DOI: 10.1590/1089-6891v15i422937

UtilizaÇÃo da silagem de restos culturais do abacaxizeiro em substituiÇÃo À silagem de cana-de-aÇÚcar na alimentaÇÃo de ovinos

Sandro Castro Santos1, Juliano José de Resende Fernandes2, Eduardo Rodrigues Carvalho3, Vinicius Nunes de Gouvea4, Milton Moreira Lima2, Miguel Joaquim Dias2

1Pós Graduando da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG, Goiânia, GO, Brasil - sandrozootec@gmail.com

2Professores Doutores da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG, Goiânia, GO, Brasil.

3Professor Doutor do Instituto Federal Goiano, Iporá, GO, Brasil

4Pos Graduando da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP, Piracicaba, SP, Brasil.


RESUMO

Avaliou-se a taxa de desaparecimento e a digestibilidade da silagem de restos culturais do abacaxizeiro (SRA) em substituição à silagem de cana-de-açúcar aditivada com 0,5% de ureia (SC) na alimentação de ovinos. Foram utilizados cinco cordeiros, raça Santa Inês, alocados em delineamento experimental quadrado latino 5X5, alimentados com dietas contendo 13,5% de PB e 63,0% de NDT. Foram avaliadas cinco dietas definidas da seguinte forma: 100% de SRA: 0% SC (100A); 75% SRA: 25% SC (75A); 50% SRA: 50% SC (50A); 25% SRA: 75% SC (25A) e 0% SRA: 100% SC(0A). Não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos para consumo de matéria-seca, digestibilidade da matéria seca (DMS) e para a digestibilidade da fibra em detergente neutro (DFDN) com a adição de SRA. Houve aumento (P<0,05) da taxa de desaparecimento de MS (Kd,%/h) do rúmen com a adição de SRA e o pH ruminal diminuiu (P<0,05) de forma linear com a adição de SRA. Em função da taxa de desaparecimento de MS do rúmen, digestibilidade e consumo de MS pode-se utilizar a silagem de restos culturais do abacaxizeiro (SRA) em substituição à silagem de cana-de-açúcar+0,5% ureia (SC) na alimentação de ovinos.

PALAVRAS-CHAVE: frutas tropicais; ovinos; Santa Inês; subprodutos de indústria.

substitution of sugarcane silage by pineapple stalk silage (PSS) In sheep feed

ABSTRACT

We evaluated the disappearance rate and the digestibility of pineapple stalk silage (PSS) as a replacement to sugarcane silage added 0.5% urea (SCS) in sheep feed. We used five non-castrated male Santa Inês lambs, arranged in a  5x5 Latin Square, fed diets containing 13.5% CP and 63% TDN. We evaluated the following treatments: 100% PSS:0% SCS (100P); 75% PSS:25% SCS (75P); 50% PSS:50% SCS (50P); 25% PSS:75% SCS (25P) and 0% PSS:100% SCS (0P). There were no differences (P>0,05) among treatments for DM intake (597.27 g/day), DM digestibility (DMD) and neutral detergent fiber digestibility (NDFD) (P>0.05) with PSS inclusion. There was an increase in the ruminal digesta dry matter disappearance (%/h) and a linear decrease in ruminal pH (P<0.05) with PSS addition. Regarding DM disappearance, digestibility and intake, pineapple stalk silage may be used as a replacement to sugarcane silage+0.5% urea (SCS in sheep feed.

KEYWORDS: byproducts; Santa Ines; sheep; tropical fruit.


INTRODUÇÃO

Algumas propriedades da região Norte do país têm aproveitado os restos culturais da pós-colheita do abacaxizeiro na alimentação dos ruminantes. Do abacaxizeiro, apenas o fruto é comercializado, o que representa 38% da planta. O restante (folha, caule e raízes) é considerado resíduo agrícola. Sendo assim, têm surgido diversas maneiras de utilização desse material, seja como fenação ou ensilagem, mas sempre com o objetivo de fornecer alimento no período de escassez de forragem.

Os restos culturais do abacaxizeiro podem atingir até 50 toneladas de produção de massa verde por hectare, dependendo da cultivar e densidade do plantio que pode variar entre 33.000 a 55.000 plantas/ha. Além disso, a composição química dos resíduos das plantas do abacaxi apresentou valores de 23,60% de matéria seca (MS); 6,3% de proteína bruta (PB); 73,1% de fibra em detergente neutro (FDN); 7,0% de lignina e 58,0% para os nutrientes digestíveis totais (NDT)1; portanto, os restos culturais do abacaxizeiro caracterizam-se como alimento rico em fibra e baixo valor proteico.

