A grande variabilidade na
constituição do plasma seminal pode explicar as diferenças individuais
nas respostas ao congelamento e na fertilidade após a inseminação
artificial em ovinos. Esse trabalho teve como objetivo avaliar o efeito
da adição de um pool de plasma seminal concentrado ao sêmen ovino após
descongelamento. Os ejaculados de doze carneiros da raça Santa Inês
foram coletados com vagina artificial, diluídos em tris/gema/glicerol e
congelados em um congelador de sêmen e embriões. Após o descongelamento
foi realizada a incubação dos espermatozóides com o plasma seminal
concentrado (10x), durante 15 minutos. O sêmen foi submetido à análise
bioquímica, avaliação computadorizada de suas características físicas,
teste hiposmótico e teste de termo-resistência. A análise
eletroforética do plasma seminal apontou diferenças individuais na
constituição protéica das amostras, as quais foram amenizadas com o
pool de plasma seminal. Amostras tratadas com o plasma seminal
apresentaram redução da motilidade progressiva. Nas demais
características seminais analisadas não houve diferença
(p<0,05) entre as amostras tratadas com o plasma seminal e as
amostras controle. O pool de plasma seminal concentrado não melhorou as características seminais analisadas.
_________________The considerable variability in
constituents of seminal plasma could explain the particular differences
in responses to freezing and in fertility rates after artificial
insemination in ovines. This study assessed the effect of a pool of
concentrated seminal plasma on ovine semen after thawing. Ejaculates of
12 Santa Inês rams were collected using an artificial vagina, diluted
in Tris/egg yolk /glycerol and frozen in a semen and embryo freezer.
After thawing, sperms were incubated using concentrated seminal plasma
(10X) for 15 min. Semen was submitted to biochemical analysis, followed
by a computerized assessment of its physical characteristics,
hypoosmotic test and heat resistance evaluation. The electrophoretic
analysis of seminal plasma indicated particular differences in the
samples protein composition, which were attenuated by the seminal
plasma pool. The samples treated with seminal plasma showed progressive
reduced motility. No statistically significant difference was observed
in the other semen characteristics (p<0.05), between samples treated
with seminal plasma and control samples. The concentrated seminal
plasma
pool did not improve the assessed semen characteristics.
_________________
KEYWORDS: Rams; Freezing; Semen; Electrophoresis
INTRODUÇÃO
A inseminação artificial com sêmen congelado ainda é pouco utilizada na
ovinocultura, em decorrência da baixa tolerância do sêmen ovino à
criopreservação, com consequente diminuição de sua viabilidade e
capacidade fertilizante (EVANS & MAXWELL, 1990; WATSON, 2000;
KERSHAW
et al., 2005). Os
danos básicos provocados nos espermatozóides pela criopreservação podem
ser estruturais, bioquímicos ou funcionais, sendo os estruturais
geralmente mais severos para o sêmen ovino (SALAMON & MAXWELL,
2000). Esses danos ocorrem principalmente sobre a membrana plasmática e
acrossomal (PARKS & GRAHAM, 1992; WATSON, 1995).
Há evidências consideráveis da influência do plasma seminal sobre a
resistência de espermatozóides ao choque térmico e sua capacidade de
sobreviver após o descongelamento (PURSEL & JONHSON, 1975). Efeitos
benéficos da utilização do plasma seminal na criopreservação de
espermatozóides de equinos (AURICH
et al., 1996; KATILA
et al., 2002; BARRETO
et al., 2008), bovinos (RONCOLETTA
et al., 2002), humanos (BEN
et al., 1997), suínos (METZ
et al., 1990) e ovinos (GHAOUI
et al.,
2007) têm sido descritos. Esses efeitos são devidos, possivelmente, à
interação de proteínas do plasma seminal com os espermatozóides, o que
pode influenciar sua capacidade fertilizante e a proteção da membrana
espermática ao choque térmico (BARRIOS
et al., 2000).
O plasma seminal é constituído por secreções testiculares, epididimárias e das glândulas sexuais acessórias do macho (HENALUT
et al.,
1995). As contribuições químicas desses locais para o plasma seminal
variam e a natureza de todos os componentes individuais não é
conhecida. Uma variação na presença, ausência ou concentração desses
componentes, principalmente proteínas, pode ser responsável pela
variabilidade dos efeitos prejudiciais ou benéficos na funcionalidade
dos espermatozóides (MAXWELL & JOHNSON, 1999; ZHU
et al., 2000), sendo a estação do ano um importante fator responsável por essa variação (CARDOZO
et al., 2006).
