EFEITO
DA SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA SOBRE OS PARÂMETROS
CLÍNICOS E PARASITOLÓGICOS DE CORDEIROS MANTIDOS EM
PASTAGEM DE TIFTON 85
Daniel Maia Nogueira,1 Tadeu Vinhas Voltolini2 e José Nilton Moreira3
1. Pesquisador da Embrapa Semiárido, Petrolina, PE. E-mail: daniel@cpatsa.embrapa.br
2. Pesquisador em Produção Animal na Embrapa Semiárido, Petrolina, PE
3. Pesquisador em Sistemas de Produção Animal da Embrapa Semiárido.
RESUMO
A suplementação proteica pode ser uma importante
ferramenta para os sistemas de produção de ovinos em
pastagens tropicais. Objetivou-se com este trabalho avaliar os
parâmetros clínicos e parasitológicos de ovinos
mantidos em pastagem de Tifton 85 (Cynodon dactylon)
irrigada, recebendo suplementos com diferentes fontes proteicas. Foram
utilizados 28 ovinos castrados e mestiços, distribuídos
homogeneamente em quatro tratamentos. Além do controle
não suplementado, os tratamentos avaliados foram: farelo de
soja, ureia e torta de algodão. Realizou-se a
vermifugação dos animais de acordo com o método
Famacha©. Não houve diferença significativa
(P>0,05) entre os tratamentos para o consumo de matéria seca
total, ganho médio diário e ganho de peso total. Foi
observado maior consumo de forragem (P<0,05) para os animais
mantidos exclusivamente em pastagem. Estes animais também
apresentaram maior contagem de ovos por grama de fezes (OPG)
(P<0,05) em comparação aos suplementados com ureia ou
com torta de algodão. Não houve diferença
significativa (P>0,05) para os diferentes tons de
coloração da conjuntiva nem para o número de
animais vermifugados. Observou-se uma prevalência de 72,0% a
83,0% de larvas de Trichostrongylus
sp. As diferentes suplementações proteicas não
influenciaram as características clínicas nem produtivas
dos animais.
PALAVRAS-CHAVES: Cynodon dactylon, endoparasitas, Famacha©, farelo de soja, torta de algodão, ureia.
ABSTRACT
EFFECT OF PROTEIN SUPPLEMENTATION ON THE CLINICAL AND PARASITOLOGICAL PARAMETERS OF LAMBS UNDER PASTURE OF TIFTON 85
The protein supplementation may be an important tool for sheep
production systems in tropical grazing. This work aimed to evaluate
parasitological and clinical aspects of lambs under irrigated pasture
of Tifton 85 (Cynodon dactylon)
and receiving supplementation from different protein sources.
Twenty-eight, castrated and crossbreed lambs, were used as animal
testers and allocated into four treatments. Besides the control with
exclusively use of pasture, the following treatments were evaluated:
soybean meal, urea and cottonseed meal. Deworming was accomplished
according to the Famacha© method. There was not significant
difference (P>0.05) between treatments for the total dry matter
consumption, daily weight gain and total weight gain. Forage dry matter
intake was higher (P<0.05) for animals fed exclusively with pasture.
These animals also showed greater number of fecal eggs per gram (EPG)
(P<0.05) when compared with urea or cottonseed meal supplementation.
There were no difference (P>0.05) for the different colors of ocular
mucous nor for the number of animals dewormed. A prevalence of 72.0 to
83.0% of Trichostrongylus sp. was found. The different protein sources did not influence clinical nor animal productive characteristics.
KEYWORDS: Cottonseed meal, Cynodon dactylon, endoparasites, Famacha©, soybean meal, urea.
INTRODUÇÃO
A produção de ovinos em pastagens tropicais pode ser uma
estratégia de produção animal importante para o
semiárido brasileiro. As condições de temperatura
e luminosidade ao longo do ano são atributos regionais que
permitem a obtenção de elevada produção de
forragem e altas taxas de lotação (NOGUEIRA, 2008).
Entretanto, tais condições também são
favoráveis à manutenção de significativa
população de larvas de helmintos nas pastagens, que
causam perdas econômicas, decorrentes das altas taxas de
mortalidade e da queda do desempenho produtivo dos animais, pois os
endoparasitas promovem a diminuição do consumo
voluntário de alimentos e prejuízos à
digestão e absorção de nutrientes (AMARANTE et al., 2007).
