em que:
p = q = são os parâmetros da proporção para obter “n”máximo (50%);
z = nível de significância (95%);
d = erro amostral (± 8,0% de p, correspondendo ao intervalo de 46% a 54%);
n = tamanho da amostra.
O tamanho total da amostra calculada foi de 147 unidades produtivas,
sendo trabalhadas 25 propriedades por município, totalizando 150
propriedades.
A inexistência de uma listagem representativa dos criadores de caprinos
e ovinos nos municípios tornou impossível a amostragem aleatória.
Assim, utilizou-se a amostragem probabilística por conveniência para
selecionar os produtores. Em cada município, as propriedades foram
distribuídas equitativamente em cada um dos quatro pontos cardinais
(norte, sul, leste e oeste) e região central.
Durante as visitas, aplicaram-se questionários abordando informações
sobre o proprietário, a propriedade, o rebanho e os manejos
nutricional, sanitário e reprodutivo. O estudo compreendeu a criação de
um banco de dados, para realização de análise tabular associada ao
estudo descritivo, agrupando-se todas as propriedades visitadas e
formando um único conjunto denominado Sertão de Pernambuco. Com isso
pôde-se elaborar o perfil sanitário dos rebanhos, com auxílio do
programa Excell.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As características das instalações e as fontes de água encontradas nas propriedades visitadas estão descritas na
Tabela 1.
Predominaram, nas propriedades, instalações rústicas com piso de terra
batida (74,8%) e descobertas (61,7%). Trata-se de dados que se
aproximam daqueles relatados por BANDEIRA (2005), em investigação da
caprinocultura no Sertão do Cariri na Paraíba, tendo encontrado piso de
terra batida em 55% das propriedades. No entanto, estão distantes dos
36% relatados por LUCENA
et al.,
(2006), em estudo detalhado da tipologia dos apriscos para caprinos no
Cariri paraibano. Esses autores consideram que instalações adequadas
otimizam a relação homem–animal–ambiente, facilitando e reduzindo a mão
de obra e favorecendo o manejo e controle de doenças.
No sertão de Pernambuco, há basicamente dois tipos distintos de
instalações que abrigam caprinos e ovinos: chiqueiro e aprisco.
Chiqueiro é a denominação dada à instalação rústica cuja finalidade é
reunir os animais durante a noite. Essa instalação não possui divisões
internas e pode ou não conter cochos. Seu piso é geralmente de terra
batida, podendo ser parcialmente cimentado e coberto. O bode ou
carneiro reprodutor é identificado como “pai de chiqueiro”. Aprisco é a
instalação mais elaborada, que se destina geralmente à criação
intensiva e possui divisões internas, comedouros, bebedouros, saleiros,
piso ripado ou cimentado e cobertura.
O chiqueiro com piso de terra batida e parcialmente coberto, quando bem
planejado com base em recomendações técnicas considerando local de
construção, orientação, tamanho, divisões, comedouros, bebedouros e
saleiros, utilizando arame liso, higienizado e desinfetado
regularmente, pareceu atender às necessidades das criações na maioria
das propriedades visitadas.
O quarentenário, a área de isolamento e a esterqueira, além de terem
sido encontrados em poucas propriedades, não apresentavam condições
satisfatórias em termos de qualidade. Trata-se de realidade que
não diverge significativamente das realidades relatadas por PINHEIRO
et al. (2000) no Ceará, PINHEIRO
et al. (2003) e FARIA
et al.
(2004) em Minas Gerais. Todos esses estudos tiveram em comum o fato de
terem sido realizados no semiárido, cujas características
socioeconômicas se assemelham, independentemente do Estado (SUDENE,
2009). As áreas de isolamento e quarentenário podem ser consideradas um
dos principais meios para se evitar a introdução e disseminação de
doenças nos rebanhos (PINHEIRO
et al.,
2000). O uso de esterqueiras não apenas contribuiu na prevenção e
controle de doenças, mas também participa na preservação do meio
ambiente (FARIA
et al., 2004).
Os poços e/ou açudes (83%) foram o principal meio utilizado para captar
e reservar a água utilizada na produção de caprinos e ovinos. Esses
reservatórios são abertos e em apenas 3,4% deles a água sofre algum
processo de tratamento. O Sertão de Pernambuco, assim como todo
semiárido, é caracterizado pelos baixos índices pluviométricos, com
concentração das chuvas em períodos curtos e solos que dificultam a
captação de água. Por isso, há necessidade da aplicação de tecnologias
que viabilizem o armazenamento da água obtida durante o período
chuvoso, para suprir a demanda da produção animal durante a maior parte
do ano. FARIA
et al. (2004),
em estudo da ovinocaprinocultura desenvolvida no semiárido mineiro,
observaram que as fontes de águas de superfície (rios, córregos,
açudes, nascente e minas) eram mais utilizadas no Norte do Estado,
enquanto os poços rasos e artesianos mais comuns no Nordeste.
