Este estudo teve por objetivo
comparar o uso de um análogo da PGF2α à associação de progestágeno
(MAP) com gonadotrofina coriônica equina (eCG) na sincronização do
estro em ovelhas da raça Santa Inês. Foram utilizadas 38 fêmeas ovinas
submetidas a dois protocolos de sincronização de estro, com os
seguintes protocolos: PGF2α (duas doses de 0,53 mg de D-cloprostenol
com nove dias de intervalo) e protocolo MAP+eCG (pessário intravaginal
com 50 mg de acetato de medroxiprogesterona por doze dias e no momento
da remoção do dispositivo aplicação de 250 UI de eCG, IM).
Submeteram-se as ovelhas aos diferentes protocolos, com intervalo de
dois ciclos estrais. Procedeu-se a uma ultrassonografia transretal no
último dia do protocolo, para avaliação do diâmetro do maior e do
segundo maior folículo, e à coleta de sangue no dia sete do ciclo
estral, para avaliação da concentração sérica de P4. Exame
laparoscópico foi realizado no dia 11, após o fim dos protocolos, para
contagem de corpos lúteos. Para os parâmetros taxa de sincronização,
diâmetro do maior e do segundo maior folículo, período do final do
protocolo ao estro e taxa de ovulação, não se observaram diferenças
entre os mesmos. Foi observado que o protocolo MAP+eCG produziu
concentrações séricas de P4 maiores do que o protocolo PGF2α (3,9 e 2,8
ng/mL, respectivamente, P<0,05). Nas condições do presente estudo,
embora o protocolo MAP+eCG tenha apresentado superioridade em relação à
concentração sérica de P4, o protocolo PGF2α foi tão eficiente quanto
aquele em sincronizar o estro.
PALAVRAS-CHAVES: Diâmetro folicular, ovino, progesterona sérica, taxa de sincronização.
ESTRUS SYNCHRONIZATION WITH
PROSTAGLANDIN F2α COMPARED TO PROGESTOGEN TREATMENT ASSOCIATED WITH
EQUINE CHORIONIC GONADOTROPIN (eCG) IN SANTA INÊS BREED EWES REARED IN
FEDERAL DISTRICT, BRAZIL
The aim of this study was to compare
two protocols of estrus synchronization in Santa Inês ewes.
Thirty-eight ewes were randomly divided into two groups of estrus
synchronization: protocol PGF2α (two doses of 0.530 mg of PGF2α, nine
days apart) and protocol MAP+eCG (intravaginal sponge impregnated with
medroxyprogesterone acetate, for 12 days, and then an injection of 250
IU of eCG). The experiment was in a cross-over design, two estrous
cycles apart. On the final day of protocol, a transrectal ultrasound
examination was carried out to measure the size of the largest and
second largest ovarian follicles and on day 7 of estrous cycle blood
was collected to measure serum P4 concentration. Laparoscopy was
carried out on day 11 after the end of protocols to count corpora
lutea. Synchronization rate, size of largest and second largest ovarian
follicles, interval between the end of the protocol to estrus and
ovulation rate did not differ between protocols. Ewes synchronized with
MAP+eCG had greater serum P4 concentrations than ewes synchronized with
PGF2α (3.9 and 2.8 ng/mL, respectively, P<0.05). Based on the
results, it may be concluded that, although the protocol MAP+eCG was
superior in inducing higher serum concentration of P4, the protocol
PGF2α was equivalent regarding estrus synchronization.
KEYWORDS: Follicle size, serum progesterone, sheep, synchronization rate.
INTRODUÇÃO
A ovinocultura é uma atividade em crescimento, assinalando-se um
incremento no número de cabeças na região Centro-Oeste (8.325 no ano de
2000 para 19.000 no ano de 2006), segundo dados do IBGE (2006). A
atividade pecuarista está com interesse nessa espécie para criação,
produção e consumo, principalmente porque as carnes ovinas oferecidas
têm sido de animais novos e mediante cruzamentos industriais que
proporcionam carne mais saborosa.
