EFEITO
DO TEMPO E DA TEMPERATURA DE REFRIGERAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTO DE MICRORGANISMOS PSICROTRÓFICOS EM LEITE CRU
REFRIGERADO COLETADO NA MACRORREGIÃO DE GOIÂNIA, GO
Priscila Alonso dos Santos,1 Marco Antônio Pereira da Silva,2 Cleusely Matias de Souza,3 Jacira dos Santos Isepon,4 Antônio Nonato de Oliveira5 e Edmar Soares Nicolau5
1. Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, GO
2. Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, GO. E-mail: marcotonyrv@yahoo.com.br
3. Universidade Federal de Goiás, Campus de Jataí, GO
4. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquisa Filho”, Campus de Ilha Solteira, SP
5. Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás.
RESUMO
O objetivo da pesquisa foi
avaliar o efeito do tempo de estocagem e da temperatura de
refrigeração sob a contagem de microrganismos
psicrotróficos e psicrotróficos proteolíticos
em amostras de leite cru refrigerado. No período de agosto a
setembro de 2005 coletaram-se 34 amostras de leite cru refrigerado de
tanques de expansão, sendo 29 individuais e cinco coletivos.
Para a coleta das amostras seguiu-se uma rota determinada pela
indústria localizada na macrorregião de Goiânia,
GO. Para a avaliação microbiológica, foi
realizada a contagem-padrão em placas de microrganismos
psicrotróficos e psicrotróficos proteolíticos.
Para a determinação e quantificação do
caseinomacropeptídeo (CMP), adotou-se a metodologia proposta em
BRASIL (1991). A contagem de microrganismos psicrotróficos e
psicrotróficos proteolíticos aumentou com o tempo de
estocagem do leite cru refrigerado. Observou-se o funcionamento
inadequado do termostato dos tanques de expansão, podendo
ocasionar prejuízos principalmente ao produtor de leite.
Não foi constatada a presença de CMP pela cromatografia
líquida de alta eficiência.
PALAVRAS-CHAVES: Leite in natura, proteólise, Pseudomonas spp.
ABSTRACT
EFFECT OF TIME AND TEMPERATURE OF
REFRIGERATION IN THE DEVELOPMENT OF PSYCHROTROPHIC MICRORGANISMS IN
COOLED RAW MILK COLLECTED IN THE MACROREGION OF GOIÂNIA, GO
The objective of the
research were evaluated the effect of storage time and of refrigeration
temperature under the counting of psychrotrophics microrganisms and
proteolytics psychrotrophics in refrigerated raw milk samples. In the
period of August the September of 2005 34 refrigerated raw milk samples
were collected of refrigeration tanks, being 29 individuals and five
collectives. Milk was proceeding from bovine flocks. For the collection
of the samples followed a route determined for the industry located in
the macroregion of Goiânia – GO, Brazil. For the
microbiological evaluation was carried the standard plate count method
of psychrotrophics microrganisms and proteolytics psychrotrophics. For
the determination and quantification of the glycomacropeptide (GMP)
were adopted methodology proposal in Brazil (1991). The counting of
psychrotrophics microrganisms and proteolytics psychrotrophics
increased with the storage time of refrigerated bovine milk. Were
observed the inadequate tanks were observed e presence of GMP for the
High Performance Liquid Chromatography (HPLC) was not evidenced.
KEY WORDS: Proteolysis, Pseudomonas spp, raw milk.
INTRODUÇÃO
Com a
granelização do leite na propriedade rural, a
produção passou a ser entregue a qualquer hora do dia,
já que os tanques de expansão garantem a qualidade do
leite por até 48 horas. As vantagens da
granelização são evidentes, pela possibilidade de
transporte do leite refrigerado em caminhões-tanque
isotérmicos, o que resulta na diminuição da
contagem de microrganismos do leite.
Segundo NERO et al.
(2005), a adoção do resfriamento do leite nas
propriedades e a granelização da coleta são
importantes medidas para melhorar a qualidade microbiológica do
leite. No entanto, a refrigeração por períodos
prolongados pode comprometer a qualidade do leite cru, devido à
possibilidade de seleção de bactérias
psicrotróficas proteolíticas. Por essa razão
são necessários investimentos contínuos em boas
práticas para prevenção do crescimento microbiano
na cadeia produtiva do leite, para reduzir problemas
tecnológicos e econômicos na indústria de
laticínios (PINTO et al., 2006).
