DEGRADAÇÃO
DA MATÉRIA SECA, PROTEÍNA BRUTA E FIBRA EM DETERGENTE NEUTRO DE
SILAGENS DE CAPIM-ELEFANTE CONTENDO PEDÚNCULO DE CAJU DESIDRATADO
Aníbal Coutinho do Rêgo,1 Margareth Maria Teles,2 José Neuman Miranda Neiva,3 Magno José Duarte Cândido,4 José Valmir Feitosa5 e Fernando Henrique Teixeira Gomes6
1. Estudante de doutorado em
Zootecnia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Jaboticabal. E-mail: anibalcr@gmail.com
2. Bolsista de DCR da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte
3. Professor adjunto do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins
4. Professor adjunto do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará
5. Professor adjunto da Universidade Federal do Ceará/Campus do Cariri
6. Estudante de Mestrado em Zootecnia da Universidade Federal do Ceará
RESUMO
Objetivou-se avaliar a degradação in situ da matéria seca (MS),
proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN) de silagens de
capim-elefante contendo cinco níveis (0%; 4%; 8%; 12% e 16%, com base
na matéria natural da massa ensilada) de inclusão do pedúnculo de caju
desidratado (PCD). Utilizou-se delineamento em parcelas subdivididas,
sendo os níveis de adição as parcelas e os tempos de incubação as
subparcelas, com quatro repetições (silos). Para a confecção das
silagens, empregou-se capim-elefante cortado aos setenta dias e
misturado ao subproduto, em vinte tambores. Desses silos, colheram-se
amostras, as quais foram pré-secas, moídas em moinho, com peneira de
malha de 5 mm. Colocaram-se três gramas de amostra em cada saco de
náilon, de porosidade 50 μm. Incubaram-se as amostras no rúmen por 0;
6; 48 e 96 horas em dois ovinos sem padrão racial definido, machos.
Após a incubação, os sacos foram retirados, lavados em água corrente,
colocados em estufa a 60ºC por 72 horas. Posteriormente, pesaram-se os
sacos e do resíduo procedeu-se às análises químico-bromatológicas. A
inclusão do PCD à ensilagem de capim-elefante aumentou a
degradabilidade potencial da MS e da FDN das silagens até 12% de
inclusão, com valores de 77,60% e 61,96%, respectivamente. A maior
degradabilidade potencial da PB (84,80%) foi observada quando
adicionados 16% de PCD à ensilagem. Houve aumento da degradabilidade
efetiva da MS e FDN com a inclusão do PCD, atingindo os maiores valores
com 16% de inclusão. A silagem de capim-elefante contendo pedúnculo do
caju desidratado pode ser utilizada na alimentação de pequenos
ruminantes.
PALAVRAS-CHAVES: Anacardium occidentale L., degradabilidade, ensilagem, ovinos, Pennisetum purpureum, Schum.
ABSTRACT
DEGRADATION OF DRY MATTER, CRUDE PROTEIN AND NEUTRAL DETERGENT FIBER OF ELEPHANT GRASS SILAGES WITH DEHYDRATED CASHEW STALK
To evaluate the dry matter (DM), crude protein (CP) and neutral
detergent fiber (NDF) in situ degradation of elephant grass silages
with five levels (0%; 4%; 8%; 12% and 16%, on a fresh matter basis of
the ensiling mass) of dehydrated cashew stalk (DCS), this research was
carried out. The design was a split-plot one, consisting the addition
levels the plots and the incubation times the sub-plots, with 4
replicates (silos). For the silages making, the elephant grass was cut
70 days-old and mixed to the by-product, in 20 plastic drums (silos).
From these silos, samples were taken to dry, grid in a bolter of 5 mm
mesh, being used 3 g of samples in each nylon bag , with 50 μm of
porosity for incubation in the rumem for 0, 6, 48 e 96 hours. Two ram
without defined breed were used. After the incubation, the bags were
taken out from the rumen, washed and oven dried at 60ºC for 72 hours.
