CARACTERÍSTICAS
BACTERIOLÓGICAS DE OVOS LAVADOS E NÃO LAVADOS DE GRANJAS
DE PRODUÇÃO COMERCIAL
Maria Luiza Ferreira Stringhini,1 Maria Auxiliadora Andrade,2 Albenones José Mesquita,2 Tatiane Martins Rocha,3 Pedro Moraes Rezende4 e Nadja Susana Mogyca Leandro2
1. Professora da Faculdade de Nutrição/UFG. E-mail: mluizastring@uol.com.br
2. Professor doutor da Escola de Veterinária da UFG
3. Aluna de pós-graduação em Ciência Animal da EV/UFG
4. Aluno de Medicina Veterinária da EV/UFG.
RESUMO
A avaliação
da qualidade bacteriológica de ovos lavados e não lavados
de quatro granjas de postura comercial da região metropolitana
de Goiânia, GO, constituiu o objetivo do presente estudo. As
Granjas 1 e 2 eram de médio e pequeno porte, respectivamente, e
realizavam a lavagem mecanizada dos ovos com água aquecida
contendo sanitizante; as Granjas 3 e 4 comercializavam ovos não
lavados. O universo amostral foi constituído por 576 ovos das
Granjas 1 e 2, e 132 ovos obtidos nas Granjas 3 e 4, sendo metade
coletada nos galpões e a outra metade na sala de
classificação. Avaliaram-se ovos classificados como
grandes, de poedeiras leves, com trinta a quarenta semanas de idade, da
linhagem Dekalb White. O delineamento utilizado foi inteiramente
casualizado em esquema fatorial 2 x 2 (procedimento de lavagem x local
da coleta), com três repetições, e a unidade
experimental consistiu de pool de seis ovos. Efetuaram-se contagens de
mesófilos e Staphylococcus coagulase
positivo e número mais provável (NMP) de coliformes
totais e fecais nas cascas e conteúdos dos ovos e pesquisa de Salmonella
spp. nas cascas. Resultados das contagens foram expressos em log UFC/g
e aplicou-se o teste “t” de Student (5%). Análises
descritiva e de frequência foram adotadas para NMP de coliformes
totais e fecais. As contagens de mesófilos e de Staphylococcus coagulase
positivo nas cascas dos ovos lavados da sala de
classificação da Granja 1 foram menores (p<0,05) que
as verificadas em ovos coletados nos galpões e mostraram a
eficiência da sanitização e boa qualidade
bacteriológica de casca. As cascas dos ovos obtidos na sala de
classificação da Granja 3 apresentaram contagens de
mesófilos maiores (p<0,05) que nos galpões. Apesar da
elevada contagem de coagulase positivo nas salas de
classificação das Granjas 3 e 4, os valores encontrados
foram inferiores aos necessários para formação da
toxina em níveis capazes de provocar intoxicação.
Embora com pequena frequência (2,1%), verificou-se a
presença de coliformes fecais em número superior a 100
germes/g nas cascas dos ovos da sala de classificação das
granjas que utilizavam o procedimento de lavagem. Não se
observaram presença de StaphylococcusSalmonella
spp. nas cascas nem contaminação do conteúdo dos
ovos coletados no galpão e na sala de ovos das granjas
estudadas. Concluiu-se que os ovos lavados provenientes de granjas de
postura comercial possuem melhor qualidade bacteriológica de
casca do que ovos não lavados, embora o processo de lavagem
tenha sido incapaz de eliminar completamente coliformes fecais.
PALAVRAS-CHAVES:
Contaminação microbiológica, lavagem industrial,
ovos comerciais, segurança alimentar.
ABSTRACT
BACTERIOLOGICAL CHARACTERISTICS OF WASHED AND UNWASHED LAYING HEN’S EGGS
To assess the
bacteriological quality of washed and unwashed eggs obtained in four
commercial poultry farms located in the metropolitan area of
Goiânia, Goiás, Brazil was the purpose of this study.
