, como na classificação andrológica por pontos (CAP)(4).
Nesse sentido, a utilização do índice CAP pode ter um papel importante no auxílio da seleção de touros melhoradores e podem-se associar, dentre os pontos já apresentados, fatores que podem ser inerentes à reprodução, como idade, puberdade, qualidade do sêmen, perímetro escrotal e componente genéticos.
O objetivo foi estudar o uso da ferramenta índice de CAP na avaliação reprodutiva de touros da raça Gir aptidão leiteira submetidos ao teste de progênie.
Material e métodos
Este experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal da Universidade de Uberaba (protocolo CEEA-076/2014).
Trinta e quatro touros da raça Gir (Bos taurus indicus) aptidão leiteira, hígidos, com 17 a 31 meses de idade e 450 kg de massa corporal média, foram submetidos a exame andrológico (avaliação física e morfológica do sêmen e biometria testicular) e a classificação andrológica por pontos. O potencial reprodutivo dos touros foi avaliado durante prova classificatória do teste de progênie ABCGIL/Embrapa, com duração de 150 dias, entre novembro de 2013 e abril de 2014.
Todos os animais receberam o mesmo manejo alimentar com 4% do peso corporal, em kg de (matéria seca) MS, disponível para todo o período experimental, sendo preconizado o consumo 2,5% do peso corporal, animal-1 dia-1. O sistema de manejo dos touros no período foi semi-intensivo (lotação de 1UA/ha), em regime de pastejo com lotação rotacionado, contendo cinco animais por piquete, com um total de sete piquetes, com mesma dimensão e predominância de capim do gênero Pannicum sp, e fornecimento de água e mistura mineral ad libitum, em área de lazer com sombreamento artificial de 3 m²/animal.
Foram realizadas três coletas para o exame andrológico e qualidade espermática por touro durante o período experimental. As avaliações de biometria testicular foram realizadas com auxílio de fita métrica milimetrada (Walmur 80 cm), com posicionamento na região mediana escrotal, no ponto de maior dimensão, envolvendo as duas gônadas e a pele escrotal.
Para a coleta do sêmen foi utilizado o método de eletroejaculação (EE), empregando-se o aparelho eletroejaculador modelo Walmur boijector 65A. Os ejaculados foram coletados em tubos coletores graduados, acoplados a funis previamente aquecidos em estufa mantida a 37 °C.
Na avaliação de volume, utilizou-se de proveta graduada e, para a obtenção da concentração espermática, foi utilizada a câmera de Neubauer. Para a contagem das células na câmara, o sêmen foi diluído na razão de 1:200, em solução de formol-salina-tamponada, e levado para a microscopia de campo claro com objetiva de 40X. Posteriormente, uma gota de sêmen a fresco foi colocada entre lâmina e lamínula previamente aquecidas a 37ºC e em aumento de 400x para avaliação da motilidade espermática e do vigor segundo Diaset al.(2). Para a avaliação morfológica das características dos espermatozoides, uma alíquota de sêmen de cada ejaculado foi acondicionada em tubos tipo ependorff contendo 1,0 mL de solução de formol-salina-tamponada(5), em quantidade suficiente para turvar a amostra e esta foi estocada em temperatura ambiental e por período máximo de 48 horas. As análises morfológicas foram realizadas por meio de preparação úmida, com auxílio de microscopia de contraste de fase em aumento de 1000x, sob uma gota de óleo de imersão. Foram avaliadas 400 células por ejaculado, estas foram avaliadas quanto a defeitos espermáticos maiores, menores e totais, conforme os critérios utilizados por Blom(5).
Após a avaliação andrológica, os touros foram classificados quanto aos seguintes critérios: perímetro escrotal - até 40 pontos; aspectos físicos (motilidade espermática progressiva retilínea e vigor espermático) - até 25 pontos; morfologia espermática (defeitos maiores e totais) - até 35 pontos, que, somados, permitiram obter a classificação final em questionáveis, bons, muito bons e excelentes reprodutores (Tabela 1).
Após a pontuação individual por característica, foi realizada a classificação andrológica por pontos, também denominada como índice CAP.
Assim, conforme descrito por Fonseca e colaboradores (1997), as características dos animais seguem de acordo com os aspectos físicos e morfológicos do sêmen e são relacionadas com o perímetro escrotal em função da faixa etária, o que estabelece a classificação em quatro categorias: excelentes; muito bons; bons, e questionáveis.
Para chegar ao valor final da pontuação no índice CAP no presente trabalho, utilizou-se a média das três coletas realizadas, para cada um dos parâmetros avaliados (Tabela 1).
Na análise estatística, foi utilizado o programa Graphpad Prism 6.0 (Graphpad software Inc., San Diego, USA). Os diferentes parâmetros avaliados como motilidade espermática progressiva retilínea, vigor espermático, volume, concentração espermática, morfologia espermática, perímetro escrotal e índice CAP foram expressos em estatística descritiva com média e desvio-padrão. Foi realizado o teste de correlação de Pearson, que permitiu correlacionar o índice CAP aos demais parâmetros analisados, ao nível de significância de 5%.
Resultados e discussão
O valor médio de perímetro escrotal foi de 36,8±2,7 cm, muito próximo dos valores verificados por Martinez et al.(7), Pineda et al.(8) e Gottschall, et al.(9).
