DOI: 10.5216/cab.v14i4.24488
ÓRGÃOS INTERNOS E TRATO
DIGESTÓRIO DE NOVILHOS E VACAS DE DESCARTE DE DIFERENTES GRUPOS
GENÉTICOS
Luís Fernando Glasenapp de Menezes1, Jonatas Cattelam2,
Julcemir João Ferreira3, João Restle4, Ivan Luiz
Brondani5, Dari Celestino Alves Filho5
1Professor Doutor da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Dois Vizinhos, PR, Brasil. luismenezes@utfpr.edu.br
2Mestre, Pós-graduando da Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, RS, Brasil
3Zootecnista, Mestre, Bunge Fertilizantes, Ponta Grossa, PR,
Brasil
4Professor Visitante Nacional Senior (CAPES) na Universidade
Federal do Tocantins, Araguaína, TO, Brasil
5Professores Doutores da Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria, RS, Brasil
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar os
órgãos internos e o trato digestório de novilhos e vacas de descarte 5/8
Charolês (Ch) 3/8 Nelore (Ne) e 5/8Ne 3/8Ch, terminados em confinamento.
Foram utilizados 12 novilhos e 12 vacas de descarte, sendo cada categoria
composta por seis animais 5/8Ch 3/8Ne e seis animais 5/8Ne 3/8Ch. A idade
média dos animais ao final do período experimental foi de 23 meses para os
novilhos e 68 meses para as vacas de descarte. Os animais foram terminados
em confinamento até atingirem acabamento para o abate. A dieta alimentar
continha relação volumoso:concentrado de 40:60 (base na matéria seca). O
delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, em um arranjo
fatorial 2 x 2 (2 categorias x 2 grupos genéticos. Os dados foram
submetidos à análise de variância pelo proc GLM, sendo as médias
classificadas pelo teste “F” e os parâmetros com efeito significativo para
interação entre categoria e grupo genético comparados pelo “teste t”, a 5%
de significância. Houve maior peso de abate (PAB) (509,67 contra 414,50
kg) e de corpo vazio (PCVZ) (433,01 contra 355,27 kg, respectivamente)
para as vacas em relação aos novilhos. As vacas apresentaram maiores pesos
absolutos para coração (1,62 contra 1,40 kg), fígado (7,07 contra 5,95 kg)
e também para o conjunto de órgãos internos, total do trato digestório e
sangue. Quando os pesos dos componentes foram expressos em porcentagem do
PCVZ, os novilhos foram superiores no peso dos pulmões (1,08 contra
0,95%), baço (0,29 contra 0,22%), intestinos (2,04 contra 1,72%) e no
total dos órgãos vitais (3,92 contra 3,63%). Quanto aos grupos genéticos,
animais 5/8Ch 3/8Ne apresentaram maior peso absoluto de trato digestório.
Não houve correlação entre o rendimento de carcaça com componentes não
integrantes da carcaça expressos em peso absoluto. Vacas de descarte
apresentam maior massa dos órgãos internos e do trato digestório que
novilhos abatidos aos 24 meses, enquanto bovinos do grupo genético 5/8Ch
3/8Ne apresentam maior peso de compartimentos e do total do trato
digestório em relação a bovinos 5/8Ne 3/8Ch.
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PALAVRAS-CHAVE: Abomaso; categoria animal; fígado; peso de corpo vazio;
rendimento de carcaça..