Das raças criadas no país, destaca-se a Santa Inês, uma raça deslanada,
de grande porte, proveniente do Nordeste brasileiro e que se adapta
facilmente a qualquer sistema de criação e pastagem. Além disso, possui
uma boa conformação de carcaça e se destaca por ser bastante fértil,
prolífica, precoce, rústica e resistente a parasitas gastrointestinais.
Essa raça vem adquirindo grande importância na ovinocultura moderna,
sendo utilizada tanto pura quanto para cruzamentos industriais.
A adaptabilidade da raça Santa Inês é uma característica relevante
quando se trata de um país como o Brasil. Suas dimensões continentais e
suas regiões, dadas as diversas características e climas diferentes,
podem causar alterações na ciclicidade dos animais. Também a
estacionalidade reprodutiva recebe muitas influências, tais como
fotoperíodo, nutrição, idade, raça entre outras. Destaca-se que a
escolha de raças adequadas às condições ambientais locais é um dos
fatores preponderantes para o sucesso de um sistema de criação
economicamente viável. Portanto, torna-se fundamental o estudo da raça
Santa Inês na região do Distrito Federal, visando à obtenção de um
maior conhecimento do rendimento dessa numa região de clima tropical,
com verão úmido e chuvoso e um inverno seco e frio, ocasião em que a
pastagem reduz drasticamente.
A sincronização de estro em ovinos é uma biotécnica reprodutiva que
permite a concentração da inseminação e da parição em épocas desejáveis
dentro dos sistemas de produção (EVANS & MAXWELL, 1987). Trata-se
de técnica que tem sido utilizada em pequenos ruminantes, por meio do
uso de esponjas intravaginais impregnadas com progestágenos, tais como
acetato de fluorogestona (FGA) e acetato de medroxiprogesterona (MAP),
prostaglandina F2α (PGF2α), gonadotrofina coriônica equina (eCG),
implante intravaginal de progesterona (P4; CIDR), consorciados ou não
(DIAS
et al., 2001).
O protocolo mais utilizado é a associação de P4 com eCG, que pode ser
utilizado tanto na estação reprodutiva quanto fora dela, para estimular
a ovulação (EVANS & ROBINSON, 1980; EVANS & MAXWELL, 1987;
RUBIANES
et al., 1998). Os
protocolos desenvolvidos recomendam manter o dispositivo vaginal de P4
por períodos de doze a quatorze dias. Esses protocolos resultam em
altas taxas de indução de estros nos animais tratados, porém com baixa
fertilidade. Isso ocorre porque o tempo de manutenção do dispositivo
gera um excessivo período de crescimento do folículo e,
consequentemente, o envelhecimento do ovócito (VIÑOLES
et al.,
2001). Ademais, o uso excessivo de hormônios eCG pode provocar a
produção de anticorpos anti-eCG, o que acarreta a diminuição da
eficiência do tratamento hormonal (BARIL
et al., 1996).
Como alternativa para a sincronização de estro, pode ser empregado um
protocolo à base de PGF2α, que induz a regressão prematura do corpo
lúteo por meio da interrupção da fase progestacional do ciclo estral,
iniciando, assim, um novo ciclo (HERRERA
et al.,
1990). O protocolo, que utiliza duas doses de PGF2α, é uma alternativa
ao produtor, para implementação da sincronização de estro na
propriedade, como uma forma de aumentar a eficiência reprodutiva e
proporcionar a redução nos custos com outros manejos, como sanitários,
por concentrar os lotes com as mesmas exigências em um mesmo período e
por reduzir os custos com mão de obra.
No presente estudo objetivou-se comparar o protocolo de sincronização
de estro à base de PGF2α ao protocolo com MAP associada à eCG.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado na Fazenda Água Limpa da UnB, situada em
Brasília, DF, localizada a 15°46’ de latitude Sul e a 47°55’ de
longitude Oeste a uma altitude de 1.171 m, de clima tropical, no
período de julho a outubro de 2007. Utilizaram-se 38 fêmeas ovinas não
gestantes e não lactantes da raça Santa Inês, examinadas quanto ao
estado clínico geral, sanitário e reprodutivo, com um padrão de escore
corporal entre 3 e 4, na escala de 1 a 5 (WHITE & RUSSEL, 1984). As
ovelhas foram inicialmente avaliadas quanto à ciclicidade estral e
manifestação do estro mediante a utilização de um macho vasectomizado
(rufião). Mantiveram-se os animais em sistema intensivo, recebendo água
e sal mineral ad libidum e silagem de milho. Antes do início do
experimento, os animais foram mantidos juntos por 45 dias, com o
objetivo de proporcionar condições de adaptabilidade ambiental e o
mesmo nível nutricional.