Hahn e colaboradores(10) observaram correlação positiva entre a mensuração testicular e a concentração espermática em touros da raça Holandesa.
Palasz et al. (11), avaliando touros Bos taurus indicus, verificaram correlação positiva entre perímetro escrotal e produção diária de espermatozoides. No presente trabalho, não foi observada correlação entre concentração espermática e perímetro escrotal (P>0,05).
Quanto ao volume do ejaculado, o valor médio obtido no experimento foi de 4,2 mL, estando semelhante ao trabalho reportado por Folhadella et al.(12) e Silva et al.(13). Todavia, é relatado na literatura que pequenas alterações no ejaculado podem ocorrer conforme o método de coleta (14).
Na análise dos dados, não houve correlação entre concentração espermática e volume (P>0,05). Entretanto, a metodologia adotada para a coleta, apesar de poder alterar características macroscópicas, não diminui a representação das características microscópicas estudadas (motilidade, vigor, patologia espermática), tendo em vista que não há alteração nas espermatogêneses(15).
Valentim et al (16) descreveram que a fisiologia funcional depende principalmente do diâmetro e do número de túbulos seminíferos e que a variação da característica pode estar associada à idade com que os touros atingem a maturidade sexual e não à forma de coleta.
Vince e colaboradores (17) vão mais além e apontam que fatores intrínsecos como o ambiente, a raça e a idade podem alterar de forma significativa parâmetros andrológicos, como motilidade e concentração espermática. O que corrobora os relatos de Thundathil et al(18), em que a taxa de fertilidade pode variar em até 20% entre touros classificados como excelentes reprodutores, pois há alterações nos aspectos microscópicos do sêmen.
O valor médio obtido para a concentração espermática por mL de sêmen de espermatozoides no ejaculado foi de 967,6 x 106 e volume total de 4,2mL (Tabela 2). Os valores de concentração espermática foram superiores aos valores reportados por Santos et al.(6) Já o número total de espermatozoides no ejaculado apresentaram-se dentro dos valores estabelecidos por Martinez et al(7) e Salvador et al.(19). Corroborando-se, assim, os valores médios estabelecidos pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal(20) mínimo365x 106/ml, para a concentração, e volume total do ejaculado (5- 8mL).
O valor médio para motilidade e vigor foi de 75,5% e 3,5 (Tabela 2), respectivamente, que corresponde, na classificação andrológica (Tabela 1), a muito bom e bom, respectivamente, de acordo com Fonseca(6).
Após a avaliação da correlação entre motilidade e vigor, verificou-se que esta foi positiva (r=0,72- P<0,05), semelhante à verificada por Vale Filho(4) e Martinez et al.(7).
A correlação entre motilidade e vigor pode ser explicada por serem variáveis dependentes do metabolismo espermático(5). Por conseguinte, também foi observada correlação significativa entre motilidade e defeitos totais (r= 0,40 P<0,05), como descrito na Tabela 3. A correlação baixa encontrada entre motilidade e defeitos totais define-se por serem variáveis dependentes. A literatura registra que uma alteração na espermatogênese, como um aumento da temperatura ambiente ou corpórea, promove de forma significativa uma alteração na qualidade morfológica das células espermáticas, com interferência na produção e na viabilidade do espermatozoide (17).
De acordo com a avaliação do índice CAP, foi observado que 17% dos animais apresentaram classificação como excelentes e 83% foram classificados como muito bons. A classificação andrológica por pontos correlacionou-se positivamente (P<0,05) com o perímetro escrotal e as características físicas do sêmen.
Verificaram-se as correlações entre CAP e perímetro escrotal (r=0,53); entre CAP e motilidade (r=0,42); entre CAP e vigor espermático (r=0,55), e entre CAP e defeitos totais (r=0,14) (Tabela 3). Na correlação de CAP e idade, observou-se que não houve correlação (p>0,05).
A correlação entre perímetro escrotal e CAP (r= 0,53 - P<0,05) corrobora de forma positiva as avaliações de defeitos totais e CAP (r= 0,14 - P<0,05), mesmo que o coeficiente de correlação seja menor, quando comparado ao perímetro escrotal. Esta análise é justificada, uma vez que não há correlação entre o perímetro escrotal e defeitos totais (P>0,05). Este resultado também foi reportado por Johnson et al,(21) que encontraram correlação semelhante do CAP com defeitos totais.
Assim como Vale Filho(4), este trabalho enfatiza que a relação do CAP, como um sistema de avaliação, por sua facilidade e praticidade de programação, pode ser utilizado na seleção de bovinos da raça Gir com aptidão leiteira.
Conclusões
Com base nos resultados encontrados, concluiu-se que a classificação andrológica por pontos apresenta correlação positiva com perímetro escrotal e características físicas do sêmen, sendo possível e importante o seu uso como ferramenta na avaliação reprodutiva de touros da raça Gir aptidão leiteira, candidatos ao teste de progênie.
Agradecimentos
Agradecemos à Associação Brasileira de Criadores de Gir (ABCGIL), pela parceria e pelo apoio na execução do presente trabalho, e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minais Gerais (FAPEMIG).
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