Farms 1 and 2 were considered as medium and small production capacity,
respectively, and washed mechanically the eggs with heated water
containing sanitizing while farms 3 and 4 produced unwashed eggs. The
sample universe was made up of 576 eggs from farms 1 and 2, 288
obtained from the poultry facilities and other 288 collected in the
classification hall, and 132 obtained in farms 3 and 4, half of this
collected in the facilities and the other half in the classification
hall. It was considered commercial eggs classified as large eggs from
30 to 40 weeks of age Dekalb White hens. The experimental design was a
completely randomized design in a factorial arrangement 2 x 2 (washing
procedure x collection place) with three replicates and the
experimental unit consisted of pool of six eggs. Counts of mesophilic
and positive Staphylococcus coagulase and Most Probable Number (MPN) of total and fecal coliforms in shells and internal content of eggs and Salmonella
spp. research in eggshells were made. Results of the counts were
expressed as log CFU/g and “t” Student test (5%) adopted.
Descriptive and frequency analysis was used to analyse MPN of total and
faecal coliforms. Counts of mesophilic and positive Staphylococcus
coagulase in eggshells of washed eggs in the classification hall of the
farm 1 were lower (p <0.05) than that eggs collected in hen’s
facilities which showed the efficiency of sanitization and good
bacteriological quality of eggshell. The eggshells obtained in the
classification hall of the farm 3 showed a higher (p <0.05) counts
of mesophilic than in the facilities. Despite the high counting for
positive Staphylococcus
coagulase in the classification halls of farms 3 and 4, these values
are lower than those needed to form toxin capable of causing human
intoxication. Although low frequency (2.1%), it was verified the
presence of faecal coliforms in number greater than 100 germs/g of
eggshell in the classification hall of the farms that washed
mechanically the eggs. It was not observe the presence of Salmonella
spp. in all the eggshells collected neither contamination in contents
of the eggs. It was concluded that washed eggs from commercial egg
farms had better eggshell bacteriological quality than unwashed eggs
but the washing process adopted was not able to completely eliminate
the fecal coliforms.
KEY WORDS: Commercial eggs, egg washing, food safety, microbiological contamination.
INTRODUÇÃO
Os ovos apresentam alta
qualidade nutricional, porque possuem todos os aminoácidos
essenciais para o homem, vitaminas, como retinol e complexo B e
minerais como ferro, fósforo, iodo e cálcio (NEPA, 2006).
Além de ser completo e equilibrado em nutrientes, é uma
fonte de proteínas de baixo custo, podendo contribuir na
melhoria da dieta de famílias de baixa renda (LEANDRO et al., 2005).
A
contaminação do conteúdo dos ovos pode ocorrer no
trato reprodutor da galinha, durante a formação do
folículo da gema e/ou formação do albume no
oviduto, antes da formação da casca, propiciando a
produção de ovos já contaminados, resultado da
transmissão vertical do microrganismo (MESSENS et al.,
2005). Entretanto, alguns estudos microbiológicos revelam que a
microbiota do oviduto de aves sadias difere daquela encontrada em ovos
comercializados, indicando que a contaminação dos ovos
ocorre, preferencialmente, após postura, para a maioria dos
microrganismos (BOARD & FULLER, 1994; SESTI & ITO, 2000),
denotando a transmissão horizontal aos fatores associados ao
ambiente e manipulação dos ovos (BOARD & TRANTER,
1995).
Bactérias dos gêneros Pseudomonas,
Acinetobacter, Proteus, Aeromonas, Alcaligenes, Escherichia,
Micrococcus, Salmonella, Serratia, Enterobacter, Flavobacterium e Staphylococcus e bolores dos gêneros Penicillium, Sporotrichum, Mucor, Cladosporium e Alternaria
são os principais responsáveis pelas
alterações físicas e químicas observadas no
ovo após postura, tornando-os impróprios para consumo,
bem como com menor valor nutricional (FRAZIER & WESTHOFF, 2000,
PATRICIO, 2003).
A AGENCIARURAL (2003)
propôs uma série de recomendações para
garantir a qualidade dos ovos comercializados no Estado de
Goiás, como a lavagem contínua entre 35ºC a
45ºC e a utilização de sanitizantes na água
de lavagem dos ovos, exceto o uso de compostos de cloro em
níveis superiores a 50 ppm e compostos à base de iodo.