Estratégias visando à redução da
infecção parasitária das pastagens e dos animais
são de fundamental importância para garantir bons
desempenhos produtivos nos animais. A utilização de
drogas anti-helmínticas em todo o rebanho ou de forma supressiva
é normalmente o método de eleição utilizado
em trabalhos científicos e por profissionais da área de
produção animal. No entanto, com o aparecimento da
resistência anti-helmíntica, novas estratégias de
controle têm sido utilizadas (VIEIRA & CAVALCANTE, 1998;
MOLENTO, 2004; VIEIRA, 2008). Uma dessas estratégias é o
método Famacha©, que permite a avaliação da
mucosa ocular por meio dos diferentes tons de coloração,
variando de vermelho-robusto até o quase branco, que está
correlacionada com o grau de parasitismo por Haemonchus contortus,
nematódeos hematófagos do abomaso dos pequenos
ruminantes. Dessa forma, é possível realizar o controle
dos nematódeos reduzindo o número de
aplicações anti-helmínticas no rebanho (MOLENTO et al., 2004).
Outra estratégia é o uso da suplementação
alimentar, melhorando o aporte nutricional dos animais e promovendo
respostas satisfatórias na capacidade do hospedeiro de resistir
à infecção (KNOX & STEEL, 1999; VELOSO et al.,
2004). A suplementação proteica está associada com
a redução do número de ovos por grama de fezes e
com aumento da imunidade, com a produção de anticorpos
IgA, reduzindo a sobrevivência ou fecundidade dos
nematódeos gastrintestinais (STRAIN & STEAR, 2001;
Kyriazakis & Houdijk, 2006).
Diversos trabalhos já avaliaram o efeito da suplementação proteica com o farelo da soja (WALLACE et al., 1996; BRICARELLO et al., 2005) e com a ureia (DATTA et al.,
1998; KNOX & STEEL, 1999) para o controle de nematódeos
gastrintestinais. Todavia, são escassos os trabalhos que
avaliaram o efeito da suplementação com concentrado
utilizando diferentes fontes proteicas em associação ao
método Famacha© para o controle da verminose de ovinos
mantidos em pastagens irrigadas. Por outro lado, essa
informação é fundamental para o estabelecimento de
manejos parasitológicos visando à
exploração de ovinos em pastagens irrigadas, podendo ser
decisiva para a viabilidade econômica da atividade.
Objetivou-se com este trabalho avaliar os aspectos clínicos,
parasitológicos (monitorados pelo método Famacha©) e
produtivos de cordeiros mantidos em pastejo rotativo de capim Tifton 85
e suplementados com diferentes fontes proteicas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no sistema de produção de ovinos
em pastagens irrigadas do campo experimental de Bebedouro, pertencente
à Embrapa Semi-Árido, no município de Petrolina,
PE. Utilizaram-se 0,57 hectares de pastagem de capim Tifton 85 (Cynodon dactylon), dividida em 24 piquetes de 240 m2.
O período experimental foi de junho a setembro de 2007, com
duração de 84 dias, dividido em seis subperíodos
de quatorze dias. Empregaram-se 28 ovinos testers, machos, castrados,
mestiços Santa Inês x SRD (sem raça definida), com
peso corporal inicial de 28,2 ± 2,7 kg, cinco meses de idade e
número variável de ovinos reguladores, para o ajuste da
taxa de lotação.
Todos os animais foram vermifugados ao início do experimento e
divididos homogeneamente em quatro tratamentos, que corresponderam a
três diferentes fontes proteicas no suplemento concentrado: ureia
(UR), farelo de soja (FS) e torta de algodão (TA), além
do tratamento-controle, que consistiu no uso exclusivo da pastagem (PA).
O ciclo de pastejo foi de 24 dias, sendo um dia de
ocupação e 23 dias de descanso. Ajustou-se a taxa de
lotação a cada ciclo de pastejo. A oferta de forragem foi
estabelecida em 4,0 kg de matéria seca (MS) para 100 kg de peso
corporal por animal ao dia. A taxa de lotação variou de
56 a 60 ovinos por hectare entre os diferentes subperíodos.
Procedeu-se às análises bromatológicas da forragem
de acordo com SILVA & QUEIROZ (2002). Os animais foram
suplementados com 180 g de MS/cabeça/dia de concentrado, uma vez
ao dia, pela manhã. Os ingredientes utilizados para a
formulação dos concentrados foram: milho moído
fino, farelo de trigo, farelo de soja, ureia, torta de algodão e
suplemento mineral e vitamínico, sendo isoproteicos e
isoenergéticos (Tabela 1).