INTERNAL ORGANS AND DIGESTIVE TRACT FROM
STEERS AND CULL COWS OF DIFFERENT GENETIC GROUPS
ABSTRACT
The objective of this study was to
evaluate the internal organs and digestive tract of two categories, steers
and cull cows, from two genetic groups: 5/8 Charolais (Ch) 3/8 Nellore
(Ne) and 5/8Ne 3/8Ch, finished in feedlot. We used 12 steers and 12 cull
cows, being the categories compounded for six 5/8Ch 3/8Ne animals and six
animals 5/8Ne 3/8Ch. The average age of animals at the end of the
experimental period was 23 and 68 months for steers and cull cows,
respectively. The animals were feedlot-finished until reaching finishing
degree for slaughter. The experimental diet had a roughage:concentrate
ratio of 40:60 (dry matter basis). The experimental design was completely
randomized in a 2 x 2 (two categories and two genetic groups) factorial
scheme. Data were submitted to analysis of variance by proc GLM, being the
means classified by test "F" and the parameters with significant effects
for interaction between genetic group and category compared by "test t",
with 5% significance level. Slaughter weight (SW) (509.67 versus 414.50kg)
and empty body weight (EBW) (433.01 versus 355.27kg, respectively) were
higher for cows in relation to steers. The cull cows showed higher
absolute weight for heart (1.62 versus 1.40 kg), liver (7.07 versus 5.95
kg) and for total internal organs, digestive tract and blood. When the
components were adjusted for percentage of EBW the steers were superiors
on lungs (1.08 versus 0.95%), spleen (0.29 versus 0.22%) intestines (2.04
versus 1.70%) and total internal organs weight (3.91 versus 3.60%). As
genetic groups, 5/8Ch 3/8Ne animals showed higher absolute weight for
digestive tract. The carcass dressing percentage and non-carcass
components, in absolute weight, showed correlation. Cull cows showed
higher weight for internal organs and digestive tract than steers
slaughtered at 24 months, while cattle for genetic group 5/8Ch 3/8Ne
showed higher weight for compartments and total of digestive tract in
relation to 5/8Ne 3/8Ch bovines.
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KEYWORDS: abomasum; animal category; carcass dressing percentage; empty body
weight; liver.
INTRODUÇÃO
O Brasil vem nos últimos anos ocupando
lugar de destaque no mercado internacional pela alta quantidade de carne
bovina produzida e exportada. Neste sentido, buscam-se aumentar os índices
de produtividade e minimizar os custos de produção para aumentar a
receita.
O abate de vacas de descarte representou 46% do total em 2010 (ANUALPEC,
2010), sendo, das categorias utilizadas para a produção, a que mais
cresceu. Esse aumento deve-se a vários fatores: incremento tecnológico nas
propriedades, melhorando fatores relacionados à nutrição, melhoramento
genético e técnicas de manejo; aumento nas exportações de carne bovina; e
acabamento mais rápido das vacas de descarte por serem animais adultos,
diminuindo o custo de produção.
Além disso, a variedade genética dos bovinos abatidos no território
brasileiro é bastante grande. A raça mais criada no Brasil é a Nelore, que
se caracteriza por apresentar maior rendimento de carcaça do que outros
genótipos criados nas mesmas condições. A raça Charolês está entre as
raças mais difundidas na região Sul do Brasil, principalmente por
apresentar carcaças pesadas e com grande musculosidade. Entretanto,
existem poucos estudos relacionando os componentes não integrantes da
carcaça e o rendimento de carcaça, principalmente levando em consideração
vacas de descarte, que já chegam a quase 50% dos animais abatidos no
Brasil (ANUALPEC, 2010).
As partes não-integrantes da carcaça, também denominadas de componentes de
corpo vazio, apresentam influência direta sobre o rendimento da carcaça
dos bovinos (OWENS et al, 1995). Conforme VAZ et al. (2010), fêmeas
apresentam menor rendimento de carcaça que machos em virtude do maior peso
relativo do couro, rúmen vazio, conteúdo do trato digestório e gordura
depositada no úbere. As diferenças nas exigências de mantença podem estar
associadas ao tamanho relativo dos órgãos, que são maiores em animais
taurinos que em zebuínos (SILVA et al., 2002), ao estádio de maturidade, à
raça e ao nível nutricional (GESUALDI JÚNIOR et al., 2001). JORGE &
FONTES (2001) ressaltam que animais de raças europeias ou mestiços de
raças leiteiras tendem a apresentar maior massa de órgãos internos em
relação ao peso vivo que animais zebuínos. De acordo com CATTON &
DHUYVETTER (1997), os tecidos viscerais consomem cerca de 50% da energia
destinada para mantença.