Tais procedimentos podem ser reforçados pelas
determinações de LLOBET et al.
(1989), que afirmaram ser o processo de lavagem influência
positiva à aceitação do produto pelo consumidor,
como resultado da melhor aparência dos ovos para
comercialização. Por associação, LAUDANNA
(1995) descreveu também a melhoria da qualidade
bacteriológica da casca, diminuindo a probabilidade de
contaminação dos ovos e ameaça à
segurança alimentar.
No entanto, a lavagem dos
ovos acarreta a remoção da cutícula protetora dos
poros da casca, o que facilita a entrada de microrganismos e resultando
na deterioração e diminuição do
período de estocagem. Entretanto, é bastante questionada
a eficiência e função da cutícula. DE REU et al. (2004) e MESSENS et al. (2005) não encontraram relação dessa película com a penetração de Salmonella spp. em ovos.
No Estado de Goiás,
relativamente ao método de higienização e
sanitização dos ovos, as granjas adotam lavagem
mecanizada com sanitizante ou imersão dos ovos em água e
limpeza com buchas sintéticas e panos. Mas também existem
granjas que comercializam ovos sem o processo de lavagem (FRANCO,
2005). Diante dessa realidade, pesquisas referentes ao monitoramento da
qualidade microbiológica dos ovos para consumo são
necessárias para a implementação de programas
educativos, visando informar e sensibilizar os agentes da cadeia
produtiva em relação às exigências da
segurança alimentar. Pelo exposto, objetivou-se avaliar a
qualidade bacteriológica de ovos lavados e não lavados de
quatro granjas de postura comercial da região metropolitana de
Goiânia.
MATERIAL E MÉTODOS
A coleta de ovos foi
realizada nos meses de janeiro a julho de 2007, em quatro granjas de
postura comercial da região metropolitana de Goiânia, GO,
selecionadas por conveniência. A Granja 1, de médio porte,
com uma produção média de 144.000 ovos/dia utiliza
sistema de lavagem mecanizado, com água contendo hipoclorito de
cálcio 65% (130g de Ca(ClO)2 /20L de água ) e aquecida a
10oC
acima da temperatura ambiente. A Granja 2, de pequeno porte, com
produção média diária de 30.000 ovos,
utiliza o procedimento de lavagem dos ovos, para a
comercialização, de forma mecanizada, com água a
10oC acima da temperatura ambiente e sanitizada com clorhexidina 20% e
teor ativo 8%. As Granjas 3 e 4 com produção
diária de, aproximadamente, 4.000 ovos/dia, não emprega
procedimento de lavagem em seu produto.
Para o cálculo do
tamanho das amostras, considerou-se a média diária de
produção de cada granja, conforme metodologia
estabelecida pela International Commission on Microbiological
Specifications for Foods (ICMSF, 1978). O universo amostral totalizou
576 ovos provenientes de granjas de postura comercial com procedimento
de lavagem de ovos e 132 ovos obtidos em granjas que comercializavam
ovos não lavados, sendo metade coletada nos galpões e a
outra metade na sala de classificação. Dessa forma, na
Granja 1 foram coletados 384 ovos, na Granja 2, a amostra foi
constituída de 192 ovos, na Granja 3, foi de 60 ovos e na Granja
4 coletaram-se 72 ovos.
Coletaram-se os ovos com
luvas, nos galpões e na sala de classificação,
após a lavagem dos ovos nas Granjas 1 e 2, no mesmo dia da
postura. Em todas as quatro granjas, foram considerados apenas os ovos
classificados como grandes, de poedeiras leves, com trinta a quarenta
semanas de idade, da linhagem Dekalb White. O delineamento utilizado
foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 2 (procedimento de
lavagem x local da coleta), com três repetições, e
a unidade experimental consistiu de pool de seis ovos. Imediatamente
após a coleta, acondicionaram-se as amostras em sacos
plásticos, sendo transportadas em caixas de material
isotérmico tipo isopor com gelo reciclável ao
Laboratório de Bacteriologia do Departamento de Medicina
Veterinária da Escola de Veterinária/UFG, onde foram
processadas. As contagens de mesófilos e Staphylococcus coagulase
positivo e número mais provável (NMP) de coliformes
totais e fecais nas cascas e conteúdos dos ovos e a pesquisa de Salmonella spp. nas cascas foram realizadas de acordo com BRASIL (2003).