O leite que chega ao
laticínio em temperatura elevada apresenta maior atividade
microbiana e menor tempo de redutase, de modo que a higiene na ordenha
e na manipulação do leite é determinante para a
qualidade, o que está relacionado à
contaminação inicial e à temperatura de
manutenção até o beneficiamento (PONSANO et al., 1999).
De acordo com a
Resolução IN 51/2002, do Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (MAPA) (BRASIL, 2002), no sistema de
coleta a granel, os tanques de refrigeração por
expansão direta devem ser dimensionados para permitir a
refrigeração do leite à temperatura igual ou
inferior a 4ºC, no período máximo de três
horas após o término da ordenha. A temperatura
máxima de conservação do leite é de
7ºC na propriedade rural e de 10ºC no estabelecimento
processador. A IN 51/2002 estabelece ainda que o tempo transcorrido
entre a ordenha e o recebimento do leite no estabelecimento industrial
deve ser de, no máximo, 48 horas, recomendado como ideal um
período não superior a 24 horas.
Antes da
introdução da refrigeração, a principal
microbiota deterioradora do leite e produtos lácteos eram
bactérias mesófilas fermentadoras da lactose, que causam
rápida acidificação em leite não
refrigerado. O uso da refrigeração associado aos
períodos mais longos de armazenamento selecionou uma microbiota
deterioradora denominada psicrotrófica (ARCURI, 2003).
Porém, o leite produzido sob condições adequadas
de higiene e refrigerado a temperaturas iguais ou inferiores a 4ºC
apresenta baixa contagem de psicrotróficos (COUSIN, 1982).
Os microrganismos
psicrotróficos em condições de
refrigeração mantêm sua capacidade de
multiplicação e tendem a se tornar predominantes na
microbiota do leite cru após dois a três dias (SANTOS
& FONSECA, 2003).
Para FOX (1989), as
bactérias psicrotróficas, aparentemente, não
são significativas quanto à proteólise, a menos
que a população exceda 106 UFC/mL.
Em função do
curto tempo de geração a temperaturas de
refrigeração, o gênero Pseudomonas spp representa
as bactérias psicrotróficas deterioradoras predominantes
do leite cru refrigerado, particularmente Pseudomonas fluorescens.
As proteases produzidas por
bactérias psicrotróficas agem sobre a caseína de
forma semelhante à quimosina, liberando o
caseinomacropeptídeo (CMP) (DATTA & DEETH, 2001). Segundo
SØRHAUG & STEPANIAK (1997), essas enzimas não
apresentam sítio de clivagem específico, hidrolisam a
κ-caseína, podendo também agir sobre as αs1 e
β-caseínas.
Um dos métodos
utilizados para monitorar a ação proteolítica
é a determinação do caseinomacropeptídeo
(CMP) por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE),
pois se trata de um método analítico quantitativo de
detecção de soro em leite.
A CLAE ocupa um lugar de
destaque para análise, dada sua facilidade em efetuar a
separação, identificação e
quantificação das espécies químicas.
É um método físico-químico de
separação de componentes de uma mistura, realizada
através da distribuição desses componentes entre
duas fases, que estão em contato íntimo. Uma das fases
permanece estacionária, enquanto a outra se move através
dela. Durante a passagem da fase móvel sobre a fase
estacionária, os componentes da mistura são
distribuídos entre as duas fases, de tal forma que cada um dos
componentes é seletivamente retido pela fase
estacionária, resultando em migrações diferenciais
desses conjuntos (COLLINS et al., 1997).
Os microrganismos
psicrotróficos são limitantes da qualidade do leite e
derivados, pois as enzimas produzidas resistem ao processo de
pasteurização. As variações da contagem
desses microrganismos durante a estocagem do leite sob
refrigeração podem ser explicadas pelas diferentes
temperaturas e tempos de estocagem. Considerando esses aspectos, o
objetivo deste trabalho foi investigar a qualidade do leite cru na
propriedade rural, mediante avaliação dos efeitos da
temperatura de refrigeração e do tempo de estocagem na
composição da microbiota contaminante do leite e a
possível presença de proteólise.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no
Laboratório de Microbiologia do Centro de Pesquisa em Alimentos
da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás.
