DOI: 10.5216/cab.v14i4.23953
COMPARAÇÃO DAS
CARACTERÍSTICAS E MEDIDAS ULTRASSONOGRÁFICAS DAS GLÂNDULAS ADRENAIS DE
CÃES E GATOS FILHOTES SAUDÁVEIS
Ivan F. Charas Santos1, Maria Jaqueline Mamprim2,
Raquel Sartor3
1Professor Assistente da Universidade Eduardo
Mondlane, Faculdade de Veterinaria, Maputo, Moçambique -
ivansantos7@hotmail.com.
2Professora Doutora da Universidade Estadual Paulista,
Botucatu, SP, Brasil.
3Pós-Graduanda da Universidade Estadual Paulista, Botucatu,
SP, Brasil.
RESUMO
O estudo teve como objetivo analisar e
comparar as características e dimensões ultrassonográficas das glândulas
adrenais entre cães e gatos filhotes hígidos, estabelecendo padrões de
normalidade e de referência. Participaram do estudo 15 cães e 15 gatos
filhotes com idade entre cinco e seis meses, de raça mista, peso médio de
3 kg e 2 kg, respectivamente. Os animais foram submetidos ao exame
ultrassonográfico das glândulas adrenais, para visibilização das
características internas do órgão. A frequência de visibilização das
glândulas adrenais foi de 100% nos gatos filhotes, enquanto nos cães
filhotes a frequência foi de 75% para a glândula direita e 100% para a
esquerda. O comprimento e a largura das glândulas adrenais revelaram
diferenças significativas (P = 0,01) entre os cães e gatos filhotes, sendo
que as glândulas adrenais dos cães filhotes, direita e esquerda, foram
maiores em comprimento (1,08 ± 0,01 cm e 1,11 ± 0,01 cm) e largura (0,42 ±
0,02 cm e 0,45 ± 0,01 cm) em relação ao comprimento (0,64 ± 0,01 cm e 0,63
± 0,01 cm) e largura (0,30 ± 0,02 cm e 0,34 ± 0,01 cm) dos gatos filhotes.
Em ambos os grupos, as glândulas adrenais apresentaram-se hipoecogênicas
em relação à gordura adjacente, sendo delimitadas por uma linha
hiperecogênica, e não se observou distinção entre as regiões cortical e
medular. As dimensões ultrassonográficas de comprimento e largura das
glândulas adrenais, direita e esquerda, foram as mesmas em cães e gatos
filhotes. A glândula adrenal direita e esquerda dos cães filhotes foram
maiores, em comprimento e largura, que as glândulas dos gatos filhotes.
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PALAVRAS-CHAVE: Abdômen; glândula adrenal; pequenos animais;
ultrassonografia.
COMPARISON OF ADRENAL GLANDS
ULTRASONOGRAPHIC CHARACTERISTICS AND MEASUREMENTS IN HEALTHY PUPPIES AND
KITTENS
ABSTRACT
The aim of the study was to analyze and
compare the ultrasound characteristics of adrenal glands between healthy
puppies and kittens by establishing standards of normality and references.
Fifteen healthy crossbred puppies with mean weight of 3 kg and fifteen
healthy crossbred kittens with mean weight of 2 kg, aged between five and
six months, participated in the study. The animals were submitted to
ultrasound exam of adrenal glands for visualization of their internal
characteristics. The frequency of visualization of adrenal glands was 100%
in kittens. In puppies the frequency was 75% for the right gland and 100%
for the left gland. The puppy’s adrenal gland, both right and left, were
bigger in length (1.08 ± 0.01 cm, 1.11 ± 0.01 cm) and width (0.42 ± 0.02
cm, 0.45 ± 0.01 cm) in relation to kittens’ adrenal gland length (0.64 ±
0.01 cm, 0.63 ± 0.01 cm) and width (0.30 ± 0.02 cm, 0.34 ± 0.01 cm). The
adrenal gland of puppies and kittens was hypoechogenic to the surrounded
fat, delimited by a hyperechogenic line and without distinction of the
cortical and medullar region. The ultrasound dimensions of length and
width of the adrenal glands, both right and left, were the same in puppies
and kittens. The right and left puppies’ adrenal glands were longer and
wider than the kittens’ glands.
