DISTRIBUIÇÃO DE LARVAS DE NEMATÓDEOS GASTRINTESTINAIS DE
OVINOS EM PASTAGENS DE INVERNO
Tatiana Louise Gazda1, Ricardo Guimarães Piazzetta2,
João Ricardo Dittrich3, Alda Lúcia Gomes Monteiro4,
Vanete Thomaz Soccol5
RESUMO
As
infecções parasitárias são de ocorrência bastante preocupante nos sistemas de
produção de ovinos em pastagens. Assim, este trabalho foi realizado com o
objetivo de conhecer a dinâmica das larvas de nematódeos parasitos de ovinos em
pastagens de inverno. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado. Os
tratamentos foram compostos por duas diferentes ofertas de matéria seca de duas
espécies forrageiras (aveia preta 5% e 12%; azevém 10% e 20%), totalizando
quatro tratamentos. Os animais traçadores utilizados foram 28 borregas da raça
Suffolk. A cada quinze dias foram coletadas amostras de pastagem dos piquetes,
estratificadas em fração superior e inferior da pastagem para contagem e
identificação de larvas de nematódeos. Os animais foram acompanhados
quinzenalmente por meio de exames coproparasitológicos. Na pastagem de azevém,
verificou-se maior contaminação por larvas de helmintos por grama de matéria
seca (104,53 L/g MS) (p<0,05) do que na de aveia (24,6 L/g MS). Houve
aumento linear com o tempo no número de larvas de helmintos por grama de
matéria seca no estrato pastejado da pastagem de aveia em menor oferta de
forragem. Os animais mantidos em diferentes ofertas de forragem de aveia e
azevém não apresentaram diferença em relação à carga parasitária (p>0,05). Entretanto,
observou-se aumento linear com o tempo no número de ovos de helmintos por grama
de fezes dos animais em pastagem de aveia com menor oferta. Os resultados
confirmaram que a alta carga animal por unidade de área contribuiu para a
contaminação constante da pastagem e consequentemente para a infecção dos
animais.
DISTRIBUTION
OF GASTROINTESTINAL NEMATODE LARVAE OF SHEEP ON WINTER PASTURE
ABSTRACT
The aim of
this work was to study the dynamics of nematode larvae of sheep on winter
pasture species. A completely randomized design was used. The treatments were
composed by two different dry matter offers of each forage species (black oat
5% and 12%; ryegrass 10% and 20%). A total of 28 Suffolk female lambs were used.
Pasture was taken every fifteen days and samples were separated into superior
and inferior fractions and sent for counting and identification of parasite
larvae. Lambs were evaluated each fifteen days for parasitological evaluations.
Ryegrass (104.53 L/g MS) presented higher (p<0.05) contamination by helminth
larvae per dry matter gram (L/g MS) than black oat forage (24.6 L/g MS). A
linear increase in the amount of helminth larvae per gram of dry matter in the
superior part of the plant was observed in black oat with lower dry matter content.
The animals maintained in different dry matter offers of ryegrass and black oat
did not present difference (p>0.05) in the worm burden. Otherwise a trend of
linear increase in the number of fecal egg count was observed in the treatment with
black oat with lower dry matter content. Sheep rearing in high stocking rates
leads to parasitic infection of animals and environment contamination by
pathogenic helminth larvae.
INTRODUÇÃO
Parasitos gastrintestinais representam grande
obstáculo à ovinocultura e fazem com que o resultado produtivo seja reduzido e
se apresente muito aquém ao potencial da espécie. A verminose, um dos
principais problemas da ovinocultura, deve-se principalmente às características
de criação: animais criados em pequenas áreas e com superlotação, levam a um número
elevado de larvas de helmintos nas pastagens, que, por sua vez, atuam como
fonte de infecção constante. Diversos ovinocultores, para controlar o problema
de verminose, adotam esquema de desverminações múltiplas ou supressivas; o resultado
corresponde a um alto custo de tratamento e ao rápido desenvolvimento de resistência
dos parasitos aos vários princípios ativos (THOMAZ-SOCCOL et al., 1996; THOMAZ-SOCCOL
et al., 2004).
