PARÂMETROS COMPORTAMENTAIS DE VACAS DE DESCARTE EM
PASTAGENS DE MILHETO OU CAPIM SUDÃO
Rangel
Fernandes Pacheco1, Dari Celestino Alves Filho2,
Ivan Luiz Brondani2, João Restle4, Luiz Angelo
Damian Pizzuti2, Jonatas Cattelam1
1Pós-graduandos,
Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil.
rangelzootec@hotmail.com
2Professores
Doutores,
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil.
3Professor Visitante, Fundação Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, TO, Brasil
RESUMO
Objetivou-se
com
este estudo avaliar os parâmetros comportamentais e as estratégias de
deslocamento e alimentação de vacas de descarte em pastagens de milheto
ou capim sudão. Os tratamentos consistiram em: pastagem de milheto (Pennisetum
americanum (L.) Leeke) ou pastagem de capim sudão (Sorghum
bicolor cv. sudanense), ambos tratamentos submetidos ao pastejo
contínuo de vacas de descarte, ao longo de 63 dias experimentais,
subdividido em três períodos. Foram utilizadas 20 vacas de descarte
cruza Charolês x Nelore, de idade média de 8 anos e peso vivo médio
inicial de 445 kg. Os animais foram distribuídos em 10 piquetes, sendo
utilizados cinco piquetes para cada tratamento comportando duas vacas.
As avaliações comportamentais foram realizadas durante 24 horas
ininterruptas. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado
com 2 tratamentos e 3 períodos de avaliação. O tempo de pastejo das
vacas apresentou interação (P=0,0035) entre tratamento e período, sendo
o menor tempo destinado à atividade no primeiro período na pastagem de
milheto (504 minutos) comparado com o segundo período desse mesmo
tratamento (587 minutos) e terceiro período nas pastagens de capim sudão
(535 minutos). Os tempos de ruminação e ócio foram semelhantes entre os
tratamentos; no entanto, o de ócio diminuiu e o de ruminação aumentou
com o avanço dos períodos. As espécies de forrageiras não influenciaram
as variáveis relacionadas às estratégias de deslocamento e alimentação.
Com o avanço do ciclo das pastagens, o número de passos por minuto,
estações por minuto e por dia diminuíram enquanto a taxa de bocado e
número de bocados por dia aumentaram. Os parâmetros comportamentais de
vacas de descarte em pastagens de milheto ou capim sudão são similares;
no entanto, o avanço do ciclo vegetativo dessas espécies proporciona
modificações no padrão comportamental dos animais.
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PALAVRAS-CHAVE: estratégias de deslocamento; gramíneas; Pennisetum; Sorghum; taxa
de bocado; tempo de pastejo.
BEHAVIORAL
PARAMETERS
OF CULL COWS GRAZING MILLET OR
SUDAN GRASS
ABSTRACT
The objective of
this study was to evaluate the behavioral parameters and strategies of
displacement and feeding of cull cows grazing millet or sudan grass. The
treatments consisted of: pearl millet (Pennisetum
americanum (L.) Leeke) or sudan grass (Sorghum
bicolor cv. Sudanense). Both treatments were submitted to
continuous grazing of cull cows over 63 experimental days subdivided
into three periods. Using 20 Charolais x Nellore cull cows, at the
average age of 8 years and average weight of 445 kg. The animals were
divided into 10 paddocks, five paddocks used for each treatment
comprising two cows. The behavioral assessments were carried out for 24
hours straight. The experimental design was completely randomized with
two treatments and three periods. The grazing time of cows showed
interaction (P = 0.0035) between treatment and period, and the shortest
time for the activity in the first period on pearl millet (504 minutes)
compared to the second period of that same treatment (587 minutes) and
the third period on sudan grass pastures (535 minutes). The times of
rumination and idling were similar between treatments; however, the
idling time decreased and rumination increased with time periods. The
forage species did not affect the variables related to the strategies of
displacement and feeding. With the advancement of cycle pastures the
number of steps per minute, stations per minute and per day decreased
while the bite rate and the number of bites per day increased. The
behavioral parameters of cull cows grazing sudan grass or millet are
similar; however, the advancement of the vegetative cycle of these
species provides changes in the behavioral pattern of the animals.