O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o efeito da adição de um
pool de plasma seminal ao sêmen descongelado de ovinos da raça Santa Inês.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados doze ovinos da raça Santa Inês, com idade superior a
um ano, em bom estado sanitário e nutricional. Os ovinos foram
provenientes de propriedades privadas, localizadas no município de
Campos dos Goytacazes – RJ.
As coletas das amostras ocorreram sempre após três dias de uma coleta
prévia, para padronizar os ejaculados quanto ao tempo de abstinência
sexual. As coletas dos ejaculados foram realizadas pelo método da
vagina artificial que teve a temperatura interna ajustada para 41 a
44ºC.
Após a coleta, o sêmen foi mantido a 37ºC para avaliação das
características físicas (motilidade e vigor). Aqueles ejaculados com
mais de 70% de motilidade e vigor maior que 3,0 foram utilizados para
congelamento ou para obtenção do plasma seminal. Neste último caso, os
ejaculados foram identificados, mantidos em gelo e centrifugados a 1100
x g por 30 minutos, para separação do sobrenadante (plasma seminal). A
esse sobrenadante foi adicionado 0,1mM de PMSF (Sigma®, Saint Louis,
USA), 1mM de benzamidina (Sigma®) e 0,001861g de EDTA/mL (BioRad®,
Richmond, USA), para inibição da ação de proteases. Em seguida, as
amostras (12) foram estocadas a -20°C. Posteriormente, o plasma seminal
de todos os carneiros foi descongelado e misturado (
pool).
O pool de plasma seminal foi submetido à ultracentrifugação a 40.000 x
g, numa ultracentrífuga (Himac CP 75β, marca Hitachi, Japão), a 4°C por
45 minutos. Em seguida, o pool de plasma seminal foi concentrado dez
vezes, em um concentrador proteico (Amicon 10, Millipore, EUA)
utilizando-se membrana filtrante (Amicom 10.000, Millipore, EUA) e
pressão de 25 Psi. Essa membrana tem a capacidade de reter proteínas
com massa molecular superior a 10 kDa. Durante todo o processamento, as
amostras foram mantidas em gelo. Posteriormente, as amostras foram
distribuídas em alíquotas e armazenadas a -70ºC.
Três alíquotas foram descongeladas para a determinação da concentração
de proteínas totais, realizada pelo método de BRADFORD (1976),
utilizando-se albumina sérica bovina (BSA) como padrão. As amostras
foram ensaiadas em duplicata, com as concentrações de BSA variando de 0
a 20 µg, com intervalos de 2 µg. As leituras foram realizadas em
espectrofotômetro (Spekol UV VIS 3.01), a 595 nm de comprimento de
onda.
As eletroforeses (n=3) unidimensionais em géis de poliacrilamida 12% de
amostras do plasma seminal foram realizadas em condições desnaturantes
(LAEMMLI, 1970). Após a migração eletroforética, os géis foram corados
com azul de Coomassie R 250 (0,1%), em metanol (40%) e ácido acético
(10%). A coloração foi realizada em recipiente tampado, com o gel
imerso no corante, sendo submetido ao aquecimento em duas etapas,
utilizando-se um forno de micro-ondas na potência máxima, até atingir a
temperatura de ebulição.
As massas moleculares aparentes das proteínas do plasma seminal foram
calculadas por comparação da sua mobilidade eletroforética com
proteínas de massa molecular conhecida, que migraram no mesmo gel. A
quantidade relativa das diversas proteínas foi determinada por
densitometria, utilizando-se o programa computacional Gel Perfect
(BOZZO & RETAMAL, 1991).
Após o cálculo da concentração espermática, os ejaculados (n=12) foram diluídos para atingir uma concentração final de 100 x 10
6
espermatozóides/mL. Ao sêmen foi adicionada a fração A (Fa) do diluidor
à base de tampão TRIS, a 37°C. Em seguida, o sêmen foi colocado num
congelador de sêmen e embriões (modelo K-75, Haake, Alemanha) para
iniciar o processo de resfriamento, numa velocidade de -0,5°C/min até
atingir 5°C. Após duas horas, a fração contendo glicerol (Fb) foi
adicionada em três etapas (40%, 30% e 30%), com intervalo de 10 minutos
entre elas, obtendo-se ao final da diluição uma concentração de 7% de
glicerol. O sêmen foi envasado em palhetas plásticas de 0,25 mL, que
foram colocadas a uma distância de 6,0 cm da superfície do nitrogênio
líquido, por um período de 15 minutos. Em seguida, as palhetas foram
imersas no nitrogênio líquido e armazenadas em botijão criogênico. O
descongelamento das palhetas foi realizado em banho-maria a 37ºC, por
30 segundos.