Formularam-se os concentrados para atingir teores de 20% de
proteína bruta e 73,8% de nutrientes digestíveis totais,
conforme o National Research Council (NRC, 2007).
Estimou-se o consumo de MS total por meio da coleta total de fezes, a
qual foi efetuada com o uso de bolsas acopladas aos animais. As coletas
foram realizadas durante três dias consecutivos, em intervalos de
28 dias. Para a coleta total de fezes, empregaram-se quatro ovinos por
tratamento, sempre os mesmos animais nos subperíodos.
Calculou-se o consumo de forragem como o consumo de matéria seca
total, subtraindo-se o consumo de matéria seca de concentrado,
de acordo com a metodologia de VOLTOLINI et al. (2009).
A cada quatorze dias, procedeu-se à pesagem dos animais,
à avaliação da conjuntiva pelo método
Famacha© e à colheita de fezes para contagem de ovos por
grama de fezes (OPG), no início da manhã, antes da
alimentação. A avaliação da
coloração da conjuntiva foi realizada por meio da
comparação dos diferentes tons de cores, desde o
vermelho-robusto até o quase branco, representada com valores de
1 a 5, de acordo com o método Famacha©. Α
indicação do tratamento antiparasitário seguiu
rigorosamente o método, ou seja, foram vermifugados os animais
que apresentaram coloração da mucosa ocular com valores
3, 4 ou 5, bem como os animais que apresentaram sinais de diarreia
(MOLENTO et al., 2004).
Iniciou-se o experimento sob as mesmas condições
parasitológicas, com todos os animais vermifugados. Foi
utilizado um anti-helmíntico com eficácia comprovada
à base de closantel (Diantel©, IRFA Ltda, Brasil). As
aplicações anti-helmínticas foram realizadas de
acordo com o peso vivo registrado no mesmo dia.
Realizou-se a contagem do OPG segundo a técnica proposta por
GORDON & WHITLOCK, modificada por UENO & GONÇALVES
(1998). A identificação dos gêneros das larvas
infectantes (L3) foi realizada por meio de coprocultura, segundo
ROBERTS & O`SULLIVAN (1950). Na coprocultura, agruparam-se as
amostras de acordo com a coloração da mucosa ocular, com
a finalidade de identificar a prevalência de larvas L3 em cada
grau de coloração, de acordo com o cartão
Famacha©.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com
quatro tratamentos e seis repetições por tratamento.
Compararam-se as porcentagens de animais sadios, medianos,
anêmicos e vermifugados, bem como as larvas L3 entre os
tratamentos, usando-se o teste do Qui-quadrado. Para essas
variáveis, foi considerado no modelo estatístico apenas o
efeito dos tratamentos. Analisaram-se as variáveis de OPG,
consumo de matéria seca total, consumo de forragem, ganho
médio diário, ganho de peso total por meio do SAS (1999),
sendo as comparações entre médias efetuadas pelo
teste de Tukey, com nível de significância de 5%,
adotando-se o seguinte modelo estatístico:
Yij= µ + SPj + Tj +eij,
Sendo:
Yij = variáveis observadas;
µ = média geral;
SPi = efeito do subperíodo j, (sendo j = 1, 2, 3, 4, 5 e 6);
Tj = efeito do tratamento j, (sendo j = 1, 2, 3 e 4);
eij = erros associados às observações Yij.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A composição bromatológica da pastagem apresentou
10,8 ± 3,1% de proteína bruta, 73,7 ± 8,4% de
fibra em detergente neutro e 48,3 ± 5,3% de digestibilidade in
vitro da matéria seca. Não foram observados efeitos
significativos (P>0,05) dos tratamentos para o consumo de
matéria seca total, ganhos médios diários e ganhos
de peso total (Tabela 2).
No presente estudo, os animais apresentaram um ganho médio diário que variou de 60,0 a 95,0 g/animal/dia (Tabela 2). WALLACE et al.
(1996) avaliaram a influência da suplementação de
ovinos, 180 g de MS/cabeça/dia, à base de farelo de soja
contendo 172 g de proteína bruta sobre o desempenho produtivo e
controle da verminose, e observaram um ganho de peso médio de
115,0 g/dia vs. 90,0 g/dia, respectivamente, para o grupo suplementado
e o grupo com dieta basal, não havendo diferença
significativa entre os grupos. Além disso, segundo os mesmos
autores, foi observada uma redução significativa do OPG
de 8.000 para 2.000 no grupo suplementado.
Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que as fontes
proteicas tiveram papel importante na redução do OPG,
visto que os animais que consumiram suplementos concentrados
apresentaram OPG abaixo de 1.500. Mesmo com menores contagens de OPG e
um melhor aporte de nutrientes via suplemento concentrado, os animais
suplementados não apresentaram maiores ganhos de peso em
relação àqueles mantidos exclusivamente em
pastagem. Uma possível justificativa para esse resultado
é o efeito de substituição da forragem pelo
concentrado. Afinal, foi observado um maior consumo de forragem
(P<0,05) nos ovinos mantidos exclusivamente em pastagem em
comparação com aqueles que receberam
suplementação proteica (Tabela 2).
A contagem média de OPG foi maior (P<0,05) nos animais
mantidos exclusivamente em pastagem em comparação com
aqueles que receberam suplementos contendo ureia e torta de
algodão como fontes proteicas (Tabela 2).
A maior contagem de OPG no grupo mantido em pastagem pode ser explicada
pelo maior consumo de foragem, que significa maior ingestão de
larvas L3, maior número de parasitas adultos e,
consequentemente, maior OPG.
A contagem média de 2.258 ovos nos animais mantidos em pastagem
não afetou o consumo de matéria seca total nem o
desempenho produtivo dos animais. Portanto, embora a média do
OPG tenha sido elevada, a carga parasitária pode não ter
sido elevada o suficiente para afetar o desempenho produtivo dos
animais em comparação aos demais grupos.
Corroborando com esses resultados, VIEIRA et al.
(2007) verificaram que animais com contagens de OPG acima de 1.500
não necessitaram de tratamento anti-helmíntico, pois
não apresentam sinais de anemia, de acordo com as
avaliações da conjuntiva. De forma semelhante, CHAGAS et al.
(2008) realizaram a aplicação anti-helmíntica
somente nos animais com valores de OPG igual ou acima de 4.000 e
verificaram que essa metodologia foi capaz de controlar de maneira
satisfatória os endoparasitas de ovinos. Esses dados podem ser
contraditórios aos apresentados por UENO & GONÇALVES
(1998), que classificaram as infecções por
nematódeos gastrintestinais como grau leve na faixa de 500 a 800
ovos, moderado de 800 a 1.500 ovos e elevado cima de 1.500 ovos,
necessitando, neste último, de intervenções de
controle anti-helmíntico. Dessa forma, verifica-se que o
resultado do OPG pode apresentar uma variabilidade muito grande ao
longo do dia ou durante o curso de uma infecção. Apesar
desses inconvenientes, o OPG é um método prático,
rápido e simples, que não requer o sacrifício dos
animais (VIEIRA & CAVALCANTE, 1998).
No presente trabalho, os animais suplementados com torta de
algodão, contendo 20% de proteína bruta, apresentaram um
ganho médio diário de 95 g/dia e uma média de OPG
de 673 (Tabela 2). Esses resultados foram similares aos obtidos por DATTA et al.
(1998), que avaliaram o efeito da suplementação com 10%,
13%, 16% e 19% e 20% de proteína bruta, com ingredientes
à base de caroço de algodão, cevada e ureia, e
observaram que os ovinos suplementados com 19% e 20% de proteína
bruta apresentaram melhor um desempenho produtivo (110,0 g/dia) e menor
número de OPG (1.000 ovos) que os animais suplementados
com 10%, 13% e 16% de proteína bruta.
Os ovinos suplementados com 4% de ureia apresentaram um ganho
médio diário de 60 g/dia e uma média de OPG de
1.085 (Tabela 2).
De forma semelhante, KNOX & STEEL (1999) observaram que ovinos
Merinos parasitados com H. contortus e T. colubriformis e suplementados
com 3% de ureia apresentaram um ganho médio diário de 41
g/dia e menor contagem de OPG (1.500 ovos) em comparação
ao grupo-controle.