Colheita das amostras
Foram coletadas amostras de
leite cru refrigerado de 34 tanques de expansão, sendo 29
individuais e cinco coletivos, de propriedades rurais, seguindo-se uma
rota determinada pela indústria localizada na
macrorregião de Goiânia, GO, no período de agosto a
setembro de 2005.
As amostras foram coletadas
após a homogeneização do leite por
agitação mecânica programada no próprio
tanque. Em seguida, coletaram-se 500 mL de leite, utilizando-se um
coletor de aço inoxidável e frascos esterilizados.
Procedeu-se à colheita de seis amostras com 24, 48, 72, 96, 120
e 216 horas de estocagem, as quais foram acondicionadas em caixas
isotérmicas contendo gelo, sendo enviadas ao Centro de Pesquisa
em Alimentos para análise. A temperatura do leite foi aferida no
momento da coleta, no termostato do tanque de expansão e com o
uso de termômetro com graduação variando de
-10ºC a 110ºC.
Análises laboratoriais
Contagem-padrão em placas de microrganismos psicrotróficos viáveis
Prepararam-se as
diluições das amostras pipetando-se, assepticamente, 25
mL da amostra transferindo-as para um frasco tipo Erlenmeyer contendo
225 mL de água peptonada 0,1% (diluição 10-1). A partir dessa diluição, procedeu-se ao preparo de diluições decimais até 10-6,
empregando-se o mesmo diluente. Uma vez diluídas, adicionaram-se
1 mL das diluições em placas de Petri (15x100)
esterilizadas e 15 a 17 mL de ágar-padrão para contagem,
fundido, resfriado a 45ºC e homogeneizado (APHA, 2001). Esse
procedimento foi realizado em duplicata. Após a
solidificação do ágar em temperatura ambiente,
incubaram-se invertidas as placas a 7°C/10 dias (MARSHALL, 1992).
As contagens foram realizadas em contador de colônias, em placas
com 25 a 250 colônias. Para o cálculo do número de
UFC/mL da amostra, multiplicou-se o número de colônias, em
cada placa, pelo inverso da diluição inoculada.
Contagem-padrão em placas de microrganismos psicrotróficos proteolíticos
Foram preparadas as
diluições das amostras pipetando-se, assepticamente, 25
mL da amostra, sendo transferidas para um frasco tipo Erlenmeyer
contendo 225 mL de água peptonada 0,1% esterilizada
(diluição 10-1). A partir dessa diluição, prepararam-se diluições decimais até 10-6, empregando-se o mesmo diluente.
Após a
realização das diluições decimais,
procedeu-se à adição de 1 mL das
diluições em placas de Petri esterilizadas e 15 a 17 mL
de ágar-leite (ágar-padrão acrescido de 10% de
leite em pó desnatado reconstituído a 10%, preparado
recentemente, fundido e resfriado a 45°C. As placas foram incubadas
a 21°C/72 horas (MARSHALL, 1992).
As colônias de
microrganismos proteolíticos apresentam-se rodeadas por uma zona
clara, o que é resultado da conversão da caseína
em compostos nitrogenados solúveis. Como o meio é opaco,
utiliza-se um precipitante químico (ácido acético
10%) para detectar a proteólise e, assim, verificar se as zonas
claras são causadas por proteólise ou pela
formação de ácidos devida à
fermentação de carboidratos. Efetuou-se a contagem de
colônias que possuíam halo transparente ao seu redor e
calculou-se o número de UFC/mL da amostra multiplicando-se o
número de colônias, em cada placa, pelo inverso da
diluição.
Contagem de Pseudomonas fluorescens
Uma amostra de 2,5 mL de
leite cru refrigerado foi adicionado em 5 mL de caldo
tripticaseína e soja – TSB – e incubado a
21ºC/18 horas. Após, transferiu-se uma alíquota de
0,1 mL da solução para placas contendo de 15 a 17 mL de
Pseudomonas Cetrimide Agar (Oxoid, England), adicionado de 10% de
glicerol. Este foi distribuído nas placas e solidificado em
temperatura ambiente. Transferiu-se o inócuo de 0,1 mL de leite
homogeneizado para a placa, sendo homogeneizado com uma alça de
Drigalski e incubado a 21ºC/48 horas, para
observação do crescimento de colônias. Na
presença de P. fluorescens, as colônias apresentam-se amarelo-esverdeadas quando observadas à luz ultravioleta (KING, 1954).