A eficiência do controle dos helmintos
gastrintestinais está intrinsecamente ligada à dinâmica populacional dos
parasitos dentro e fora do hospedeiro, havendo necessidade de se identificar o
comportamento das fases larvais de helmintos em espécies forrageiras diversas,
com ofertas de forragem variadas, em diferentes estações do ano. A estimativa
do número de larvas infectantes de tricostrongilídeos na pastagem é parte
integrante do estudo da ecologia e da epidemiologia desses nematódeos parasitos
de ruminantes (CASTRO et al., 2003). NIEZEN et al. (1998a) e NIEZEN et al. (1998b)
relataram que animais em diferentes tipos de pastagens não apresentam os mesmos
níveis de infecção por helmintos gastrintestinais.
O uso integrado de práticas de manejo de pastagens
associadas ao uso profilático dos anti-helmínticos é importante para que se
obtenha sucesso na produção intensiva de ovinos a pasto. REINECKE (1994) afirmou
que alternativas devem ser estudadas, visto que a infecção de ovinos por
parasitos gastrintestinais pode ser fator determinante da inviabilidade da
criação intensiva de ovinos em pastagens. Na alimentação de ovinos em pastagens,
recomenda-se de 7 a 10% do peso vivo dos animais de oferta de matéria seca de
forragem (MORAES e MARASCHIN, 1988). No entanto, na prática, é comum se observar
produtores que mantêm seus animais em pastagens que ofertam 5%, ou até
porcentagem inferior, de matéria seca em relação ao peso vivo dos animais sem
qualquer tipo de suplementação nutricional.
O presente trabalho foi realizado em busca de se
conhecer o comportamento das larvas de nematódeos em pastagens de aveia e azevém
com diferentes ofertas de forragem. Dois parâmetros foram avaliados: infecção
parasitária de borregas Suffolk em pastejo e contaminação da pastagem por
larvas de parasitos de ovinos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento
foi realizado no Laboratório de Produção de Ovinos e Caprinos (LAPOC) da
Fazenda Experimental da Universidade Federal do Paraná, situada no município de
Pinhais, PR, latitude 25° 25’ Sul, longitude 49° 8’ Oeste e 915 m de altitude.
O clima na região é classificado como temperado do tipo Cfb, com temperaturas
médias no mês mais frio inferiores a 18°C e, no mês mais quente, abaixo de 22°C
(KÖEPPEN, 1928). A precipitação média anual varia de 1400 a 1800 mm com chuvas
bem distribuídas durante o ano.
As forrageiras utilizadas no
experimento de inverno foram aveia preta (Avena
strigosa) e azevém (Lolium
multiflorum). A área experimental foi composta por quatro piquetes, dois
com 1900 m2, que corresponderam aos tratamentos de menor oferta de
forragem, e os outros dois piquetes com 4100 m2 para os tratamentos
que possuíam maior oferta. As forrageiras foram plantadas na quantidade de 80
kg de semente de aveia por hectare e 30 kg de semente de azevém por hectare,
nos meses de maio e abril, respectivamente. A área experimental foi delimitada
por cerca eletrificada e adubada com uréia na quantidade de 150 kg de
nitrogênio por hectare. Por se tratar de área de reserva ambiental (APA do rio
Iraí), o uso de herbicidas é proibido; assim, o controle de plantas invasoras
nos piquetes foi realizado manualmente.
O delineamento
utilizado foi inteiramente casualizado em esquema fatorial, com quatro
tratamentos compostos por duas ofertas de matéria seca para as duas espécies
forrageiras, totalizando quatro tratamentos assim identificados: aveia com
oferta de 5% do peso vivo dos animais (AV 5%); aveia com oferta de 12% do peso
vivo dos animais (AV 12%); azevém com oferta de 10% do peso vivo dos animais
(AZ 10%); azevém com oferta de 20% do peso vivo dos animais (AZ 20%).