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INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas houve aumentos expressivos nos estudos voltados para
as avaliações comportamentais de bovinos de corte, em diferentes
sistemas de pastejo e com uma ampla variedade de espécies de gramíneas.
Essas pesquisas permitiram grande evolução na compreensão das respostas
de desempenho dos animais por parte da academia em função de manejo ou
escolha de espécie de gramíneas para pastejo (KONDO, 2011).
No Brasil, inúmeras espécies de gramíneas de estação quente são
comercializadas com o intuito de atender diferentes sistemas de
produção. Dentre essas, o milheto e o capim sudão
vêm sendo utilizadas para a alimentação de bovinos de corte.
Enquanto a primeira é amplamente explorada em sistemas de pastejo
contínuo, com características produtivas que a consolidam como
forrageira de grande potencial produtivo (RESTLE et al., 2002; PILAU
& LOBATO, 2008), a segunda é recomendada para a formação de híbridos
com sorgo, destinados a sistemas de pastejo rotativo (TAMELE, 2009) e
regimes de corte (GONTIJO et al., 2008). Entretanto, esta última vem
sendo utilizada em sistemas de pastejo contínuo no Rio Grande do Sul, em
áreas onde tradicionalmente o milheto era explorado. O avanço do capim
sudão para essas áreas é consequência da alta resistência a déficits
hídricos da espécie, o que notoriamente vem ocorrendo em algumas regiões
do estado, no período de verão.
Embora haja grande variedade de opções de forrageiras de estação quente
com potencial de exploração na bovinocultura de corte, o volume de
informações científicas relacionadas ao comportamento de fêmeas de
descarte acerca de grande parte dessas gramíneas é escasso. Segundo
SBRISSIA (2004), mudanças conceituais da pesquisa destinadas ao estudo
com forrageiras de estação quente são necessárias e passam pela
compreensão do caráter sistêmico e dinâmico do ecossistema da pastagem,
de forma que os universos envolvidos e suas interações sejam, sempre que
possíveis, considerados.
Características das pastagens de estação quente, como a espécie de
gramínea utilizada nos sistemas de produção (ZANINE et al., 2006) e as
condições relacionadas ao estágio de desenvolvimento e arquitetura das
plantas, refletem de forma expressiva no comportamento dos animais.
Segundo HODGSON (1990), essas características condicionam diferentes
estratégias de deslocamento e de seleção da dieta de bovinos de corte em
pastejo contínuo, as quais irão refletir nos seus desempenhos. BAGGIO et
al. (2009) demonstraram que o comportamento dos animais em pastejo é um
importante indicativo das condições nas quais se encontram as pastagens,
o que, de forma direta, torna essas informações importantes ferramentas
orientadoras de manejos e ao mesmo tempo atende demandas da sociedade,
em relação ao bem-estar animal.
Nesse sentido, o presente trabalho objetivou analisar os parâmetros
comportamentais e as estratégias de deslocamento de vacas de corte em
pastagens de milheto ou capim sudão.
MATERIAL
E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Setor de Bovinocultura de Corte do
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria. A área
experimental utilizada foi de 15 hectares, dividida em doze piquetes. Os
tratamentos consistiam em: Milheto – animais mantidos em pastejo
contínuo de pastagem de milheto – e Sudão – animais mantidos em pastejo
contínuo de pastagens de capim sudão. O método de pastejo foi o
contínuo, com lotação variável.
Para a avaliação dos parâmetros comportamentais, foram utilizadas 20 vacas
de descarte cruza Charolês x Nelore. Ao início do experimento, os
animais apresentavam peso vivo médio de 445 kg e idade média de 8 anos.