Em uma primeira etapa, dividiram-se os animais aleatoriamente em dois
grupos, sendo submetidos a dois protocolos de sincronização (o primeiro
dia do protocolo foi denominado D0). No protocolo PGF2α, aplicaram-se
duas doses de PGF2α IM (0,530 mg de D-cloprostenol, Ciosin;
Schering-Plough, São Paulo) com intervalo de nove dias (D0 e D9) e no
protocolo MAP+eCG utilizaram-se pessários vaginais (BIOREP, UFSM, RS;
D0) contendo 50 mg de MAP inseridos na porção cranial da vagina por
meio de um aplicador específico para fêmeas ovinas, permanecendo nela
por doze dias. No momento da retirada dos pessários (D12), as ovelhas
receberam 250 UI de eCG IM (Novormon; Schering-Plough, São Paulo). Ao
fim do protocolo as ovelhas foram mantidas na presença de um macho
vasectomizado, previamente testado, pintado com uma mistura de óleo e
tinta em pó por todo o peito para marcação das fêmeas em estro. O macho
vasectomizado permaneceu com as 38 fêmeas até a última manifestação de
estro. As ovelhas foram observadas duas vezes ao dia (7:00 e 19:00 h)
por um período de sessenta minutos em cada observação e consideradas em
estro quando se observava o rufião montando e a fêmea permanecendo
parada e/ou quando havia tinta na região da garupa da fêmea.
No D9 do protocolo PGF2α e no D12 do protocolo MAP+ECG, avaliaram-se os
ovários por ultrassonografia transretal com auxílio da técnica de
laparoscopia. As ovelhas foram preparadas para laparoscopia, sendo
mantidas previamente em jejum alimentar de 24 horas e hídrico de doze
horas . Posteriormente, eram posicionadas em uma cama cirúrgica em
decúbito dorsal, de modo a manter a cabeça inclinada para baixo e
formando um ângulo de 45º. Procedeu-se à tricotomia e à antissepsia do
abdômen, e nos locais onde foram inseridos os trocáteres,
infiltraram-se 5,0 mL de lidocaína a 2,0%. A cavidade abdominal foi
distendida com dióxido de carbono, e com o laparoscópio (7,5 mm e 30º
Storz) visualizou-se o útero e fez-se apreensão dos ovários com pinça
atraumática. Ao mesmo tempo, injetou-se carboximeticelulose com auxílio
de uma seringa de 20 mL no reto, introduzindo-se um transdutor linear
bifrequencial (6,0 e 8,0 MHz) do aparelho de ultrassom Falco 100 (Pie
Medical, Nutricell, São Paulo). Acoplou-se o transdutor a um cano de
pvc, para facilitar o seu manuseio no reto dos animais. As imagens
foram obtidas na frequência de 8,0 MHz. Quando visualizadas, as imagens
ovarianas eram congeladas, para a mensuração dos dois maiores folículos
nos ovários.
Logo após o procedimento, retiraram-se o dióxido de carbono, por
pressão abdominal, assim como o transdutor e os trocáteres. Os locais
de punção receberam oxitetraciclina em forma de aerossol e pomada
cicatrizante. As ovelhas foram retiradas da cama cirúrgica e
encaminhadas a um piquete provido de água e alimento.
Após onze dias (D20, protocolo PGF2α e D23, protocolo MAP+eCG) do final
do protocolo, os animais foram submetidos à técnica de laparoscopia,
conforme descrito anteriormente, para avaliação e contagem dos corpos
lúteos.