Após o descongelamento o sêmen foi incubado por 15 minutos na ausência
(T0) ou na presença do plasma seminal concentrado 10x (9:1 vv) (T10),
em banho-maria a 37ºC. Após a incubação o sêmen foi analisado quanto à
motilidade, vigor, teste hiposmótico e de termo-resistência. A
avaliação computadorizada das características físicas do sêmen
(motilidade total, motilidade progressiva e vigor) foi realizada
utilizando-se um programa computacional (Ceros, versão 10.2, da
Hamilton Torn Research – HTR, Beverly, USA).
Para realização do teste hiposmótico as amostras de sêmen (n=12) foram
centrifugadas por 10 minutos a 600 x g e o pellet resultante foi
ressuspendido em 1mL de meio TALP e mantido por 20 min, a 37ºC. Em
seguida, uma alíquota de 10μL foi adicionada a 300μL de uma solução de
100mOsm (9g de frutose e 4,9g de citrato de sódio/litro) e mantida por
30 minutos, a 37ºC. Para cada amostra foram contadas 200 células, sendo
consideradas normais, ou seja, com membrana plasmática funcional
(reação positiva) as células com cauda enrolada; e alteradas (reação
negativa) aquelas com cauda esticada. A avaliação foi feita com auxílio
de um microscópio de contraste de fase e os resultados expressos em
porcentagem de células com membrana plasmática funcional.
O teste de termo-resistência foi realizado incubando-se as amostras de
sêmen a 38°C, por três horas (CBRA, 1997). A avaliação computadorizada
de motilidade total e progressiva foi realizada em intervalos de uma
hora, com auxílio do programa computacional Ceros 10.2 (HTR).
A análise estatística dos dados foi realizada utilizando-se o SAS
(Statistical Analysis System, 1996), procedendo-se a análise de
consistência dos dados e as características descritivas das
características estudadas (médias, desvios-padrões, valores máximos e
mínimos, coeficiente de variações e teste de normalidade). Em seguida,
para todas as características estudadas, foi realizada a análise de
variância para verificar o efeito do tratamento (PROC GLM, SAS) e o
teste de médias (teste “t” ao nível de 5% de probabilidade).
RESULTADOS
A concentração de proteínas totais do pool de plasma seminal,
determinada pelo método de Bradford, foi de 222,5 mg/mL.
A análise dos géis em SDS-PAGE de proteínas do plasma seminal de
carneiros permitiu identificar um máximo de 25 bandas protéicas. As
bandas majoritárias foram as de massa molecular de aproximadamente 107,
88, 64, 58, 54, 47, 28, 26, 25, 23 e 22 kDa (
Figura 1).
Pôde-se notar que existem diferenças individuais marcantes entre os
perfis de cada animal, de maneira quantitativa e qualitativa (presença
ou ausência de bandas). As quantitativas foram encontradas
principalmente na faixa entre 188 e 68 kDa.
A comparação das análises densitométricas entre as amostras de plasma seminal in natura e o
pool filtrado em membrana de 10 kDa e armazenado a -70ºC mostrou um perfil proteico muito similar entre essas amostras.
O sêmen avaliado logo após a coleta apresentou valores médios de 95,29
± 3,81% para motilidade total, 83,64 ± 3,75% para motilidade
progressiva e 3,93 ± 0,59% para vigor.
Dados referentes à motilidade total, motilidade progressiva e vigor das
amostras seminais incubadas durante 15 minutos, na presença (T10) ou
ausência (T0) do plasma seminal concentrado estão apresentados na
Tabela 1.
Não foi observada diferença (p<0,05) na motilidade total e no
vigor espermático de amostras dos tratamentos T0 (controle) e T10
(52,57 ± 22,08% x 45,65 ± 21,07% e 2,35 ± 0,66 x 2,07 ± 0,72%,
respectivamente). Entretanto, as amostras tratadas com o plasma seminal
concentrado apresentaram redução (p<0,05) nos valores
médios da motilidade progressiva (10,30 ± 6,99% x 4,35 ± 3,67%).
A avaliação da funcionalidade da membrana plasmática dos
espermatozóides realizada pelo teste hiposmótico não mostrou diferença
estatística (p<0,05) entre amostras controle (T0 - 41,35 ± 11,32%) e
amostras tratadas com o plasma seminal concentrado (T10 - 39,50 ±
11,01%).