As comparações entre os restos culturais do abacaxizeiro e a cana-de-açúcar partem do princípio de que são alimentos com baixo valor nutritivo e composição bromatológica semelhantes. Alguns autores avaliaram a composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar sem aditivos e apresentaram valores médios de 25,0% de MS, 65,0% de FDN, 4,0 % de PB, 7,0% de matéria mineral (MM) e 8,0% de lignina e 55,3% de NDT 2-4.

Apesar de a cana-de-açúcar ser um volumoso tradicional, de fácil cultivo e produção de matéria seca elevada, o intuito dos autores foi utilizá-la como parâmetro, em termos de valor nutricional, para aproveitar os resíduos agrícolas do abacaxizeiro na forma de silagem.

Para a determinação do valor nutritivo de uma forragem, além de sua composição química, aspectos relacionados à extensão da digestão e à taxa de fermentação são de grande relevância, uma vez que esses parâmetros estão diretamente envolvidos no controle do consumo voluntário. Esses processos envolvem taxas de passagem de substâncias não digestíveis e turnover (renovação de nutrientes), e abrangem a taxa de digestão e digestibilidade de nutrientes5. Portanto, a digestibilidade e a ingestão da matéria seca das forragens são alguns dos atributos que determinam o nível de produção do animal. Esses fatores são influenciados pela proporção de parede celular, pelas estruturas fibrosas que durante os processos de mastigação e digestão são quebrados em partículas menores. Daí a importância dessas medidas para se avaliar os alimentos em questão.

Objetivou-se com este trabalho avaliar a taxa de desaparecimento e a digestibilidade da silagem de restos culturais do abacaxizeiro em substituição à silagem de cana-de-açúcar adicionada de 0,5% de ureia na alimentação de ovinos.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Departamento de Produção Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG, Goiânia-GO, no período entre abril e julho de 2007. Adotou-se o delineamento em quadrado latino 5x5 para realização do experimento. Foram realizados cinco períodos experimentais de 19 dias cada, sendo 10 dias para adaptação às rações e nove dias de avaliação e colheita de amostras. O processo de ensilagem foi realizado no município de Dois Irmãos – TO, em outubro de 2006, em sacos plásticos com capacidade de 30 kg, com o objetivo de facilitar o transporte. A silagem foi compactada com os pés e os sacos foram lacrados e armazenados para posterior abertura. As plantas do abacaxizeiro Ananas comosus cv. pérola possuíam idade aproximada de 36 meses, foram colhidas 60 dias após a colheita do fruto e trituradas por duas vezes, com o objetivo de reduzir o tamanho das partículas (tamanho médio de partícula de 31,8 mm), até o material adquirir aspecto de “estopa” (presença das partículas pequenas e fibras longas sob forma de fio) (Figura 1, Tabela1).

A silagem de cana-de-açúcar variedade IAC 86-2480 foi colhida com 18 meses de idade, picada em ensiladeira, aditivada com 0,5% ureia com base na MN e armazenada em manilhas tipo concreto com capacidade de 600 kg cada. A forragem foi manualmente depositada em camadas de aproximadamente 30 cm no interior do silo, espalhada e aplicada a ureia e, em seguida, compactada com os pés.

Os tratamentos usados para avaliação foram: 100A - 100% silagem de restos culturais do abacaxizeiro; 75A - 75% silagem de restos culturais do abacaxizeiro:25% silagem de cana-de-açúcar; 50A - 50% silagem de restos culturais do abacaxizeiro:50% silagem de cana-de-açúcar; 25A - 25% silagem de restos culturais do abacaxizeiro:75% silagem de cana-de-açúcar; 0A - 100% silagem de cana-de-açúcar, como volumoso na dieta.

Foram utilizados cinco borregos, machos não castrados, da raça Santa Inês, com média de oito meses de idade e peso vivo 30,2 kg ± 4,8 kg. Os animais foram canulados no rúmen e permaneceram todo o experimento com bolsas coletoras de fezes e alojados em baias individuais medindo 0,60x1,20 m, com piso ripado e provido de bebedouro e comedouro em galpão coberto.