Efetuaram-se coletas de sangue de todos os animais, para determinação
sorológica da concentração de P4 sete dias após a observação do estro,
sendo feitas por punção da veia jugular, em tubos a vácuo, os quais
foram acondicionados a 5ºC até a centrifugação, no dia seguinte à
coleta. Logo após, o soro foi aspirado e estocado em tubos cônicos de
2,0 ml a -20ºC até a análise. Determinaram-se as concentrações séricas
de P4 pela técnica de radioimunoensaio (RIA), por meio da utilização de
kits comerciais (Coat-a-count, DPC, Diagnostic Products Co, Los
Angeles, CA, USA) e seguindo as recomendações do fabricante. O
coeficiente de variação intraensaio foi de 4,6%, obtido em teste
realizado no laboratório de Reprodução Animal da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia.
Para a segunda etapa, após um período de dois ciclos estrais, os
animais foram ressincronizados, de modo a se alternar os tratamentos.
Testaram-se as variáveis analisadas quanto à sua normalidade e
homocedasticia pelos testes de Lilliefors e Cochran, respectivamente.
Procedeu-se à análise das variáveis que apresentaram distribuição
normal e homocedasticia (concentração sérica de P4) pelo teste t
pareado. Procedeu-se à análise das variáveis que não apresentaram
distribuição normal pelo teste não paramétrico de Wilcoxon. As
variáveis binomiais foram comparadas pelo teste Qui-quadrado. Para a
discussão, utilizou-se o grau de significância de P ≤ 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todas as ovelhas utilizadas no experimento foram detectadas em estro após a utilização de ambos os protocolos de sincronização (
Tabela 1). No trabalho de MENCHACA
et al.
(2004), foi observado comportamento de estro dentro de 72 horas após a
segunda dose de PGF2α em 93,9% das fêmeas multíparas e em 82,4% das
nulíparas. GODFREY
et al. (1997) observaram que, dentro de três dias, 71,4% das fêmeas entraram em estro após a segunda aplicação de PGF2α. RODRIGUES
et al.
(2004), estudando diferentes doses de eCG após a retirada do pessário
vaginal em ovelhas deslanadas, observaram 100% de manifestação de estro
nas ovelhas com dose de 200 UI de eCG. Resultado semelhante foi
relatado por AINSWORTH & WOLYNETZ (1982), em que se verificou estro
em 96% das ovelhas tratadas com MAP+eCG. DIAS
et al.
(2001) obtiveram 76,7% de ovelhas em estro após aplicação de 200 UI de
eCG. Essa maior taxa de detecção de estro do presente estudo, em
relação a alguns dos trabalhos citados, pode ser devida à introdução de
um macho no mesmo dia do final dos protocolos, além da excelente
condição corporal dos animais. Segundo YILDIZ
et al.
(2003), o estado nutricional das ovelhas também influencia a secreção
de LH. As medidas de escore de condição corporal refletem o grau e
armazenamento de energia do animal e estão relacionadas à eficiência
reprodutiva, à taxa de mortalidade das crias e aos melhores resultados
em programas de sincronização de estro.
Quando se trata do período de tempo entre o fim dos protocolos ao estro
não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos PGF2α e MAP+eCG (
Tabela 1),
apesar de GREYLING & BRINK (1987) terem afirmado que o uso de eCG
associado a progestágenos reduz o intervalo entre a remoção do implante
ao estro. Além disso, EVANS & ROBINSON (1980) observaram correlação
negativa entre a dose de eCG utilizada e o tempo para manifestação de
estro após o tratamento, com um decréscimo de 14 horas ao utilizar
doses maiores (0-1600 UI de eCG). Esses mesmos autores, quando
utilizaram 200 UI, observaram estro em ovelhas na contraestação com 48
horas do fim do tratamento. Nos estudos de GODFREY
et al.,
(1997) verifica-se uma contradição em relação às horas até a
manifestação do estro depois da segunda dose de PGF2α. Num primeiro
trabalho, os autores observaram 69,6 horas (GODFREY
et al., 1997), resultado similar aos obtidos no presente estudo, e num segundo trabalho observaram 31,6 horas (GODFREY
et al.,
1999), utilizando o mesmo protocolo. Esse contraste pode ser devido ao
diferente estágio de desenvolvimento folicular em que as ovelhas se
encontravam no momento do tratamento (VINÕLES & RUBIANES, 1998).