Cromatografia líquida de alta eficiência
Para a
determinação e quantificação do CMP
adotou-se a metodologia proposta em legislação (BRASIL,
1991). Para a determinação do teor de soro mediante a
técnica da CLAE, fez-se uma curva-padrão utilizando-se
leite genuíno, de procedência conhecida. Para o preparo,
adulterou-se o leite com soro de leite de
composição-padrão, nas proporções de
5%, 10%, 15% e 20%, de acordo com o recomendado pela metodologia
oficial (BRASIL, 1991). Para o preparo da amostra a ser analisada, 22
mL de leite foram tratados com 10 mL da solução de
ácido tricloroacético (TCA) a 24%, sendo em seguida
realizada a incubação a 25ºC/60 minutos em
banho-maria, em repouso. Após esse período, realizaram-se
duas filtrações: a primeira em filtro qualitativo
(Whatman nº. 40, England), descartando-se aproximadamente cinco
mililitros do filtrado, e a segunda em filtro MILLIPORE de 0,45 μm.
A
determinação cromatográfica foi realizada com a
injeção de 20 μL do filtrado no cromatógrafo
(GILSON 118 UV/VIS, EUA), operando em vazão de 1 mL/min, e a
detecção na faixa do UV-VIS em comprimento de onda de 205
nm, com a linha de base já devidamente estabilizada.
Efetuou-se corrida
cromatográfica em aparelho de cromatografia líquida de
alta eficiência (GILSON 321, EUA), com uma bomba
isocrática (GILSON 306, EUA), com injetor automático
(ASTED-XL, GILSON, EUA) e looping de 200 μL e coluna (Zorbax GF-250
Bioséries, Agilent, EUA) de 9 mm de diâmetro interno por
250 mm de comprimento. A fase estacionária da coluna era
composta por partículas esféricas de sílica,
modificadas na superfície por zircônio estabilizado. A
fase ligada era composta por monocamada molecular hidrofílica
com diâmetro de poro de 150 Å. A solução da
fase móvel usada na separação foi um padrão
fosfato com pH 6.
Elaborou-se um
gráfico de porcentagem de soro versus a intensidade do sinal do
detector, ou altura do pico, calculando-se a equação da
reta de regressão, sendo aceitos valores de r ≥ 0,95.
Procedeu-se à comparação do cromatograma da
amostra com o do leite adicionado de soro e em seguida identificou-se o
pico com o mesmo tempo de retenção do soro e
calculando-se a porcentagem de soro na amostra, por
interpolação da leitura do sinal na reta de
regressão do leite adicionado de soro. De acordo com as normas
(BRASIL, 1991), a prova é considerada positiva quando a
presença de soro for superior a 1%, determinado a partir da
curva-padrão nos picos com o mesmo tempo de
retenção do CMP.
Análise estatística
Para a análise
estatística dos dados, desenvolveu-se análise de
variância mediante o uso do Sistema SAEG, versão 9.5
(2007). No caso de efeito significativo, as médias foram
comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com as normas
(BRASIL, 2002), é permitida a estocagem do leite na propriedade
rural por até 48 horas. Na presente pesquisa, o tempo de
estocagem variou de 24 a 216 horas. Tempos de estocagem maiores que os
permitidos pela legislação brasileira estão
associados à capacidade de armazenamento dos tanques de
expansão, os quais permitem a estocagem do leite cru refrigerado
por longos períodos, reduzindo, com isso, os custos com o frete.
Durante o período estudado, foi observada uma baixa
produção de leite na rota de coleta a granel.
A estocagem do leite cru
refrigerado por períodos maiores que 48 horas é
preocupante, pois reflete negativamente na qualidade do leite cru
refrigerado e dos produtos obtidos, afetando principalmente o
rendimento final dos derivados lácteos.
A contagem de
microrganismos psicrotróficos e psicrotróficos
proteolíticos expresso em Log de UFC/mL foi crescente até
as 216 horas de estocagem do leite na propriedade rural (Tabela 1).