Os resultados das contagens
de mesófilos e Staphylococcus coagulase positivo foram expressos
em log UFC/g e comparados com os padrões estabelecidos por
BRASIL (1990). Aplicou-se o teste “t” de Student (5%) com o
auxílio do programa Statistical Analysis System na versão
8 (SAS, 1999). Adotaram-se as análises descritivas e de
frequência para expressar as análises de coliformes totais
e fecais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados das contagens
de mesófilos em log UFC/g nas amostras das cascas de ovos dos
galpões e da sala de classificação das Granjas 1 e
2, que possuíam sistema de lavagem de ovos, e das Granjas 3 e 4
que comercializavam ovos não lavados, são apresentados na
Tabela 1.
Observou-se que os valores
médios das contagens de mesófilos nas cascas dos ovos
lavados da sala de classificação, tanto da Granja 1
quanto da Granja 2, foram menores (p<0,05) do que aqueles
encontrados em ovos coletados nos galpões. Entretanto, quando
analisado o valor máximo da contagem de mesófilo obtido
(5,301 log UFC/g) na Granja 1, verificou-se que podem ter ocorrido
problemas no procedimento de lavagem ou recontaminação
pós-processamento, o que acarretou alta contagem de
mesófilos nas cascas dos ovos.
Em comparação
dos resultados das contagens de mesófilos nas cascas dos ovos
lavados com hipoclorito de cálcio (Granja 1) e com clorhexidina
(Granja 2), observou-se uma menor contagem (p<0,05) nos ovos da sala
de classificação da Granja 2. A clorhexidina foi um
sanitizante mais eficiente que o hipoclorito de cálcio sobre as
formas vegetativas bacterianas presentes nas cascas dos ovos,
além de possuir ação praticamente imediata e baixo
potencial de toxidade (VICENTE & TOLEDO, 2003).
Na sala de
classificação da Granja 3, as cascas dos ovos
apresentavam contagens de mesófilos maiores (p<0,05) do que
nos galpões e, na Granja 4, apesar de os números serem
elevados, os valores foram semelhantes (p>0,05) para as
análises realizadas nas cascas de ovos do galpão e sala
de classificação.
Os mesófilos
corresponderam à grande maioria dos microrganismos de
importância em alimentos. Tal condição pode ser
explicada pela temperatura ambiente entre 25oC e 40oC
e pela presença de oxigênio que favorecem a
multiplicação desse grupo, sendo amplamente encontrados
no ar, no solo, na água e em todos os locais não
esterilizados, como nos galpões e na sala de
classificação das granjas.
A contagem em placas de
bactérias mesófilas é comumente empregada para
indicar a qualidade sanitária dos alimentos (FRANCO &
LANDGRAF, 2002). Embora valores aceitáveis de bactérias
nas cascas de ovos não tenham sido estabelecidos pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
é desejável a menor carga bacteriana na casca, a fim de
diminuir o risco de penetração do microrganismo no
conteúdo. Da análise dos dados contidos na Tabela 1,
pode-se afirmar que a utilização do procedimento de
lavagem mecanizada com água sanitizada, adotado nas Granjas 1 e
2, proporcionou redução na contagem de mesófilos,
indicando boa qualidade bacteriológica de casca e do processo.
No entanto, as contagens de bactérias mesófilas
observadas na sala de classificação nas Granjas 3 e 4
(3,1 e 4,7 log UFC/g), respectivamente, foram indicativas de
processamento insatisfatório, sob o ponto de vista
higiênico-sanitário. Valores de 5,08 log UFC/g de casca de
ovos de galpão foram encontrados por DE REU et al.
(2006), os quais concluíram que o ambiente influencia a
contaminação da casca de ovos (r = 0,66), contribuindo
para a sua deterioração.
Os resultados da contagem de Staphylococcus
coagulase positivo (log UFC/g) das amostras das cascas de ovos dos
galpões e da sala de classificação das Granjas 1 e
2, que possuíam sistema de lavagem de ovos, e das Granjas 3 e 4,
que comercializavam ovos não lavados, são apresentados na
Tabela 2.