Ao início do período de adaptação, os animais foram pesados, everminados e receberam aplicação subcutânea de 3 mL de complexo vitamínico ADE.

As dietas (Tabela 2) isoproteicas (13,5% PB e 63% NDT), com a relação volumoso:concentrado de 60:40, foram formuladas para suprir as exigências dos ovinos7.

Os animais receberam as rações experimentais em mistura total ad libitum, duas vezes ao dia, em quantidade suficiente para permitir cerca de 10% de sobras. As quantidades de ração fornecida, bem como as sobras, eram quantificadas diariamente, para cálculo e ajuste da ingestão de MS dos animais. O cálculo dos nutrientes efetivamente consumidos foi realizado descontando-se dos nutrientes fornecidos o teor de nutrientes das sobras.

Durante cada período experimental, procedeu-se diariamente à amostragem da dieta total fornecida e das sobras (20% do resíduo total diário). As amostras foram mantidas congeladas para formação, ao final do período, de uma amostra composta para cada tratamento e em cada período experimental.

A colheita total de fezes para determinação da digestibilidade aparente de nutrientes foi realizada durante o 12° ao 16° dia do período de avaliação. As fezes foram recolhidas nas sacolas coletoras, pesadas e amostradas em 20% do total excretado. Essas amostras foram armazenadas em sacos plásticos e congeladas sendo que, ao final de cada período de avaliação, as amostras foram homogeneizadas e retirou-se uma sub-amostra por tratamento, de aproximadamente 500 g, para serem secas em estufa de ventilação forçada à 55 °C.

O cálculo da digestibilidade aparente de nutrientes da ração fornecida aos animais foi realizado conforme a equação8:

em que,

Divap = Digestibilidade aparente do nutriente (%);

MSof = Quantidade de matéria seca oferecida (kg);

TNof = Teor do nutriente na MS oferecida (%);

MSsob = Quantidade de matéria seca das sobras (kg);

TNsob = Teor do nutriente na MS das sobras (%);

MSf = Quantidade de matéria seca fecal (kg);

TNf = Teor do nutriente na MS fecal (%).

Procedeu-se o esvaziamento do conteúdo ruminal, em cada período, duas horas antes da alimentação no 18o dia e, em seguida, no 19o dia, 2 horas após a alimentação9. Para facilitar a coleta de sub-amostras, o conteúdo foi espremido em pano de algodão com as mãos e com o uso de uma peneira (5 mm de poros) para separação de sólidos e líquidos. Foram retiradas sub-amostras de aproximadamente 200 g ou 5% do peso total de sólidos e líquidos, reconstituídas e, em seguida, foram secas em estufa a 55 oC, por 48 horas.

Após as amostragens, o conteúdo ruminal foi imediatamente devolvido ao rúmen e, visando proporcionar adaptação mais rápida à nova dieta, trocaram-se aproximadamente 50% do conteúdo total entre os carneiros no segundo dia de coleta ou 19o da avaliação. A massa de conteúdo ruminal foi obtida somando-se os pesos das frações de sólidos e líquidos. O volume de líquidos foi estimado descontando-se do peso total do conteúdo ruminal a massa de MS (kg), assumindo uma densidade de 1,0 kg/L para a fração líquida.

As taxas de desaparecimento (Kd) e tempo de renovação (Kt) da MS e FDN no rúmen foram calculadas de acordo com a seguinte equação10:

As amostras secas do conteúdo ruminal, dietas totais fornecidas, sobras e fezes foram moídas em moinhos tipo Willey com crivos de 1 mm. Depois de moídas, as amostras foram para a estufa por 12 horas a 105 °C para determinação da matéria seca definitiva11. As concentrações da FDN do conteúdo ruminal foram determinadas de acordo com MERTENS12, utilizando-se solução de ureia 8M e amilase termoestável (Sigma3306; Sigma ChemicalCo., St.Louis,MD).

Para a aferição do pH, amostras do conteúdo ruminal (aproximadamente 50 g) foram tomadas em diferentes pontos no rúmen. A primeira amostragem ocorreu imediatamente antes da oferta de alimento matinal (08:00 horas), e as amostras subsequentes foram colhidas a cada duas horas durante 12 horas, sendo os tempos estabelecidos de 2, 4, 6, 8, 10 e 12 horas após o fornecimento da ração do período da manhã. O conteúdo ruminal foi filtrado sob pressão manual em tecido de algodão, o líquido foi homogeneizado e o seu valor de pH foi imediatamente mensurado por meio de leitura em potenciômetro digital DIGIMED - DMPH2. Após a aferição, a parte sólida e líquida foram homogeneizadas e devolvidas ao rúmen.