Após as três horas do teste de termo-resistência observou-se que as
amostras tratadas com o plasma seminal concentrado apresentaram maiores
percentuais de motilidade total e progressiva; contudo esses valores
não foram significativamente diferentes ao nível de p>0,05 (
Tabela 2).
DISCUSSÃO
Tem sido demonstrado que o plasma seminal atua na manutenção da motilidade e viabilidade espermática (MAXWELL
et al,
1996), além de aumentar a resistência dos espermatozóides ao choque
térmico (MORTIMER & MAXWELL, 2004). Entretanto, a grande
variabilidade na constituição do plasma seminal, principalmente em seu
conteúdo protéico, pode explicar as diferenças individuais na
funcionalidade de espermatozóides, resultando em diferentes respostas
ao congelamento e fertilidade após a inseminação artificial (MAXWELL
& JOHNSON, 1999). Neste trabalho foi utilizado um
pool de plasma seminal visando reduzir essa variabilidade.
A quantificação de proteínas totais do
pool
de plasma seminal certificou que a concentração do material filtrado e
concentrado foi aproximadamente dez vezes maior (222,5 mg/mL) que a
média descrita por GHAOUI
et al. (2007) para o plasma seminal in natura de ovinos (26,6 mg/mL).
A análise do gel de proteínas do
pool
de plasma seminal demonstrou que o processamento das amostras
(preparação, concentração e congelamento) não promoveu alterações no
perfil eletroforético, sendo esse comparável ao perfil de amostras
in natura.
A análise do perfil eletroforético ainda permitiu verificar que a
mistura do plasma seminal de vários animais reduziu as variações
qualitativas e quantitativas das bandas protéicas
encontradas.
Nas condições deste trabalho, as proteínas majoritárias encontradas no
plasma seminal de carneiros da raça Santa Inês foram as de peso
molecular em torno de 107, 88, 64, 58, 54, 47, 28, 26, 25, 23 e 22 kDa (
Figura 1),
sendo as bandas de 26 e 25 kDa as que apresentaram maior área relativa,
o que difere do perfil eletroforético do plasma seminal de carneiros da
raça Guirra. MARCO-JIMÉNEZ
et al.
(2008) descreveram que 80% das proteínas do plasma seminal de carneiros
dessa raça foram representadas por frações de proteínas de peso
molecular em torno de 50, 24, 21 e 15 kDa. No entanto, JOBIM
et al.
(2005), utilizando-se da eletroforese bidimensional, também encontraram
spots mais proeminentes abaixo de 30 kDa, ao avaliar um pool de plasma
seminal de três carneiros. As bandas protéicas de 23,3 e 25,2 kDa
descritas por DOMÍNGUES
et al.
(2008) no plasma seminal de carneiros apresentaram reação cruzada com
anticorpos contra RSVP20, uma proteína de origem na vesícula seminal e
responsável pela proteção dos espermatozóides contra o choque térmico.
Essas bandas podem corresponder às bandas de 23 e 25 kDa encontradas no
presente trabalho.
A composição protéica do plasma seminal pode ser influenciada por
vários fatores, entre eles a estação do ano, sendo descritas mudanças
no conteúdo protéico e na atividade de algumas enzimas (MARTI i.,
2007). A elevação do conteúdo de proteínas totais no plasma seminal foi
evidenciada durante os meses da estação reprodutiva, enquanto a maior
atividade das enzimas antioxidantes ocorreu nos meses fora dessa
estação (DOMÍNGUEZ
et al., 2008).
Relatos conflitantes a respeito do efeito do plasma seminal sobre a
motilidade espermática têm sido publicados. Espermatozóides ejaculados
de ovinos, lavados e ressuspendidos em plasma seminal, ou em meio
Tyrode modificado (TALP) antes da diluição no meio de criopreservação,
resultaram em maiores percentagens de espermatozóides móveis que os
ressuspendidos em meio Tyrode’s (TALP), após resfriamento a 5ºC (52% vs
35%) e após o descongelamento (14 vs 9%), respectivamente (GRAHAM,
1994).
Ao contrário, os resultados do presente trabalho mostraram que o plasma
seminal não interferiu na motilidade total (52,6% -T0 x 45,6% - T10);
porém, ele causou uma redução significativa da motilidade progressiva
(de 10,3% para 4,35%). A redução da motilidade tem sido relacionada com
a presença de fatores no plasma seminal, tais como uma fração protéica
da glândula bulbo uretral, descrita em caprinos (RITAR & SALAMON,
1982) e o fator inibidor da motilidade (SPMI) encontrado no plasma
seminal de suínos (IWAMOTO
et al., 1993).