A massa de
forragem foi quantificada quinzenalmente por meio do método do disco (CASTLE,
1976) com 200 aferições por área experimental. Foi mantida carga fixa de sete
animais por área experimental e, para se ajustar a massa de forragem por animal,
alterou-se o tamanho da área de acordo com a necessidade.
Os animais utilizados como traçadores foram 28 borregas da raça Suffolk com idades entre oito e nove meses, com sete animais para cada tratamento. Antes do início do experimento, os animais passaram por período de adaptação às pastagens, avaliação sanitária geral e receberam dose de vermífugo previamente testado com o objetivo de apresentarem uma carga parasitária baixa nesse momento. Os animais permaneceram em pastejo no período das oito horas da manhã até às quatro horas da tarde, durante todos os dias do experimento.
As amostras das forrageiras destinadas à avaliação da quantidade de larvas presente foram coletadas por meio de um quadro com área de 0,0625m2 (25 x 25 cm), cortadas rente ao solo e devidamente acondicionadas para processamento no Laboratório de Parasitologia Veterinária da UFPR de acordo com o método de TAYLOR (1939) e RAYNAULD & GRUNER (1982). As amostras foram divididas em estrato pastejado e não pastejado. O estrato pastejado pelos ovinos corresponde a aproximadamente 50% da porção superior da planta estendida (LACCA et al., 1992). A porção restante do material coletado no campo, que não foi utilizada para a obtenção das larvas, foi seca em estufa a 65ºC para a obtenção da quantidade de matéria seca das amostras. Após a contagem das larvas, os valores foram convertidos para número de larvas por grama de matéria seca (L.g MS-1).
Realizou-se o corte de amostras de pasto ao acaso antes da
entrada dos animais no experimento e quinzenalmente após sua entrada. Até o
final do período experimental foi possível realizar cinco coletas para cada
espécie forrageira (Tabela 1). Como a aveia é uma gramínea com desenvolvimento
mais precoce, as avaliações nessas áreas começaram uma semana antes em relação
ao azevém.
Para cada tratamento foram realizados quatro cortes de pastagens. As coletas foram realizadas nas horas mais amenas da manhã (das 7h30 às 10 horas).
As larvas recuperadas da pastagem, após sua contagem, foram agrupadas em uma amostra, por tratamento, estrato e coleta, e identificadas em gêneros conforme a chave de UENO & GONÇALVES (1994), VAN WYK et al. (2004) e GIBBONS et al. (2005).
Foram realizados exames coproparasitológicos quinzenalmente
pelo Método de
(1939) modificado e Gordon-WhitlockWillis
(1927).O número de ovos de helmintos por grama de
fezes está altamente correlacionado com a contagem de parasitos adultos
presentes no trato gastrintestinal do hospedeiro (DOUCH et al., 1996).
O critério para tratamento dos animais ocorreu conforme
contagem individual de OPG. Cada vez que esse valor atingiu 500, administrou-se
medicação anti-helmíntica com os seguintes princípios ativos: nitroxinil 10,2
mg/kg e moxidectina 0,2 mg/kg na forma injetável.
A cultura das larvas de tricostrongilídeos nas fezes foi realizada
segundo o método de ROBERTS & O’SULLIVAN (1950) e foi realizada a partir de
amostras de fezes dos animais presentes em um mesmo tratamento. A identificação
foi realizada conforme a chave proposta por UENO & GONÇALVES (1994), VAN
WYK et al. (2004) e GIBBONS et al. (2005).
As datas de avaliações coproparasitológicas nos animais foram
as mesmas das avaliações na pastagem (Tabela 1).
Para análise de variância dos valores encontrados
entre os tratamentos foi utilizado o programa Statistica V (STATISTICA, 1995).