Para a manutenção da massa de forragem foram utilizados, quando
necessário, animais reguladores. A massa de forragem (MF) foi estimada a
partir da técnica de estimativa visual com dupla amostragem (WILM et
al., 1944), no início do período de pastejo e a cada 10 dias, com vinte
estimativas visuais e cinco cortes. Em cada corte, foi retirada uma
amostra que, posteriormente, foi homogeneizada e dividida em duas
sub-amostras, uma para a determinação do teor de matéria parcialmente
seca do pasto (MPS) e outra para a separação manual dos componentes
estruturais e botânicos da pastagem. Após a separação botânica e secagem
dos componentes estruturais da pastagem, foi determinada a participação
percentual de lâminas foliares, colmos, material morto das espécies alvo
do estudo e espécies indesejadas. A partir da proporção de folhas e
colmos foi determinada a relação folha:colmo. Para a determinação da
oferta de forragem (OF), foi calculada a razão da MF disponível pela
carga animal, sendo expressa como kg de MS/100 kg de peso vivo/dia
(SOLLENBERGER et al., 2005). A oferta de lâminas foliares verdes (OFL)
foi determinada através do produto da OF pelo percentual de lâminas
foliares da MF.
As avaliações dos parâmetros comportamentais foram realizadas em três
períodos, com avaliações em 10/02/2011 (1-21), 03/03/2011 (22-42) e
22/03/2011 (43-63), tomadas durante 24 horas ininterruptas. O
delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com medidas
repetidas no tempo, em arranjo fatorial 2 x 3 (dois tratamentos e três
períodos), com 10 repetições (animais).
Os registros das atividades foram realizados por avaliadores treinados em
número de 1 avaliador para cada 4 vacas, a cada 10 minutos, com a
identificação da atividade de: pastejo (TP), ócio (TO) ou ruminação
(TR), com auxílio de cronômetro e lanternas do tipo leed, para o período
noturno. O tempo de pastejo foi considerado o período no qual o animal
realizava a apreensão da forragem com pequenos deslocamentos; o tempo de
ruminação foi considerado o período em que o animal não estava
pastejando, porém estava mastigando o bolo alimentar regurgitado; para o
ócio foi considerado o período em que o animal não estava pastejando ou
ruminando, podendo estar incluídas atividades sociais e ingestão de
água.
A taxa de bocado (TXboc) foi determinada durante as atividades de pastejo,
com a tomada do máximo possível de atividades de taxa de bocado durante
as 24 horas de avaliações, com o auxílio de cronômetros. Para a
determinação da taxa de bocado, foi considerado o tempo gasto pelo
animal para realizar 20 bocados e, posteriormente, foi corrigido para um
minuto. Durante as atividades de pastejo ainda foram registrados o tempo
e o número de passos que as vacas utilizavam para percorrer 10 estações
alimentares. Cada estação alimentar foi identificada quando o animal
encontrava-se em pastejo, sem movimentos das patas dianteiras, porém
podendo ocorrer movimento da cabeça.
As variáveis número de passos por estação alimentar (Nº Passos/est) foi
calculada a partir da razão do número de passos médio por estação por
10; número de estações por minuto (Nº Estações/min) = 60*10/(tempo médio
para percorrer dez estações); número de estações diárias (Nº
estações/dia) pelo produto do tempo de pastejo pelo Nº Estações/min;
número de passos por minuto (Nº Passos/min)
pelo produto do Nº Passos/est pelo Nº Estação/min; número de
passos dia (Nº Passos/dia) através do produto do tempo de pastejo pelo
Nº Passos/min; a taxa de bocados por dia (Nº Bocados/dia) foi
determinada pelo produto da TXboc pelo tempo de pastejo.
Todas as variáveis foram submetidas a teste de normalidade pelo teste
Shapiro-Wilk, sendo realizadas as seguintes transformações quando
necessário: Nº Passos entre estações (1/(x)), Nº Passos/min (log (x)),
Nº estações/min (log (x)), Nº estações/dia (log (x)), número de
bocados/dia (log (x)). Posteriormente foram realizadas análises de
variância e teste F, em nível de 5% de significância, utilizando-se o
PROC MIXED (modelos mistos).
O MIXED foi utilizado devido à natureza das medidas repetidas dos dados
(sequencialmente no tempo). Esse procedimento fornece maiores
classificações de tipos de matrizes de covariância a serem selecionadas.