O tempo de incubação das amostras com o plasma seminal pode ser outro
fator de variação dos resultados de motilidade espermática. Essa
variação pode estar relacionada ao tempo necessário para a adsorção de
proteínas do plasma seminal sobre a membrana espermática. Análise por
microscopia eletrônica de varredura de espermatozóides ejaculados de
ovinos incubados com plasma seminal por uma hora, após exposição ao
choque térmico, mostrou que os intensos danos estruturais induzidos
pelo resfriamento foram revertidos após o período de incubação.
Proteínas do plasma seminal que se ligaram à membrana plasmática
modificaram as características funcionais de espermatozóides
danificados. A avaliação da integridade de membrana com marcadores
fluorescentes também indicou a restauração dos danos celulares (BARRIOS
et al., 2000).
No presente trabalho foi utilizado o tempo de incubação de 15 minutos,
o que pode ter sido insuficiente para a recuperação das lesões
provocadas pelo resfriamento.
Recentemente, GHAOUI
et al.
(2007) verificaram que a ressuspensão e a incubação de espermatozóides
descongelados de carneiro, por 3 e 6 h, em plasma seminal autólogo ou
sua fração sobrenadante, melhoraram as características de motilidade e
a condição da membrana, reduzindo a porcentagem de espermatozóides com
acrossoma reagido, possivelmente devido à ação de fatores
decapacitantes presentes no plasma seminal. No entanto, esses
benefícios não refletiram em melhorias na fertilidade após a
inseminação cervical ou intrauterina. As taxas de gestação obtidas com
a inseminação cervical e intrauterina (laparoscópica) foram de 12,7 e
45%, respectivamente, consideradas baixas se comparadas com aquelas
atingidas em programas comerciais de inseminação artificial na
Austrália.
No presente trabalho, o plasma seminal não promoveu alterações
relacionadas à funcionalidade da membrana plasmática, determinada pelo
teste hiposmótico. A integridade e a funcionalidade da membrana
espermática externa são essenciais para o metabolismo, capacitação,
ligação ao ovócito e reação acrossômica. Assim, a avaliação das
características da membrana pode ser adequada para predição da
capacidade de fertilização dos espermatozóides (BRITO
et al., 2003).
Vários procedimentos têm sido propostos para acessar características
estruturais e funcionais de sêmen criopreservado de carneiros, mas
nenhum deles tem mostrado uma relação consistente com a fertilidade
in vivo.
Nenhuma associação foi encontrada entre motilidade, viabilidade (% de
vivos) ou condição acrossomal (% danificados, % intactos e % reagidos)
e fertilidade
in vivo. Também
nenhuma correlação foi encontrada entre motilidade (CASA), viabilidade,
estado da capacitação, teste hiposmótico e a fertilidade
in vivo de carneiros (O’MEARA
et al., 2008).
Buscando correlacionar a fertilidade do sêmen bovino com testes de avaliação espermática
in vitro,
SIQUEIRA (2004) verificou uma correlação positiva e de média
intensidade para motilidade espermática progressiva retilínea
pós-descongelamento, avaliada pelo TTR, e o teste hiposmótico (0,21).
Entretanto, a correlação da motilidade com o teste hiposmótico foi alta
(0,64), demonstrando que os espermatozóides que mantiveram a
integridade de sua membrana plasmática após a criopreservação
permaneceram viáveis por mais tempo. Correlações negativas de média e
alta intensidade (-0,25 e -0,46, respectivamente) foram encontradas
para o teste de reação acrossômica com a motilidade espermática
progressiva retilínea pós-descongelamento e após 3 h
de incubação. No entanto, não houve correlação do TTR, teste
hiposmótico, teste de reação acrossômica e motilidade
pós-descongelamento com a taxa de gestação. Entretanto, BRITO
et al. (2003) encontraram uma correlação positiva entre o teste hiposmótico e a taxa de fertilização in vitro de ovócitos bovinos.
Nas condições deste trabalho, o plasma seminal não mostrou efeitos
positivos sobre a motilidade espermática, integridade e funcionalidade
da membrana, porém é necessário investigar outras variáveis, como
diferentes concentrações e tempos de incubação, visando reduzir os
efeitos danosos do congelamento sobre o espermatozóide ovino.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo apoio financeiro na
execução deste trabalho.
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Protocolado em 15 fev. 2008. Aceito em 02 fev. 2011