DOI: 10.590/1809-6891v15i325477

MORFOMETRIA DO ENCÉFALO E FORMAÇÃO DO CIRCUITO ARTERIAL EM EQUINOS MESTIÇOS

Sara Otoni da Silva Moraes1, Marcelo Salvador Gomes2, Paulo Oldemar Scherer3, Marcelo Abidu Figueiredo3


1Graduanda da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2Pós-Graduando da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3Professores Doutores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil - marceloabidu@gmail.com

RESUMO

O objetivo desta investigação foi caracterizar a morfometria do encéfalo e a formação do circuito arterial em equinos adultos mestiços de ambos os sexos. A fixação foi feita através de cânula plástica introduzida na artéria carótida comum com solução de formaldeído a 10%.  Em seguida, foram feitas repleções vasculares com solução aquosa de Petrolátex S65 corado com pigmento Suvinil vermelho. Procedeu-se a craniotomia, remoção e morfometria dos encéfalos e dissecção para a observação das ramificações principais da artéria basilar e formação do circuito arterial. A média mais erro padrão da média do comprimento da artéria basilar foi de 3,629 cm ± 0,1550 nos machos e 4,423 cm ± 0,1990 nas fêmeas (p=0,0037). Em todos os equinos dissecados, a artéria basilar originou-se da convergência das artérias vertebrais, emitindo a artéria cerebelar caudal, ramos variados para bulbo e ponte, ramos terminais e artérias cerebelares rostrais. As artérias da base do encéfalo estiveram na dependência dos sistemas carótico e vértebrobasilar. O circuito arterial do cérebro apresentou-se fechado rostral e caudalmente em 100% dos animais dissecados.
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PALAVRAS-CHAVE: cérebro, circuito arterial, equino

 

MORPHOMETRY OF THE BRAIN AND ARTERIAL CIRCUIT FORMATION IN CROSSBREAD HORSE

ABSTRACT

The aim of this study was to describe the main branches of the basilar artery, formation of the arterial circuit and the morphometry of the brain in adult crossbreed horses of both sexes. The setting was made by plastic tube inserted into the common carotid artery with 10% formaldehyde solution. After fixed, latex solution stained with pigment was injected. Craniotomy, morphometry of the brain and dissection were made to identify the main branches of the basilar arteries and the formation of the arterial circuit. The mean and standard error of the mean of the basilar artery was 3.629 cm ± 0.1550 in males and 4.423 cm ± 0.1990 in females (p=0.0037). In all animals the basilar artery originated from the fusion of the vertebral arteries giving rise to caudal cerebellar arteries, different numbers of branches to bulbus and pons, terminal branches and rostral cerebellar arteries. The arteries of the base of the brain depended on the carotid and vertebral-basilar systems. The brain circuit was closed rostrally and caudally in all horses.
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KEYWORDS: arterial circuit, brain, horse.



INTRODUÇÃO

As doenças que acometem o sistema nervoso central (SNC) de equídeos representam uma parcela importante das afecções nessas espécies. O estudo destas e de outras enfermidades nas diferentes regiões do país é necessário para estabelecer formas eficientes de controle e profilaxia1.

Nos últimos anos tem-se observado grande avanço nas técnicas de diagnóstico por imagem, que se destinam à investigação das estruturas do sistema nervoso central facilitando, dessa forma, o tratamento de diferentes patologias2, 3. Acompanhando o mesmo crescimento, muitas doenças do sistema nervoso também passaram a ser diagnosticadas com mais frequência e precisão, possibilitando muitos avanços na pesquisa biomédica gerando tratamentos cada vez mais seguros e minimamente invasivos4, 5.

As artérias encefálicas representam a principal fonte de suprimento sanguíneo para o cérebro sendo essenciais na homeostase cerebral. Pela sua importância funcional, vários estudos morfológicos foram realizados em diferentes espécies. No estudo da anatomia regional do sistema nervoso central, os vasos sanguíneos apresentam grande variabilidade numérica, na origem, trajeto e distribuição. Diferentes estudos sobre o ser humano relataram duplicidade ou agenesia das artérias da base do encéfalo6-9; entretanto, relatos dessa natureza são escassos na anatomia veterinária aplicada, dificultando muitas vezes os estudos angiográficos.