As médias do número de larvas encontradas entre os tratamentos foram comparadas
pelo teste de Duncan a 5% de significância. Para comparação das médias de ovos
de helminto por grama de fezes (OPG) entre os tratamentos, os dados foram
transformados em log (x + 1) e submetidos ao teste de Duncan a 5% de
significância. O número de desverminações dos animais foi avaliado pelo teste
de resíduos padronizados (teste z para proporções).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se diferença estatística na quantidade de larvas de
helmintos por grama de matéria seca (L.g MS-1) presente na planta
inteira (p<0,05) entre as forrageiras estudadas. A média correspondeu a
24,60 L.g MS-1 para aveia e 104,53 L.g MS-1 para azevém.
Esses valores estão abaixo do encontrado por DITTRICH et al. (2004) em pastagem
de aveia (49,39 L.g MS-1), utilizando metodologia semelhante.
Todavia, os referidos autores trabalharam com contaminação artificial de 2 x 106
de ovos de nematódeos de ovinos por metro quadrado. Para a pastagem de azevém,
encontraram 76,11 L.g MS-1.
As coletas foram realizadas considerando-se o conceito de movimentação vertical das larvas (fototropismo), descrito por CAMUSET (1994), nos períodos em que, segundo o autor, haveria maior movimentação vertical das larvas para as porções superiores das plantas (fototropismo negativo).
A maior quantidade de larvas de nematódeos por grama de
matéria seca encontradas no azevém, em relação à aveia, foi previamente
relatada por DITTRICH et al. (2004), o que corrobora com o presente resultado,
provavelmente, por formar um microambiente mais propenso para o desenvolvimento
dos ovos de parasitos presentes nas fezes dos animais. O microclima favorável
seria proporcionado pela maior densidade de folhas por metro quadrado nessa
planta. Dessa maneira, há menor penetração de raios solares devido ao
sombreamento ocasionado pelas folhas, o que reduziria a dessecação de ovos e
larvas dos parasitos presentes no ambiente.
Entre as
espécies forrageiras, observou-se que os tratamentos com azevém apresentaram
maior contaminação da pastagem por larvas de helmintos.
No tratamento
aveia com 12% de oferta, verificou-se menor contaminação da pastagem por larvas
com relação aos demais (Tabela 2), o que indica que essa forrageira, fornecida
em quantidades adequadas, pode ser uma alternativa viável para diminuir o
contato dos ovinos com as larvas infectantes de helmintos parasitos.
A
contaminação da pastagem por larvas de helmintos nos tratamentos de menor
oferta de forragem foi superior (p<0,05) à contaminação dos tratamentos com
maior oferta de forragem para as duas espécies forrageiras estudadas (Tabela
2). Dessa forma, quanto maior a lotação da pastagem, maior será a contaminação
do piquete e, consequentemente, haverá aumento potencial de reinfecção dos
animais.
O número de
larvas de helmintos por grama de matéria seca (L.g MS-1) entre os
estratos inferior e superior apresentou diferença (p<0,05) tanto para aveia
como para azevém. O estrato inferior apresentou, em ambas as forrageiras,
contaminação maior quando comparado ao estrato superior da planta (Tabela 3). Com
relação às espécies forrageiras, no azevém ocorreu maior contaminação por
larvas do que na aveia em ambos os estratos (inferior e superior), seguindo o
mesmo padrão observado para a planta inteira. O trabalhos realizados por
DITTRICH et al. (2004) e GAZDA et al. (2009) confirmam que no estrato inferior
da planta ocorre maior concentração de larvas. Em estudos realizados com
diferentes espécies forrageiras, observou-se diferença no número de larvas
encontradas na planta, tanto para forrageiras tropicais, como para forrageiras
temperadas (DITTRICH et al., 2004; GAZDA et al., 2009).
Em estudo
sobre a quantidade de larvas de nematódeos em diferentes pastagens de verão, GAZDA
et al. (2009) observaram valores semelhantes (p>0,05) para pensacola (Paspalum saurae) e aruana (Panicum maximum). No entanto, observou-se
uma maior contaminação por larvas de nematódeos na pastagem (p<0,05) nos tratamentos
de menor oferta de forragem em relação aos de maior oferta, para ambas forrageiras
estudadas.