After, they were weighed and on the residue the chemical analysis were
performed. The inclusion of the DCS in the elephant grass silage
increased the potential degradability of DM and NDF of the silages by
12% of the inclusion, with values of 77.60% and 61.96% respectively.
The highest potential degradability of CP (84.80%) was observed when it
was added 16% of the DCS silage. The effective degradability of DM and
NDF increased with the inclusion of DCS, reaching the highest values
with 16% for inclusion. The elephant grass silage containing dehydrated
cashew stalk can be used in feed for small ruminants.
KEY WORDS: Anacardium occidentale L., degradability, ensiling, Pennisetum purpureum, Schum., sheep.
INTRODUÇÃO
No Nordeste brasileiro, a estacionalidade da produção de forragem tem
sido um dos fatores limitantes na produção de ruminantes. Isso se deve
aos baixos índices pluviométricos e à irregularidade na distribuição de
chuvas durante o ano. As baixas qualidade e quantidade de forragem na
época seca demandam o uso de práticas de conservação de alimentos
produzidos no período chuvoso. Dentre as práticas de conservação
existentes, a ensilagem é uma boa opção para o aproveitamento do
excesso de forragem.
O capim-elefante (Pennisetum purpureum,
Schum.) é uma das forrageiras mais usadas para a ensilagem,
aproveitando-se o excesso de sua produção nas áreas de capineira. Essa
gramínea é bastante difundida no Nordeste, por apresentar fácil
implantação, possuir elevada produção de forragem e ser bem adaptada à
região. No entanto, o excesso de umidade na época em que a planta
possui melhor valor nutritivo limita a obtenção de silagem de
qualidade.
A eficiência do processo fermentativo depende principalmente da espécie
forrageira a ser ensilada e do seu teor de matéria seca. Para que
o processo fermentativo ocorra de forma satisfatória, o teor de matéria
seca da forragem deve estar entre 30% e 35% (McDONALD, 1981). Níveis de
matéria seca inferiores a 30% permitem a proliferação de bactérias do
gênero Clostridium, as quais
são responsáveis por fermentações indesejáveis e, consequentemente, por
perdas observadas nas silagens. Além disso, forragens ensiladas com
teores de matéria seca superiores a 35% dificultam a compactação, pois
provocam maiores acúmulo de oxigênio na massa ensilada e, assim,
maiores perdas.
Segundo McDONALD (1981), altos teores de umidade, baixos teores de
carboidratos solúveis e o elevado poder tampão influenciam
negativamente no processo fermentativo, impedindo que haja um rápido
decréscimo do pH e propiciando a ocorrência de fermentações
secundárias, que depreciam a qualidade da silagem. Ainda segundo esse
autor, valores de pH entre 3,8 e 4,2 são indicativos de silagem de boa
qualidade.
Os carboidratos solúveis em água são os principais substratos
utilizados pelas bactérias láticas. O ácido lático, por sua vez,
apresenta alto poder de dissociação de prótons H+ (MOISIO &
HEIKONEN, 1994), o que garante a redução rápida no pH e o alcance da
estabilidade anaeróbia. Segundo KEARNEY & KENNEDY (1962), a
porcentagem mínima de carboidratos solúveis para se produzir silagens
láticas deve ser, em média, de 15% na matéria seca do material
ensilado. CATCHOPOOLE & HENZEL (1971) concluíram que são
necessários de 13% a 16% de MS.
Como alternativa a ser utilizada para a minimização das limitações
apresentadas pelo capim-elefante para a produção de silagem de
qualidade, a adição de subprodutos com elevado teor de matéria seca tem
constituído umas das opções mais promissoras e de aplicabilidade mais
fácil ao produtor.
O cajueiro, planta originária do Nordeste do Brasil, encontra-se
disseminado em todo o mundo tropical, sendo cada vez maior o interesse
em sua exploração econômica, notadamente nas regiões agrícolas menos
desenvolvidas, pelas características de geração de emprego e renda.
Apesar do potencial de quase toda a área do território brasileiro para
o cultivo dessa espécie, 96% da área cultivada encontra-se no Nordeste,
principalmente nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte
(AGRIANUAL, 2009).
