AVALIAÇÃO
CLÍNICO-ANDROLÓGICA EM TOUROS NELORE E TESTES DE
VIABILIDADE ESPERMÁTICA, INTEGRIDADE DE ACROSSOMA E
FRAGMENTAÇÃO DE CROMATINA AO LONGO DE TRÊS
ESTAÇÕES REPRODUTIVAS
Rogério Orfaly Addad,1 Gustavo Eduardo Freneau,¹ Lorenna Cardoso Resende¹ e Leonardo Marçal da Silva2
1. Laboratório de Andrologia e Tecnologia do Sêmen,
Escola de Veterinária, UFG, Caixa Postal 131, Campus II, CEP
74001-970, Goiânia-GO.
Tel/Fax: (62) 3521 1585, e-mail: gfreneau@gmail.com
2. Médico Veterinário da CLASSEVET.
RESUMO
Com os
objetivos de verificar a evolução da qualidade dos
ejaculados de touros da raça Nelore ao longo três anos,
através do exame clínico-andrológico associado de
testes de viabilidade espermática, integridade de acrossoma e a
fragmentação da cromatina, e estabelecer
relações entre estas características e com a
prenhez com grupos de diferentes tipos de fêmeas, utilizaram-se
46 touros da raça Nelore com idade entre 30 e 120 meses, para
avaliação da qualidade seminal e da aptidão
reprodutiva. Os animais foram mantidos em condições
extensivas, com alimentação a pasto, recebendo
suplementação mineral e servindo um rebanho com 3.782
fêmeas de várias categorias (novilhas, vacas
primíparas e pluríparas). Realizaram-se colheitas de
dados que abrangiam medidas de circunferência escrotal e
avaliação do sêmen colhido por
eletroejaculação e avaliaram-se as características
físicas (volume, turbilhonamento, motilidade, vigor),
morfológicas (defeitos maiores, menores e totais) e de
integridade espermática (integridade de membrana
plasmática, de acrossoma e de cromatina) no período que
antecedeu três estações de monta consecutivas
(2003, 2004 e 2005). Submeteram-se os dados à analise de
variância, compararam-se as médias pelo teste SNK e
calculou-se o coeficiente de correlação de Pearson
utilizando o SAS. Os touros apresentaram circunferência escrotal
de 33,8 ± 2,8cm, 15,6 ± 8,5% de defeitos
espermáticos totais, 40,1 ± 23,1% de gametas com membrana
e acrossoma íntegros e 8,8 ± 3,8% de cromatina
fragmentada. As relações entre circunferência
escrotal, as características físicas, morfológicas
e de integridade espermática e o desempenho reprodutivo do
rebanho foram baixas e não significativas (P>0,05). As
características reprodutivas dos touros permaneceram dentro de
padrões aceitáveis ao longo de três anos de
avaliação. Nos touros deste experimento, os defeitos
espermáticos, a integridade de membrana plasmática,
integridade de acrossoma e fragmentação de cromatina
nuclear não foram frequentes a ponto de comprometer a qualidade
seminal e o desempenho reprodutivo dos animais. Não houve
relação entre os defeitos espermáticos com a
integridade acrossômica e/ou a fragmentação da
cromatina nuclear. Não houve relação entre a
prenhez com as características apresentadas pelos touros
estudados
PALAVRAS-CHAVES: Acrossoma, cromatina, espermatozoides, Nelore, reprodução, sêmen, touros.