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KEYWORDS: Abdomen; adrenal gland; small animals; ultrasound.
INTRODUÇÃO
A ultrassonografia é uma modalidade de
referência para a visibilização das glândulas adrenais, visto que as
mesmas, normalmente, não são visíveis radiograficamente (WIDMER et al.
2004; KEALY et al., 2012). Além disso, é uma ferramenta importante para a
identificação de massas neoplásicas nas glândulas adrenais (HOERAUF &
REUSCH, 1999).
A principal particularidade do exame ultrassonográfico, é a obtenção de
imagens secionais em tempo real, em qualquer orientação espacial,
permitindo o estudo do movimento de estruturas corporais (CERRI &
ROCHA, 1993). Adicione a isso as vantagens de acessibilidade, baixo custo
e rara necessidade de que o animal esteja anestesiado para o exame
(DEBRUYN et al., 2011). Além disso, desvantagens como a formação de
artefatos e a indistinção das mudanças na textura e ecogenicidade em
determinadas causas fisiopatológicas (ALVES et al., 2007) podem ser
superadas com conhecimento apurado da técnica aliado ao conhecimento
anatômico detalhado da região a ser analisada.
As características ultrassonográficas das glândulas adrenais em humanos
foram relatadas por YEH (1988), sendo o exame considerado útil em
pacientes com suspeita de doença adrenal. Devido à ausência de emissão de
radiação, a ultrassonografia tem sido o exame de diagnóstico inicial de
eleição na avaliação de massas abdominais e pesquisa de doenças
congênitas, como a hiperplasia adrenal congênita, em crianças (ALLOLIO et
al., 2004; MEYER-BAHLBURG et al., 2006).
O uso clínico do exame ultrassonográfico em casos de doença adrenal em
pequenos animais foi descrita por KANTROWITZ et al. (1986). A partir
desses relatos, o exame ultrassonográfico começou a ser considerado uma
modalidade importante de diagnóstico por imagem para a visibilização das
glândulas adrenais em pequenos animais, podendo-se observar as glândulas e
suas anormalidades estruturais, como mudanças de tamanho, de forma e
ecogenecidade (BARTHEZ et al., 1998).
A janela intercostal direita é utilizada para pesquisar o aumento do
tamanho da glândula adrenal direita e alterações da sua arquitetura
interna, podendo ser avaliada nos cortes sagital e transversal (LAMB,
1990). A glândula adrenal direita é mais difícil de ser observada em
relação à esquerda, devido à posição mais cranial do rim e a proximidade
do piloro e duodeno (BRINKMAN et al., 2007; BARBARET et al., 2008).
Nos cães e gatos adultos, distingue-se a região cortical da medular (BESSO
et al., 1997); contudo, ao contrário dos cães, nos gatos a região medular
apresentava-se hiperecogênica e a região cortical hipoecogênica (GRAHAM,
2008).
Embora o exame ultrassonográfico seja um método de diagnóstico
complementar de rotina em pequenos animais, é escassa a publicação no que
se refere às características ultrassonográficas das glândulas adrenais de
cães e gatos filhotes hígidos, havendo a necessidade de se estabelecerem
padrões ultrassonográficos de normalidade, para que as características e
dimensões ultrassonográficas sejam utilizadas para identificar doenças da
glândula adrenal no mesmo grupo de animais. Portanto, o objetivo deste
estudo é analisar e comparar as características e dimensões
ultrassonográficas das glândulas adrenais entre cães e gatos filhotes,
hígidos, estabelecendo padrões de normalidade e valores de referência.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pela comissão de
Ética no Uso de Animais em Experimentação da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia - CEUA/ FMVZ, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” - UNESP, Botucatu, SP, com número de protocolo
081/2009.