A análise estatística dos dados foi realizada utilizando-se o PROC GLM13, sendo que a comparação das médias entre os tratamentos foram feitas por contrastes ortogonais completos, considerando-se o nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os consumos de matéria seca (CMS) 636,36 g/dia; 629,90g/dia; 560,53 g/dia; 576,80 g/dia; 582,74 g/dia, para os tratamentos 100A, 75A, 50A, 25A, 0A, respectivamente (Tabela 3), não diferiram significativamente (P>0,05), o que pode ser justificado pelo balanceamento da dieta para os nutrientes digestíveis totais (NDT), evitando-se a limitação do consumo por energia, e também pela DMS não ter apresentado diferença (P>0,05).

O consumo de FDN (CFDN) das rações experimentais permaneceu similar (P>0,05, Tabela 3), embora os teores de fibra tenham diferido (P<0,05) entre os tratamentos (Tabela 2), sendo esses maiores para as dietas contendo SC. A digestibilidade de fibra em detergente neutro (DFDN) e digestibilidade de fibra em detergente ácido (DFDA) (Tabela 3) não diferiram (P>0,05) entre os tratamentos. Mesmo com os menores (P<0,05) teores de FDN e FDA para os tratamentos contendo SRA (Tabela 2) e a forma como foram processadas essas silagens não foram suficientes para afetar a digestibilidade das fibras.

Mertens e Ely14 propuseram um modelo de desaparecimento de fibra da área digestiva em ruminantes, baseado na taxa e na extensão da digestão de forragens no rúmen. Os autores sugeriram que o consumo máximo de MS digestível seja afetado mais pela proporção de fibra indigestível e taxa de passagem do que pela taxa de digestão de fibra

Houve redução (P<0,05) da taxa de desaparecimento de MS (%/h) do rúmen com a adição de SC. Os valores apresentados são 8,08%/h; 8,31%/h; 5,85%/h; 6,49%/h; 7,03%/h, para os tratamentos 100A, 75A, 50A, 25A e 0A, respectivamente. A taxa de desaparecimento é em função da taxa de passagem e taxa de digestão; assim, quando a ingestão de alimento aumenta, a taxa de passagem aumenta e o tamanho das partículas que deixam o rúmen também podem ser maiores5. Não houve aumento (P>0,05) no CMS entre os tratamentos, a taxa de desaparecimento da MS para os tratamentos contendo a SRA foram maiores (P<0,05); portanto, pode-se dizer que a taxa de digestão da MS da SRA foi menor para os tratamentos contendo essa silagem.

A taxa de passagem (%/h) tem enorme influência sobre a eficiência microbiana. A renovação mais rápida do conteúdo ruminal favorece uma população microbiana mais jovem, que tem menor exigência de manutenção e que direciona a maior parte dos nutrientes para o seu crescimento15.

Utilizando carneiros fistulados no rúmen, Varga & Prigge16 avaliaram o efeito de duas forrageiras (alfafa e grama) e dois níveis (alto = 90%; baixo= 60%) de ingestão e, utilizando marcadores sobre os tempos de renovação (h) para sólidos e líquidos da digesta, os autores observaram taxa média de renovação para sólidos de 5,97%/h e tempo médio de renovação de 16,9 horas. Quanto à taxa de renovação para líquidos para os dois níveis de ingestão, foram encontrados valores respectivamente de 7,1%/h e 3,1%/h. Neste estudo, o tempo de renovação não foi diferente (P>0,05) entre os tratamentos e o valor médio de 16,72 h, similar ao observado no estudo de Varga & Prigge16.

Houve redução (P<0,05) da taxa de desaparecimento da FDN (FDNkd- %/h) entre os tratamentos (Tabela 3) com a adição de silagem de cana-de-açúcar com 0,5% de ureia. As taxas foram 4,52; 5,12; 3,18; 3,00; 4,00, respectivamente, para os tratamentos 100A, 75A, 50A, 25A e 0A (Figura 2).