ABSTRACT
BREEDING
SOUDNESS EXAMINATION IN NELORE ZEBU BULLS AND SPERM VIABILITY,
ACROSSOME AND CHROMATIN INTEGRITY ASSAY FOR THREE BREEDING SEASONS
This work aimed
to verify the evolution of seminal quality in zebu Nellore bulls in
three years by the breeding soundness examination and integrity of
plasmatic membrane, acrosome and chromatin and establish relationships
among those characteristics and the pregnancy with different females
groups. Forty six bulls with age between 30 and 120 months were used to
evaluation of the seminal quality and the reproductive aptitude. The
animals had been kept in extensive conditions, with feeding the grass,
receiving mineral supplementation and serving a herd with 3,782 females
of some categories (heifers and cows). Data enclosed measured of
scrotal circumference and evaluation of the semen collected by
eletroejaculation and evaluated the physical characteristics (volume,
mass activity, motility, strong), morphologic (major, minor and total
defects) and spermatic structure integrity (integrity of plasmatic
membrane, acrosome and chromatin) in this period had been carried
through that preceded three consecutive mating season (2003, 2004 and
2005). The data had been submitted analyze of variance, the averages
compared for test SNK and the coefficient of correlation of Pearson was
calculated using the SAS. The bulls presented scrotal circumference of
33.8 ± 2.8cm, 15.6 ± 8.5% of total spermatic defects,
40.1 ± 23.1% of gametes with normal membrane and acrosome and
8.8 ± 3.8% of fragmented chromatin. The relations between
scrotal circumference, physical and morphologic characteristics,
spermatic integrity and the reproductive performance of the herd had
been low and not significant (P< 0.05). The bulls reproductive
characteristics showed acceptable standards in three years. The sperm
defects, plasmatic membrane and acrosome integrity, fragmented
chromatin had not high frequency to compromise the seminal quality.
There are not relationships among sperm defects with acrosome integrity
and fragmented chromatin. No relationships was observed between
pregnancy and bull reproductive characteristics.
KEY WORD: Acrosome, bulls, cattle, chromatin, nelore, reproduction, sperm defects.
INTRODUÇÃO
O principal
objetivo do touro em um sistema de acasalamento por monta natural
é de emprenhar todas as fêmeas disponíveis, num
período de tempo o mais curto possível na
estação. Portanto, é indispensável que o
reprodutor seja capaz de identificar, realizar a cobertura e depositar
no trato reprodutivo da fêmea um número suficiente de
espermatozoides (FRENEAU et al.,
2000). Neste contexto, o exame clínico-andrológico tem
sido amplamente empregado, como método indicador da
aptidão reprodutiva dos touros designados a servir em
estação de monta ou doação de sêmen.
Entretanto, essa avaliação tem-se mostrado aquém
do necessário, para determinar de maneira segura essa
condição (SILVA, 1998). Sendo assim, não basta ao
touro apresentar padrões seminais aceitáveis para
morfologia espermática, motilidade progressiva, vigor e
percentual de espermatozoides normais. A principal
característica a ser avaliada para estimar o potencial
fecundante do sêmen é a qualidade dos embriões
produzidos e se seu desenvolvimento posterior ocorre de forma normal
(WALTERS et al., 2005a).
Portanto, o
diagnóstico do potencial fecundante de um ejaculado é
essencial para a eficiência reprodutiva, já que o uso de
reprodutores subférteis pode trazer consequências
desastrosas para o rebanho. Para tanto, são fundamentais o
desenvolvimento e a aplicação de técnicas de
diagnóstico que permitam avaliar a qualidade do sêmen e
que ofereçam resultados consistentes (SILVA et al.,
1998). Os testes laboratoriais que avaliam as características
estruturais dos elementos espermáticos envolvidos diretamente na
fertilização (membrana plasmática, acrossoma e
cromatina nuclear) proporcionam importante contribuição
para a análise, interpretação e
determinação de padrões, sem que ocorra o
comprometimento da qualidade seminal e do sucesso (SILVA, 1998; EVENSON
et al., 1999).
Os objetivos
deste trabalho foram verificar a evolução da qualidade
dos ejaculados de touros da raça Nelore ao longo três anos
através do exame clínico andrológico associado de
testes de viabilidade espermática, integridade de acrossoma e a
fragmentação da cromatina e estabelecer
relações entre essas características e com a
prenhez com grupos de diferentes tipos de fêmeas.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizaram-se
46 touros da raça Nelore com idade média de 67,8 ±
18,6 meses para avaliação
clínico-andrológica antes do início do
período de acasalamento, durante três
estações de monta consecutivas (anos de 2003, 2004 e
2005), produzindo 108 amostras de sêmen, e para os testes de
viabilidade espermática, integridade de acrossoma e
fragmentação de cromatina.