Trinta animais hígidos, de raça mista, machos inteiros, com idade média de
cinco meses (5 meses - 6 meses) foram incluídos no estudo. Os animais eram
provenientes do canil e gatil da FMVZ/UNESP, Botucatu, SP. Os mesmos foram
divididos em dois grupos, sendo que o primeiro grupo foi formado por 15
cães filhotes com peso médio de 3 kg (3 kg – 4 kg), e o segundo grupo foi
formado por 15 gatos filhotes, com peso médio de 2 kg (1 kg – 3 kg).
A higidez foi determinada pelo exame físico, eritrograma, leucograma,
contagem plaquetária, bioquímica sanguínea sérica (alanina
aminotransferase - ALT, ureia e creatinina) e urinálise. A urinálise foi
realizada na urina coletada por cistocentese e centrifugada por cinco
minutos. O sobrenadante foi separado do sedimento e posteriormente
utilizado para a realização dos exames fisico (densidade específica) e
químicos da urina (proteínas, bilirrubina, glicose e pH urinário), com
reflatômetro e fita reagente “dipstick”, respectivamente. A ausência de
anormalidades abdominais foi verificada pelo exame ultrassonográfico.
Os animais foram submetidos a jejum alimentar de 4 horas, mas receberam
água ad libitum. Antes da realização do exame ultrassonográfico,
administrou-se dimeticolina (9,7 mg/kg/PO) a cada oito horas. Foi
realizada uma tricotomia ampla do abdômen, do sétimo espaço intercostal
até o osso púbis e lateralmente até a região proximal dos processos
transversos das vértebras. Os gatos filhotes foram colocados em uma calha
de espuma para facilitar o exame. O álcool isopropílico e o gel acústico
foram utilizados para evitar a presença de ar entre pele e o transdutor,
aumentando o contato entre ambos.
Os exames ultrassonográficos foram realizados em decúbito lateral direito
e esquerdo com aparelho de alta definição, GE-Logic 3, equipados com
transdutor linear de 80 mm de comprimento (resolução axial de < 1,1 mm,
resolução lateral de < 0,9 mm, profundidade de 2 cm), frequência entre
6 MHz - 10 MHz, no modo B. A frequência de 10 MHz foi utilizada em casos
de dúvida quanto à distinção de estruturas. Durante os exames foi
realizada somente a contenção física por dois assistentes.
O ponto de referência anatômico utilizado para a observação da glândula
adrenal esquerda foi a borda crânio-medial do rim esquerdo, ao nível da
segunda vértebra lombar, enquanto, para a glândula adrenal direita foi a
porção cranial do hilo renal direito, ao nível da décima terceira vértebra
torácica. Durante o exame ultrassonográfico, o Doppler foi utilizado para
acessar o fluxo sanguíneo da aorta, das artérias mesentéricas craniais,
veia cava caudal, artéria e veia renal, utilizadas também como pontos de
referência.
Foram realizados cortes sagitais e transversais para a identificação das
características e dimensões das glândulas. Com ambos os grupos de animais
em decúbito lateral esquerdo, a glândula adrenal direita foi visibilizada
com o transdutor posicionado entre o décimo primeiro e décimo segundo
espaço intercostal. Após a localização do rim direito, o transdutor foi
deslocado para a região entre a margem cranial do rim e a veia cava caudal
para a visibilização da glândula adrenal direita, sendo que a mesma foi
observada lateral à veia cava caudal e cranial à artéria e veia renal
direita. A glândula adrenal esquerda foi visibilizada com os animais em
decúbito lateral direito. O transdutor foi posicionado próximo à região
caudal do baço, sendo que o polo cranial do rim esquerdo e a artéria renal
esquerda foram utilizados como pontos de referência. A glândula adrenal
esquerda foi visibilizada adjacente à margem lateral da aorta
imediatamente cranial à origem da artéria frênico-abdominal esquerda.
As características estruturais ultrassonográficas foram analisadas e
comparadas entre as espécies de forma descritiva por três especialistas na
área, por meio de gravação das imagens obtidas no dia do exame.