A diminuição dos valores médios da contagem de Staphylococcus
coagulase positivo nas cascas de ovos da sala de
classificação da Granja 1 foi significativa (p<0,05),
mostrando eficiência de sanitização, como
também verificado por FRANCO (2005). No entanto, na Granja 2, a
diferença entre as contagens obtidas nos galpões e na
sala de classificação não foi significativa
(p>0,05), embora tenham diminuído com o processo de lavagem.
Nessa granja, foi obtida contagem máxima de Staphylococcus coagulase
positivo de 4,579 log UFC/g, valor superior aos encontrados nas salas
de classificação das Granjas 3 e 4. Não houve
diferença (p>0,05) nos resultados das contagens de Staphylococcus coagulase positivo nas cascas dos ovos lavados com hipoclorito de cálcio (Granja 1) e com clorhexidina (Granja 2).
Tal fato pode ser justificado por STRINGHINI et al. (2007), que apontaram o Staphylococcus
coagulase positivo como o microrganismo mais frequentemente encontrado
nas mãos e cavidade nasal de funcionários das Granjas 1 e
2, podendo representar importante fonte de recontaminação
dos ovos, após lavagem, e perigo de intoxicação
estafilocócica. Números elevados de Staphylococcus
coagulase positivo nas cascas de ovos dos galpões e da sala de
classificação foram comuns nas Granjas 3 e 4, por se
tratar de alimento muito manipulado e pelo fato de as granjas
não executarem o processo de sanitização dos ovos.
Deve-se ressaltar que os
estafilococos são microrganismos patogênicos que, em
algumas situações, podem ser utilizados como indicadores
na avaliação das condições
higiênico-sanitárias dos alimentos (FRANCO & LANDGRAF,
2002). Dessa forma, a presença de Staphylococcus coagulase positivo, em especial do Staphylococcus aureus,
nas cascas dos ovos representa perigo potencial à saúde
pública. As cascas, contendo bactérias e enterotoxinas
pré-formadas, poderão contaminar o conteúdo dos
ovos, provocando intoxicação pelo consumo de ovos crus,
em preparações como maioneses, glacês, mousses ou
ovos cozidos insuficientemente (ORNELLAS, 2001). Segundo FRANCO &
LANDGRAF (2002), são necessárias entre 105 e 106 unidades
formadoras de colônias (UFCs) de Staphylococcus
coagulase positivo por grama do alimento para que a toxina seja formada
em níveis capazes de provocar intoxicação. No
entanto, verificou-se que os resultados das contagens de Staphylococcus
coagulase positivo, tanto dos galpões quanto das salas de
classificação das Granjas 3 e 4, encontravam-se abaixo
desses valores e corroboram os resultados de FRANCO (2005).
Os resultados das contagens de mesófilos e Staphylococcus coagulase
positivo nas amostras das cascas de ovos do galpão e da sala de
classificação de granjas avícolas que
comercializavam ovos lavados e não lavados são
apresentados na Tabela 3. Verificou-se que houve diferença (p<0,05) entre os valores médios das contagens de mesófilos e de Staphylococcus
coagulase positivo nas cascas dos ovos coletados nos galpões das
granjas, sendo que os menores resultados foram obtidos naquelas que
utilizavam o procedimento de lavagem, indicando melhor controle
higiênico-sanitário nos galpões (Tabela 3).
Nas análises dos
ovos das salas de classificação das granjas, verificou-se
que ovos lavados possuíam carga bacteriana média na casca
menor (p<0,05) que os ovos não lavados, embora tenham sido
encontrados valores máximos de contagens superiores aos
observados nas granjas que não utilizavam o procedimento de
lavagem. JONES et al. (2004)
também observaram que ovos lavados apresentavam melhor qualidade
microbiológica de casca e de conteúdo que os não
lavados nas análises de mesófilos, bolores e leveduras, Enterobacteriaceae e Pseudomonas spp. quando armazenados por dez semanas a 4º C.