O principal objetivo de sua exploração tem sido a obtenção da castanha,
de cujo beneficiamento resulta a amêndoa, que tem alcançado altas
cotações no mercado internacional de nozes comestíveis. Dessa prática
resulta grande quantidade de pedúnculo que, não sendo aproveitada, é
abandonada no campo.
A cajucultura desempenha papel de destaque na economia nordestina, em
razão de a castanha ser o principal produto da pauta de exportação do
agronegócio no Ceará. No ano de 2008, a produção de castanha de caju no
Brasil foi de 277.741 toneladas, ocupando uma área de 739.151ha
(AGRIANUAL, 2009). A supervalorização da castanha, juntamente com o
curto período de prateleira do pedúnculo, faz com que grande parte
deste não seja aproveitada. Maiores perdas desse material ocorrem no
momento do descastanhamento feito para a indústria de beneficiamento da
castanha.
Picos de produção do caju concentram-se na época seca do ano, ou seja,
época caracterizada pela baixa produção de forragem e elevados preços
dos grãos e dos concentrados deles obtidos. Assim, a utilização do
pedúnculo do caju desidratado como aditivo na ensilagem tornaria
possível a redução nos custos de produção animal e seria mais uma
alternativa alimentar para ruminantes.
Na avaliação do valor nutritivo de um alimento, como uma silagem, por
exemplo, faz-se, inicialmente, a análise proximal, quantificando-se o
teor das principais variáveis nutricionais do alimento. A fim de se
caracterizar melhor o valor nutritivo, pode-se avaliar também o grau de
aproveitamento do alimento mediante técnicas in vitro, in situ e in
vivo.
O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a
degradação in situ da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e da fibra
em detergente neutro (FDN) de silagens de capim-elefante contendo cinco
níveis de inclusão do pedúnculo de caju desidratado.
MATERIAL E MÉTODOS
Desenvolveu-se o experimento no Núcleo de Ensino e Estudos em
Forragicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do
Ceará (NEEF/DZ/CCA/UFC) (www.neef.ufc.br),
em Fortaleza, CE. As análises químicas foram realizadas no Laboratório
de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da UFC.
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado em parcelas
subdivididas, considerando-se os níveis de adição as parcelas e os
tempos de incubação as subparcelas. Empregaram-se como silos
experimentais vinte tambores plásticos de 210 litros, distribuídos em
cinco níveis de adição do pedúnculo do caju desidratado à ensilagem de
capim-elefante (0%; 4%; 8%; 12% e 16 %, com base na matéria natural),
sendo para cada tratamento quatro repetições. O efeito da inclusão do
PCD sobre o desaparecimento dos componentes nutritivos das silagens foi
analisado estatisticamente pela análise de variância e a regressão, por
meio do software estatístico Sisvar® (FERREIRA, 2003).
O capim-elefante utilizado para confecção das silagens foi cultivado na
Fazenda Experimental Vale do Curu (FEVC/CCA/UFC), situada no município
de Pentecoste, CE, localizado na latitude 3º 51’18” sul e longitude
39º10’19” oeste, com clima do tipo BSw h, semi-árido quente, segundo a
classificação de Köeppen, com precipitação média anual de 806,5 mm.
Adquiriu-se o pedúnculo do caju na agroindústria Jandaia, localizada no
município de Pacajus, CE, o qual foi desidratado ao sol até atingir
teor de matéria seca próximo a 85%. Posteriormente, triturou-se o
subproduto em moinho tipo martelo, com peneira de 1 cm, para ser
adicionado ao capim-elefante.
Para a confecção das silagens fez-se uso do capim-elefante cortado aos
setenta dias de crescimento, processado em máquina picadora e misturado
ao pedúnculo do caju desidratado. Procedeu-se à adição do subproduto
com base na matéria natural da massa ensilada, sendo colocados em cada
silo 126 kg de matéria fresca, correspondendo a uma densidade de 600
kg/m3. Passados trinta dias da ensilagem, abriram-se
submetidas à pré-secagem em estufa de ventilação forçada a 60ºC por 72
horas. Procedeu-se à moagem destas em moinho com peneira de malha de 1
mm para análise químico-bromatológica e 5 mm para a incubação in situ.