MENCHACA
et al. (2004), com
aplicações de duas doses de análogos da PGF2α dadas com sete dias de
intervalo, observaram uma taxa de sincronização boa, com 80% das
ovelhas com manifestação de estro entre 25 e 48 horas do tratamento.
Essa manifestação de estro ocorreu mais cedo do que se pôde observar no
presente estudo, entre 37 e 72 horas (
Figura 1 e
Tabela 2).
Essa diferença de resultados entre os experimentos pode se dever, pelo
menos parcialmente, ao intervalo de doze horas entre as observações de
estro neste estudo e à não observação constante.
Os resultados apresentados na
Tabela 2
também demonstram uma tendência de um número maior de fêmeas que
aceitam monta no período noturno (nos intervalos 37 a 48 horas e 61 a
72 horas). Há poucos relatos na literatura de observações desse tipo,
ou seja, de um possível efeito de ritmo circadiano no comportamento
estral.
o maior folículo observada ao exame ultrassonográfico ao fim do tratamento não diferiu entre os protocolos (P > 0,05) (
Tabela 1). CÁRDENAS
et al. (2004) observaram folículos pré-ovulatórios de 7,6 mm após administração de PGF2α e GnRH. LOPEZ-SEBASTIAN
et al.
(1997), avaliando a dinâmica folicular em ovelhas Merino, observaram os
tamanhos dos dois maiores folículos nos ovários. O maior folículo
permaneceu com tamanho constante nos últimos sete dias do ciclo estral
(5,1 a 5,6 mm), mas aumentou para 6,6 mm no dia 0 (dia da manifestação
de estro). Já o segundo maior folículo permaneceu com tamanho 3,9 mm.
URIBE-VELÁSQUEZ
et al. (2002)
observaram diâmetro máximo de 4,3 mm do folículo, no dia da ovulação,
para ovelhas tratadas com duas doses de PGF2α com intervalo de nove
dias e 5,4 mm para ovelhas tratadas com P4+eCG. Observaram também que o
crescimento do folículo dominante nos animais tratados com P4+eCG foi
maior que nos tratados com PGF2α, atribuindo esse resultado ao efeito
da associação entre eCG e P4. Neste trabalho não foi observada
diferença entre os protocolos, provavelmente porque as medições foram
realizadas ao fim dos protocolos, não havendo tempo de ação da eCG.
Diâmetros foliculares diferentes dos estudos citados anteriormente
podem ter como causa o fato de os folículos terem sido medidos pelo
menos dois dias antes de as ovelhas manifestarem estro. nos outros
estudos, eles foram medidos no dia da ovulação.
Ao exame ultrassonográfico realizado no último dia de tratamento
hormonal dos protocolos, observou-se que em 79,0% das ovelhas do grupo
PGF2α e em apenas 7,9% daquelas do grupo P4+eCG havia corpo lúteo
presente em pelo menos um dos ovários. Esse resultado já era esperado,
pois, em avaliação da dinâmica do protocolo MAP+ECG, a P4 permanece
tempo o suficiente para haver luteólise (doze dias). Já o próprio
princípio do protocolo PGF2α baseia-se na presença de um corpo lúteo
maduro no momento da segunda aplicação do medicamento, para que o
programa de sincronização seja eficiente.
Independentemente do tratamento utilizado neste estudo, obteve-se uma
alta taxa de folículos ovulados, em que 100% das ovelhas submetidas aos
tratamentos com PGF2α e com MAP+eCG ovularam pelo menos um folículo. Em
análise da média de folículos ovulados entre os protocolos, não se
verificou diferença entre o protocolo PGF2α e o protocolo MAP+eCG (
Tabela 1). Resultados semelhantes foram relatados por RODRIGUES
et al.