Os touros foram
destinados a uma estação de monta de 120 dias, servindo
1.248 fêmeas (202 novilhas, 372 vacas primíparas, 627
vacas multíparas e 69 vacas solteiras) agrupadas em dez lotes de
acasalamento com 35 touros, no ano de 2003; 1.270 fêmeas (190
novilhas, 358 vacas primíparas, 617 vacas multíparas e 83
vacas solteiras) agrupadas em três lotes de acasalamento com 38
touros, no ano de 2004; e 1.264 fêmeas (209 novilhas, 307 vacas
primíparas, 652 vacas multíparas e 96 vacas solteiras)
agrupadas em três lotes de acasalamento com 35 touros em 2005.
Ao final das
estações de 2003 e 2004 obteve-se o percentual de prenhez
por meio de palpação retal. Na estação de
2005, houve a necessidade de se misturar os lotes de acasalamento dos
touros, em virtude de acidentes nas pastagens da propriedade,
perdendo-se, assim, a caracterização dos diferentes
lotes. Os animais foram mantidos em pastagem de Andropogon gayanus e Brachiaria brizantha
(divididas e manejadas sob orientação técnica)
durante todo o período experimental, recebendo sal mineral ad libitum.
Para a
avaliação andrológica dos touros, mensurou-se a
circunferência escrotal e em seguida colheu-se o sêmen pelo
método de eletroejaculação. Foram avaliadas as
características físicas do ejaculado (movimento em massa
ou turbilhão, motilidade progressiva e vigor) segundo
técnicas de rotina (CBRA, 1998).
Posteriormente,
procedeu-se ao envio de amostras fixadas em solução
formol-salino ao laboratório para avaliação
morfológica espemática, preparando-se lâminas
úmidas observadas em microscopia de contraste diferencial de
interferência de fase sob imersão (aumento de 1.000x).
Foram contados duzentos espermatozoides por lâmina, os quais
foram classificados conforme o percentual de gametas normais, defeitos
maiores, defeitos menores e defeitos totais (BLOM, 1973).
A viabilidade
espermática e a integridade de acrossoma foram determinadas pelo
método de coloração dupla por Tripan Blue e Giemsa
(TBG), adicionando-se uma gota de sêmen de 20µL a outra
gota de 20µL de solução corante de Trypan Blue 0,4%
em criotubo por vinte minutos a 37ºC. Após
encubação, centrifugou-se a amostra a 700 gravidades
durante seis minutos, sendo esse processo de
centrifugação repetido até que a
solução apresentasse cor azul-pálido (SILVA et al.,
1998). Posteriormente, efetuaram-se dois esfregaços e
após a secagem as lâminas foram fixadas em metanol por
cinco minutos e imergidas em Giemsa por 24 horas. Após a lavagem
e secagem das lâminas, avaliou-se o esfregaço em
microscopia de campo claro por imersão. Contaram-se duzentas
células e estimou-se o percentual de espermatozoides vivos ou
mortos com acrossoma íntegro ou acrossoma lesado (alguma
alteração morfológica ou de
coloração) no sêmen.
Para a
avaliação da integridade da cromatina espermática
– forma natural (fita dupla) ou desnaturada (fita simples ou
fragmentada) –, foi aplicada a técnica de
coloração com laranja de acridina (LA) modificada,
proposta por TEJADA et al.
(1984), nos anos de 2003 (35 touros avaliados), 2004 (38 touros
avaliados) e 2005 (35 touros avaliados), totalizando 108
análises a partir de amostras de sêmen fixado em formol
salino. Utilizaram-se 20 µL de sêmen adicionado em um
criotubo com solução salina e procedeu-se à
centrifugação por dois minutos a 37ºC em 200g,
repetindo-se o processo duas vezes. Após a última
lavagem, o sobrenadante foi retirado e preparou-se o esfregaço
em uma lâmina. Após a secagem, fixou-se o esfregaço
em solução de metanol-ácido acético (3:1)
por 24 horas. Após esse período, foi empregada a
coloração de LA por cinco minutos, seguida pela lavagem
com água destilada. Após a secagem, a lâmina foi
observada em microscopia de fluorescência.