O conhecimento preciso das variações vasculares possui grande importância em um programa de sistematização da prática de diagnóstico por imagem e também da prática cirúrgica em animais domésticos. Variações na anatomia vascular cerebral podem aumentar a morbidade nos procedimentos cirúrgicos e intervencionistas10. A irrigação sanguínea para o encéfalo apresenta uma considerável variação entre as espécies animais. Tais modificações estão relacionadas com as fontes de suprimento sanguíneo e com a multiplicidade de arranjos das artérias que se distribuem na região do sistema nervoso central. Dados sobre essas fontes de suprimento revelaram-se contraditórios e escassos11.

O presente trabalho tem como objetivo caracterizar a morfometria do encéfalo e da formação do circuito arterial em equinos mestiços adultos de ambos os sexos.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas 30 cabeças de equinos mestiços provenientes do acervo da área de anatomia animal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, as quais já haviam sido utilizadas em outros experimentos. Essas cabeças foram previamente identificadas e, através de uma cânula plástica introduzida na artéria carótida comum, fixadas com solução de formaldeído a 10%, preenchendo-se o sistema arterial com solução de petrolátex S65 (Refinaria Duque de Caxias / Petrobrás, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil) corado com pigmento Suvinil vermelho. Posteriormente, as calotas cranianas foram retiradas e incisões foram feitas nas meninges, mergulhando-se em seguida todo o material em solução de formol a 30%, por cinco dias, para complementação da fixação dos encéfalos e coagulação do látex. Para abertura dos crânios, remoção dos encéfalos e dissecação dos vasos da base, foram utilizados instrumentais cirúrgicos de rotina e fórceps odontológico.

Todas as mensurações foram realizadas pelo mesmo observador, utilizando um paquímetro digital da marca Eda. O comprimento dos hemisférios cerebrais foi obtido através da distância entre os pólos frontal e occipital de cada hemisfério, a largura entre a distância do sulco mediano dorsal até o pólo temporal respectivo e a altura compreendida entre a base do lobo piriforme e a superfície dorsal do respectivo hemisfério. Também foram feitas medidas do comprimento e largura do cerebelo.(Tabela 1)

Os vasos da base do encéfalo foram dissecados e fotografados (Figura 1) para documentação e denominados de acordo com a nomenclatura anatômica veterinária12 e com o  International Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature13.

Foram obtidas a média e o erro padrão da média das mensurações do encéfalo e da artéria basilar em ambos os sexos e comparadas através do Teste t não pareado, considerando-se p < 0,05 significativo. Toda a análise estatística foi realizada no Software Graphpad Prism 5.

RESULTADOS

A artéria basilar formou-se a partir da convergência da artéria vertebral direita e esquerda em 100% dos animais. Apresentou-se reta em 11 (73%) machos e seis (40%) fêmeas, sinuosa em quatro (27%) machos e nove (60%) fêmeas, sendo única em ambos os sexos.

A artéria basilar formou-se a partir da convergência da artéria vertebral direita e esquerda em 100% dos animais. Apresentou-se reta em 11 (73%) machos e seis (40%) fêmeas, sinuosa em quatro (27%) machos e nove (60%) fêmeas, sendo única em ambos os sexos.

A artéria basilar emitiu como primeiro ramo a artéria cerebelar caudal única em ambos os antímeros e em ambos os sexos. A artéria cerebelar caudal apresentou simetria de posição em nove (60%) machos e quatro (27%) fêmeas e, consequentemente, assimetria em seis (40%) machos e 11 (75%) fêmeas. Em 100% dos machos, originou-se da artéria basilar em ambos os antímeros. Nas fêmeas, porém, a origem foi variável: em nove (60%) fêmeas, a origem foi na artéria basilar em ambos os antímeros; em duas (12%) fêmeas, esta artéria originou-se do ponto de convergência das artérias vertebrais para formação da artéria basilar, no antímero esquerdo,  e diretamente da artéria basilar, no antímero direito; em uma (6%) fêmea, no antímero direito, originou-se no da artéria vertebral e no esquerdo na artéria basilar. Em outra (6%) fêmea, no antímero direito, a artéria originou-se do ponto de convergência das artérias vertebrais para formação da artéria basilar e, no antímero esquerdo, da artéria vertebral; na última fêmea (6%), a artéria originou-se do ponto de convergência das artérias vertebrais para formação da artéria basilar, em ambos os antímeros.