A Portaria n.o 1, de 21 de
fevereiro de 1990 do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (BRASIL, 1990), não estabelece padrões
mínimos de tolerância para mesófilos e Staphylococcus
coagulase positivo em casca de ovos. Entretanto, sabe-se que,
além da diferença entre cepas, a carga bacteriana da
casca é outro fator que pode afetar a penetração
de bactérias no ovo, causando sua deterioração,
como também pode determinar problemas ligados à
saúde do consumidor, em função da ingestão
de bactérias patogênicas ou das toxinas por elas
produzidas (MESSENS et al., 2005). SCHOENI et al.
(1995) contaminaram cascas de ovos com excretas contendo diferentes
cargas microbianas e observaram que, após armazenamento por
trinta minutos a 35oC,
as membranas da casca e o conteúdo foram contaminados, sendo
mais frequente quando altas concentrações de
bactérias eram utilizadas.
As frequências de
coliformes totais das cascas de ovos dos galpões e das salas de
classificação das granjas com sistema de lavagem e sem
sistema de lavagem estão registradas na Tabela 4.
Verificou-se que as cascas
dos ovos das granjas com sistema de lavagem apresentaram um aumento da
frequência do NMP de coliformes totais na sala de
classificação em relação aos resultados
obtidos nos galpões. Entretanto, a presença de coliformes
totais nas cascas não indica, necessariamente,
contaminação fecal recente ou ocorrência de
enteropatógenos, uma vez que apenas o gênero Escherichia tem como habitat primário o trato intestinal de homens e animais. As demais bactérias pertencentes a esse grupo (Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella),
além de serem encontradas nas fezes, também estão
presentes no solo e na água (FRANCO & LANDGRAF, 2002).
Considerando-se que a
legislação brasileira (BRASIL, 1990) não
estabelece padrões específicos de
comparação para coliformes totais em ovos, a
análise do NMP de coliformes fecais nesse alimento fornece, com
maior segurança, informações sobre suas
condições higiênicas. As frequências de
coliformes fecais das cascas de ovos dos galpões e das salas de
classificação das granjas com sistema de lavagem e sem
procedimento de lavagem estão apresentadas na Tabela 5.
A presença de
coliformes fecais nas cascas de ovos coletados nos galpões,
tanto nas granjas que utilizavam lavagem de ovos quanto naquelas que
comercializavam ovos não lavados, indica
contaminação fecal, possivelmente pelo contato com
excretas das aves na gaiola. Entretanto, observou-se uma elevada
frequência (18%) desses microrganismos nos ovos de galpão
das granjas que não utilizavam procedimento de lavagem. Tal fato
permite inferir que a produção nessas granjas foi
realizada em condições higiênicas
insatisfatórias e que a proliferação dessas
bactérias poderia causar diminuição da vida de
prateleira dos ovos e perigo à saúde dos consumidores.
Embora com frequência
reduzida (2,1%), a obtenção de resultados do NMP de
coliformes fecais superiores a 100 germes/g de casca, nos ovos da sala
de classificação de granjas que possuem procedimento de
lavagem, pode indicar processamento inadequado e/ou
contaminação pós-processamento por material fecal.
Segundo LAUDANNA (1995), caso a lavagem não seja feita
corretamente, ao invés de sanitizar o ovo, poderá
contaminá-lo e, dessa forma, representar perigo à
saúde do consumidor. GAMA et al.
(2008), em avaliação da qualidade bacteriológica
de 272 amostras de água da sala de classificação
de ovos de granjas de produção comercial, verificaram
7,35% das amostras contaminadas com coliformes totais e 5,88% positivas
para coliformes fecais. Assim, esses autores recomendaram a
intensificação de medidas
higiênico-sanitárias para contenção de
agentes patogênicos que podem contaminar a água usada nas
granjas avícolas para lavagem dos ovos.
Mesmo não sendo
determinada a presença de coliformes fecais nas cascas de ovos
da sala de classificação de granjas que não
utilizavam o processo de lavagem, a incorreta
higienização desses ovos pode propiciar a
multiplicação bacteriana na casca e sua
penetração no conteúdo. BEZERRA (1995) isolou Escherichia coli
de 70% das cascas de ovos provenientes de supermercados e feiras
livres. Conforme o autor, essa observação é
preocupante, uma vez que as enterobactérias possuem atividade
proteolítica, que destroem algumas estruturas da casca do ovo,
podendo facilitar a penetração de microrganismos, os
quais se multiplicam no conteúdo do ovo e provocam sua
deterioração.