Em relação às dimensões, o comprimento adrenal foi determinado como sendo
a distância entre o polo cranial e o caudal e a largura entre o polo
dorsal e ventral mais largo (
Figura
1-A e
1-B). As mensurações foram
comparadas estatisticamente usando o programa SPSS®, com análise de
variância (ANOVA), seguido do Teste de Tukey (P ˂ 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os achados incidentais de massas adrenais
durante os exames de ultrassonografia da região abdominal, realizados por
diferentes propósitos, têm aumentado a incidência e prevalência dos
tumores adrenocorticais em humanos, principalmente em crianças (ABECASSIS
et al., 1985). A prevalência varia de 0,6% a 2%. Uma distribuição bimodal
tem sido demonstrada com um primeiro pico de incidência antes dos cinco
anos de idade e um segundo pico entre os 40 e 50 anos de idade (LATRONICO
& CHROUSOS, 1997). A incidência dessas massas em crianças brasileiras
provenientes da região sul é 10 a 15 vezes maior que a incidência mundial
(WIENEKE et al., 2003). Sendo essa incidência alta em crianças, as massas
adrenais são amplamente estudadas na medicina. No âmbito da medicina
veterinária, entretanto, por não se realizarem exames ultrassonográficos
regulares nos cães e gatos filhotes, poucos relatos são divulgados. Nesse
sentido, é necessário que o operador do ultrassom saiba reconhecer os
padrões ultrassonográficos de normalidade das glândulas adrenais e suas
dimensões nos cães e gatos filhotes, para que sejam utilizados na
identificação de anormalidade das glândulas adrenais.
Em todos os grupos, as glândulas adrenais foram visibilizadas
utilizando-se o transdutor linear na frequência de 7,5 MHz, no modo B, nos
cortes sagitais e transversais, sendo coerente com a literatura (DOUGLAS
et al., 1997; BESSO et al., 1997; KEALY et al., 2012). A utilização de
transdutor na frequência de 7,5 MHz permitiu uma melhor resolução e
detalhe anatômico das glândulas adrenais nos animais do estudo. De acordo
com KEALY et al. (2012), a frequência pode variar entre 5 MHz e 7,5 MHz,
dependendo da idade e conformação do tórax do animal.
Segundo KEALY et al. (2012), ambas as glândulas adrenais, em cães e gatos
adultos, são melhor visibilizadas com os animais em decúbito dorsal,
devido à presença de gás no intestino. Contrariamente, no presente estudo,
os animais foram posicionados em decúbito lateral esquerdo e direito,
sendo que a preparação prévia com jejum e antifiséticos proporcionaram a
baixa quantidade de gás na região e melhor visibilização das glândulas.
A utilização da metodologia de análise e descrição das características
estruturais ultrassonográficas entre as espécies, pela análise de três
especialistas, foi útil em relação à padronização das mesmas por meio de
consenso. Por outro lado, quando essa metodologia é utilizada em
mensurações, pode ocorrer variabilidade significativa intra-observador e
entre-observadores.
O índice de concordância intra e entre-observadores constitui uma
medida utilizada para analisar o acordo entre dois intervalos de
observação (intraobservadores) e entre avaliadores (entre-observadores)
(LUDBROOK, 2002). Estudo realizado por BARBERET et al. (2010) concluiu que
as mensurações da altura e espessura do polo caudal e cranial de ambas as
glândulas adrenais, de cães adultos da raça Beagle, demonstraram baixa
variabilidade intra e entre-observadores, enquanto, as mensurações do
comprimento evidenciaram alta variabilidade intra e entre-observadores.
Por outro lado, MOGICATO et al. (2011) concluíram em seu estudo que a
variabilidade intra e entre-observador foi baixa na mensuração de
glândulas adrenais em cães adultos da raça Beagle, mas ocorreram
diferenças estatisticamente significativas para a glândula adrenal
direita, ao contrário da glândula adrenal esquerda.
Os pontos de referência anatômicos utilizados no estudo foram similares
aos da literatura (BESSO et al., 1997; KEALY et al., 2012), sendo que a
glândula adrenal esquerda foi identificada em posição crânio-medial ao rim
esquerdo, ao nível da segunda vértebra lombar, caudalmente à artéria
mesentérica cranial e cranialmente à artéria e veia renal (BESSO et al.,
1997). Por outro lado, a glândula adrenal direita foi localizada próxima
ao polo cranial do rim direito, variando na posição medial, entre a décima
primeira e a décima terceira vértebras torácicas, coerente com a
literatura (SPAULDING, 1997, BESSO et al., 1997).