(2004) em ovelhas deslanadas, cuja taxa ovulatória foi de 1,4 ± 0,6 com
a dose 200 UI de eCG. Esses autores afirmaram que ovelhas deslanadas de
clima tropical necessitam de doses menores para os trabalhos de
sincronização de estro. Já DIAS
et al.
(2001) obtiveram 73,3% de ovelhas com ovulação utilizando a mesma dose
de 200 UI de eCG. No presente trabalho, não se observou diferença entre
a média de folículos ovulados no ovário direito (0,79) e no esquerdo
(0,78) em ambos os protocolos.
Para a concentração sérica de P4 no dia sete do ciclo estral, notou-se
uma superioridade do protocolo MAP+eCG em relação ao PGF2α (
Tabela 1). Esse resultado foi semelhante ao apresentado por URIBE-VELÁSQUEZ
et al.
(2002) em ovelhas Bergamácia em que se utilizaram tratamentos com PGF2α
(aproximadamente, 4,0 ng/mL) e P4+eCG (aproximadamente 6,0 ng/mL).
Resultado semelhante também foi apresentado por EVANS & ROBINSON
(1980), que obtiveram concentração de P4 no dia seis do ciclo estral de
3,3 ± 0,2 ng/mL após remoção do implante de P4 e aplicação de eCG.
EVANS & ROBINSON (1980) demonstraram que a eCG pode superestimular
os folículos ovarianos, resultando em corpos lúteos de maior diâmetro e
consequentemente aumentando a concentração circulante de P4. Além
disso, a eCG tem meia-vida prolongada (MAPLETOFT
et al.,
2002), promovendo um efeito estimulatório no corpo lúteo recém-formado.
Concentração circulante elevada de P4 nos primeiros dias da fase luteal
na ovelha é importante para a expressão de diversos fatores de
crescimento, principalmente fatores de crescimento semelhantes à
insulina (IGF), responsáveis pela implantação e crescimento fetal
(OSGERBY
et al., 1999), o que
é crucial para o desenvolvimento embrionário. No entanto, com base nos
resultados alcançados no presente estudo, não é possível afirmar que
esse aumento de P4 circulante induzido pelo protocolo MAP+eCG estaria
correlacionado com maiores taxas de concepção, pois o experimento não
foi delineado para testar essa hipótese.
Como ambos os protocolos foram eficientes em sincronizar o estro nas
ovelhas do presente estudo, cria-se uma perspectiva atraente do uso em
maior escala do protocolo PGF2α, por ser um protocolo de menor custo
(entre 30% e 60% do custo em relação ao protocolo MAP+eCG). Apesar de
haver estudos que mostram que o protocolo com PGF2α pode afetar o
transporte espermático e interferir na taxa de concepção (HAWK, 1973),
há outros que mostram resultados satisfatórios e semelhantes, em
comparação de protocolos com P4 versus PGF2α. GODFREY
et al. (1997), por exemplo, não observaram diferença (100% e 86%, respectivamente) na taxa de prenhez entre os tratamentos.
Este estudo foi realizado na contraestação reprodutiva (julho a
outubro), nos meses em que não havia pastagem para os animais se
alimentarem. Por isso foram mantidos em confinamento, o que pode ter
contribuído com o fato de o fotoperíodo não ter interferido nos
resultados. Caso contrário os animais não teriam respondido ao
protocolo com PGF2α. Além disso, GODFREY
et al.
(1997) mostraram que o estro sincronizado com PGF2α ou com P4 pode ser
obtido com sucesso em ovelhas nos trópicos em diferentes épocas do ano.
O fotoperíodo no local (Ilhas Virgens) flutua duas horas no ano e não
parece ser o suficiente para influenciar a ciclicidade estral nas
ovelhas. Apesar disso, estudo desenvolvido por MARTINS
et al.
(2003) mostrou que a qualidade seminal e, consequentemente, o
diagnóstico de fertilidade foram afetados pelas variações estacionais,
em carneiros da raça Santa Inês na região do Distrito Federal.