BRICARELLO et al. (2005)
observaram que ovinos Santa Inês submetidos a uma dieta com 129 g
de proteína metabolizável/kg de matéria seca (129
g MP/ kg MS) apresentaram redução do número de
vermes adultos na necropsia. Portanto, a suplementação
proteica pode melhorar a capacidade de resistência do hospedeiro
à infecção, estando correlacionada positivamente
à produção de anticorpos e de eosinófilos
(DATTA et al., 1998; BRICARELLO et al., 2005) e correlacionada negativamente à contagem de OPG (KNOX & STEEL, 1999; VELOSO et al.,
2004). O aumento da resistência do animal limita o
estabelecimento de larvas infectantes, o crescimento e a fecundidade
dos nematódeos, ou até mesmo pode causar a
eliminação dos parasitas presentes (BRICARELLO et al., 2005,; AMARANTE et al., 2007).
NOGUEIRA et al. (2006) e NOGUEIRA et al.
(2008) avaliaram dois sistemas de engorda de ovinos mestiços
mantidos em pastagens de capim-aruana irrigado e adubado com diferentes
doses de nitrogênio, sendo que, no primeiro trabalho, foi
avaliada uma vermifugação supressiva mensal e, no segundo
trabalho, o método Famacha©. No primeiro sistema de
engorda, o ganho médio diário variou de 100,0 a 102,0
g/animal/dia, enquanto que, no segundo, os ganhos variaram de 16,1 a
40,7 g/animal/dia. As contagens de OPG variaram de 355 a 737 no
primeiro sistema, e de 1.667 a 3.318 no segundo.
No presente estudo, comparando os animais mantidos exclusivamente em
pastagem e com o uso do método Famacha©, observa-se que os
desempenhos produtivos e os altos valores de OPG foram semelhantes aos
obtidos por NOGUEIRA et al. (2008).
Dessa forma, pode-se imaginar que a vermifugação
supressiva é mais eficiente, mostrando-se, em curto prazo, capaz
de controlar os nematódeos gastrintestinais e promover a
melhoria no ganho de peso. Todavia, é errôneo pensar que
os tratamentos que visam eliminar os parasitas no hospedeiro antes que
este complete seu ciclo de vida seja eficaz indefinidamente. Os
sobreviventes desses tratamentos serão indivíduos
potencialmente aptos a suportar qualquer esquema de tratamento e,
assim, contaminarão a pastagem com uma nova e vigorosa
população resistente (MOLENTO, 2004).
Na Tabela 3
estão apresentadas as porcentagens de conjuntivas sadias,
medianas, anêmicas e número de animais vermifugados
durante o período experimental.
Considerando todos os subperíodos avaliados pelo método
Famacha©, não houve diferença significativa
(P>0,05) para os diferentes tons de coloração da
conjuntiva nem para o número de animais vermifugados (Tabela 3).
O número médio final dos animais vermifugados variou de
seis (12,2%) a doze (24,4%). Desse modo, o uso do método
Famacha© promoveu uma redução de 75,6% a 87,8% no
número de aplicações anti-helmínticas,
considerando que 100% dos animais fossem vermifugados supressivamente
uma vez durante o período experimental. Esses resultados
são semelhantes aos reportados por GAVIÃO et al. (2004) e MOLENTO et al.
(2004), que também observaram reduções nas
quantidades de dosificações e dos custos da ordem de
75,6%, em comparação com a vermifugação
supressiva.
Numericamente, embora sem diferença significativa, os ovinos
mantidos exclusivamente em pastagem apresentaram a menor porcentagem de
sadios e o maior número de vermifugações. Ao longo
dos subperíodos avaliados, a porcentagem de animais sadios
variou de 42,9% a 100%, animais medianos de 14,3% a 51,7% e de animais
anêmicos de 0,0% a 14,3% (Tabela 3).
Ou seja, os animais estavam em boas condições
clínicas, com baixa incidência de animais anêmicos
ou sem diarreia, explicando, portanto, o reduzido número de
aplicações anti-helmínticas. Dessa forma, o
monitoramento pelo método Famacha©, associado à
alimentação adequada e ao período do ano, permitiu
a redução dos animais anêmicos e o controle do OPG.
NOGUEIRA et al. (2006)
avaliaram os aspectos clínicos de cordeiros mantidos em pastejo
irrigado, utilizando a vermifugação supressiva mensal, e
observaram que a porcentagem média de animais sadios, medianos e
anêmicos foi, respectivamente, de 47,5%, 42,1% e 10,3%. Em
condições experimentais semelhantes, todavia utilizando o
método Famacha©, NOGUEIRA et al.
(2008) verificaram que a porcentagem média de animais sadios,
medianos e anêmicos foi, respectivamente, de 44,2%, 42,1% e
13,65%.
Os resultados do presente estudo, juntamente com os resultados de NOGUEIRA et al.