 Em seguida, a artéria basilar emitiu ramos variáveis para ponte e bulbo em ambos os antímeros. Nos machos, a média mais erro padrão da média desses ramos para o antímero direito foi de 4,400 ± 0,1633 e para o esquerdo de 4,200 ± 0,1447 (p=0,3672). Nas fêmeas, a média mais erro padrão da média dos mesmos ramos para o antímero direito foi de 5,200 ± 0,2795 e para o esquerdo de 5,000 ± 0,1952 (p= 0,5621). Comparando o número de ramos entre os sexos, observou-se que, tanto no antímero direito (p=0,0198) quanto no esquerdo (p= 0,0054), as fêmeas apresentaram maior número de ramos para ponte e bulbo.

 No ponto de bifurcação, a artéria basilar, em sua porção rostral, emitiu ramos inconstantes para ambos os antímeros denominados de ramos terminais da artéria basilar. O ramo emitido em seguida foi a artéria cerebelar rostral. Esta artéria apresentou-se de forma simétrica em sete (47%) machos e três (20%) fêmeas. A assimetria foi observada em oito (53%) machos e 12 (80%) fêmeas. Em relação ao número, a artéria cerebelar rostral se apresentou única em ambos os antímeros em 13 (87%) machos e 10 (67%) fêmeas, dupla no antímero direito e única no esquerdo em dois (13%) machos e quatro (27%) fêmeas; e dupla no antímero esquerdo e tripla no direito apenas em uma (6%) fêmea. A artéria cerebelar rostral originou-se do ramo terminal da artéria basilar em sete (47%) machos e seis (40%) fêmeas e da artéria basilar em sete (47%) machos e quatro (27%) fêmeas. Em um (6%) macho,  a origem, no antímero direito, foi na artéria basilar e, no antímero esquerdo, no ramo terminal da basilar. Em uma (6%) fêmea, a origem desta artéria foi, no antímero direito, na artéria carótida interna e, no antímero esquerdo, no ramo terminal da artéria basilar. Em uma (6%) fêmea, a origem desta artéria, no antímero direito, foi na artéria basilar e no antímero esquerdo, na artéria carótida interna.  Em uma (6%) fêmea esta artéria teve dois ramos no antímero esquerdo, sendo um com origem no ramo mais caudal do ramo terminal da artéria basilar e o outro na porção mais rostral da artéria carótida interna; no antímero direito dessa fêmea, esta artéria apresentou três ramos sendo que os dois mais caudais originaram-se do ramo terminal da artéria basilar e o mais rostral originou-se da artéria carótida interna. Em uma (6%) fêmea, no antímero direito, esta artéria apresentou dois ramos, sendo que o mais rostral originou-se na artéria carótida interna e o mais caudal no ramo terminal da artéria basilar e, no antímero esquerdo, apenas um ramo, que se originou do ramo terminal da artéria basilar. Na última fêmea (6%), no antímero direito, esta artéria apresentou dois ramos, sendo que o mais rostral originou-se da artéria carótida interna e o mais caudal da artéria basilar e, no antímero esquerdo, o único ramo originou-se da artéria basilar propriamente dita.      

Adiante observou-se a artéria cerebral caudal, que se apresentou simétrica em 9 (60%) machos e oito (53%) fêmeas, e assimétrica em seis (40%) machos e sete (47%) fêmeas. Apresentou-se única em ambos os antímeros em 12 (82%) machos e 14 (94%) fêmeas, dupla em ambos os antímeros em apenas um (6%) macho, dupla no antímero esquerdo e única no direito em apenas um (6%) macho e dupla no antímero direito e única no esquerdo em um (6%) macho e uma (6%) fêmea. Esta artéria teve origem na artéria carótida interna em 11 (73%) machos e 100% das fêmeas; e no ramo terminal artéria basilar em apenas quatro (27%) machos. Posteriormente, observou-se a artéria cerebral média. Esta artéria foi simétrica em sete (47%) machos e seis (40%) fêmeas; e assimétrica em oito (53%) machos e nove (60%) fêmeas. Apresentou-se única em ambos antímeros em 15 (100%) machos e 14 (94%) fêmeas. Sua origem foi observada na artéria carótida interna, em 100% dos animais. No intervalo compreendido entre as artérias cerebral caudal e cerebral média, constatou-se a presença da artéria caróticobasilar em cinco  (33%) machos e oito (53%)  fêmeas.  por último, observou-se a artéria cerebral rostral, apresentando-se única e fusionada, formando a artéria comum do corpo caloso  em 100% dos animais. Alguns destes vasos estão exemplificados na Figura 1.