Foi adotado o
delineamento estatístico a partir dos cálculos dos
valores médios e desvio-padrão da idade,
condição corporal, CE, das características
físicas, morfologia espermática, viabilidade
espermática, integridade de acrossoma e de cromatina.
Submeteram-se os dados resultantes à análise de
variância e compararam-se as médias pelo teste SNK (entre
grupos de acasalamento e estações de monta). O
índice de correlação de Pearson entre as
variáveis dependentes – CE, características
físicas e morfológicas do ejaculado, viabilidade
espermática, integridade de acrossoma e de cromatina e taxa de
prenhez – foi calculado pelo SAS (1997), segundo o modelo
matemático:
Yi j k = μ + T + Fi + El + ei j k, em que:
Yi j k = variáveis dependentes;
μ= média de todas as observações;
T= efeito do
touro; F= efeito da categoria de fêmea servida pelos touros de
índice i, sendo i= 1(novilhas), 2 (primíparas) e 3
(vacas); Ej=
efeito do período de coleta do sêmen de índice j,
sendo j= 1(estação de monta 2003), 2
(estação de monta 2004) e 3 (estação de
monta 2005); ei j k = erro aleatório residual.
A
comparação da prenhez dentro do ano e categoria de
fêmeas foi realizada pelo teste não paramétrico de
Kruskal-Wallis (SAS, 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1
estão apresentadas as características reprodutivas
estudadas no sêmen dos touros junto com dados de todos os grupos
de acasalamento. A média geral nos três anos de
observação dos defeitos maiores (10,1%), menores (5,6%) e
totais (15,6%) são semelhantes aos encontrados por MARTINEZ et al. (2000) para touros da raça Gir (7,86%, 5,09% e 12,95%, respectivamente), por FITZPATRICK et al. (2002) para touros da raça Brahman (defeitos totais: 11,9%) e por SILVA et al.,
(2002) para touros da raça Nelore (9,5%, 3,1% e 12,6%,
respectivamente). Porém, foram maiores que os relatados por
GALVANI (1998) em touros da raça Nelore (4,04%, 3,12% e 7,16%,
respectivamente), que atribuiu como causa para esses resultados as
condições de manejo e nutrição dos
rebanhos. Apesar disso, não pode ser descartado que essas
diferenças sejam devidas às técnicas utilizadas na
avaliação da morfologia espermática (FRENEAU et al., 2009).
A
relação fêmea–touro ao longo dos três
anos foi de 37,3 ± 7,1, não apresentando, possivelmente,
efeito sobre a taxa de prenhez dos diferentes grupos de acasalamento.
Não houve correlação entre o número de
fêmeas por touro com a prenhez geral. Essa tendência
contradiz estudos prévios que relataram maior prenhez em grupos
de cinquenta fêmeas por touros confrontados com os de vinte e
cinco (FRENEAU et al., 2008).
Os touros tiveram sua aptidão reprodutiva avaliada nas sucessivas estações de monta (Tabela 2).
Na primeira avaliação (ano 2003), apenas um touro foi
considerado inapto. Já em 2004, recomendou-se o afastamento de
cinco animais e na estação de 2005 todos os reprodutores
foram considerados aptos para a reprodução. O exame
clínico-andrológico diagnosticou a condição
reprodutiva individual dos touros, indicando o descarte de 16,6% dos
animais utilizados neste experimento.
As patologias
espermáticas encontradas mais frequentemente foram defeitos de
acrossoma (achatado no ápice), cabeças pequenas,
decapitadas, diademas e crateras, cabeças subdesenvolvidas,
estreitas, curtas, largas e decapitadas, defeitos de peça
intermediária (peça filiforme, grossa, delgada), caudas
enroladas na cabeça e na peça intermediária, gotas
citoplasmáticas proximais e distais.
Esses defeitos
estão comumente associados a distúrbios do mecanismo de
termorregulação testicular, sendo também
observados em touros que foram tratados com dexametasona, indicando que
o estresse provocado pelo calor ou por práticas de manejo
é a forma mais comum de injúrias interferindo na
espermatogênese (BARTH & OKO, 1989; KASTELIC et al., 1997). Neste experimento, as causas dos defeitos espermáticos não tiveram sua origem determinada.
