O trabalho teve como objetivo avaliar
se a peletização interfere na atividade enzimática de dietas com um
complexo enzimático (CE) produzido utilizando a tecnologia de
fermentação no estado sólido. Alojaram-se 216 frangos de corte machos
Cobb (1 a 21 dias de idade) em baterias, num total de seis repetições
por tratamento e seis aves por tratamento. Os tratamentos consistiram
em T1: dieta-controle farelada; T2: dieta-controle peletizada; T3:
dieta superestimada com CE farelada; T4: dieta superestimada sem CE
farelada; T5: dieta superestimada com CE peletizada; T6: dieta
superestimada sem CE peletizada. Reformularam-se dietas com
superestimação de 75 kcal EM/kg, 0.1% Ca e P. Observou-se que houve um
aumento no ganho de peso, coxa e sobrecoxa com o uso de dieta
peletizada. A coloração da carne não foi influenciada pelos
tratamentos. Resultados indicaram que dietas com o complexo enzimático
não foram afetadas pela peletização (75º C).
PALAVRAS-CHAVES: Cor da carne, desempenho, frango de corte, pellets, resistência óssea.
EFFECT OF PELLETIZATION ON DIETS CONTAINING AN ENZYMATIC COMPLEX TO BROILER CHICKENS
This study aimed to examine if
pelletization interferes in the dietary enzymatic activity, in which an
enzymatic complex (EC) produced by solid state fermentation technology
was used. A total of 216 Cobb male broilers (1 to 21 days of age) were
allocated in batteries. A total of 6 replicates per treatment, and 6
broilers per treatment were used. Treatments consisted of T1- Control
mash diet, T2- Control pellet diet, T3- Overestimated mash diet + EC,
T4- overestimated mash diet without addition of EC, T5- Overestimated
pellet diet + EC, and T6- overestimated pellet diet without addition of
EC. All overestimated diets were reformulated to 75 kcal ME/kg, 0.1% Ca
and P. Growth performance, drumstick and thigh were increased with the
use of pellet diet. Meat color was not influenced by dietary
treatments. Results indicated that the enzymatic complex was not
affected by pelleting (75º C) the diets.
KEYWORDS: Bone strength, broiler, meat color, pellet, performance.
Têm ocorrido grandes avanços na
avicultura e, diante disso, os nutricionistas buscam alternativas que
tornem a ração mais eficiente e econômica, por ser o item de maior
custo na produção dos frangos de corte. Atualmente, para a exportação
de frangos de corte, não se pode utilizar produtos de origem animal na
ração e, além disso, o preço do milho e soja vem aumentando em função
do etanol e do biodiesel. De acordo com WYATT & BEDFORD (1998), é
possível reformular dietas para reduzir custos sem prejudicar o
desempenho produtivo dos animais. As enzimas exercem um efeito
considerável na redução da poluição ambiental. Além disso, seu efeito
redutor de custo de formulação e o efeito antinutricional de alguns
ingredientes têm tornado seu uso mais efetivo pelas empresas
(LECZNIESKI, 2006).
O uso de enzimas na formulação de dietas comerciais para frangos de
corte tem sido uma opção viável para os produtores, dadas as respostas
positivas na digestibilidade dos alimentos e no desempenho das aves,
afetando diretamente a eficiência produtiva (ALBINO et al., 2007).
ZANELLA et al. (1999)
demonstraram que a adição de um complexo multienzimático em dietas de
frangos de corte, formuladas à base de milho e soja integral tostada e
extrusada, melhorou a digestibilidade da proteína e do amido das
dietas. TORRES et al. (2003) e COSTA et al.
(2004) verificaram que aves alimentadas com dietas à base de milho e
farelo de soja, suplementadas com complexo enzimático, tiveram melhor
digestibilidade de nutrientes e melhor desempenho produtivo.
A maioria das especificações dos nutrientes é estabelecida com o
alimento farelado, e elas podem não ser as mesmas para o alimento
peletizado. Além disso, torna-se fundamental fazer um controle
criterioso do que está acontecendo com a enzima adicionada à ração.
Deve-se fazer um monitoramento contínuo não somente por fábrica, mas
também por linha de produção, uma vez que as fábricas de ração não são
iguais umas às outras e ainda, numa mesma fábrica, pode haver linhas de
produção com condições diferentes entre si (temperatura de
processamento, pressão de vapor, tempo de condicionamento, tipos de
equipamentos, capacidade de produção etc.). A composição dos
ingredientes na dieta pode ter um impacto importante sobre a qualidade
dos peletes, já que diferentes ingredientes relacionam-se de forma
diferente com o vapor, a pressão e a temperatura do processo de
peletização (KLEIN et al., 1996).