O critério de informação para a melhor estrutura de variância foi pelo
menor valor de AIC. As médias entre os tratamentos foram submetidas à
análise de variância e teste “t” de Student, em nível de 5% de
significância, utilizando-se o “LSMEANS”. Foram detectados os efeitos da
causa de variação principal (espécie e período), assim como as
interações entre elas. As análises dos dados foram realizadas com o
auxílio do pacote estatístico SAS versão 8,01.
Nas Tabelas
1 e 2
são apresentados os valores observados para as características
produtivas das pastagens, em função dos tratamentos e períodos de
avaliação.
O modelo matemático utilizado
para análise de variância foi:
Yijk=
µ + Ti + Rk (Ti) + Pj +
(TP)ij + eijk
Considerando: Yijk representa as variáveis
dependentes; µ, a medida de todas as observações; Ti, o
efeito do i-ésimo tratamento alimentar; Rk (Ti), o
efeito da k-ésima repetição dentro do i-ésimo tratamento (erro a); Pj,
o efeito do j-ésimo período; (TP)ij, a interação entre o
i-ésimo tratamento e o j-ésimo período; e eijk, o erro
experimental total (erro b).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve interação entre
tratamento x período para a atividade de pastejo (Tabela
3). Os animais demonstraram menores tempos destinados à
atividade de pastejo no primeiro período de avaliação comportamental nas
pastagens de milheto, quando comparado ao segundo período desse mesmo
tratamento e ao terceiro do tratamento Sudão. Nas demais comparações das
médias, independentemente de período ou tratamento, o tempo destinado à
atividade de pastejo foram semelhantes.
O aumento no tempo de pastejo
das vacas era esperado com o avançar do ciclo das pastagens, como forma de
compensar às reduções da qualidade e disponibilidade de alimento das
pastagens com o avanço do ciclo vegetativo. Isso ocorreu em função do
processo de lignificação das gramíneas, gradativo com o avançar de seu
ciclo, e principalmente pela redução da disponibilidade e, por
consequência, da acessibilidade às lâminas foliares, confirmadas pelas
correlações negativas da variável tempo de pastejo com a oferta de lâminas
foliares e relação de folha:colmo, (r= -0,32; P=0,0127 e r= -0,38;
P=0,030; respectivamente). Segundo WOODWARD (1997), à medida que a
capacidade de seleção da dieta por parte dos bovinos diminui, os animais
aumentam a taxa de bocados e o tempo de pastejo, como mecanismo de
compensação de reduções no tamanho do bocado realizado.
Além de características
quantitativas, as características qualitativas, como os teores de proteína
bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN), também podem afetar o
comportamento ingestivo dos animais (MANZANO et al., 2007). Nos estudos de
BRÂNCIO et al. (2003), os autores não observaram correlações do tempo de
pastejo de novilhos com características quantitativas das pastagens de
três cultivares de Panicum maximum
(Mombaça, Massai e Tanzânia), manejadas em sistema de pastejo rotacionado;
no entanto, os autores verificaram correlações com as características
qualitativas das pastagens, como o teor de lignina ao início da ocupação
dos piquetes e ao final do ciclo da pastagem, de forma negativa com os
teores de PB e digestibilidade. No presente estudo, o tempo de pastejo se
correlacionou negativamente com o teor de PB da pastagem (r= -0,29;
P=0,0238), não apresentando correlação com FDN (r= 0,15; P= 0,2614).
O tempo de ruminação e ócio
não diferiu significativamente entre os tipos de pastagens utilizadas na
terminação das vacas de descarte (Tabela
4). Esse comportamento era esperado, uma vez que as
características produtivas e bromatológicas das pastagens também foram
similares em função da espécie das gramíneas (Tabela
1).
