EFEITOS DOS
EXTRATOS AQUOSO E METANÓLICO DE ALGAROBA SOBRE CULTURAS DE LARVAS DE NEMATÓDEOS
GASTRINTESTINAIS DE CAPRINOS
Maria José
Moreira Batatinha1, Gisele Nunes Almeida2, Luciana
Ferreira Domingues3, Monica Mattos dos Santos Simas1,
Mariana Borges Botura4, Ana Carla Ferreira Guedes da Cruz5,
Maria Angela Ornelas de Almeida1
1Professora Doutora da
Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA - mjmb@ufba.br
2Graduanda em Veterinária,
Laboratório de Toxicologia Veterinária - Hospital de Medicina Veterinária -
UFBA, Salvador, BA
3Doutoranda em Medicina
Veterinária na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP,
Jaboticabal, SP.
4Doutoranda em Biotecnologia
na Universidade Estadual de Feira de Santana, BA
5Pós-Graduanda em Ciência Animal Nos Trópicos da Universidade Federal da Bahia, UFBA, Salvador BA.
RESUMO
Este
trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos in vitro dos extratos metanólico e aquoso dos frutos e das folhas
de Prosopis juliflora (Sw) D.C. (algaroba), respectivamente, sobre
cultivos de larvas de nematódeos gastrintestinais de caprinos. Seis
concentrações do extrato metanólico (724,5; 557,3; 428,7; 329,8; 253,7;
195,1mg/mL) e uma concentração do extrato aquoso (110 mg/mL) foram utilizadas
para o tratamento dos cultivos de larvas, realizados
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PALAVRAS-CHAVE:
Anti-helmíntico; Caprinos; Prosopis juliflora.
EFFECTS OF AQUEOUS AND METHANOL
EXTRACTS OF ALGARROBA ON CULTURES OF LARVAE OF
GASTROINTESTINAL NEMATODES IN GOATS
ABSTRACT
The aim of this experiment
was to evaluate the in vitro effects
of the aqueous and methanol extracts of the leaves and fruits of Prosopis juliflora (Sw) D.C.,
respectively, on larvae cultures of
gastrointestinal nematodes of goats. Six different concentrations of the
methanol extract (724.5; 557.3; 428.7; 329.8; 253.7; 195.1mg/mL) and one of the
aqueous extracts (110.0mg/mL) were
used for the treatment of larvae cultures, in triple assays. Destilled water and doramectin were
used to treat cultures considered to be negative and positive control,
respectively. The results revealed a reduction of more than 90% of the
infective larvae between the concentrations of 724.5 up to 253.7 mg/mL for the
methanol extract and a low percentage of reduction (59.87%) for the aqueous
extract. Only the methanol extract of Prosopis
juliflora (Sw) D.C. was effective in the in vitro treatment of gastrointestinal nematodes of goat.
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KEYWORDS: anthelmintic; goats;
Prosopis juliflora.
INTRODUÇÃO
A resistência desenvolvida
pelos nematódeos aos anti-helmínticos comerciais, em decorrência principalmente
do seu uso inadequado, tem incentivado a procura de métodos alternativos para o
controle de parasitos, incluindo a utilização de medicamentos fitoterápicos
(VIEIRA, 2008). Vários relatos sobre atividades farmacológicas de plantas
medicinais, como a atividade anti-helmíntica, têm sido documentados em diversas
partes do mundo (HYMETE et al., 2005;
MARIE-MAGDELEINE et al., 2009; ADEMOLA & ELOFF, 2010).
Dentre as várias plantas com
propriedades farmacológicas, Prosopis
juliflora (algaroba) tem sido intensivamente investigada quanto às suas
atividades antibacteriana (SATISH et al., 1999), antifúngica (SHANMUGAM, 2004)
e inseticida (NAQVI et al., 1994). Os alcalóides piperidínicos, isolados das
folhas (AHMAD & QAZI, 1985) e frutos (BATATINHA, 1997) desta planta, são
referidos como os mais importantes compostos farmacologicamente ativos, tendo
sido testados em diferentes sistemas biológicos, sendo-lhes atribuídas as
atividades terapêuticas conferidas à planta (KANTHASAMY et al., 1989; NAQVI et
al.,1994).