A identificação da glândula adrenal direita e esquerda, em ambos os
grupos, foi facilitada pela janela acústica intercostal direita e pelo
baço, respectivamente, similar ao que é citado pela literatura (BRINKMAN
et al., 2007; KEALY et al., 2012) sobre cães e gatos adultos e sobre cães
adultos de raça gigante (SPAULDING, 1997). Durante a visibilização da
glândula adrenal esquerda não foi possível observar o rim esquerdo e a
artéria renal esquerda, devido à ligeira pressão a que o transdutor deve
ser submetido para melhor visibilização da glândula, como já foi citado
por KEALY et al. (2012).
De acordo com GROOTERS et al. (1994) e BARTHEZ et al. (1995), a glândula
adrenal direita é mais difícil de ser visibilizada em relação à esquerda.
A frequência de visibilização das glândulas adrenais no presente estudo
foi de 100% para ambas as glândulas no grupo dos gatos filhotes e 75% para
a glândula direita e 100% para a esquerda para o grupos dos cães filhotes,
corroborando os relatos de GROOTERS et al. (1995) em relação aos cães
adultos. A menor porcentagem de visibilização da glândula adrenal direita
nos cães filhotes pode estar relacionada com a localização mais profunda
da glândula adrenal direita em relação à contralateral, presença de maior
porcentual de gordura nos cães filhotes em relação aos gatos filhotes,
maior profundidade do tórax, a posição topográfica mais cranial do rim
direito em relação ao esquerdo, e a sua proximidade da região do piloro,
duodeno e cólon ascendente, de acordo com a literatura sobre cães adultos
(BARBERET et al., 2008).
Paralelamente, a frequência de visibilização da glândula adrenal direita e
esquerda nos cães filhotes foi maior em relação à do estudo realizado por
VOORHOUT (1990), envolvendo exame ultrassonográfico das glândulas adrenais
em cães adultos saudáveis, sendo observadas apenas sete glândulas adrenais
esquerdas (75%) e cinco glândulas adrenais direitas (50%). Os fatores que
contribuíram para essa porcentagem foram: equipamentos com baixa
resolução, porcentagem de gordura abdominal, conformação do tórax e
presença de gás intestinal.
Nos cães e gatos filhotes, as glândulas adrenais foram observadas
bilobadas e com contorno regular, similar aos cães e gatos adultos (BESSO
et al., 1997; KEALY et al., 2012).
Nos cães filhotes, a glândula adrenal direita foi observada com formato
oval ou em forma de bumerangue e a contralateral com formato triangular ou
forma de amendoim, coerente com a literatura sobre cães adultos (DOUGLAS
et al., 1997; KEALY et al., 2012). Por outro lado, nos gatos filhotes,
ambas as glândulas adrenais foram observadas com formato oval ou forma de
bumerangue, sendo que o mesmo foi observado por BESSO et al. (1997) e
KEALY et al. (2012) em gatos adultos. Segundo KEALY et al. (2012), o
formato das glândulas adrenais em cães e gatos adultos pode variar de
acordo com a idade e a raça. Num estudo realizado por DOUGLAS et al.
(1997), em cães adultos de raça variada e com peso corpóreo variando entre
2 kg e 75 kg, as glândulas adrenais apresentaram um formado alongando e
com contorno irregular, tendo essas variações relação com a idade e com o
peso corpóreo. Paralelamente, MOGICATO et al. (2011) concluíram em seu
estudo que o peso corpóreo de cães da raça Beagle interviu
significativamente no comprimento de ambas glândulas adrenais, sendo o
peso corpóreo diretamente proporcional ao comprimento das mesmas.