O circuito arterial da base do encéfalo equino foi formado pelas artérias: comunicante caudal direita e esquerda, carótida interna em ambos os antímeros e cerebral rostral direita e esquerda. Caudalmente, apresentou-se fechado em 100% dos animais e configurado pelas artérias comunicante caudal direita e esquerda. Rostralmente, apresentou-se fechado em 100% dos animais e arquitetado pelas artérias cerebral rostral direita e esquerda.  Ainda rostralmente, a artéria cerebral rostral  fusionou-se, formando a artéria comum do corpo caloso, onde o circuito arterial se fechou.

DISCUSSÃO

Morfometria é o estudo científico das dimensões de estruturas anatômicas macroscópicas dos indivíduos, com especial referência às suas medidas lineares e pesos. Essas medidas são muitas vezes feitas por medições diretas em amostras fixadas em solução de formaldeído, especialmente no cérebro. Os resultados variam em precisão e ainda são motivos de discussão14.

Olapade et al.15 realizaram morfometria do encéfalo de ovinos, separando-os por sexo, peso e idade, e concluíram que não houve diferença nos parâmetros do encéfalo em relação ao sexo e à idade; entretanto, animais mais pesados apresentaram aumento no comprimento do encéfalo.  Na presente investigação, houve diferença entre os sexos no que se refere à largura do hemisfério esquerdo, hemisfério direito, e o comprimento do cerebelo,  sendo que as fêmeas apresentaram maiores valores.

Em estudos realizados em humanos, Ribeiro et al.16 realizaram morfometria em 81 hemisférios cerebrais comparando os dois sexos e concluíram que os homens apresentaram maior comprimento e maior peso encefálico, diferente dos resultados obtidos na presente investigação em que ocorreu o contrário, sendo as fêmeas com maiores valores de largura dos hemisférios e comprimento do cerebelo em relação aos machos.

Igado e Aina17 realizaram estudos referente às medidas do cérebro de codorna (Coturnix japonica) usando machos e fêmeas e verificaram que as fêmeas apresentaram média dos valores de comprimento, peso e profundidade do cérebro superiores aos machos, parcialmente semelhante aos resultados obtidos na presente pesquisa, em que as fêmeas apresentaram maior largura dos hemisférios.

Quanto ao comprimento da artéria basilar, houve diferença nessa medida entre o sexo dos equinos estudados (Tabela 1). Na literatura consultada não foram observados valores correspondentes à mensuração desse vaso.

A artéria basilar, tanto nos machos quanto nas fêmeas, formou-se a partir da convergência das artérias vertebrais, direita e esquerda semelhante ao observado em gatos18, 19, em cães20 e coelhos21. Resultados diferentes foram obtidos por Jewell22 em cães, pois a artéria vertebral juntava-se à artéria espinhal ventral na superfície ventral da medula espinhal, após receber anastomose das artérias occipitais originando rostralmente a artéria basilar.

De La Torre et al.23, entretanto, relataram que esta artéria em cães era formada pela união dos ramos dorsais direito e esquerdo do ramo occipito-vertebral, semelhante aos resultados obtidos por Gillilan24, que também usou o cão e o gato. 

Em fetos de bovinos azebuados25 e em fetos de búfalos sem raça definida26, a artéria basilar apresentou-se como um vaso ímpar resultante da convergência dos ramos caudais, direito e esquerdo, da artéria carótida.

Ocal et al.27, em camelo (Camelus dromedrarius) e Brudnicki28, em caprinos, observaram que a artéria basilar era formada pela anastomose das artérias vertebrais e artéria espinhal ventral, distinguindo do estudo em questão em que a artéria basilar se formou a partir  da fusão das artérias vertebrais direita e esquerda em todos os encéfalos dissecados.

No jacaré do papo amarelo (Caiman latirostris), Almeida e Campos29 verificaram que a artéria basilar era formada a partir da anastomose das partes convergentes do ramo caudal da artéria carótida interna, arranjo semelhante ao observado por Nazer e Campos30, no cérebro de avestruz, em que a artéria basilar apresentou-se como um vaso único em 80%, de forma dupla em 13,3% e em forma de ilha em 6,7% das amostras, diferente dos resultados da presente pesquisa no que se refere à formação da artéria basilar, porém semelhante aos resultados dos autores supra citados, pois, em equinos, a  forma única foi observada em 100% dos animais.