Para o ensaio in situ,
empregaram-se dois ovinos machos, sem padrão racial definido,
fistulados no rúmen e com peso médio de 45 kg. Os animais foram
mantidos em baias individuais, com comedouro, bebedouro e cocho para o
fornecimento de mistura mineral. Diariamente, ad libitum,
em dois períodos, manhã e tarde, ofereceram-se feno de capim-elefante e
concentrado à base de milho e soja. Foram utilizados sacos de náilon de
13x5 cm, com porosidade de 50 μm, para acondicionamento, em cada um
deles, de três gramas de amostra. Incubaram-se esses sacos no rúmen
sempre pela manhã, durante 0, 6, 48 e 96 horas após o fornecimento do
alimento. Decorrido o tempo de incubação, os sacos foram retirados,
lavados manualmente em água corrente até o desaparecimento da coloração
turva, sendo levados para estufa de ventilação forçada a 60ºC durante
72 horas. A partir daí, realizaram-se as análises do resíduo da
incubação, matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro,
segundo metodologia descrita em SILVA & QUEIROZ (2002).
Para interpretação dos perfis de degradação da matéria seca, proteína
bruta e fibra em detergente neutro, utilizou-se o modelo assintótico
exponencial de primeira ordem, conforme ØRSKOV & McDONALD (1979)
adaptado por SAMPAIO et al.
(1995), como segue: Deg = A-B*e(-ct), em que A = corresponde à
degradação potencial do material incubado quando o tempo não é um fator
limitante; B = parâmetro sem valor biológico, ou seja, se não houvesse
tempo de colonização, ele corresponderia ao total a ser degradado pela
ação microbiana; a = (A-B) = fração solúvel; c = taxa de degradação por
ação fermentativa de B; t = tempo de incubação no rúmen, em
horas.
Uma vez calculados os coeficientes A, B e c, esses foram aplicados à
equação proposta por ØRSKOV & McDONALD (1979) para o cálculo da
degradabilidade efetiva, como segue: P = a + (bc)/(c+k), em que P =
degradação ruminal efetiva do componente nutritivo analisado e k = taxa
de passagem do alimento. Assumiram-se taxas de passagem da digesta para
o duodeno de 2%, 5% e 8%/h.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pode-se observar que, para todos os tempos de incubação dos sacos no
rúmen, o desaparecimento da matéria seca teve comportamento linear
crescente (P<0,05) com a inclusão do pedúnculo de caju desidratado à
ensilagem de capim-elefante. O aumento no desaparecimento da matéria
seca variou de 0,48 a 0,69 pontos percentuais para cada 1% de inclusão
do pedúnculo de caju desidratado (Tabela 1). RODRIGUES et al. (2004), estudando a degradabilidade in situ
da matéria seca de diferentes volumosos, observaram valores próximos
aos da presente pesquisa para o desaparecimento da matéria seca de Panicum maximum (62,1%) e Brachiaria brizantha (65,3%), quando incubados no rúmen por 96 horas.
O desaparecimento da proteína bruta teve comportamento quadrático
(P<0,05) para os tempos de incubação 0; 6 e 48 horas. No entanto,
com 96 horas de incubação das amostras no rúmen, não se notou diferença
(P>0,05) no desaparecimento da proteína bruta das silagens de
capim-elefante com inclusão do pedúnculo do caju desidratado. Esse
comportamento pode ser explicado pelo fato de o desaparecimento da
proteína bruta para todas as concentrações de subproduto estudado
apresentar tendência a estabilizar com 96 horas de incubação, cuja
diferença no desaparecimento, a partir desse tempo, foi mínima para
essa fração.