As
correlações entre volume, turbilhonamento, motilidade,
vigor, defeitos maiores, menores, com a CE, foram baixas e
próximas de zero, e semelhantes às obtidas por MARTINEZ et al. (2000) e por SILVA et al.
(2002), para touros da raça Gir e Nelore, respectivamente. Este
fato possivelmente se deve à presença, na
população de touros, de animais na idade adulta, em que
essas relações entre o crescimento somático e
testicular se perdem após o período de puberdade e
maturidades sexual, como comprovado em touros da mesma raça
(FRENEAU et al., 2006).
Além da
estimativa dos elementos tradicionais do exame andrológico,
foram realizadas provas para avaliar a viabilidade espermática,
a integridade do acrossoma, a integridade da cromatina, e seus efeitos
no desempenho reprodutivo dos touros. Em duas avaliações
andrológicas pré-estação de monta (2003 e
2005), possivelmente devido ao aumento da acidez do corante Giemsa, a
técnica de coloração dupla não apresentou
resultados satisfatórios. Entretanto, no exame
pré-estação de monta 2004, foi possível a
aplicação da coloração dupla para
viabilidade espermática e integridade de acrossoma. A qualidade
dos esfregaços permitiu visualizar também vários
defeitos espermáticos (Figura 1).
Neste estudo, o valor médio obtido para número de
espermatozoides vivos com o acrossoma intacto foi de 40,1 ±
23,1%, sendo inferior aos resultados reportados anteriormente por SILVA
et al. (2002) e por
TARTAGLIONE & RITTA (2004), de 54,9 ± 9,9% e 51,2 ±
4,5%, respectivamente. Esses percentuais foram considerados baixos para
sêmen fresco, possivelmente devido à influência de
fatores externos, como a restrição e carência
nutricional da época em que se coletou o sêmen
(pré-estação de monta 2004) ou pelo repouso sexual
prolongado entre os períodos de monta. Não houve
correlação entre as características integridade
acrossômica com os defeitos de acrossoma na morfologia
espermática.
Não
foram observadas correlações significativas entre a CE
com o percentual de gametas normais, com a integridade de cromatina ou
com o desempenho reprodutivo dos touros na estação de
monta. Essas baixas relações possivelmente reflitam o bom
estado dos touros adultos (SALISBURY et al., 1978; HALLAP et al.,
2006). Provavelmente testículos de menor tamanho e ejaculados
com anormalidades elevadas atinjam o quadro da morfologia
espermática e a fertilidade dos touros.
No que se
refere à estrutura da cromatina espermática, o percentual
de cromatina fragmentada (8,8 ± 3,8%) deste estudo (Tabela 1) foi maior do que o valor encontrado por SILVA et al. (2002), para mestiços Nelore (1,6 ± 1,7%), porém semelhante ao de JANUSKAUSKAS et al. (2001), que trabalharam com animais taurinos (8,0 ± 1,6%). Essa variabilidade já foi reportada por BOCHENEK et al.
(2001), que observaram em amostras de sêmen de raças
taurinas avaliadas e aprovadas nos testes de controle de qualidade das
centrais (morfologia, motilidade e resistência ao congelamento)
uma grande amplitude no percentual de gametas com cromatina fragmentada
de 1,2% a 23,8%. Além disso, estudos realizados por WALTERS et al.
(2005b) consideraram razoável a possibilidade de espermatozoides
com cromatina fragmentada penetrarem o oócito, dando
prosseguimento no desenvolvimento embrionário, porém a
viabilidade desses embriões estaria comprometida.
Neste estudo a
porcentagem de espermatozoides com estrutura da cromatina desnaturada
não apresentou correlações significativas, com a
idade, CE, motilidade progressiva, defeitos totais com os percentuais
de gametas normais, defeitos maiores e menores, defeitos de acrossoma.