Pode-se observar que as médias das temperaturas estavam de
acordo com a legislação (BRASIL, 2002), que estabelece
temperatura abaixo de 7ºC para a estocagem do leite cru
refrigerado na fonte de produção. No entanto, em uma das
amostras coletadas com 48 horas de armazenamento, a contagem de
psicrotróficos foi de 5,5x105 UFC/mL com temperatura de 9ºC, estando, portanto, fora dos padrões estabelecidos pela legislação.
Os resultados da contagem
de microrganismos psicrotróficos e psicrotróficos
proteolíticos diferiram significativamente de 24 horas para 216
horas de estocagem do leite cru refrigerado na fonte de
produção. Foi observado um aumento crescente da contagem
desse grupo de microrganismos à medida que aumentou o tempo de
armazenamento.
Deve haver um controle
rigoroso com relação ao tempo de estocagem e à
temperatura do leite na propriedade rural, pois se o leite bovino for
submetido a período de estocagem longo sob
refrigeração, como o encontrado neste estudo, o controle
de microrganismos psicrotróficos na matéria-prima
será mais importante do que o realizado após o seu
processamento. Isso porque não é possível
recuperar um leite de qualidade insatisfatória, além de
diminuir a vida de prateleira do produto pode vir a ocasionar problemas
tecnológicos e econômicos. A legislação
não especifica um valor de microrganismos psicrotróficos
em leite cru refrigerado, mas sabe-se que a redução do
rendimento na fabricação de queijos ocorre quando a
contagem da população de psicrotróficos no leite
cru excede 106 UFC/mL de leite.
SCHMITH et al.
(2003), analisando a contagem de microrganismos psicrotróficos
em leite cru de diferentes regiões do Rio Grande do Sul,
encontraram 16,66% das amostras com contagens entre 105 a 106 UFC/mL e 83,34% com contagens acima de 107 UFC/mL, o que também denota níveis elevados de contaminação. NERO et al.
(2005) mostraram que 48,57% das amostras de leite cru coletadas nos
Estados de Minas Gerais (Viçosa), Rio Grande do Sul (Pelotas),
Paraná (Londrina) e São Paulo (Botucatu) não
atendem à legislação, relatando que fatores de
higiene, armazenamento e capacitação de pessoas
influenciam na qualidade do leite.
No presente trabalho, 14%
das amostras apresentaram contagem-padrão de microrganismos
psicrotróficos de 106 UFC/mL, e 20% apresentaram contagens de 105
UFC/mL. Vale assinalar que a carga microbiana do leite cru
refrigerado é de extrema importância para a qualidade
final dos produtos lácteos, pois interfere significativamente na
vida de prateleira. Resultado maior foi encontrado por SANTOS &
FONSECA (2003), sendo que 90% das amostras de leite cru coletadas
individualmente em tanques de expansão apresentaram contagem de
psicrotróficos superiores a 106 UFC/mL.
De acordo com
SØRHAUG & STEPANIAK (1997), um dos principais fatores que
influenciam na qualidade da matéria-prima mantida a 7ºC, ou
menos, por períodos prolongados, é a
multiplicação da microbiota psicrotrófica
contaminante produtora de proteases termoestáveis.
Com relação ao tempo de armazenamento do leite cru na propriedade rural pode ser observado, na Figura 1,
que 38,24% das amostras foram coletadas dentro do prazo previsto pela
legislação, que é de no máximo 48 horas, e
61,76% das amostras foram coletadas com até 216 horas de
estocagem, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos
psicrotróficos e psicrotróficos proteolíticos.
Sete amostras (20,58%) foram positivas para a presença de Pseudomonas fluorescens.
Em duas delas o tempo de estocagem era de 48 horas, uma amostra
apresentava temperatura de 6ºC e a outra 11ºC. Três
amostras foram positivas no tempo de armazenamento de 72 horas. Destas,
duas estavam a 4ºC e uma amostra a 12ºC. No tempo de
estocagem de 120 horas, duas amostras revelaram a presença de P. fluorescens.
A temperatura lida no
termostato do tanque de expansão no momento da coleta difere da
temperatura lida com o termômetro utilizado no estudo, ou seja,
existe uma interpretação errônea dos resultados
quando a temperatura é lida somente no termostato do tanque (Figura 1).