SILVA et al. (2005), avaliando
a degradabilidade ruminal da matéria seca e da proteína bruta do
subproduto do caju e do capim-elefante, relataram que a inclusão do
subproduto de caju em dietas para ruminantes deve ser feita com
cautela, na medida em que pode ocorrer uma baixa disponibilidade dos
nutrientes em nível ruminal (43,83% e 39,99% de desaparecimento da MS e
PB às 96 horas para o subproduto puro). Para o capim-elefante, os
mesmos autores quantificaram valores de 68,64% e 85,47% de
desaparecimento da MS e PB, às 96 horas, muito próximos aos encontrados
neste trabalho para o desaparecimento (%) da MS. Já para o
desaparecimento da proteína, os valores relatados por esses autores
foram superiores.
Com relação ao desaparecimento da fibra em detergente neutro das
silagens de capim-elefante com pedúnculo de caju desidratado, não foi
observada diferença significativa (P>0,05) para os tempos de
incubação de 0; 6 e 48 horas. Já para 96 horas de incubação das
silagens no rúmen, observou-se resposta linear crescente (P<0,05)
com a inclusão do subproduto. Houve aumento de 0,26 pontos percentuais,
para cada 1% de aumento na inclusão do pedúnculo de caju desidratado à
ensilagem de capim-elefante. Essa resposta no desaparecimento da FDN
apenas com 96 horas de incubação pode ser explicada pelo maior tempo de
exposição da porção fibrosa do alimento ao ambiente ruminal.
Comparando o desaparecimento com 48 horas de incubação entre os níveis
de inclusão do PCD, observa-se, para o conjunto das variáveis (MS, PB e
FDN) e de parâmetros estudados, que não houve grandes diferenças a
partir de 12% de inclusão do PCD. Embora FERREIRA et al. (2004) tenham recomendado a adição do bagaço do caju in natura
em 48% na ensilagem do capim-elefante, alguns pontos devem ser
considerados. Primeiramente os referidos autores trabalharam com um
subproduto de pior qualidade que o pedúnculo, do qual ainda não há
resultados na literatura, esperando-se que, no caso do PCD, melhores
resultados nas silagens já possam ser obtidos com menores níveis de
adição. A partir de 12% de adição, já se obtém um bom desaparecimento
da matéria seca. Isso é importante quando se considera que, numa escala
de produção em nível de fazenda, muitas vezes o que limita a adição de
elevados níveis de um subproduto à ensilagem, por melhor que seja o
valor nutritivo deste, é a sua disponibilidade em grande quantidade,
devendo-se considerar a viabilidade biológica de utilização de
percentuais subótimos como o nível de 12% observado na presente
pesquisa.
Valores da fração solúvel (a) para matéria seca tiveram tendência de
aumento com a inclusão do pedúnculo de caju desidratado a ensilagem de
capim-elefante (Tabela 2).
Considerando-se que a fração solúvel representa a porção da planta que
está prontamente disponível para os microrganismos ruminais, é possível
que o pedúnculo do caju desidratado tenha contribuído para o acréscimo
dessa fração nas silagens, pois o tratamento com 16% de pedúnculo de
caju desidratado resultou na maior solubilidade (27,56%) da matéria
seca. Outro fator que deve ser levado em consideração é que a
fermentação dentro do silo pode ser responsável pelo aumento da fração
solúvel (a) de gramíneas conservadas na forma de silagem (PETIT &
TREMBLAY, 1992). Fração solúvel superior à observada nesta
pesquisa foi relatada por CHIZOTTI et al. (2005), que avaliaram a degradabilidade ruminal da silagem de capim-elefante e verificaram 29,3% de fração (a). CARVALHO et al.
(2008), trabalhando com silagem de capim-elefante emurchecido ou com
diferentes níveis de farelo de cacau, observaram valores de fração
solúvel entre 21,4% e 24,8% – próximos aos observados para as
concentrações 4% e 8% de pedúnculo de caju desidratado.
A fração solúvel (a) da proteína bruta diminuiu à medida que foi
incluído o pedúnculo do caju desidratado à ensilagem de capim-elefante.