Até o momento, nenhum relato
científico sobre os possíveis efeitos antiparasitários desta planta foi
descrito. O objetivo deste trabalho foi avaliar, in vitro, os efeitos anti-helmínticos do extrato aquoso das folhas
e do extrato metanólico dos frutos de algaroba sobre cultivos de larvas de
terceiro estágio de nematódeos gastrintestinais de caprinos, o que poderá
contribuir para o desenvolvimento de tratamentos alternativos no controle de
parasitos e na pesquisa de novos princípios ativos de plantas com atividade
anti-helmíntica.
Para obtenção do extrato aquoso, as folhas de
algaroba foram secas à temperatura ambiente, trituradas em liquidificador
industrial e submetidas a uma extração aquosa sob homogeneização mecânica, por
um período de 24 horas. O material obtido foi filtrado, acondicionado em frasco
de vidro âmbar, liofilizado e mantido sob congelamento até o momento da
realização dos testes.
Na preparação do extrato
metanólico, os frutos da planta previamente secos à temperatura ambiente, foram
inicialmente submetidos a uma extração hexânica na proporção de 1,5L de
hexano/Kg da planta durante um período de 24 horas, para remoção da fração
lipofílica, procedendo-se, logo após, à filtração e evaporação do filtrado em
rotaevaporador, sendo esse processo repetido três vezes. Em seguida, o resíduo
dos frutos foi submetido a uma extração metanólica na proporção de 1,5L de
metanol/Kg da planta durante um período de 24 horas, seguido de filtração. Esse
processo também foi repetido três vezes e, da mesma forma, o filtrado obtido
foi evaporado em aparelho de rotaevaporação à temperatura de aproximadamente
40ºC, até obtenção do resíduo, o qual foi acondicionado em frascos âmbar e
mantido sob refrigeração até o momento da sua utilização.
A determinação das
concentrações dos extratos foi baseada em resultados obtidos de experimentos
pilotos, através dos quais se obteve a mais alta e solúvel concentração
possível do extrato aquoso (110 mg/mL) e metanólico (724,5 mg/mL). Para o
extrato metanólico, a partir desta maior concentração, outras cinco menores
foram estabelecidas, utilizando-se um intervalo numérico fixo de 1,3 entre as
mesmas, até a obtenção da menor concentração efetiva, sendo testadas 724,5;
557,3; 428,7; 329,8; 253,7; 195,1 mg/mL. Para o extrato aquoso, apenas a mais
alta concentração possível de ser obtida (110 mg/mL) foi avaliada, uma vez que
a mesma não revelou efeito anti-helmíntico aceitável no estudo piloto.
Caprinos naturalmente
infectados com helmintos gastrintestinais e mantidos na Escola de Medicina
Veterinária da Universidade Federal da Bahia foram utilizados para obtenção de
fezes, coletadas diretamente da ampola retal e submetidas individualmente à
contagem de ovos por grama de fezes (OPG), segundo TAIRA et al. (2003). As
amostras de fezes com OPG maior que 2000 foram misturadas formando um único
homogeneizado para realização das coproculturas (UENO & GONÇALVES, 1998).
As diferentes concentrações
dos extratos foram testadas em triplicata nos cultivos de larvas constituídos
de 2g de fezes, 2g de serragem e 2 mL do extrato e incubadas durante sete dias
em estufas a
O efeito de cada concentração
dos extratos sobre larvas de nematódeos gastrintestinais de caprinos foi
determinado pelo cálculo dos percentuais de redução através do teste de redução
de larvas por grama de fezes (VIZARD & WALLACE, 1987).