Faz-se necessário dar mais ênfase à temperatura
expressa pelo termostato do tanque, o qual deve ter uma
calibração mais eficaz ou ser aferido constantemente.
De acordo com a Figura 1,
foi possível observar que trinta amostras (88,24%) de leite cru
refrigerado apresentaram temperatura igual ou inferior à
determinada pela legislação (BRASIL, 2002). Quatro
(11,76%) estavam em desacordo com a referida instrução,
que determina como temperatura ideal 7ºC ou menos no
período de três horas após a ordenha, sendo a
temperatura máxima de chegada do leite na indústria de
10ºC.
GRIFFITHS et al.
(1987) observaram uma redução de 25% na contagem de
microrganismos psicrotróficos no leite cru ao reduzirem a
temperatura de refrigeração durante a estocagem de
6ºC para 2ºC. COSTA et al. (2002), estudando a espécie de microrganismos psicrotróficos P. fluorescens,
constataram aumento significativo na produção de
proteases em leite estocado a 6ºC após 72 horas, quando a
concentração celular era de, aproximadamente, 107
UFC/mL. Esses autores observaram que, após certo tempo de
estocagem (72 horas), já é possível encontrar
quantidades razoáveis de enzimas no leite cru.
Quando o leite é
mantido sob condições higiênico-sanitárias
adequadas, psicrotróficos representam menos de 10% da microbiota
total do leite fresco, comparado a mais de 75%, quando o leite é
obtido sob condições não satisfatórias
(NIELSEN, 2002).
O resultado encontrado no
presente estudo para a presença de caseinomacropeptídeo
(CMP) no leite cru refrigerado armazenado em tanque de expansão
por diferentes tempos de armazenamento e temperatura foi negativo para
todas as amostras. Os dados indicam que amostras de leite cru com alta
contagem de bactérias psicrotróficas e
psicrotróficas proteolíticas não possuem,
necessariamente, atividade proteolítica mais elevada em
comparação com amostras de contagem baixa. Deve-se levar
em consideração o tipo de microbiota contaminante e a
atividade de enzimas endógenas do leite. Neste trabalho 20,58%
das amostras apresentaram-se positivas para P. fluorescens, não sendo positiva a presença de caseinomacropeptídeos na análise de CLAE.
No entanto, pesquisas
revelam que o leite, mesmo sob refrigeração, permite o
crescimento, a produção e a atividade de proteases
bacterianas. ADAMS et al. (1976) detectaram degradação da κ-caseína antes de a população bacteriana atingir 104 UFC/mL. A β-caseína foi mais degradada que a α-caseína. Alguns psicrotróficos (cepas de Pseudomonas) também degradaram as proteínas do soro.
REINHEIMER et al. (1990) realizaram estudos na Europa e Estados Unidos e observaram a ocorrência de Pseudomonas. De 321 espécies de psicrotróficos, 223 eram Gram negativos, sendo que 51,1% desse total eram Pseudomonas. Entretanto, em trabalho de isolamento realizado por PRABHA et al. (1994), o gênero constituiu a maior população, seguido por AeromonasPseudomonas.
De acordo com THOMAS &
THOMAS (1973), a população de microrganismos
necessária para causar mudanças indesejáveis no
leite varia de acordo com os diferentes gêneros e
espécies. As mudanças bioquímicas resultantes do
crescimento de bactérias psicrotróficas no leite passam a
ser significativas quando as contagens superam 106 UFC/mL. Amostras de leite cru com populações iniciais de 104 UFC/mL podem exceder 106 UFC/mL quando armazenada a 7ºC por dois dias ou a 5ºC por três dias (LAW et al., 1979).
CONCLUSÕES
A contagem de
microrganismos psicrotróficos e psicrotróficos
proteolíticos no leite cru refrigerado aumentou durante o tempo
de estocagem em tanques de expansão por até 216 horas.
Observou-se
diferença entre a temperatura registrada no termostato do tanque
de expansão com a temperatura aferida no termômetro,
resultando em prejuízos à cadeia do leite.
Não foi constatada a
presença de caseinomacropeptídeo nas amostras de leite
cru refrigerado armazenadas por até 216 horas na fonte de
produção.
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Protocolado em: 19 mar. 2008. Aceito em: 15 out. 2009.