AMARAL
et al. (2004), ao
investigarem a qualidade da água em propriedades leiteiras, concluíram
que a água utilizada em propriedades pode ser veículo de microrganismos
patogênicos, fazendo-se necessária sua desinfecção e controle com o
objetivo de minimizar os riscos à saúde humana e animal. A desinfecção
da água de bebida deve ser feita com substâncias atóxicas, de amplo
espectro de ação, com boa atividade na presença de matéria orgânica e
ação residual. Dentre as substâncias utilizadas, o mais comum é o
cloro, e o intervalo entre as desinfecções não deve ser superior a seis
meses (VITAGLIANO, 2002).
Com base nos resultados e nas afirmações dos autores citados,
observa-se que não apenas a quantidade, mas também a qualidade da água
repercute na produção animal e que no caso das propriedades do Sertão
de Pernambuco pouco tem sido feito no sentido de melhorar a oferta e
qualidade da água utilizada.
A
Tabela 2 apresenta informações sobre o manejo sanitário aplicado nos criatórios amostrados no estudo.
Dos produtores que identificavam seus animais (66%), 47,4% realizavam
essa prática mediante cortes nas orelhas das crias, conforme descrito
por MEDEIROS
et al. (1994).
Uma vez que esse tipo de identificação não permite a individualização
dos animais, inviabiliza-se o registro de ocorrências específicas como
ganho de peso, parto ou cobertura, diferentemente de outros métodos,
como uso de brincos, tatuagens e coleiras numeradas, que facilitam o
manejo e o acompanhamento personalizado do desempenho animal, presentes
em propriedades mais organizadas. Os resultados relatados por FARIA
et al.
(2004), referentes à ovinocaprinocultura do Norte e Nordeste de Minas
Gerais, são ainda menos favoráveis, uma vez que abaixo de 20% dos
produtores identificam seus animais.
O registro das ocorrências dos rebanhos, que neste estudo é realizado
por apenas 26% dos produtores, é uma prática básica no gerenciamento de
qualquer criação, repercutindo diretamente no nível tecnológico de uma
propriedade. A prática de registrar os dados de uma criação, embora
pareça simples, depende de um indivíduo capacitado e bem informado, que
não só proceda ao registro, mas que os converta em informações que
subsidiem o planejamento administrativo do rebanho (QUIRINO
et al., 2004).
HOLANDA JÚNIOR & CAMPOS (2003) chamam a atenção para a ineficiência
do gerenciamento que não planeja e não contabiliza suas receitas e
custos. FARIA
et al. (2004), por sua vez, comentam a necessidade de atualização dos produtores que gerem seus próprios negócios.
A separação dos animais de um rebanho em lotes de acordo com a idade e
sexo, observado neste estudo em apenas 20,8% dos rebanhos, além de
facilitar o manejo, também previne ocorrências indesejáveis como
coberturas e disseminação de doenças.
O tratamento do umbigo dos recém-nascidos com iodo, realizado por 47,6%
dos produtores, juntamente com a administração do colostro, são
reconhecidos como práticas para a manutenção da saúde dos animais
jovens. Entretanto, a substituição do iodo por substâncias não
antissépticas, como é o caso dos repelentes, que eram utilizados por
24,5% dos criadores, não produz resultados satisfatórios, devendo, por
isso, ser combatida. PINHEIRO
et al.
(2000) verificaram, no Ceará, que apenas 37% dos produtores realizam o
tratamento do umbigo, seja com iodo ou repelente. NOGUEIRA
et al. (2007) observaram que, na região de Araçatuba, 76% dos criadores de ovinos efetuavam o tratamento do umbigo e FARIA
et al.
(2004) encontraram resultados mais significativos, em Minas Gerais, em
que mais de 90% dos caprinovinocultores tratavam o umbigo das crias.
O destino adequado dado à carcaça dos animais mortos (31,8%) reflete o
nível de conscientização dos produtores com relação à necessidade de se
manter o ambiente livre de agentes infecciosos. Entretanto, as práticas
de queimar e enterrar as carcaças devem seguir recomendações técnicas
para que se possa alcançar o objetivo desejado. Os resultados obtidos
por FARIA
et al. (2004)
referem-se a percentuais médios próximos a 10% dos produtores mineiros
que enterram ou queimam e enterram as carcaças dos caprinos e ovinos.