As diferenças entre as
respectivas concentrações dos extratos utilizados foram avaliadas pelo Teste de
Variância Univariada, utilizando-se o programa estatístico SPSS (versão 10.0).
Devido à grande variação do número de larvas da superfamília Strongyloidea observado nas diferentes
concentrações testadas, os valores foram submetidos à transformação
logarítmica, empregando-se a equação: y= log (x + 25) (BOX & COX, 1964).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No tratamento dos cultivos com 110 mg/kg do extrato
aquoso das folhas de algaroba observaram-se diferenças significativas do número
de larvas referentes aos três gêneros testados e ao total de larvas (Tabela 3).
No entanto, este tratamento resultou em um percentual de redução abaixo de 90%,
com valores de 60,93; 50,92; 27,11 e 59,87% respectivamente, para as larvas dos
gêneros Haemonchus, Oesophagostomum, Trichostrongylus e para o total de larvas (Tabela 4). O efeito
anti-helmíntico de uma droga é assegurado quando o percentual de redução do
número de larvas é superior a 90% (VERCRUYSSE et al., 2001). A concentração
testada deste extrato correspondeu à mais alta concentração possivelmente
solúvel e, devido ao baixo efeito anti-helmíntico, concentrações menores não
foram testadas.
O efeito anti-helmíntico in vitro
observado apenas no tratamento com o extrato metanólico dos frutos da P. juliflora pode estar relacionado à
possível ação dos alcalóides piperidínicos presentes neste extrato, aos quais
têm sido atribuídas as propriedades farmacológicas da planta (AHMAD et al.,
1989; KANTHASAMY et al., 1989), sendo a juliflorina considerada como o
principal alcalóide (AHMAD & QAZI, 1985), revelando atividades inseticida
(NAQVI et al., 1994), antifúngica
(KHURSHEED et al., 1986) e anti-bacteriana (AHMAD et al., 1986). Estudos utilizando a fração
total de alcalóides da planta ou esses componentes isolados fazem-se
necessários para a comprovação dos constituintes químicos responsáveis pela
ação anti-helmíntica encontrada neste estudo.
Apesar da inexistência de
relatos científicos sobre as propriedades anti-helmínticas da algaroba,
resultados de pesquisas têm revelado atividade antiparasitária de plantas que
também apresentam alcalóides piperidínicos na sua composição química (PANTER
& KEELER, 1989; TANIGUCHI & OGASAWARA, 2000; MOO-PUC et al., 2007).
Esses alcalóides têm sido referidos como os constituintes ativos de maior
importância fármaco-toxicológica encontrados nas folhas e frutos da algaroba
(AHMAD et al., 1989; KANTHASAMY et al., 1989; NAQVY et al., 1994).
Nenhum relato sobre a atividade anti-helmíntica do extrato aquoso da P. juliflora foi descrito, embora
resultados de estudos demonstrem atividade antifúngica (CHAYA et al., 1979) e antibacteriana (SATISH et
al., 1999) para o extrato sem que, no entanto, referência sobre os possíveis
constituintes ativos presentes no mesmo e relacionados a tais atividades sejam
relatadas.
Considerando-se, ainda, que a concentração testada deste extrato (110
mg/mL), correspondente à mais alta concentração possível de ser obtida, não
tenha revelado eficácia sobre os cultivos de larvas de nematódeos
gastrintestinais, nenhuma correlação direta com a menor concentração efetiva do
extrato metanólico (329,8 mg/mL) utilizada pôde ser realizada, uma vez que esta
última equivale a 2,99 vezes a concentração do extrato aquoso.
O
extrato metanólico dos frutos da P.
juliflora tem efeito anti-helmíntico in
vitro sobre larvas de nematódeos gastrintestinais de caprinos, enquanto que
o extrato aquoso das folhas desta planta não apresentou tal atividade.
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