Esse comportamento pode ser explicado pelo elevado teor de tanino
presente no pedúnculo de caju (SOARES et al.,
2001). Os taninos são compostos fenólicos que possuem a habilidade de
ligar-se a proteínas, combinar-se à celulose e pectina para formar
complexos insolúveis (BATTESTIN et al.,
2004) e muitas vezes os indisponibilizam aos animais. Já para a
fração solúvel da fibra em detergente neutro, observaram-se valores
próximos a zero, o que já era esperado, já que essa fração não é
solúvel em água. Valores da fração solúvel maiores que zero se
justificam por uma possível perda de partículas que escapam por poros
dos saquinhos. Já valores inferiores a zero podem ser justificados por
uma possível contaminação dos saquinhos.
A fração potencialmente degradável (B) da matéria seca ficou entre
44,64% e 50,42%. Trata-se de valores próximos aos observados por
PEREIRA et al. (2000), que
trabalharam com capim-elefante adicionado de resíduos do beneficiamento
do milho e da soja, obtendo fração potencialmente degradável entre
43,43% e 53,20%. Segundo SAMPAIO (1994), a interpretação de B não
interfere na classificação da forrageira, já que ele normalmente indica
quanto do potencial de degradação foi efetivamente devido à ação
químico-biológica. Já a fração potencialmente degradável da proteína
bruta aumentou para as silagens que continham pedúnculo de caju
desidratado, passando de 20,83% com 4% de inclusão do subproduto para
51,41% para 16% de PCD. MARTINS et al.
(1999), avaliando a degradabilidade ruminal da silagem de milho,
observaram valor de 37,3% para a fração B, o que é próximo ao observado
neste trabalho para a silagem de capim-elefante, contendo 8% de PCD.
Observando-se a fração potencial degradável (B) da fibra em detergente
neutro, os valores estão entre 57,01% e 62,01%, o que está condizente
aos observados em silagem de boa qualidade, como no caso a silagem de
milho (57,83% a 64,34%), segundo KATSUKI et al. (2006).
Com relação à taxa de degradação (c) da matéria seca, observou-se que a
inclusão de 4% do PCD apresentou maior valor. A partir desse nível,
houve redução com a adição de até 12% do subproduto, elevando-se
ligeiramente a partir dele. Altos valores de (c) significam que o
potencial máximo de degradação é alcançado em menor tempo. Conforme
SAMPAIO (1994), taxas de degradação da matéria seca inferiores a 2% por
hora indicam alimentos de baixa qualidade, pois necessitam de longo
tempo de permanência no rúmen para serem degradados, como por exemplo a
maioria dos volumosos tropicais. A taxa de degradação (c) da proteína
bruta apresentou maior valor com 4% de inclusão do PCD, diminuindo à
medida que o nível de adição aumentou. Baixos valores de taxa de
degradação para proteína bruta podem ser explicados pela presença de
tanino complexados, prejudicando, assim, a ação da microflora ruminal.
Com relação à taxa de degradação (c) da fibra em detergente neutro, o
nível de inclusão de 4% apresentou maior valor, havendo a partir desse
nível redução da taxa de degradação com a inclusão de até 12% do
pedúnculo de caju desidratado. Segundo CHESSON et al.
(1985), a variação na taxa de degradação (c) deve-se à preferência das
bactérias ruminais por diferentes tipos de tecidos vegetais. Essa
observação é coerente com o fato de maiores níveis de aditivos poderem
favorecer ou não a população microbiana no rúmen, responsável pela
degradação de carboidratos não estruturais predominantes nas silagens.
Taxas de degradação da FDN situadas entre 2% e 6% por hora são
consideradas boas para alimentos volumosos de qualidade (MERTENS,
1993).
Para a matéria seca, observou-se que a degradabilidade potencial (DP)
tendeu a aumentar até 12% de inclusão do pedúnculo de caju à ensilagem
de capim-elefante, atingindo o valor máximo de 77,43%, possível de ser
degradado no rúmen (Tabela 3). Resultados semelhantes de degradabilidade potencial da MS para silagens com 0% e 4% de PCD foram observados por CABRAL et al.