Os mesmos autores orientam sobre a incineração completa e o enterro
profundo associado à utilização de cal virgem sobre as carcaças. Outra
alternativa é a construção de fossas sépticas onde são depositados os
cadáveres, porém deve-se ter cuidado especial com a contaminação de
lençóis freáticos (VITAGLIANO, 2002).
A limpeza diária das instalações citada por apenas 14% dos produtores
entrevistados consistia, na maioria das vezes, em remoção seca de
detritos acumulados nas instalações por meio de varredura. A prática da
limpeza úmida, utilizando água fria sem pressão e detergentes, era
realizada raramente. Essa prática sanitária fácil e pouco dispendiosa
encontra sua principal dificuldade nos hábitos culturais dos criadores
e deve ser seguida pela desinfecção.
A desinfecção das instalações, observada em 16,9% das propriedades,
objetiva eliminar os agentes infecciosos resistentes ao processo de
limpeza. O tipo de piso presente nas instalações pode ou não facilitar
a limpeza e desinfecção ambiental, sendo que o piso de chão batido é o
que apresenta menos viabilidade na aplicação dessas técnicas. Nas
propriedades cujas instalações eram construídas com piso de chão batido
realizava-se a limpeza apenas com a varredura e utilizava-se a cal
virgem com o propósito de diminuir a umidade do solo e reduzir a
contaminação ambiental. Entretanto, VITAGLIANO (2002) indica, para a
prática de desinfecção com substâncias à base de amônia quaternária,
clorados e fenóis, entre outros. Essas duas práticas são complementares
e indispensáveis para a manutenção da saúde do rebanho.
Dentre as práticas de manejo sanitário, a vermifugação dos animais foi
a mais difundida, sendo verificada em mais de 88,2% dos criadores
entrevistados. Dos animais adquiridos, a vermifugação era realizada por
51,7% dos criadores antes de sua introdução ao rebanho. Esse resultado
está próximo ao encontrado por PINHEIRO
et al.
(2000) no Ceará, onde 95% dos caprinocultores vermifugam seus animais,
mas aquém do relatado de SOUZA NETO (1987), em que 96% de
caprinocultores de leite de Pernambuco realizavam essa prática. Na
região de Araçatuba, NOGUEIRA
et al.
(2007) relataram a adoção dessa prática por 100% dos ovinocultores e,
no sudoeste paulista, 77% dos caprinocultores vermifugam seus rebanhos
(RODRIGUES
et al., 2005).
Porém, AMARANTE (2005) afirma que o controle parasitário estará fadado
ao fracasso se for baseado apenas no uso de drogas anti-hemínticas e,
assim, recomenda que o uso dessas drogas seja acompanhado por medidas
indicadas para preservar sua atividade e eficácia. Com isso, evita-se o
surgimento de resistência e, simultaneamente, implantam-se alternativas
para o controle das infecções com base na epidemiologia dos parasitas,
na seleção de animais resistentes e na redução da contaminação
ambiental.
A prevenção de doenças através da prática de vacinar o rebanho era
realizada por 69,2% dos criadores. As vacinas mais utilizadas foram a
antirrábica (45,5%) e contra febre aftosa (16,8%), salientando-se que
esta última não é recomendada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento. Há semelhanças entre estes relatos e os de BANDEIRA
(2005) na Paraíba. Os achados de PINHEIRO
et al. (2000), no Ceará, e RODRIGUES
et al.
(2005), no sudoeste paulista, mostram frequências menores. Um dado
importante apresentado por BANDEIRA (2005) é o considerável percentual
de utilização da vacina contra clostridioses (95,3%) entre os criadores
que vacinavam os caprinos na Paraíba.
A raiva é considerada uma das mais importantes zoonoses para saúde
pública e sua evolução letal acarreta enormes custos sociais e
econômicos, razão por que seu controle é respaldado por ações de
prevenção, vigilância e controle. Assim, o Programa Nacional de
Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH) recomenda que, nas áreas de
ocorrência, a vacinação antirrábica para bovídeos e equídeos seja
sistemática e anual, deixando a critério dos médicos-veterinários a
indicação da vacinação nas outras espécies (MAPA, 2002). O Nordeste foi
a região brasileira onde mais se registraram casos de raiva humana
entre os anos de 1986 e 2006 e em Pernambuco foram registrados
numerosos casos de raiva em morcegos hematófagos, raposas e bovinos nos
anos de 2004 e 2005 (MONTEBELLO, 2009), o que explica a elevada
frequência da vacinação antirrábica pelos produtores de caprinos e
ovinos.