No tratamento de aveia com 5% de
oferta de forragem (AV 5%) o número de larvas de helmintos no estrato inferior
e superior foi semelhante (p>0,05), com médias de 18,42 e 14,40 L.g MS-1,
respectivamente. Para os demais tratamentos, aveia 12% de oferta e azevém 10% e
20% de oferta de forragem, o valor do número de larvas de helmintos por grama
de matéria seca foi menor (p<0,05) no estrato superior em relação ao estrato
inferior (Tabela 4).
CALLINAN & WESTCOTT (1986)
encontraram maior concentração de larvas no solo e nas plantas até dois
centímetros da superfície, o que corrobora com os resultados do presente
trabalho. Esses dados comprovam o potencial de maior ingestão de larvas
infectantes presentes nas plantas de menor altura e, portanto, em situações de
menor oferta de forragem, visto que os ovinos removem aproximadamente 50% de
uma planta estendida (LACA et al., 1992; GALLI et al., 1996). Nos tratamentos
com menor oferta de forragem, AV 5% e AZ 10%, a maior contaminação por larvas
de nematódeos foi no estrato superior quando comparados aos tratamentos de
maior oferta de forragem, AV 12% e AZ 20%, o que demonstra que a adequada
oferta de forragem é de fundamental importância na criação de ovinos a pasto
(Tabela 4). DITTRICH et al. (2004), em estudo sobre a contaminação de pastagens
de aveia e azevém por larvas infectantes de helmintos em diferentes alturas,
observaram que as pastagens de menor altura apresentaram maior quantidade de
larvas no estrato superior quando comparadas às pastagens de maior altura, o
que disponibilizaria aos animais uma maior ingestão de larvas.
Com relação ao estrato inferior,
observou-se que, nos tratamentos de aveia, a contaminação da pastagem foi
semelhante (p>0,05), enquanto que para o azevém foi maior o número de larvas
de nematódeos por grama de matéria seca (p<0,05) no tratamento com menor
oferta (AZ 10%) em relação ao tratamento de maior oferta (AZ 20%) (Tabela 4).
Entre as espécies forrageiras observou-se que, no estrato superior dos tratamentos AV 5% (14,40 L.g M.S.-1) e AZ 20% (19,39 L.g M.S.-1), não houve diferença (p>0,05) para contaminação de larvas. Para os demais tratamentos, azevém apresentou contaminação maior da pastagem (p<0,05), independente do estrato avaliado.
Ao longo do período experimental houve aumento linear no número de larvas
de helmintos por grama de matéria seca no estrato pastejado (superior), no
tratamento de aveia com 5% de oferta de forragem (Figura 1). A alta carga
animal desse tratamento acarretou a contaminação constante da pastagem com ovos
de helmintos.
Dentre as larvas de nematódeos recuperadas da pastagem
de aveia foram identificados os gêneros de tricostrongilídeos de ovinos nas
seguintes porcentagens: Trichostrongylus
39,5%, equivalente a 9,7 larvas infectantes por grama de matéria seca; Haemonchus 4,5% ou 1,1 larva/g M.S.; e Cooperia 3,3% ou 0,8 larva/g M.S. As
demais larvas de helmintos recuperadas foram Strongyloides 33,9%, nematódeos de vida livre 16,1%, Muellerius 2,2% e Bunostomun 0,2%.
Na pastagem de azevém foram recuperadas e identificadas
larvas dos seguintes gêneros de tricostrongilídeos: Trichostrongylus 44,6% ou 46,7 larvas/g M.S.; Haemonchus 12,2% ou 12,8 larvas/g M. S.; e Cooperia 1,5% ou 1,6 larvas/g M. S. Foram recuperadas larvas dos
nematódeos Strongyloides 19,9%, vida
livre 17,6%, Muellerius 3,2%, Dictyocaulus 0,7% e Bunostomun 0,2%.
Comparativamente, a espécie forrageira azevém
apresentou quantidade de larvas do gênero Haemonchus
superior ao número de larvas presentes na aveia.
Como o método qualitativo é mais sensível que o quantitativo,
amostras com OPG negativo, mas positivas no método de WILLIS (1927), foram
consideradas com 100 OPG.