Variações na artéria basilar foram descritas por Paiva-de-Souza et al.31, em equinos mestiços, com a frequência variável da artéria caroticobasilar, uma anastomose entre a artéria carótida interna e a artéria basilar observada na face ventral do tronco encefálico. Estes vasos também foram observados na presente pesquisa.

Depedrine e Campos32 observaram que, na raposa (Dusicyon gymnocercus), a artéria basilar originou-se da artéria vertebral direita e esquerda e pela bifurcação terminal rostral da artéria espinhal ventral; entretanto, de acordo com Wiland33, a artéria basilar na raposa forma-se através da união dos ramos da artéria vertebral e occipital. Em ambos os autores acima citados, os resultados obtidos diferem dos verificados na presente investigação, em que a artéria basilar formou-se exclusivamente da união das artérias vertebrais direita e esquerda.

 Em roedores das espécies Hystrix cristata34 e Spalax leucodon35, a artéria basilar originou-se da fusão das artérias vertebral direita e esquerda. Esse mesmo arranjo foi observado por Reckziegel et al.36 em estudo realizado em capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris), por Lima et al.37 em Tamanduá Mirim, por Macedo et al.38  no Papa Mel ( Eira berbara) e também nos resultados obtidos na presente investigação com equinos mestiços.

Campos et al.39 observaram que a artéria basilar, em equinos Puro Sangue Inglês, formou-se a partir da convergência das artérias occipitais direita e esquerda, diferente do que foi observado na presente pesquisa.

Em estudo realizado com encéfalos de suínos da linhagem Camborough22 por Lima et al.40,  em suínos sem raça definida por Ferreira e Prada11 e no javali (Sus scrofa scrofa) por Oliveira e Campos41, foi observado que a rede admirável epidural caudal e ainda a artéria espinhal ventral foram as responsáveis pela formação da artéria basilar, diferente dos resultados obtidos com os equinos estudados, em que a artéria basilar formou-se exclusivamente da união das artérias vertebrais direita e esquerda.

Em chinchilas (Chinchilla lanígera), Araújo e Campos42 observaram que, em 96,7% dos casos, a artéria basilar formou-se pela convergência das artérias vertebral direita e esquerda, enquanto que em 3,3% foi formada pela artéria carótida interna esquerda. Os resultados desses autores, apesar de não estarem expressos separados pelo sexo, assemelham-se, em parte, com os do presente estudo, pois em 100% dos encéfalos  estudados as artérias vertebrais direita e esquerda foram responsáveis pela formação da artéria basilar.

Azambuja43 observou que, no ratão do banhado (Myocastor coypus), a artéria basilar formou-se a partir da anastomose dos ramos terminais das artérias vertebral direita e esquerda. Semelhante ao que fora observado em equinos na presente investigação e aos resultados de Ferreira e Prada44, em estudo sobre os vasos da base do encéfalo do macaco-prego (Cebus apella).

Em todos os encéfalos analisados, a artéria basilar emitiu, como ramo principal, a artéria cerebelar caudal, que se apresentou de forma simétrica e assimétrica em relação ao antímero. A artéria basilar emitiu ramos de menor calibre para ponte e bulbo. Em seguida, emitiu as artérias cerebelares rostrais direita e esquerda. Esses resultados assemelham-se aos obtidos por Lima et al.18 e Gomes et al.19 para gatos, para Alcântara e Prada45, 46 para o cão e para Portugal et al.21 para coelhos.

A formação do circuito arterial do cérebro, em animais domésticos e selvagens, pode ser usado para criar modelos, com o propósito de conduzir diferentes experimentos. Sendo assim o estudo morfológico comparativo detalhado desses vasos torna-se essencial e relevante.

Estudos do circuito arterial da base do encéfalo de diferentes espécies demonstram muitas variações. Em estudos com avestruz (Struthio camelus), Nazer e Campos30 observaram que este se apresentou sempre aberto rostralmente e, em 80% dos casos, aberto caudalmente.