Quanto às avaliações dos
tempos de ruminação e ócio em função dos períodos de avaliação, foi
possível verificar mudanças com o avanço do ciclo vegetativo das pastagens
(Tabela
5). Como discutido anteriormente, características
quantitativas e qualitativas das pastagens fizeram com que o tempo
destinado ao pastejo dos animais aumentasse com o avanço dos períodos de
avaliação. Essa tendência fez com que os tempos de ruminação (242, 295 e
389 minutos) aumentassem, enquanto os de ócio (662, 565 e 435 minutos)
diminuíssem (P<0,0001). O teor de FDN da pastagem correlacionou-se
positivamente com o tempo de ruminação (r= 0,47; P<0,0001) e
negativamente com o tempo de ócio (r= -0,42; P=0,0008). Esse
comportamento, embora esperado, não é desejado, uma vez que o aumento do
tempo de ruminação associado com o de pastejo implica em maior gasto
energético.
Observa-se na Tabela
6 que a utilização de pastagem de milheto ou capim sudão
não alterou o número de estações alimentares (8,69 e 8,17 por minuto,
respectivamente) e a taxa de bocados (36,82 e 35,88 por minuto,
respectivamente). As semelhanças nas características quantitativas e
qualitativas das pastagens, assim como as de desempenho das vacas em
função dos tratamentos (PACHECO, 2013), estenderam-se também para as
variáveis relacionadas aos parâmetros comportamentais. Características
como composição botânica das pastagens (ARNOLD & DUDZINSKY, 1967),
estádio vegetativo (HODGSON, 1990) e disponibilidade e acessibilidade de
folhas (ROGUET et al., 1998) estão dentre as principais características
que afetam as estratégias de alimentação de bovinos, em pastejo contínuo.
Quando essas características demonstram semelhanças, estendem-se também ao
comportamento ingestivo dos animais (HODGSON, 1990). BRÂNCIO et al. (2003)
observaram semelhanças no comportamento ingestivo de bovinos em função da
cultivar da espécie forrageira de Panicum
maximum Jacq. (Tanzânia, Mombaça
ou Massai), utilizada para pastejo, e também verificaram poucas diferenças
nas variáveis taxas de bocado em quatro períodos de avaliações (junho,
setembro, novembro e março). AURELIO et al., (2007) verificaram que
mudanças estruturais das pastagens de Tifton 85 (Cynodon
dactylon x C.nlemfuensis) ou
capim elefante anão (Pennisetum
purpureum
cv. Mott) condicionam mudanças no número de estações alimentares
por minuto em vacas leiteiras; no entanto, essas diferenças não se
estenderam para o número de bocados por minuto.
O número de passos por minuto,
número de estações por minuto e número de estações por dia, foram maiores
no primeiro período de avaliação (8,8; 10,9 e 4780, respectivamente) em
relação ao segundo (6,1; 8,0 e 3445, respectivamente) e terceiro período
de avaliação (5,2; 6,4 e 3176, respectivamente) (Tabela
7), sendo essas variáveis semelhantes nos dois últimos
períodos. Já o número de passos entre as estações alimentares (1,24; 1,30
e 1,27) foi similar (P=0,8578)
entre os períodos de avaliação.
As tendências observadas para
o número de passos entre as estações alimentares e o número de estações
alimentares/minuto não corroboram com o que é reportado na literatura. No
presente trabalho, as ofertas de lâminas foliares e a relação folha colmo
foram superiores no primeiro período de avaliação, seguidas de reduções
drásticas nos períodos subsequentes (Tabela
2), comportamento esse que condicionaria maiores números de
passos entre as estações alimentares (PALHANO et al., 2006; TEIXEIRA et
al., 2010) e maior número de estações alimentares visitadas (PALHANO et
al., 2006; BAGGIO et al., 2009).
Segundo BAGGIO et al. (2009),
o tempo de permanência em uma estação alimentar se relaciona com a
abundância de forragem, de forma que quanto maior a oferta de forragem na
estação alimentar maior o tempo de permanência nela. Esses autores
complementam que, embora não tenham observado diferenças para o número de
passos, verificaram que a variável se correlacionou negativamente com a
oferta de forragem (r= -0,57; P=0,0033). Essa estratégia permite que o
animal avalie melhor o ambiente alimentar disponível, disponibilizando
mais tempo para a procura de melhores sítios de pastejo (ROGUET et al.,
1998). A possível explicação para a similaridade no número de passos entre
as estações alimentares e redução no número de passos e de estações
alimentares/minuto com o avanço dos períodos de avaliação, no presente
estudo, é o aumento da participação da espécie invasora Capim-papuã (Urochloa
plantaginea), que passou a apresentar maior participação na
composição botânica das espécies indesejadas da pastagem (PACHECO, 2013) e
a redução da oferta de lâminas foliares.