Os componentes de corpo vazio são utilizados para a geração de receita nos
frigoríficos. RIBEIRO et al. (2001) ressaltam que órgãos internos e
componentes externos, por meio de processamento adequado, podem se tornar
subprodutos valiosos da indústria da carne. Dessa forma, objetivou-se com
este estudo quantificar os componentes do corpo não integrantes da carcaça
de novilhos e vacas dos grupos genéticos 5/8 Charolês 3/8 Nelore e 5/8
Nelore 3/8 Charolês, terminados em confinamento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no
Laboratório de Bovinocultura de Corte do Departamento de Zootecnia da
Universidade Federal de Santa Maria, localizada no município de Santa
Maria, Rio Grande do Sul.
Foram utilizados 24 animais, 12 novilhos e 12 vacas de descarte, sendo
cada categoria composta por seis animais 5/8 Charolês 3/8 Nelore (5/8Ch
3/8Ne) e seis animais 5/8 Nelore 3/8 Charolês (5/8Ne 3/8Ch), todos
oriundos de mesmo rebanho, com manejo sanitário e nutricional conjunto
para cada categoria. O período de terminação dos animais ocorreu em
confinamento por 99 dias para todos os animais, sendo que, ao início desse
período, os novilhos apresentavam, em média, 21 meses e 272 kg, enquanto
as vacas apresentavam, em média, 66 meses e 340 kg. A dieta foi à base de
silagem de milho – AG 2020 nos primeiros 48 dias e AG 5011 no período
restante (51 dias) – e concentrado composto de farelo de trigo, grão de
milho moído, farelo de soja, calcário calcítico e sal, com relação
volumoso:concentrado de 40:60 (base na matéria seca). A dieta com a
silagem AG2020 continha 14,4% proteína bruta (PB) e 2.784 kcal de energia
digestível (ED) e aquela com a silagem de milho AG5011, 14,00% proteína
bruta e 2.953 kcal de energia digestível. A dieta foi formulada com o
objetivo de atender a capacidade de consumo e exigência dos animais para
ganho de peso médio diário de 1,70 kg (NRC, 2001).
O momento de abate foi determinado pelo critério de condição corporal,
preconizando adequada composição de gordura de cobertura da carcaça,
seguindo metodologia descrita por LOWAN (1973), em que escore corporal = 1
– muito magro; escore corporal = 5 – muito gordo. Antes da condução ao
frigorífico comercial, os animais foram submetidos a jejum de sólidos por
14 horas. Durante os procedimentos de frigorífico, o corpo de cada animal
foi separado em cabeça, patas, orelhas, chifres (quando presentes),
vassoura da cauda, couro (conjunto dos componentes externos); pulmão,
fígado, rins, coração, baço (conjunto dos órgãos vitais); gordura de
toalete, gordura inguinal/úbere (para machos e fêmeas, respectivamente),
gordura renal, gordura ruminal, gordura do coração, gordura intestinal,
gordura de abomaso (conjunto de gorduras internas); rúmen-retículo, omaso,
abomaso, intestinos delgado e grosso (conjunto do trato digestório);
sangue e aparelho reprodutivo. As duas meia-carcaças de cada animal foram
pesadas antes do resfriamento, para obtenção do peso de carcaça quente, e
após o resfriamento por 24 horas na câmara fria, para obtenção do peso de
carcaça fria. O peso do corpo vazio foi obtido pela equação:
kgPCVZ=pcq+kgconjext+kgorgvitais+kggorduras+kgtdigvz+kgsangue+kgaprep
em que pcq=peso de carcaça quente; kgconjext=peso do conjunto dos
componentes externos; kgorgvitais=peso do conjunto dos órgãos vitais;
kggorduras=peso do conjunto das gorduras internas; kgtdigvz=peso do trato
digestivo vazio; kgsangue=peso de sangue; kgaprep=peso do aparelho
reprodutivo.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado em um arranjo
fatorial 2 x 2 (2 categorias – novilhos e vacas x 2 grupos genéticos –
5/8Ch 3/8Ne e 5/8Ne 3/8Ch). As médias dos parâmetros em estudo foram
submetidas à análise de variância. O modelo estatístico adotado foi:
Yij = µ + C i + GG j + (C*GG)ij + Eijk
em que Yij = variáveis dependentes; μ = média de todas as observações; Ci
= efeito da categoria de ordem i (1 = novilho e 2 = vaca); GGj = efeito do
grupo genético de ordem j (1 = 5/8Ch 3/8Ne e 2 = 5/8Ne 3/8Ch); (C*GG)ij=
efeito da interação da categoria i com o grupo genético j; Eijk = efeito
residual aleatório. Para os efeitos principais, as médias foram
classificadas pelo teste “F”. Para os parâmetros com efeito significativo
(P<0,05) para a interação C*GG, as médias foram classificadas pelo
“teste t” (P<0,05). Foram realizadas análises de correlação de Pearson
pelo procedimento proc CORR entre as características estudadas. As
análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa
estatístico SAS (2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As vacas apresentaram maior (P<0,05)
peso de corpo vazio (
Tabela 1), o que deve estar
relacionado ao maior peso de abate das fêmeas, visto que essas variáveis
são altamente correlacionadas. No presente estudo, a correlação entre
essas duas variáveis foi significativa, com r = 0,99 (P<0,0001).