As infecções e toxinfecções causadas por bactérias anaeróbicas do gênero
Clostridium
têm evolução de caráter agudo e tratamento difícil. São responsáveis
por consideráveis perdas nos diferentes sistemas de produção de
caprinos e ovinos e, como praticamente são impossíveis de serem
erradicadas, devem ser prevenidas. No Brasil não há dados oficiais da
ocorrência desses agentes, porém há vários relatos de surtos de
clostridioses em rebanhos caprinos e ovinos, inclusive no Nordeste
(LIMA
et al., 2006; LOBATO
et al., 2008b; LOBATO
et al.,
2008c), havendo em alguns casos alertas das autoridades e explícitas
indicações para o uso da vacina, sendo esta a principal estratégia
preventiva (ADEAL, 2009). A preocupação com os prejuízos decorrentes
das clostridioses se reflete na produção brasileira anual de cerca de
140 milhões de doses de vacinas clostridiais, comprovando a grande
utilização desses imonógenos (LOBATO
et al., 2004; LOBATO
et al., 2007; LOBATO
et al., 2008a).
Segundo o Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa
(PNEFA), as estratégias de vacinação contra febre aftosa são definidas
considerando-se a situação epidemiológica da região. Em regiões
onde se faz necessária a vacinação, ela deve ser sistemática e
obrigatória em bovinos e bubalinos de todas as idades, entretanto, é
proibida nas demais espécies susceptíveis, como caprinos, ovinos e
suínos, salvo em situações especiais com aprovação do Ministério da
Agricultura (MAPA, 2007). Passa a ser uma preocupação a manutenção da
prática de vacinação contra febre aftosa entre os pequenos ruminantes,
contrariando a determinação oficial.
Dos criadores que tinham acesso à assistência médico-veterinária,
apenas 6,1% dispunham desse recurso continuamente e 38,1% recebiam
assistência esporádica. Por essa razão, é possível dizer que 93,8% dos
caprinovinocultores do Sertão de Pernambuco não tinham acesso à
assistência técnica realizada por médico veterinário. Assinale-se que
se trata de fato que já vem sendo abordado há pelo menos vinte anos por
SOUZA NETO (1987), que em estudo sobre a caprinocultura leiteria de
Pernambuco concluiu pela necessidade real de assistência técnica para
os pequenos produtores.
Em alguns Estados brasileiros a caprinocultura familiar tem tido mais acesso à assistência técnica. É o que relatam RODRIGUES
et al.
(2005), em estudo sobre a caprinocultura familiar no Sudoeste Paulista,
observando que 29% dos criadores contam com orientação
médico-veterinária. Achados interessantes foram descritos por CAMPOS
(2003), após investigar os caprinovinocultores do Ceará, onde
aproximadamente 54% recebiam assistência técnica. Em Goiás, DIAS
et al.
(2004) encontraram resultados ainda mais satisfatórios. Segundo esses
autores, 60% dos médios e grandes ovinocultores contam com assistência
técnica, fazem escrituração do rebanho e utilizam programas de
gerenciamento dos rebanhos. Porém, é a caprinocultura da Paraíba que
apresenta o registro mais promissor, com acesso de 93,3% dos produtores
à assistência técnica, sendo que 76,8% dessa ocorria semanal ou
quinzenalmente (BANDEIRA, 2005).
A observação de abscessos cutâneos que sugerem a presença de
linfadenite caseosa, doença infectocontagiosa citada por SOUZA NETO
(1987) como a mais comum nos rebanhos caprinos em Pernambuco, mostra
que não houve progresso na mudança dessa realidade, nem mesmo com
pesquisas que resultaram na produção de vacinas ou o conhecimento dos
fatores de risco responsáveis pela introdução e disseminação da doença
nos rebanhos, que poderia contribuir no controle ou prevenção.
A polêmica existente entre os autores sobre o descarte dos animais
infectados e o tratamento com drenagem cirúrgica dos abscessos cutâneos
de animais em bom estado geral de saúde deve ser resolvida, levando em
consideração a prevalência da doença no rebanho e região. Além disso,
deve ser tratada a possibilidade de implantação de medidas de
biosseguridade que garantam a diminuição progressiva da ocorrência no
rebanho até seu controle e erradicação.