As glândulas adrenais em ambos os grupos (
Figuras 2-A e
2-B) apresentavam-se
hipoecogênicas em relação à gordura adjacente, com presença de uma linha
hiperecogênica no bordo das mesmas, como citado pela literatura sobre cães
e gatos adultos (KEALY et al., 2012) e sem distinção da região cortical e
medular. A ausência de diferenciação entre a região cortical e medular
poderá estar relacionada com a dificuldade de visibilização da artéria e
veia frênico-abdominal, em cães e gatos filhotes, que atravessam a região
dorsal e ventral da glândula adrenal, respectivamente. A frequência
utilizada no presente estudo representa outro fator que poderia contribuir
para a ausência de distinção entre as duas regiões. Entretanto, neste caso
foi utilizada uma frequência de 10 MHz para o descarte da influência da
frequência nos exames. BESSO et al. (1997) e GRAHAM (2008) relataram que
nos cães e gatos adultos, ocasionalmente, distingue-se a região cortical
da medular, sendo que nos cães adultos, a região medular apresenta-se
hipoecogênica e a região cortical hiperecogênica, enquanto nos gatos
adultos a região medular é hiperecogênica e a região cortical
hipoecogênica.
As mensurações ultrassonográficas das glândulas adrenais de cães e gatos
filhotes foram sumarizadas na
Tabela 1.
As mensurações do comprimento e largura das glândulas adrenais revelaram
diferenças significativas (P = 0,01) entre os cães filhotes e os gatos
filhotes. Ambas as glândulas adrenais dos cães filhotes foram 1,7 cm e 1,4
cm maiores, em comprimento e largura, respectivamente, em relação às
glândulas dos gatos filhotes. Nos cães filhotes, a glândula adrenal
esquerda foi maior em relação a contralateral, coerente com a literatura
em relação aos cães adultos (ELSAYES, 2006).
De acordo com MOGICATO et al. (2011), o peso corpóreo e a idade de cães
adultos da raça Beagle influenciaram significamente no comprimento e
espessura das glândulas, sendo ambos diretamente proporcionais ao
comprimento e à largura da glândula, assim como o sexo possuiu um efeito
significativo somente na glândula adrenal direita, sendo a espessura maior
em machos, e o comprimento maior em fêmeas. Por outro lado, a condição
hígida dos cães não interferiu estatisticamente no comprimento e espessura
de ambas as glândulas adrenais.
De acordo com as mensurações do presente estudo, os cães filhotes,
possuindo peso corpóreo maior que os gatos filhotes, obtiveram maior
comprimento de ambas as glândulas adrenais. Paralelamente, as dimensões
médias do comprimento da glândula adrenal direita (2,3 cm) e esquerda (2,7
cm) e a largura de ambas as glândulas (0,7 cm) em cães adultos (PANAGIOTIS
et al., 2003) foram maiores em relação aos cães e gatos filhotes do
presente estudo, podendo-se deduzir que o peso corpóreo e a idade são
diretamente proporcionais ao tamanho das glândulas adrenais, enquanto a
superfície corporal é inversamente proporcional ao tamanho das mesmas
(DOUGLAS et al., 1997).
A glândula adrenal esquerda tende a ser maior em relação a contralateral
nos cães filhotes, contrariamente nos gatos filhotes, corroborando a
literatura sobre cães adultos (DOUGLAS et al., 1997; PANAGIOTIS et al.,
2003).
CONCLUSÕES
Nos cães e gatos filhotes, ambas as
glândulas adrenais apresentam-se hipoecogênicas em relação à gordura
adjacente e a glândula adrenal esquerda hipoecogênica em relação ao baço.
As glândulas são delimitadas por uma linha hiperecogênica, não há
distinção entre as regiões cortical e medular. Ambas as glândulas adrenais
dos cães e gatos filhotes apresentam o formato e contorno similar dos cães
e gatos adultos. As dimensões ultrassonográficas de comprimento e largura
das glândulas adrenais, direita e esquerda, são as mesmas em cães e gatos
filhotes. A glândula adrenal direita e esquerda dos cães filhotes são
maiores, em comprimento e largura, que ambas as glândulas dos gatos
filhotes.
AGRADECIMENTOS
À Fundação Ford pela bolsa de mestrado.
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Protocolado em: 02 maio 2013.
Aceito em 31 jul. 2013