Observou-se correlação de pequena intensidade com a taxa
de prenhez do rebanho (r= 0,25; P<0,05), o que estaria de acordo com
os resultados de estudos anteriores (DOBRINSKI et al., 1994; HALLAP et al.,
2005). Entretanto, vários trabalhos demonstraram haver
correlação alta e significativa entre a qualidade do DNA
espermático com a idade (KARABINUS et al., 1990), com os defeitos primários e secundários, com a motilidade (BALLACHEY et al., 1988; SHIBAHARA et al., 2003; BELETTI & MELLO, 2004; PERIS et al., 2004), com a integridade de acrossoma, com a viabilidade espermática (BALLACHEY et al., 1988; PERIS et al., 2004) e com a fertilidade dos touros (BOCHENEK et al., 2001; JANUSKAUSKAS et al.,
2001). Todos esses estudos empregaram a citometria de fluxo e o
protocolo de avaliação de estrutura da cromatina
espermática. Essa técnica permite analisar um percentual
de espermatozoides muitas vezes maior e detecta diferenças que
não podem ser evidenciadas com a microscopia óptica
(KARABINUS et al., 1990).
Isto leva a considerar a influência de fatores
extrínsecos, como sensibilidade da técnica (KARABINUS et al.,
1990) e o tamanho da amostra, e principalmente de fatores
intrínsecos, como o estado da espermatogênese desses
touros aqui estudados (HALLAP et al.,
2006) e o efeito do plasma seminal agindo como uma barreira
física ou ainda a maior fixação do DNA
espermático pelo formol, diminuindo o acesso do corante à
cromatina (ROCHA et al., 2002).
Analisando os dados entre as estações de monta (Tabela 2),
notou-se que a CE não apresentou diferença ao longo dos
anos. No entanto, no último ano (2005), o turbilhonamento sofreu
redução, a motilidade apresentou valores equivalentes ao
longo das estações, o vigor iniciou em 2003 uma
trajetória de queda que se estendeu até a
estação do ano de 2005, entretanto os valores dessas
características seminais permaneceram dentro dos padrões
de normalidade (CBRA, 1998). Trata-se de resultados que concordam com
os de RODE et al. (1995), que
verificaram alterações nas características
físicas do sêmen e o aumento no percentual de defeitos
morfológicos, em touros submetidos a dietas deficientes em
vitamina A, confirmando os efeitos deletérios, porém
reversíveis, da carência nutricional sobre as
características seminais (SILVA et al., 1992; RODE et al.,
1995). Uma vez removida essa restrição nutricional no ano
seguinte (2005), o percentual de gametas normais voltou a valores
equivalentes aos do primeiro ano do experimento. Houve uma
diferença significativa entre as porcentagens de prenhez
observadas entre as estações reprodutivas de 2003 e 2004.
Apesar de ter havido também diferenças entre os defeitos
de cabeça, maiores e totais, não se acredita que elas
possam ter modificado o quadro de prenhez do rebanho. Possivelmente,
fatores diferentes a esses possam ter interferido.
Na Tabela 3
estão apresentadas as características reprodutivas dos
touros estudados de acordo com a categoria de fêmeas nos grupos
de acasalamento. Houve diferença (P<0,05) entre as
porcentagens de prenhez observadas nas três categorias de
fêmeas. Entre as características reprodutivas dos touros
só os defeitos espermáticos de cabeça foram
diferentes (P<0,05) entre as categorias de fêmeas,
porém com valores perto do aceitável (8,6% nas
primípararas). Estes achados levam a supor que a
diferença de prenhez observada seja devida aos grupos de
fêmeas e não às características estudadas
nos touros que acasalaram elas.
CONCLUSÕES
As
características reprodutivas dos touros permaneceram dentro de
padrões aceitáveis ao longo de três anos de
avaliação. Nos touros deste experimento, os defeitos
espermáticos, a integridade de membrana plasmática, a
integridade de acrossoma e a fragmentação de cromatina
nuclear não foram frequentes a ponto de comprometer a qualidade
seminal e o desempenho reprodutivo dos animais. Não houve
relação entre os defeitos espermáticos com a
integridade acrossômica e/ou a fragmentação da
cromatina nuclear. Não houve relação entre a
prenhez com as características apresentadas pelos touros
estudados.
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Protocolado em: 28 fev. 2008. Aceito em: 1o set. 2009.