Para a relação entre os pesos de corpo vazio e de abate, houve diferença
(P<0,05) entre as categorias de bovinos estudados e também entre os
grupos genéticos. Segundo OWENS et al. (1995), várias equações de
regressão foram descritas para estimar o peso corporal vazio por meio do
peso vivo, sendo que o peso de corpo vazio correspondia de 85a 95% do peso
corporal. No presente estudo, essa relação foi de 85,57% para os novilhos
e 84,15% para as vacas. Essa inferioridade das vacas pode demonstrar que o
tempo de jejum semelhante para as duas categorias não é adequado, pois as
vacas precisariam de um pouco mais de tempo para se igualar na perda do
conteúdo do trato gastrintestinal. Diferença na relação entre os pesos de
corpo vazio e de abate entre bovinos de diferentes categorias foi relatada
por KUSS et al. (2009), que verificaram maior relação entre esses pesos em
animais da categoria superjovem, abatidos com 16 meses de idade, em
relação a novilhos jovens, abatidos com 26 meses de idade, com rendimentos
de 92,39 e 89,76%, respectivamente. Entre os grupos genéticos estudados,
os bovinos com predomínio genético zebuíno apresentaram maior (P<0,05)
relação entre os pesos de corpo vazio e de abate. MENEZES et al. (2007)
observaram que novilhos de quarta geração com predomínio racial Nelore
apresentaram maior rendimento de corpo vazio em relação a novilhos de
predominância Charolês.
Quando os pesos dos rins (
Tabela 2) foram expressos em
valores absolutos, verificou-se interação significativa (P<0,05) entre
categoria e grupo genético, de modo que as vacas 5/8Ch 3/8Ne apresentaram
maiores pesos, enquanto que nos novilhos não houve diferença entre grupos
genéticos. Nas demais formas de expressão não houve diferença entre as
categorias, mostrando que esse órgão mantém sua integridade, mesmo com o
aumento da demanda de nutrientes. GESUALDI JÚNIOR et al. (2001) e SILVA et
al. (2002) não observaram influência do nível de concentrado na dieta
sobre o peso absoluto e relativo dos rins de bovinos.
As vacas apresentaram maiores (P<0,05) pesos para coração e fígado
quando expressos em valores absolutos (
Tabela 2), possivelmente
influenciados pela maior taxa metabólica desses animais em razão da sua
alta taxa de ganho diário de peso (1,60 kg), causando recuperação da
atividade metabólica do fígado (HOGG, 1991). PACHECO et al. (2005), ao
avaliarem as características das partes não-integrantes da carcaça de
novilhos do mesmo grupo genético que os do presente estudo, das categorias
jovem, abatidos com 22 meses de idade, ou superjovem, abatidos aos 15
meses de idade, verificaram que os bovinos abatidos com idade mais
avançada apresentaram maior peso absoluto de fígado, fato que os autores
associaram à manifestação do ganho compensatório. Conforme JORGE &
FONTES (2001), o crescimento do fígado frente ao aumento da maturidade dos
animais acompanha o crescimento do peso corporal vazio.
