SURTO DE SARNA CORIÓPTICA EM CAPRINOS NA CIDADE DE GRAVATÁ,
REGIÃO AGRESTE DO ESTADO DE PERNAMBUCO
Janaina Azevedo Guimarães,1 Alexandre Cruz Dantas,2 Antônio Carlos Lopes Câmara,3
José Augusto Bastos Afonso,4 Carla Lopes de Mendonça4 e Maria Isabel de Souza4
1. Mestranda em Ciência Veterinária, UFRPE. E-mail: nainalago@yahoo.com.br
2. Mestrando em Ciência Veterinária, UFRPE
3. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Animal da Universidade de Brasília
4. Médico veterinário da Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco
RESUMO
A sarna corióptica
é de rara ocorrência em caprinos, no entanto trata-se de
uma enfermidade cutânea importante, resultando em perdas
econômicas decorrentes do retardo no desenvolvimento dos animais,
da perda de peso e do prejuízo à indústria de
couro. Desse modo, o objetivo do presente artigo é relatar a
ocorrência de um surto de sarna corióptica em um rebanho
caprino criado no município de Gravatá (Lat. 08°
12’ 04’’ S e Long. 35° 33’ 53’’
O), região Agreste do estado de Pernambuco. Os animais
apresentavam extensas áreas de alopecia, eritema, crostas e
espessamento da pele na região das axilas, peito, ventre e as
faces caudal e craniomedial dos membros posteriores, além de
intenso prurido. Foi realizado raspado cutâneo e identificado o
ácaro Chorioptes bovis spp.
PALAVRAS-CHAVES: Caprinos, Chorioptes spp, sarna.
ABSTRACT
OUTBREAK OF CHORIOPTIC MANGE IN GOATS IN THE CITY OF GRAVATÁ IN PERNAMBUCO´S AGRESTE REGION
Chorioptic mange is of rare
occurrence in goats, although it is an important skin disease resulting
in economic loss due to the delay in the development of the animals,
weight loss and economic losses to the leather industry. Thus, the aim
of the present article was to report the occurrence of an outbreak of
chorioptic mange in a goat flock reared in the city of Gravatá,
(Lat. 08° 12’ 04’’ S and Long. 35° 33’
53’’ W) in Pernambuco´s Agreste region. The animals
showed wide alopecia areas, erythema, crusts and skin thickness in the
following areas: armpits, sternum, ventral abdomen, caudal and
cranium-medial facets of the hind legs and severe scratching. Chorioptes bovis spp was identified in skin scrapings.
KEY WORDS: Chorioptes spp, goats, mange.
INTRODUÇÃO
As enfermidades da pele e
dos pelos de ovinos e caprinos resultam em perdas econômicas
significativas ao pecuarista, em razão do retardo no
desenvolvimento dos animais, da perda de peso e do prejuízo
à produção de lã e de couro (OLMEDA &
ALONSO, 1997; HARGIS, 1998; Anderson et al., 2005).
A sarna é uma
enfermidade da pele causada pela invasão, presença e
reprodução de ácaros. A transmissão ocorre,
principalmente, por via direta, embora, em animais estabulados, os
utensílios de lida ou instalações possam
constituir maneira de disseminação da doença
(RADOSTITS et al., 2000).
Existem vários
gêneros de ácaros que produzem sarnas nos pequenos
ruminantes. Tanto do ponto de vista etiológico como
clínico, podem ser diferenciados quatro processos: sarna
sarcóptica, psoróptica, corióptica e
demodécica. Os dois primeiros são responsáveis por
importantes perdas econômicas (CARDEÑOSA &
FERNÁNDEZ, 1997; OLMEDA & ALONSO, 1997).
A sarna corióptica,
também conhecida como sarna do pé ou dos membros,
é comum em bovinos e ovinos, e rara em equinos e caprinos.
Segundo PEREIRA & TRALDI (1991), YERUHAM et al. (1999), FORTES (2004), os ácaros pertencentes ao gênero Chorioptes
encontrados em bovinos, equinos, ovinos e caprinos são morfo e
biologicamente idênticos. Dessa forma são reconhecidas
somente duas espécies: C. bovis e C. texanus.
Os ácaros do gênero Chorioptes
pertencem à família Psoroptidae. São
caracterizados por apresentarem gnatossoma curto levemente cônico
e patas longas e espessas. Os tarsos possuem pedicelos curtos,
não segmentados no primeiro, segundo e quarto pares de patas da
fêmea e em todas as patas do macho, com dois lobos (lobos
opistossomais) na margem posterior do corpo (EVANS, 1995; OLMEDA &
ALONSO, 1997; RADOSTITS et al., 2000; Fortes, 2004; ANDERSON et al., 2005; Bowman, 2006).
Esses ácaros possuem
ciclo biológico que se prolonga por duas a três semanas,
podendo viver fora do hospedeiro por apenas poucos dias (URQUHART et al., 1990; EVANS, 1995; RADOSTITS et al., 2000; ANDERSON et al.,
2005). Os ovos são depositados nas crostas da superfície
da pele e após três a cinco dias de
incubação dão lugar às larvas. Essas larvas
se alimentam durante um período variável (três a
doze dias), passando para o primeiro estágio ninfal
(protoninfa). A protoninfa, em três a cinco dias, se transforma
em deutoninfa, que caracteriza o segundo estágio ninfal. Passado
um período de mais três a cinco dias, ela sofre a
última muda, passando para a fase adulta (OLMEDA & ALONSO,
1997). Todos os estágios do ciclo biológico nutrem-se de
escamas soltas e outros fragmentos cutâneos (URQUHART et al., 1990; YERUHAM et al., 1999).