Diarreia, anemia e edema submandibular são sinais e sintomas frequentes
de endoparasitoses que acometem caprinos e ovinos. Os danos à saúde
atribuídos principalmente aos helmintos e coccídeos são reconhecidos
por muitos autores como uma das principais causas da baixa
produtividade dos rebanhos. Apesar das informações sobre controle e
tecnologias disponíveis para combate aos endoparasitas, os produtores
continuam sofrendo os prejuízos que ocorriam há décadas.
As ectoparasitoses foram citadas frequentemente pelos criadores
entrevistados, sendo as miíases a principal delas (85,7%), seguida pela
ocorrência de piolho (60,5%) e inflamação cutânea/coceira sugestivas de
sarna (42,5%). A prevenção e controle dessas doenças dependem da
execução de várias medidas de manejo sanitário, com atenção para o
tratamento do umbigo de recém-nascidos, higienização e desinfecção das
instalações e isolamento dos animais infectados até plena recuperação.
Os abortos (82,3%), as secreções vaginais e a demora na eliminação da
placenta acompanhada de odor fétido citados pelos proprietários podem
ter etiologia variada, porém, segundo PEREIRA (2006), os abortos
encontrados nas regiões do agreste e zona da mata de Pernambuco têm
como causas frequentes as infecções por
Chlamydophila sp. e
Toxoplasma gondii.
A ocorrência de alterações oculares como lacrimejamento, fotofobia e/ou
opacidade de córnea, sugestivos de ceratoconjuntivite (77,6%);
alterações da glândula mamária e/ou do leite, sugestivas de mastite
(76,7%); crostas ao redor da boca e/ou narinas, sugestivas de ectima
contagioso (66,0%); catarro nasal (63,3%) e tosse (59,2%), sugestivos
de problemas respiratórios; alterações no casco acompanhada de
claudicação, sugestivas de pododermatite (49,2%); e alterações no
umbigo (37,4%), sugestivas de onfalite, apontaram para falhas no manejo
sanitário como causas predisponentes para enfermidades infecciosas e
parasitárias (
Tabela 3).
Estudos sobre os aspectos sanitários dos rebanhos caprinos e ovinos
foram realizados nesta década nos Estados do Ceará (PINHEIRO
et al., 2000), Paraíba (BANDEIRA, 2005; MEDEIROS
et al., 2005; NÓBREGA JÚNIOR
et al., 2005), Minas Gerais (GOUVEIA, 2003), Rio Grande do Norte (PEDROSA
et al., 2003) e São Paulo (RODRIGUES
et al., 2005; NOGUEIRA
et al.,
2007). Essas pesquisas indicaram as doenças e alterações clínicas mais
frequentes, possibilitando a confrontação de dados publicados em
diferentes épocas, para esclarecer a evolução do processo produtivo e
mostrar que de modo geral os produtores não têm tido acesso aos
resultados das pesquisas e às informações técnicas.
São necessários estudos sobre caracterização zoossanitária nos rebanhos
brasileiros, estudos epidemiológicos que determinem a incidência e
prevalência das principais enfermidades, desenvolvimento e uso de
métodos moleculares para identificação e tipagem dos patógenos,
técnicas para diagnóstico diferencial e quantificação dos prejuízos
oriundos dos problemas sanitários (PINHEIRO
et al., 2003).
CONCLUSÕES
Conclui-se que os caprinovinocultores do Sertão de Pernambuco, em sua
maioria, possuem instalações com piso de terra batida e descobertas
para abrigar seus animais e que seu manejo sanitário é deficiente, em
virtude do baixo nível de adoção das tecnologias disponíveis ou seus
usos inadequados, dificultando a prevenção e controle de doenças.
O baixo percentual de acesso à assistência técnica, que influencia
diretamente a adoção tecnológica, necessita de atenção especial e
mostra urgência no desenvolvimento de ações de extensão rural que
permitam o desenvolvimento do potencial da caprinovinocultura em
Pernambuco.
Dentre as práticas de manejo sanitário mais utilizadas estão a
vermifugação e a vacinação do rebanho. As menos realizadas são a
limpeza e a desinfecção das instalações. Preocupa o pequeno índice de
assistência técnica.
A alta frequência de achados clínicos nos rebanhos investigados
demonstra o elevado nível de contaminação por agentes infecciosos e
parasitários que interferem na produtividade.
AGRADECIMENTOS
Ao Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae/PE) e
à Secretaria de Produção Rural e Reforma Agrária do Pernambuco, pelo
apoio à realização deste estudo.
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