Do conjunto de órgãos vitais, FERREL & JENKINS (1998) citam que o
fígado é o que apresenta maiores variações diante de alterações no consumo
de alimentos e níveis energéticos da dieta, devido à sua participação no
metabolismo dos nutrientes. De acordo com VAN SOEST (1994), o fígado
participa ativamente dos metabolismos energéticos e proteicos, com
captação de cerca de 80% do propionato que passa pelo sistema portal para
conversão em glicose. Segundo JOHNSON et al. (1990), o tamanho do fígado
responde rapidamente às mudanças de consumo alimentar, apresentando
desenvolvimento linear em resposta ao consumo de energia metabolizável.
Quando foram comparados os grupos genéticos, não foi verificada diferença
para nenhum dos parâmetros avaliados na
Tabela 2, concordando com os
resultados de MENEZES et al. (2007), que estudaram novilhos, e com os de
KUSS et al. (2007), que estudaram vacas, todos utilizando animais do mesmo
grupo genético do presente estudo.
Para o baço e os pulmões, foi observada diferença (P<0,05) entre as
categorias, quando expressos em valores relativos a 100 kg do peso de
abate, com superioridade para os novilhos. O menor peso dos órgãos acima
citados nas fêmeas de descarte pode estar associado à maior pressão que
esses órgãos sofrem, principalmente pelo aumento da deposição de gordura
interna, conforme demonstrado por CATTELAN et al. (2010), e ao maior
volume do trato gastrintestinal com o aumento do peso das vacas (
Tabela 4).
Apesar do maior peso de abate das vacas, não houve diferença nos pesos
absoluto e relativo do rúmen-retículo (
Tabela 3). Similaridade no peso
relativo do conjunto rúmen-retículo em bovinos de diferentes idades é
reportada por PACHECO et al. (2005), para animais abatidos com 14 ou 24
meses de idade. A semelhança nos pesos absolutos do rúmen-retículo entre
os grupos genéticos também corrobora os resultados encontrados por MENEZES
et al. (2007), trabalhando com os mesmos grupos genéticos estudados. Por
outro lado, esses autores observaram que, quando o peso do rúmen-retículo
foi ajustado para o peso de corpo vazio, houve superioridade (P<0,10)
dos animais 5/8Ch 3/8Ne, diferente do encontrado no presente estudo.
Houve interação (P<0,05) para o peso absoluto do abomaso, sendo que as
vacas 5/8Ch 3/8Ne foram superiores aos novilhos do mesmo grupo genético,
enquanto que não houve diferença entre as categorias nos animais 5/8Ne
3/8Ch. PACHECO et al. (2005) também encontraram interação entre grupo
genético e categoria, atribuindo tal fato ao tipo de seleção de nutrientes
que é feito pelos animais, mesmo com igualdade na relação
volumoso:concentrado na dieta. FERREIRA et al. (2000) e GESUALDI JÚNIOR et
al. (2001) verificaram aumento no peso do abomaso com aumento do nível de
concentrado na dieta. De acordo com FERREL et al. (1976), o abomaso
participa ativamente do processo de digestão e absorção, podendo ser maior
em animais que recebem maior fração de concentrado na dieta.
Interação (P<0,05) também foi encontrada para o peso absoluto dos
intestinos, encontrando a mesma variação que ocorreu no peso do abomaso,
com maior valor para as vacas 5/8Ch 3/8Ne. Resultado idêntico foi
encontrado por PACHECO et al. (2005), sendo que na categoria de maior
idade (jovem) os animais 5/8Ch 3/8Ne foram superiores aos 5/8Ne 3/8Ch no
peso dos intestinos, porém não houve diferença entre os grupos genéticos
na categoria superjovem.