O diagnóstico das
sarnas é feito através do histórico da
doença, dos sinais clínicos e visualização
macroscópica de ácaros em movimento e
confirmação laboratorial através da
detecção e identificação do ácaro em
raspados de pele (VALCARCEL-SANCHO
& GARCÍA-ROMERO, 1997; HARGIS, 1998; YERUHAM et al., 1999; ANDERSON et al., 2005).
Tendo em vista a rara
ocorrência dessa parasitose na espécie caprina, aliada
à severidade dos achados clínicos, este estudo teve por
objetivo relatar um surto de sarna corióptica ocorrido em
caprinos da raça Boer criados no município de
Gravatá (Lat. 08° 12’ 04’’ e Long. 35°
33’ 53’’), no agreste do Estado de Pernambuco.
MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se um estudo em um
lote de doze fêmeas caprinas da raça Boer criadas no
agreste pernambucano em sistema intensivo, em que o proprietário
queixava-se do aparecimento de extensas áreas de alopecia no
ventre e membros, além de prurido constante nesses locais. Os
animais já haviam sido submetidos a vários tratamentos
tópicos e sistêmicos, mas sem apresentar melhora do
quadro. Foi relatado, ainda, que os sinais clínicos iniciaram-se
após a introdução de um caprino no rebanho, o qual
apresentava as mesmas lesões.
Os animais foram
acompanhados pela Clínica de Bovinos, Campus
Garanhuns/Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e
submetidos ao exame clínico conforme descrito por DIFFAY et al.
(2004). Realizou-se o diagnóstico laboratorial por meio de
raspado cutâneo (BOWMAN, 2006), no qual se evidenciaram os
ácaros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O exame clínico dos
animais revelou a presença de áreas de alopecia, eritema,
crostas eespessamento da pele que se estendiam das axilas e
região do peito em direção caudal, acometendo o
ventre e as faces caudal e craniomedial dos membros posteriores,
além de intenso prurido (Figura 1).
O exame microscópico
das lâminas do raspado cutâneo revelou a presença de
ácaros com tarsos apresentando pedicelos curtos, não
segmetados e com ventosas ambulacráis, também conhecidas
como carúnculas, na extremidade (Figura 2).
Esses achados foram compatíveis com a morfologia descrita para
as espécies do gênero Chorioptes spp. (FORTES, 2004;
FOREYT, 2005; BOWMAN, 2006). Com base na descrição
proposta por FACCINI & MASSARD (1976), pôde-se concluir que a
espécie encontrada era a Chorioptes bovis.
Segundo BOWMAN (2006), o
principal sintoma da sarna corióptica é o prurido,
havendo o surgimento de descamação, eritemas,
pápulas, crostas, ulceração, alopecia e
espessamento da pele como lesões secundárias do
autotraumatismo, devido à dermatite alérgica exsudativa
(EVANS, 1995; HARGIS, 1998; Yeruham et al., 1999; RADOSTITS et al., 2000; ANDERSON et al., 2005). Segundo FORTES (2004), BOWMAN (2006) e HENDRIX (2006), os ácaros do gênero Chorioptes
perfuram a pele, fazendo com que o soro exsude, formando crostas finas
de soro coagulado na superfície cutânea. Finalmente a pele
enruga e se espessa, corroborando os achados descritos no caso. Em
estudo de duas ocorrências de sarna corióptica em bovinos
no estado de São Paulo, OBA et al. (1977), bem como BARBOSA et al.
(1978) descreveram lesões semelhantes. Entretanto, segundo
PEREIRA & TRALDI (1991), FOREYT (2005) e BOWMAN (2006), a sarna
corióptica não costuma apresentar sinais clínicos
graves em caprinos, e tem aparecimento raro nessa espécie,
quando comparada aos bovinos, equinos e ovinos.
Os animais estudados
apresentavam lesões pruriginosas, que se estendiam das axilas e
região do peito em direção caudal, acometendo o
ventre e as faces caudal e craniomedial dos membros posteriores.
Segundo HARGIS (1998), YERUHAM et al. (1999) e ANDERSON et al. (2005), esses são os locais mais comumente acometidos, sendo a forma generalizada incomum.
Nem todos os animais do
rebanho apresentaram sinais clínicos de sarna. Acredita-se que
muitos abrigavam os parasitos, já que viviam no mesmo ambiente,
porém eram assintomáticos, pois, de acordo com BOWMAN
(2006), a infestação assintomática pelo Chorioptes spp é muito mais comum do que a dermatite clínica.
Os casos clínicos
são mais frequentes em animais confinados, em ambientes com alta
densidade, sendo mais comuns durante o outono e inverno (NEOG et al., 1992; CARDEÑOSA & FERNÁNDEZ, 1997; WRIGHT et al., 1998; Yeruham et al.,
1999). Essas informações corroboram os dados descritos no
relato, uma vez que os animais eram criados em regime intensivo e os
casos ocorreram no mês de junho, período correspondente ao
período chuvoso na região Nordeste do Brasil.
Recomendaram-se o
isolamento dos animais e o tratamento com triclorfon de todos os
indivíduos acometidos, seguindo a literatura consultada (OBA et al., 1977; BARBOSA et al., 1978; RADOSTITS et al., 2000; FORTES, 2004), obtendo-se resolução satisfatória do quadro clínico.
CONCLUSÕES
A sarna corióptica
é uma enfermidade cutânea pouco descrita em caprinos. No
entanto, embora não esteja relacionada à morte dos
animais acometidos, gera grandes perdas aos produtores, além de
diminuição de peso dos animais, provocada pelo
incômodo decorrente do intenso prurido cutâneo.
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Protocolado em: 30 jan. 2008. Aceito em: 28 abr. 2009.