Para uma boa utilização de enzimas, sua atividade biológica deve
sobreviver aos rigores da fabricação e armazenagem da ração, resistir
ao baixo pH e às enzimas proteolíticas do trato digestório. Quando o
alimento é submetido a temperaturas elevadas, como nos processos de
peletização e extrusão, pode ocorrer desnaturação das enzimas,
eliminando o benefício de sua inclusão na dieta dos animais (SARTORI,
1999).
ROSE & ARSCOTT (1960) concluíram que, durante o processo de
peletização, ocorrem sensíveis alterações na estrutura do amido dos
cereais, tornando-o mais sensível ao ataque das enzimas responsáveis
pela digestão, o que justifica, em grande parte, a melhora de
resultados conseguidos com as rações peletizadas. O processo de
peletização de uma ração aumenta o seu teor de energia produtiva, pela
redução do tempo de ingestão e pela redução da energia gasta na
preensão do alimento (REDDY et al.,
1961). De acordo com FLEMMING (2002), aves que receberam ração
peletizada gastaram 4% do tempo na ingestão de alimentos e aquelas que
receberam ração farelada gastaram 15%.
As enzimas utilizadas na alimentação de não ruminantes devem resistir e
conservar atividade considerável depois dos processos de fabricação, já
que as dietas peletizadas são submetidas a condições adversas de
temperatura, umidade e pressão. Fatores como tempo de condicionamento,
temperatura e pressão de vapor são críticos para estabilidade da enzima
na ração (FRANCESCH, 1996; LECZNIESKI, 2006).
Segundo GRAHAM & INBORR (1991), citados por BORGES (1997), a
estrutura molecular das enzimas é bastante frágil e, consequentemente,
pode ser desnaturada por calor, álcalis, metais pesados e outros
agentes oxidantes. O calor do processo de peletização pode inativar
permanentemente as enzimas, e a enzima ideal deve ser capaz de suportar
temperaturas entre 70° e 90o C, normalmente alcançadas durante o
processo de peletização.
Assim, objetivou-se avaliar se o processo de peletização interfere na
eficiência das enzimas adicionadas à dieta, influenciando o desempenho
produtivo, o rendimento de cortes, a cor do músculo peitoral e a
resistência óssea de frangos de corte no período de 1 a 21 dias de
idade.
O complexo enzimático (CE) utilizado
neste trabalho era composto pelas enzimas fitase, protease, xilanase,
ß-glucanase, celulase, amilase e pectinase. Foi produzido por ação
fúngica utilizando tecnologia em fermentação em estado sólido, que
permite obter uma maior digestibilidade dos ingredientes vegetais que
compõem a dieta.
O experimento foi desenvolvido no aviário experimental do Departamento
de Zootecnia da Universidade Federal de Pelotas (DZ/UFPEL), num período
de 21 dias, durante o período de 20 de dezembro de 2005 a 10 de janeiro
2006. Alojaram-se 216 pintos de corte, machos, da linhagem Ross com um
dia de idade, em dois conjuntos de baterias de cinco andares, divididos
em quatro repartições de 90 cm de comprimento x 40 cm de largura x 30
cm de altura cada. O sistema de aquecimento utilizado foi através de
resistência, sendo as ligações feitas doze horas antes do alojamento e
mantidas nos primeiros dias por 24 horas. Depois foram manejadas
conforme a temperatura ambiente interna no aviário, seguindo as
recomendações do manual da linhagem Ross. Diariamente, era realizado o
monitoramento das temperaturas máxima e mínima e da taxa de umidade
relativa do ar interna do galpão experimental. No piso de tela
metálica, colocaram-se papel e bandejas com ração inicial, sendo
retirados ao final de três dias. O fornecimento de água e ração foi
realizado por bebedouro e comedouro do tipo calha acoplado nas baterias.
Ao chegarem, os pintos foram pesados individualmente e distribuídos nos
boxes com um peso corporal médio de ±46 g. Os tratamentos consistiram
de T1 – dieta controle farelada; T2 – dieta controle peletizada; T3 –
dieta superestimada (75 kcal ME/kg, 0.1% Ca, 0.1% Pi) com SSF farelada;
T4 – dieta superestimada (75 kcal ME/kg, 0.1% Ca, 0.1% Pi) sem SSF
farelada; T5 – dieta superestimada (75 kcal ME/kg, 0.1% Ca, 0.1%Pi) com
SSF peletizada; T6 – dieta superestimada (75 kcal ME/kg, 0.1% Ca,
0.1%Pi) sem SSF peletizada.