Apesar da eficácia, um fator negativo a ser considerado em relação ao
protocolo MAP+eCG diz respeito ao fato de diversos países não
permitirem mais a utilização de alguns tratamentos hormonais em animais
de interesse zootécnico. Por exemplo, nos Estados Unidos, o “U.S. Food
and Drug Administration” não aprova o uso do protocolo mencionado, o
que limitou drasticamente o uso de tal tecnologia (CLINE
et al.,
2001). Além disso, um tratamento longo com progestágeno está
relacionado a uma menor renovação folicular, promovendo a ovulação de
folículos dominantes persistentes e gerando uma menor taxa de prenhez
(VIÑOLES
et al., 2001). A
fertilidade pode ser reduzida também pelo uso repetido do tratamento
com eCG para sincronizar o estro pelo crescimento de anticorpos
anti-eCG (BARIL
et al., 1996).
CONCLUSÃO
Nas condições do presente estudo, embora o protocolo MAP+eCG tenha se
apresentado superior, por ter aumentado a concentração sérica de P4, o
protocolo PGF2α foi tão eficiente em sincronizar o estro quanto aquele.
Além de ter um custo menor, não apresenta problemas relacionados à
superutilização da MAP e do eCG. Assim, ressalta-se o uso do protocolo
alternativo com PGF2α.
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pelo apoio financeiro, ao pesquisador Dr. Maurício Machaim
Franco, pelo auxílio na análise estatística, à Dra. Concepta McManus e
a Rogério Tokarski, pelo fornecimento dos animais.
REFERÊNCIAS
AINSWORTH,
L.; WOLYNETZ, M. S. Synchronization of estrus and reproductive performance of
ewes treated with synthetic progestagens administered by subcutaneous ear
implant or by intravaginal sponge pessary. Journal of Animal Science, v.
54, n. 6, p. 1120-1127, 1982.
BARIL,
G.; REMY, B.; LEBOEUF, B.; BECKERS, J. F.; SAUMANDE, J. Synchronization of
estrus in goats: the relationship between eCG binding in plasma, time of
occurrence of estrus and fertility following artificial insemination, Theriogenology,
v. 45, p. 1553-1559, 1996.
CÁRDENAS, H.; WILEY, T. M.;
POPE, W. F. Prostaglandin F2α- induced estrus in ewes exhibiting estrous cycles
of different duration. Theriogenology, v. 62, p. 123-129, 2004.
CLINE,
M. A.; RALSTON, J. N.; SEALS, R. C.; LEWIS, G. S. Intervals from norgestomet
withdrawal and injection of equine chorionic gonadotropin or P.G. 600 to estrus
and ovulation in ewes, Journal of Animal Science, v. 79, p. 589-594,
2001.
DIAS, F. E. F.; JUNIOR, E.
S. L.; VILLAROEL, A. B. S.; RONDINA, D.; FREITAS, V. J. F. Sincronização do
estro, indução da ovulação e fertilidade de ovelhas deslanadas após tratamento
hormonal com gonadotrofina coriônica equina. Arquivo Brasileiro Medicina
Veterinária e Zootecnia, v. 53, n. 5, p. 618-623, 2001.
EVANS,
G.; MAXWELL, W. M. C. Salamon´s artificial insemination of sheep and goats.
Sydney: Butterworths, 1987. 194 p.
EVANS,
G.; ROBINSON, T. J. The control of fertility in sheep: endocrine and ovarian
responses to progestagen-PMSG treatment in the breeding season and in
anoestrus, Journal of Agricultural Science, v. 94, p. 69-88, 1980.
GODFREY,
R. W.; COLLINS, J. R.; HENSLEY, E. L.; WHEATON, J. E. Estrus synchronization
and artificial insemination of hair sheep ewes in the tropics. Theriogenology,
v. 51, p. 985-997, 1999.
GODFREY,
R. W.; GRAY, M. L.; COLLINS, J. R. A comparison of two methods of oestrous
synchronization of hair sheep in the tropics, Animal Reproduction Science,
v. 47, p. 99-106, 1997.
GREYLING,
J. P. C.; BRINK, W. C. J. Synchronization of oestrus in sheep: the use of
controlled internal drug release (CIDR) dispensers. South Afrikan Tydskr
Veekderman, v. 17, p. 128-132, 1987.