As vacas apresentaram superioridade (P<0,05) no peso absoluto do total
dos órgãos internos (
Tabela 4), influenciado pelos
maiores pesos de coração e fígado, visto que a correlação desses órgãos
com o total de órgãos internos foi de 0,76 e 0,84, respectivamente
(P<0,0001). Quando comparados em termos relativos, o peso total de
órgãos vitais dos novilhos foram superiores ao das vacas. Isso ocorre
porque os órgãos vitais apresentam maior desenvolvimento em fase mais
precoce devido à hiperplasia, que é o aumento no número de células dos
tecidos, mais intensa em estádios iniciais da vida dos animais (GESUALDI
JÚNIOR et al., 2001). Avaliando-se o total de órgãos internos com base nos
grupos genéticos, observa-se que não houve diferença significativa.
MENEZES et al. (2007) observaram maior peso do total de órgãos internos
para os animais Charolês em relação aos Nelore, responsabilizando a maior
seleção pela parte concentrada da dieta por este fato.
Em valores absolutos, o peso total do trato digestório apresentou
interação (P<0,05) entre a categoria e o grupo genético, com
superioridade para as vacas no grupo genético 5/8Ch 3/8Ne e similaridade
entre as categorias nos animais de genótipo 5/8Ne 3/8Ch, acompanhando o
comportamento apresentado para alguns compartimentos do trato
gastrintestinal quando avaliados de maneira isolada (
Tabela 3). Entre as categorias
de bovinos, as vacas apresentaram maior peso do total de trato digestório,
o que está relacionado ao maior peso de abate das fêmeas de descarte.
MISSIO et al. (2013) verificaram que o incremento no peso de abate de
novilhos promoveu aumento linear no peso do trato digestório. No presente
estudo o peso de abate esteve positiva e significativamente associado ao
peso do trato digestório (r = 0,80; P<0,0001). Outro fator que auxilia
a explicação do maior peso do trato digestório é a manifestação do ganho
compensatório nas vacas, pois, segundo HOGG (1991), esse ganho promove
aumento no consumo de alimentos e, consequentemente, no tamanho do trato
gastrintestinal.
Quando o peso absoluto do trato digestório é analisado de acordo com o
grupo genético estudado, verifica-se que os animais 5/8Ch 3/8Ne foram
15,4% superiores aos bovinos 5/8Ne 3/8Ch. Resultados similares foram
reportados por FERREL & JENKINS (1998), que constataram maior peso do
trato gastrintestinal em animais das raças Angus e Hereford em comparação
aos da raça Brahman. Esses autores associaram esse resultado ao menor
potencial de consumo das raças zebuínas em relação às taurinas. PERIPOLLI
et al. (2013) também observaram menores pesos do trato digestório em
animais zebuínos (Brahman) em relação a novilhos da raça Brangus e
Hereford terminados em confinamento. Porém quando essa variável é
apresentada em relação aos pesos de corpo vazio e de abate, não há
diferença entre os genótipos. No estudo de MENEZES et al. (2007), o peso
do trato gastrintestinal afetou o rendimento de carcaça, sendo que a
correlação entre essas duas variáveis foi de -0,61 (P<0,01);
entretanto, no presente estudo a correlação entre essas variáveis foi
baixa e não significativa (r = -0,08; P=0,7088).
As fêmeas de descarte apresentaram maior peso de sangue, 13,05 contra
11,05 kg, o que deve estar associado à superioridade no peso dos conjuntos
de órgãos internos e do trato digestório. RIBEIRO et al. (2001) citam que
o aumento no volume de sangue acompanha o incremento dos órgãos vitais e
do trato digestório, o que seria necessário para acompanhar variações na
taxa metabólica dos animais. No presente estudo, o peso de sangue esteve
positivamente associado com o conjunto de órgãos internos (r = 0,70;
P=0,0001) e do trato digestório (r = 0,67; P=0,0003).
CONCLUSÕES
Vacas de descarte apresentam maior massa
dos órgãos internos e do trato digestório que novilhos abatidos aos 24
meses, enquanto bovinos do grupo genético 5/8Ch 3/8Ne apresentam maior
peso de compartimentos e do total do trato digestório em relação a bovinos
5/8Ne 3/8Ch.
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Protocolado em: 05 jun. 2013
Aceito em: 05 set. 2013.