O programa de alimentação foi realizado para produção de aves de 1 a 21 dias (
Tabela 1),
à base de milho e farelo de soja, reformulado de forma a superestimar a
energia metabolizável em 75 kcal EM/kg, o fósforo inorgânico em 0,1% e
o cálcio em 0,1%. Incluiu-se o CE nas dietas na quantidade de 200 g
para cada 1.000 kg, segundo recomendações do fabricante. As dietas
experimentais foram preparadas pelo processo de mistura convencional na
fábrica de ração da EMBRAPA-CNPSA (Concórdia - SC). Ensacou-se a parte
que seria fornecida como farelada, peletizando-se a outra parte com
peneira de 4,0 mm (3/32), e com temperatura interna 75ºC.
Analisaram-se as seguintes variáveis: consumo de ração (CR), ganho de
peso (GP), conversão alimentar (CA), taxa de mortalidade (TM) e índice
de eficiência produtiva ((viabilidade x ganho de peso (kg) /consumo x
CA) x 100). Ao final de 21 dias, pesaram-se todas as aves, sendo
retirada uma ave por unidade experimental com peso corporal de ± 10% da
média da repetição. Realizou-se o abate no Abatedouro Experimental do
Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça da Universidade Federal de
Pelotas (CAVG/UFPEL), sendo separados, para determinação do rendimento,
o peito, as coxas e as sobrecoxas, os quais foram utilizados para
determinação do percentual de cinzas e resistência óssea.
Das coxas e sobrecoxas direitas, extraíram-se os ossos tíbia e fêmur,
sendo pesados e desengorduras para o cálculo do percentual de cinzas.
Para a retirada de gordura, mantiveram-se os ossos imersos em éter por
doze horas. Após, foram expostos ao meio ambiente, para volatilização,
e colocados em estufa à temperatura de 105ºC durante 24 horas, para
determinação da matéria seca. Posteriormente, foram colocados na mufla
a 600ºC por doze horas, para determinação das cinzas. Destinaram-se os
ossos do fêmur e a tíbia esquerda, in natura, para análises de
resistência óssea, em prensa computadorizada (Instron Universal Testing
Machine - modelo 1130). Os ossos foram colocados na posição horizontal
sobre dois suportes, sendo a pressão aplicada no centro deles. A
quantidade máxima de força aplicada ao osso antes de sua ruptura é
considerada como resistência à quebra dos ossos.
Para determinação da cor, o músculo peitoral maior (
Pectoralis major)
de cada ave foi identificado, embalado em filme plástico e congelado a
-18ºC. Para análise, descongelaram-se as amostras a 4ºC durante 24
horas. Após esse período, procedeu-se às leituras com um
colorímetro Minolta® (modelo CR-300), sobre placa plástica branca, e à
calibração, em ladrilho cerâmico branco. O sistema utilizado foi o
L*a*b*, (McLaren, 1976), em que o L corresponde à luminosidade, a ao
índice de vermelho (variando de verde a vermelho), e b ao índice de
amarelo (variando de amarelo a azul). Em cada peitoral, efetuaram-se
três leituras em pontos diferentes (porção cranial, mediana e caudal),
sendo o resultado expresso como a média dessas leituras.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso, com seis
tratamentos de seis repetições e com seis aves por unidade
experimental. Os dados foram submetidos à analise de variância e as
médias comparadas por meio de contrastes ao nível de 5% de
probabilidade, utilizando-se o programa estatístico SAS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de desempenho produtivo dos frangos de corte alimentados com
dietas fareladas ou peletizadas, com ou sem enzimas, no período de 21
dias, são apresentados na
Tabela 2.
Não houve efeito significativo dos tratamentos sobre o CR, TM e IEP.
Entretanto, observou-se efeito (P<0,01) dos tratamentos sobre o GP e
CA. Esses resultados discordam dos apresentados por GARCIA (2003), que
verificou CR em frangos de corte, quando dietas fareladas e peletizadas
à base de milho e soja foram suplementadas com as enzimas amilase,
xilanase e protease.