HAWK,
H. W. Uterine motility and sperm transport in the estrous ewe after
prostaglandin induced regression of corpora lutea. Journal of Animal Science,
v. 37, n. 6, p. 1380-1385, 1973.
HERRERA, H. L.; FELDMAN, S. D.; ZARCO, Q. L. Evaluacion
del efecto luteolítico de la prostaglandina F2α em diferentes días
del ciclo estral de la borrega. Veterinaria México, v. 21, p. 143-147,
1990.
LOPEZ-SEBASTIAN,
A.; GONZALEZ-BULNES, A. G.; MORENO, J. S.; GOMEZ-BRUNET, A.; TOWNSEND, E. C.;
INSKEEP, E. K. Patterns of follicular development during the estrous cycle in
monovular Merino del Pais ewes. Animal Reproduction Science, v. 48, p.
279-291, 1997.
MAPLETOFT,
R. J.; STEWARD, K. B.; ADAMS, G. P. Recent advances in the superovulation in
cattle. Reproduction, Nutrition, and Development, v. 42, p. 601-611,
2002.
MARTINS,
R. D.; McMANUS, C.; CARVALHÊDO, A. S.; BORGES, H. V.; SILVA, A. E. D. F.;
SANTOS, N. R. Avaliação da sazonalidade reprodutiva de carneiros Santa Inês
criados no Distrito Federal. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 32, p.
1594-1603, 2003.
MENCHACA, A.; MILLER, V.;
GIL, J.; LACA, M.; RUBIANES, E. Prostaglandin F2α treatment associated with
timed artificial insemination in ewes. Reproduction Domestic Animal, v.
39, p. 352-355, 2004.
OSGERBY,
J. C.; GADD, T. S.; WATHES, D. C. Expression of insulin-like growth factor
binding protein-1 (IGFBP-1) mRNA in the ovine uterus throughout the oestrous
cycle and early pregnancy. Journal of Endocrinology, v. 87, p. 162-279,
1999.
RODRIGUES,
L. F. S.; ARAUJO, A. A.; NUNES, J. F.; MOURA, A. A. A.; MOREIRA, E. P.
Sincronização do estro em ovelhas deslanadas: efeito de diferentes doses de
gonadotrofina coriônica equina sobre a taxa de ovulação. Revista Ciências
Agrárias, v. 41, p. 215-222, 2004.
RUBIANES, E.; CASTRO, T.;
KMAID, S. Estrus response after a short progesterone priming in seasonally
anestrous goats. Theriogenology, v. 49, p. 356-362, 1998.
URIBE-VELÁSQUEZ,
L. F.; OBA, E.; LARA-HERRERA, L. C.; SOUZA, M. I. L; VILLA-VELÁSQUEZ, H.;
TRINCA, L. A.; FERNANDES, C. A. C. Respostas endócrinas e ovarianas associadas
com o folículo dominante da primeira onda folicular em ovelhas sincronizadas
com CIDR ou PGF2α. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, n. 2, p.
944-953, 2002.
VIÑOLES, C.; FORSBERG, M.;
BANCHERO, G.; RUBIANES, E. Effect of long-term and short-term progestagen
treatment on follicular development and pregnancy rate in cyclic ewes. Theriogenology,
v. 55, p. 993-1004, 2001.
VINÕLES, C.; RUBIANES E.
Origin of preovulatory follicles after induced luteolysis during the early
luteal phase in ewes. Journal Animal Science, v. 51, p. 1351-1361, 1998.
WHITE, I. R; RUSSEL, A.J.F;
Body condition scoring in sheep. Practice, v. 6, p. 200, 1984. Censo
Agropecuário 2006. Disponível em: <www.ibge.org.br.> Acesso em: 8 fev.
2008.
YILDIZ, S.; SAATCI, M.;
UZUN, M.; GUVEN, B. Effects of ram introduction after the second prostaglandin
F2α injection on day 11 on the LH surge characteristics in fat-tailed ewes, Reproduction
Domestic Animal, v. 38, p. 54-57, 2003.
Protocolado
em: 14 jul. 2008. Aceito em: 9 dez.
2009.