Considerando o grau de infecção parasitária dos animais
mantidos nas duas diferentes espécies forrageiras de inverno, não houve
diferença quanto ao número de ovos de helmintos por grama de fezes (OPG). A
média correspondeu a 677 OPG para os animais que estavam nos piquetes de aveia
(AV 5% e AV 12%) e 921 OPG para os animais pertencentes aos piquetes de azevém
(AZ 10% e AZ 20%).
Não foi observada diferença
(p>0,05) em relação ao OPG (Tabela 5) entre os animais mantidos nas
diferentes ofertas de forragem. Todavia, na pastagem de aveia com oferta de 12%
(AV 12%) verificou-se média de OPG 50% inferior ao valor de OPG das demais
ofertas de forragem. O tratamento AV 12% apresentou OPG abaixo de 500, o que
sugere menor utilização de medicação anti-helmíntica, economia de recursos para
os produtores, além da redução do uso de fármacos no sistema de produção.
O maior
número de larvas de helmintos encontradas no azevém, a princípio, não se
traduziu em maior carga parasitária dos animais que o pastejaram em relação aos
animais pertencentes aos piquetes de aveia. Acredita-se que esse aspecto seja
consequência de os dois tratamentos do azevém terem apresentado oferta de
forragem alta, de 10% e 20% do peso dos animais, o que teria reduzido o possível
efeito na carga parasitária dos animais, ocasionado pela espécie forrageira.
Observou-se que no tratamento AV 5%, que proporcionou a menor
oferta de forragem para os animais, houve aumento linear no número de ovos de
helmintos por grama de fezes dos animais com o tempo (Figura 2), o que não foi
observado para os demais tratamentos com oferta elevada. Coincidentemente,
houve o mesmo comportamento para a contaminação da pastagem (Figura 1), o que
demonstra que pastagens com altas taxas de lotação levam a um ciclo vicioso: à
medida que os animais infectam-se ao ingerir larvas de helmintos parasitas, em
decorrência da alta lotação, ocorre recontaminação da pastagem de maneira mais
intensa, expondo os animais a uma maior quantidade de larvas e levando a uma
consequente reinfecção dos animais que, por sua vez, acumulam carga parasitária
ainda maior, com agravamento do estado sanitário do rebanho e inviabilização da
criação de ovinos a pasto.
GAZDA et al. (2009), em estudo com forrageiras de verão,
observaram que animais de tratamentos de menor oferta de forragem apresentaram
valores maiores de OPG (p<0,05), em comparação aos animais de tratamentos de
maior oferta de forragem.
Os ovinos mantidos em pastagens das espécies forrageiras aveia e azevém
requerem controle parasitológico intensivo, pois, neste estudo, em condições de
contaminação natural, constatou-se nas gramíneas a presença considerável de
larvas de nematódeos patogênicos, especialmente no azevém.
Na Tabela 6 observa-se o número de animais desverminados isoladamente em cada tratamento. Não foi verificada diferença (p>0,05) no número de desverminações dos animais entre as diferentes ofertas de forragem de aveia e azevém.
Os valores de ovos de helmintos por
grama de fezes não diferiram entre si (p>0,05); entretanto, considerando-se
a epidemiologia da verminose ovina, tais valores contribuíram para a
recontaminação do ambiente e causaram o incremento do custo de produção devido
ao gasto com as necessárias desverminações dos animais.
No estudo de GAZDA et al. (2009) foi
constatado que animais mantidos em maior oferta de forragem apresentaram menor
número (p<0,05) de desverminações individuais em relação aos tratamentos de
menor oferta de forragem.
Durante o período de avaliação, as coproculturas
indicaram prevalência do gênero Trichostrongylus
(40,1%) sobre os gêneros Haemonchus
(29,9%), Cooperia (20,2%) e Strongyloides (9,8%).
CONCLUSÕES
A alta carga animal por
unidade de área contribuiu para a contaminação constante da pastagem e,
consequentemente, para a infecção dos animais.
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