As aves que receberam ração peletizada tiveram maiores GP e melhor CA,
quando comparadas com as que receberam ração farelada, independente da
presença do CE. Isso se deve, provavelmente, ao menor desperdício de
ração e à maior concentração de nutrientes resultantes da peletização,
ao passo que, com o uso de ração farelada, dependendo da sua
granulometria, a ave seleciona as partículas maiores, o que causa um
desequilíbrio nutricional e, consequentemente, piora no desempenho. No
entanto, HAMILTON & PROUDFOOT (1995), comparando diferentes
granulometrias em dietas fareladas, observaram que o peso corporal
aumentou quando a granulometria das dietas foi aumentada. BUSTANY
(1996), ao alimentar pintainhos com dieta peletizada, verificou um GP
de 7,8% sobre as aves alimentadas com ração farelada, concluindo que
pintainhos alimentados com dietas fareladas eram incapazes de ajustar o
consumo, dada a baixa concentração de nutrientes nas partículas dos
ingredientes.
LEITE (2006) comparou dieta farelada com duas dietas peletizadas. As
dietas foram formuladas contendo ou não CE (Allzyme® Vegpro), sendo as
peletizadas adicionadas de minerais e vitaminas antes e após a
peletização. O autor observou que o GP melhorou em 3,31% quando se
utilizou a ração farelada com enzimas. E no caso das rações peletizadas
com enzimas e com adição de vitaminas e minerais antes da peletização,
observaram-se melhorias no GP de 1,78% em relação às dietas não
suplementadas.
Independente da adição de CE, as dietas peletizadas (dieta-controle
peletizada, dieta superestimada com CE peletizada; dieta superestimada
sem CE peletizada) apresentaram melhor CA (P<0,05), em comparação
com os valores obtidos com a ração farelada, indicando que a
peletização melhorou a digestibilidade e absorção dos nutrientes.
Na
Tabela 3,
pode-se observar efeito significativo dos tratamentos sobre o peso
corporal pré-abate (P=0,0003) e sobre o rendimento de coxa e sobrecoxa
(P=0,0470) aos 21 dias de idade. Os frangos que receberam ração
peletizada apresentarm maior peso, comparados com os que receberam
ração farelada, independente da presença do CE. Isso é confirmado
quando o resultado obtido com a ração farelada foi contrastado com o da
ração peletizada, ambas sem CE, pela análise de contraste simples
(P=0,0052).
Para o rendimento de coxas e sobrecoxas, observou-se que foi
significativo o contraste dieta-controle peletizada x dieta peletizada
sem CE, em que as aves que receberam dietas peletizadas, sem CE,
apresentaram menor rendimento. Isso se explica pelo fato de essa dieta
ser reformulada e não conter enzimas que atuariam na liberação dos
nutrientes, melhorando o rendimento de coxas e sobrecoxas.
Com se observa na
Tabela 4, não foram encontradas diferenças significativas no conteúdo de minerais nos ossos e na resistência óssea aos 21 dias de idade.
Na
Tabela 5 são apresentados os resultados da cor do músculo peitoral maior (
Pectoralis major)
de frangos de corte aos 21 dias de idade. Não foi observado efeito
significativo (P>0,05) dos tratamentos sobre a coloração da carne de
frango de corte aos 21 dias. A coloração da carne pode variar em função
da espécie, das características bioquímicas do músculo, da idade, do
sexo, das raças, da nutrição, da gordura intramuscular e das condições
de abate (NORTHCUTT
et al.,
1997). O músculo esquelético das aves é constituído por um músculo
branco, formado predominantemente por fibras glicolíticas, pobres em
mioglobina, e músculo vermelho, constituído predominantemente por
fibras oxidativas com poucas reservas lipídicas (BANKS, 1992). A
tonalidade varia em função do estado de oxigenação (ou de oxidação) da
mioglobina e depende também do estado químico desse pigmento, assim
como da estrutura do músculo, que reflete a luz, e de fatores externos,
tais como oxigenação e temperatura. Isso tem importância, pois o grau
de maciez e a coloração da carne são características importantes para o
consumidor. Além das características produtivas, a qualidade da carne
dos frangos tem sido considerada, uma vez que as características
sensoriais, como aparência e maciez da carne, são exigidas pelo
consumidor (BERAQUET, 2000).
CONCLUSÕES
A peletização das dietas na temperatura de 75ºC não causa efeito
deletério na atividade enzimática do complexo enzimático utilizado e o
uso de rações peletizadas melhora os índices produtivos de frangos de
corte criados até 21 dias de idade.
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