(2006, 2008), podem demonstrar que a incidência de animais
sadios, medianos ou anêmicos não depende do método
de controle anti-helmíntico, mas do agente causador da anemia.
Em pequenos ruminantes, o principal causador da anemia é o
nematódeo Haemonchus contortus,
que é hematófago. É importante ressaltar que a
anemia pode ter outras causas, como subnutrição,
fasciolose, cisticercose ou características individuais dos
animais. Além disso, uma mucosa ocular muito vermelha
também pode ser causada por estresse, febre, calor excessivo ou
irritação (CHAGAS et al., 2008).
Através da coprocultura foi possível identificar os tipos
de larvas L3 que estavam infectando os animais. Registrou-se em todas
as colorações da mucosa ocular uma prevalência de
72,0% a 82,0% de larvas de Trichostrongylus spp., seguido de 17,0% a 24,0% de larvas de Haemonchus spp. e 2,0% a 9,0 % de Oesophagostomum spp. (Tabela 4).
Através da Tabela 4, observa-se que o Haemonchus
spp. pode não ter sido a principal causa da anemia nos ovinos,
já que os animais de mucosas rosa-pálido (4) ou branca
(5) apresentaram uma porcentagem de 24% de Haemonchus spp. e 72% de Trichostrongylus
spp. Também pode ser observado que os animais sadios, de mucosa
vermelho-robusto (1) e vermelho-rosado (2), apresentaram resultados
semelhantes (Tabela 4). Esses resultados evidenciam que os animais clinicamente sadios podem apresentar alta infecção de Trichostrongylus spp. e, consequentemente, apresentar redução do desempenho produtivo.
Trichostrongylus spp.
não é hematófago, portanto, não causa
anemia. Segundo HOLMES (1985), infecções graves de Trichostrongylus
causam enterites severas, atrofia das vilosidades do epitélio
intestinal, espessamento e erosão da mucosa. Dessa forma, os
animais infectados por esses nematódeos, além de
apresentarem alta morbidade, são fontes de
contaminação das pastagens e dos próprios animais.
Os resultados do presente trabalho corroboram os dados de QUADROS (2004) e NOGUEIRA et al. (2008). QUADROS (2004) observou uma prevalência que variou de 40,0% a 80,0% para as larvas infectantes de Trichostrongylus spp., seguido de 48,0% a 68,7% para Haemonchus spp. em pastagens de capim-tanzânia, capim-estrela-africana e capim-adropógon. NOGUEIRA et al. (2008) observaram uma prevalência de 80% a 93,0% de larvas de Trichostrongylus
spp. em pastagens irrigadas no Vale do São Francisco. Esses
resultados contrastam com outros estudos desenvolvidos em áreas
de sequeiro do semiárido Nordestino, que revelaram que mais de
80,0% da carga parasitária de caprinos e de ovinos é
composta por Haemonchus contortus (GIRÃO et al., 1992; AROSEMENA et al., 1999).
Portanto, antes da decisão pela utilização do
método Famacha©, deve ser recomendada a
realização de coproculturas para
determinação do tipo de larvas infectantes na pastagem.
Afinal, a eficácia do método é maior quando a
prevalência do H. contortus
representar, pelo menos, 60% da carga parasitária, sendo o
principal responsável causador da anemia nos animais (CHAGAS et al., 2007; CHAGAS et al., 2008).
A avaliação clínica da mucosa ocular por meio do
cartão Famacha© não deve ser usada como única
base para monitoramento da verminose de ovinos em pastagens irrigadas e
adubadas. Segundo MOLENTO (2004), o método Famacha© deve
estar associado ao conjunto de técnicas de um sistema integrado
de controle parasitário. Por último, foi observado que a
análise de coprocultura é fundamental auxiliar no
monitoramento e controle da verminose.
CONCLUSÕES
As diferentes suplementações proteicas não
influenciaram os parâmetros clínicos nem o desempenho
produtivo dos animais, no entanto, pela redução do OPG,
parecem ter melhorado a capacidade dos ovinos de resistir aos
nematódeos gastrintestinais. O método Famacha© foi
eficaz quanto à redução do número de
aplicações anti-helmínticas.
AGRADECIMENTOS
Ao técnico de laboratório Reginaldo Teixeira Filho, da
Embrapa Semi-Árido, pela realização das
análises de OPG e coprocultura.
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Protocolado em: 18 jul. 2008. Aceito em: 4 ago. 2008.