Possivelmente, as mudanças
ocorridas na composição botânica das pastagens tenham refletido em
reduções da profundidade e volume de bocado das vacas, devido ao hábito de
crescimento do capim papuã (cespitoso prostrado) (PACHECO, 2013) e da
redução da participação de folhas na composição estrutural das pastagens.
Isso fez com que os animais compensassem a redução do volume do bocado
pelo aumento da taxa de bocados (Tabela
7), com consequência no tempo de procura por melhores
estações de pastejo em função da necessidade de manter o nível de consumo
de forragem, uma vez que a oportunidade de seleção, nessa situação,
encontrava-se comprometida. REGO et al. (2006) demonstraram que a taxa de
consumo instantânea em pastagens de estação quente é intensificada pela
maior altura da pastagem; entretanto, os autores sugerem que as
características do bocado são influenciadas pela estrutura da pastagem.
Esses autores demonstraram que pastagens exclusivamente com leguminosas,
com diferentes hábitos de crescimento, proporcionam aumento na taxa de
bocado e menor tempo de manipulação do bocado, enquanto que em pastagens
exclusivamente com gramíneas de estação quente há aumento na ingestão por
bocado. Os coeficientes de correlação entre o número de passos por minuto
com espécies indesejadas, oferta de lâminas foliares e relação folha:colmo
apresentaram valores de: r= -0,45 (P=0,0003); r= 0,25 (P=0,06) e r= 0,23
(P=0,08), respectivamente; enquanto em relação ao número de estações por
minuto foram de r= -0,39 (P=0,0021); r= 0,29 (0,0233) e r= 0,29
(P=0,0228), respectivamente.
A taxa de bocados por minuto (26,08; 35,56 e 47,41)
e o número de bocados por dia (13791; 20507 e 29070) aumentaram
(P<0,0001) com o avanço dos períodos de avaliação. Os menores valores
de taxa de bocado no primeiro período podem ser associados à maior
disponibilidade de folhas nos dosséis das pastagens. TEIXEIRA et al.
(2011) demonstraram que, em pastagens com abundância de forragem, a taxa
de bocados pode ser reduzida, uma vez que o animal consegue aumentar a
profundidade e o volume de bocado e, consequentemente, diminuir a taxa de
bocados.
Com o avanço dos períodos e
consequente redução na oferta de lâminas foliares, e possível redução no
volume de bocado das vacas, houve aumento gradativo na taxa de bocados, de
forma que essa estratégia agisse como atividade compensatória a uma
possível redução do volume de bocado, com o intuito de manter o nível de
consumo de forragem, como discutido anteriormente. Comportamento esse
justificado pela correlação negativa da taxa de bocados/minuto (r= -0,28 e
P=0,029; r= -0,36 e P=0,0048, respectivamente) e taxa de bocados/dia (r=
-0,32 e P=0,0116; r= -0,43 e P=0,0006; respectivamente) com a oferta de
lâminas foliares e relação de folha:colmo. No entanto, cabe ressaltar que
a estratégia de aumentar o número de bocados por minuto como compensação à
redução no volume de bocado resulta em maior gasto de energia por unidade
de matéria seca consumida (UNGAR et al., 1991). Um maior volume de bocado
é mais interessante ao animal em função do menor gasto energético por kg
de MS ingerida.
CONCLUSÕES
A utilização de pastagens de
milheto ou de capim sudão não altera os parâmetros comportamentais e as
estratégias de deslocamento e alimentação de fêmeas de descarte.
Entretanto, o ciclo vegetativo altera as estratégias de alimentação e
consumo, as quais, por sua vez, estão intimamente associadas às
características produtivas das pastagens.
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Protocolado em: 09 abr 2013
Aceito em: 04 jun 2013