No jacaré (Caiman latirostris), Almeida e Campos29 verificaram que este foi dependente exclusivamente do sistema carótico e se apresentou fechado rostralmente e caudalmente em todos os espécimes estudados, semelhante aos resultados obtidos por Azambuja43, em estudo com o Ratão do Banhado (Myocastor coypus), embora o circuito nesses animais fosse suprido exclusivamente pelo sistema vértebro-basilar. Na presente investigação, o circuito mostrou-se fechado rostralmente, em 100% dos animais, pela presença das artérias cerebral rostral direita e esquerda, que se anastomosou, formando a artéria comum do corpo caloso, onde o circuito arterial se fechou.  Caudalmente, apresentou-se fechado, em 100% dos animais, sendo delimitado pelas artérias comunicante caudal direita e esquerda.

 O circuito arterial do suíno (Sus scrofa domesticus) é fechado rostralmente pela presença constante da artéria comunicante rostral em 100% dos casos e caudalmente pela presença dos ramos terminais direito e esquerdo da artéria basilar11, semelhante ao observado no javali (Sus scrofa scrofa)41 e diferentemente dos achados na presente investigação.

No gato18, 47, observou-se que o circuito mostrou-se fechado rostralmente pela presença da artéria comunicante rostral em 60% dos casos e caudalmente fechado pela presença dos ramos caudais das artérias carótidas do encéfalo e ramos terminais da artéria basilar em todas as amostras, distinguindo do observado na presente pesquisa, em que artérias cerebral rostral direita e esquerda são responsáveis pelo fechamento do circuito rostralmente e, caudalmente,  as artérias comunicante caudal direita e esquerda.

Ocal et al.27 relataram que o circuito arterial no camelo (Camelus dromedarius) teve seu suprimento sanguíneo oriundo da artéria carótida, em cada antímero, da artéria basilar além da artéria comunicante caudal que se originou da rede admirável epidural rostral. Nos equinos deste estudo, a irrigação do circuito foi oriunda do sistema carótico e vértebro-basilar, também verificou-se a formação da artéria comunicante caudal, que é observada em camelos.

Araújo e Campos42, relataram que a irrigação sanguínea do encéfalo da chinchilla (Chinchilla lanígera) é formada pelo sistema vértebro-basilar, porém, em pequenas proporções, pela artéria carótida interna esquerda ou pelo sistema vértebro- basilar com contribuição da artéria carótida interna esquerda.

Reckziegel et al.36 verificaram que o circuito arterial da capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) depende unicamente do sistema vértebro-basilar, divergindo  dos resultados de Lima et al37 para o tamanduá-mirim,  de Macedo et al.38 para o papa mel (Eira berbara) e dos resultados observados em equinos neste estudo, em que o suprimento sanguíneo do circuito arterial é dado pela participação do sistema carótico e vértebro-basilar.

 No circuito arterial do esquilo vermelho (Sciurus vulgaris), a artéria carótida interna não contribuiu para o suprimento sanguíneo do circuito arterial, que é feito pela artéria basilar35. Arranjo morfológico semelhante foi observado por Aydin et al.48, no esquilo (Spermophilus citellus) e por Aydin et al.34, no porco-espinho (Hystrix cristata), diferentemente dos resultados deste estudo.

Lima et al.18 e Gomes et al.47 mostraram que o circuito arterial em gatos estende-se, rostralmente, desde a ponte até ao quiasma óptico, sendo representado pelas artérias carótida do encéfalo direita e esquerda, através de seus correspondentes ramos rostrais e caudais e, ainda, pelos ramos terminais em ambos os antímeros da artéria basilar em todas as preparações, diferente  dos resultados da presente investigação.

Em relação à forma do circuito arterial em gatos, Lima et al.18 relataram que o arranjo dos ramos rostrais da carótida lembram uma figura elipsóide disposta transversalmente em relação à base do encéfalo, diferentemente, Gomes et al.47 observaram que o circuito arterial, também em gatos, não apresentou nenhuma configuração semelhante a uma forma geométrica; entretanto, observaram predomínio da forma retilínea nos machos e cruzada nas fêmeas em relação à artéria cerebral rostral. Na presente investigação, o arranjo formado pelos ramos rostrais da carótida não formaram nenhum forma geométrica; alem disso, artéria cerebral rostral apresentou-se retilínea e fusionada em todos os equinos (100%).

CONCLUSÃO

Concluiu-se que o circuito arterial do equino está na dependência do sistema carótico e vertebrobasilar, existindo um predomínio da forma retilínea da artéria cerebral rostral, e que a presença da artéria comunicante rostral não foi detectada em nenhum animal.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro da FAPERJ e do CNPq.

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Protocolado em: 18 jul. 2013. Aceito em 09 Jun. 2014.