(2005), que, avaliando a degradação ruminal da silagem de
capim-elefante, verificaram degradabilidade potencial de 64,9% da MS.
Segundo SAMPAIO (1994), forragens com altos valores de DP apresentam
tendência a ter maior digestibilidade. A degradabilidade potencial (DP)
da proteína bruta apresentou valor máximo (84,40%) com 16% de inclusão
do PCD à ensilagem de capim-elefante. No entanto, ela não apresentou
comportamento normal crescente.
A degradabilidade potencial (DP) da fibra em detergente neutro teve
comportamento semelhante ao observado para a matéria seca, ou seja,
tendeu a aumentar com a inclusão do PCD à ensilagem de capim-elefante,
registrando-se o valor máximo de 61,96% com 12% de inclusão. COSTA et al.
(2005), avaliando a degradabilidade in situ do subproduto do
processamento do caju e do capim-elefante, verificaram valores de
42,23% para a degradabilidade potencial (DP) da FDN do subproduto, o
que é muito baixo em relação à degradação da FDN do capim-elefante no
referido trabalho (73,05%). Esses dados sugerem uma possível redução na
degradabilidade potencial das silagens com os níveis crescentes de
adição do subproduto do caju. Como os referidos autores trabalharam com
bagaço de caju e no presente trabalho foi utilizado o pedúnculo do
caju, a divergência na resposta pode ser creditada a diferenças
nutricionais entre esses dois subprodutos, em que o pedúnculo de caju
deve apresentar valor nutritivo superior ao bagaço de caju, tendo esse
passado pelo processo de extração do suco. SARTI et al.
(2005), em trabalho envolvendo silagem de capim-elefante com inóculo
bacteriano, observaram valores de degradabilidade da FDN de 60,5%, ou
seja, próximos aos observados neste trabalho, para as silagens com 8%
de inclusão do pedúnculo de caju desidratado.
A degradabilidade efetiva (P) da MS, PB e FDN decresceu à medida que
aumentou a taxa de passagem (k), se observados todos os níveis de
inclusão estudados. Esse comportamento é explicado pelo menor tempo de
permanência do alimento no trato digestivo para a ação da microbiota
ruminal. Observou-se que a degradabilidade efetiva da matéria seca
aumentou com o acréscimo do PCD à ensilagem, atingindo valores máximos
no nível de 16%. Os valores obtidos neste estudo para a degradabilidade
efetiva da MS das silagens com 12% de inclusão do pedúnculo de caju
desidratado foram semelhantes aos descritos por SARTI et al.
(2005), que avaliaram a degradabilidade ruminal da silagem de
capim-elefante com inoculante enzimo-bacteriano e observaram
degradabilidade efetiva de 54,6%, 40,6% e 34,5% para as respectivas
taxas de passagem, 2%, 5% e 8%/hora.
A degradabilidade efetiva (P) da proteína bruta aumentou de 0% para 4%
de inclusão do PCD, atingindo nesse nível os maiores valores. A partir
daí, a degradabilidade efetiva diminui com a inclusão do PCD à
ensilagem. Para a fibra em detergente neutro, observou-se que a
degradabilidade efetiva (P) decresceu à medida que aumentou a taxa de
passagem (k) para todos os níveis de inclusão estudados, sendo que,
para todas as taxas de passagem estudadas, o nível de adição de 16%
apresentou os maiores valores de degradabilidade efetiva.
CONCLUSÕES
A inclusão do pedúnculo de caju desidratado ao capim-elefante resulta
em silagem com maior degradabilidade potencial e efetiva, podendo ser
utilizado como fonte de volumoso em dietas para ruminantes.
A quantidade de subproduto disponível na agroindústria também deve ser
considerada para a escolha do nível de adição mais adequado.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Educação Tutorial (PET-Agronomia) da Universidade Federal do Ceará, pela bolsa concedida ao primeiro autor.
REFERÊNCIAS
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K.; MACEDO, G. A. Fontes e aplicações de taninos e tanases em alimentos.
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CARVALHO, G. G. P.; GARCIA,
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