Com respeito à pesquisa de Salmonella
spp., não foi verificada a sua presença nas cascas de
ovos coletados no galpão e na sala de
classificação de ovos das granjas de postura comercial
que executaram ou não a lavagem dos ovos. Entretanto, como o
conteúdo não foi avaliado, uma possível
contaminação por transmissão transovariana da
bactéria pode ter ocorrido. Resultados semelhantes foram obtidos
por BAÚ et al. (2001),
em ovos de galinha obtidos em supermercados e feiras-livres na cidade
de Pelotas, RS, e por FRANCO (2005), em ovos comerciais, no Estado de
Goiás. Segundo OLIVEIRA & SILVA (2000), a baixa
contaminação bacteriana pode estar associada ao uso de
vacinas específicas em poedeiras e reprodutoras, à
aquisição de lotes livres do agente, a linhagens mais
resistentes a Salmonella spp. e a fatores intrínsecos presentes nos ovos, como cutícula, casca, membranas e enzimas do albume.
No entanto, OLIVEIRA &
SILVA (2000) encontraram 9,6% das cascas e 3,2% do conteúdo de
ovos de galinha obtidos no comércio varejista de Campinas, SP,
positivos para Salmonella enteritidis. Já ANDRADE et al.
(2004), ao avaliarem a qualidade bacteriológica de ovos de
galinha comercializados em Goiânia, GO, observaram que,
aproximadamente, 40% dos ovos continham bacilos Gram-negativos e,
dentre estes, 4,46% estavam contaminados com Salmonella spp., os quais poderiam representar potencial risco à saúde humana.
Em relação às contagens de mesófilos e Staphylococcus
coagulase positivo e NMP de coliformes totais e fecais no
conteúdo dos ovos, os resultados foram inferiores à menor
diluição empregada, tanto nos ovos coletados no
galpão quanto naqueles da sala de classificação
das granjas avaliadas. Possivelmente, a contaminação
não foi observada em função do curto espaço
de tempo decorrido entre a coleta, realizada no mesmo dia da postura, e
a análise bacteriológica, ou seja, aproximadamente seis
horas. Segundo BRAUN & FEHLHABER (1995), o tempo de
migração de uma bactéria da casca para o
conteúdo depende da temperatura de armazenamento e do grau
de contaminação, sendo que a 30oC foi de um dia e, a 7oC,
somente após quatorze dias. WANG & SLAVIK (1998)
também verificaram que o intervalo de tempo entre uma
contaminação bacteriana experimental na casca e seu
isolamento no conteúdo dos ovos foi de, aproximadamente,
três dias, quando armazenados a 15oC.
No entanto, GUASTALLI et al.
(2008), avaliando o conteúdo de 247 ovos comerciais logo
após o procedimento de lavagem, encontraram 4,86% contaminados
com coliformes totais. De acordo com os autores, os meios
prováveis de contaminação dos ovos foram o contato
de excretas das aves durante a postura e a presença de
rachaduras e/ou poros da casca, que permitiram a entrada do
microrganismo após a lavagem.
Ambiente de galpão,
qualidade e carga bacteriana da casca, limpeza de equipamentos,
qualidade da embalagem, higiene dos funcionários e rompimento da
cutícula após lavagem são fatores que podem
influenciar a penetração de microrganismos nos ovos.
Assim, o conhecimento dos agentes contaminantes dos ovos e das
alterações que proporcionam ao produto contribuem na
busca de melhores condições de produção,
armazenamento e transporte.
CONCLUSÃO
Dentre as granjas
avaliadas, concluiu-se que os ovos lavados apresentam qualidade
bacteriológica de casca melhor que os ovos não lavados,
embora o processo de lavagem realizado nas granjas de postura comercial
analisadas não tenha sido capaz de eliminar, completamente,
coliformes fecais.
REFERÊNCIAS
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Protocolado em: 7 jul. 2008. Aceito em: 4 nov. 2009.