Esse efeito pode ter sido provocado pela composição química da dieta, já que a fração FDN não foi balanceada para os tratamentos, ou ainda pelo efeito associativo dos alimentos utilizados. A combinação entre os alimentos pode causar efeitos tanto negativo quanto positivo na digestão de carboidratos estruturais pelos ruminantes17, também pode haver preferência pela digestão dos carboidratos solúveis ou amido por parte das bactérias do rúmen, o que pode ser percebido quando há alimentos com taxa de digestão diferenciada ou com distinta velocidade de passagem.

Kellems et al.18, após separarem por frações (folhas verdes e secas, colmos, raízes) e analisarem as plantas do abacaxizeiro de três para quatro anos de idade, constataram média de 13,84% de amido, 7,95% de lignina, 58,42% de FDN e 33,37% de FDA. Já Carvalho et al.19 avaliaram a composição química das plantas do abacaxizeiro com idade próxima de 36 meses para determinar em quais épocas do ano são mais adequadas para o aproveitamento das folhas. Esses autores também constataram valores para o amido próximo de 13%. Possivelmente, a presença do amido na SRA pode ter influenciado nesse efeito associativo dos alimentos e na variação do pH ruminal.

 Outra possibilidade a ser considerada é da quantidade de carboidratos solúveis, uma vez que a silagem de cana-de-açúcar possui maior quantidade quando comparada à silagem de restos culturais do abacaxizeiro (Tabela 1). O principal fator que afeta a digestão dos carboidratos estruturais é a adição de carboidratos solúveis, que provocam alterações no meio ambiente do trato digestivo e na cinética do processo digestivo, como taxa de digestão, taxa de passagem das partículas, pH ruminal e a natureza da população microbiana 20.

O pH ruminal aumentou de forma linear (Tabela 3, Figura 3) com a adição de SC, e os valores de 6,16; 6,16; 6,33; 6,42; 6,63 foram, respectivamente, para os tratamentos 100A, 75A, 50A, 25A e 0A. Uma variação de pH ruminal de 0,5 unidades manteria a atividade microbiana próxima do normal, e Van Soest5 relatou ainda que valores inferiores a 6,2 podem inibir a taxa de digestão e aumentar o tempo de colonização para a degradação da parede celular.

A eficiência microbiana também sofre interferência do pH ruminal e as que são mais afetadas são as bactérias fibrolíticas, fermentadoras de carboidratos fibrosos, sensíveis a valores de pH inferiores a 6,0. Essas bactérias são neutrofílicas, ou seja, mantém o pH intracelular próximo à neutralidade independentemente do pH extracelular15. Apesar de os valores médios de pH dos tratamentos 100A e 75A estarem próximos daquele limite, neste caso, possivelmente, o crescimento microbiano não foi afetado pelo pH ruminal.

CONCLUSÃO

Em função da taxa de desaparecimento de MS do rúmen, digestibilidade e consumo de MS pode-se utilizar a silagem de restos culturais do abacaxizeiro (SRA) em substituição à silagem de cana-de-açúcar+0,5% ureia (SC) na alimentação de ovinos.

AGRADECIMENTOS

À empresa TORTUGA pelo apoio técnico e financeiro.

REFERÊNCIAS

1. Müller, ZO. Feeding potential of pineapple waste for cattle. World Animal Review, 1978;25(1):25-29.

2. Pedroso, AF; Nussio, LG; Loures, DRS. et al. Fermentation, losses, and aerobic stability of sugarcane silages treated with chemical and bacterial additives. Scientia Agricola. 2008;65(1):567-691.

3. Pedroso, AF; Rodrigues, AA; Junior, WB; Barbosa, PF et al. Aditivos químicos e inoculante bacteriano na ensilagem de cana-de-açúcar: efeitos sobre a fermentação das silagens e o desempenho de garrotes. Revista Brasileira de Zootecnia.[Internet] 2011;40(6):1181-1187. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbz/v40n6/04.pdf

4. Schmidt, P.; Mari, J.L.; Nussio, L.G.; Pedroso,A.F.; Paziani, S.F.; Wechsler, F.S. Aditivos químicos e biológicos na ensilagem de cana-de-açúcar. 1. Composição química das silagens, ingestão, digestibilidade e comportamento ingestivo. Revista Brasileira de Zootecnia.[Internet] 2007;36(5):1666-1675. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbz/v36n5s0/a27v3650.pdf

5. Van Soest, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2. ed. Ithaca: Cornell University Press, 1994. 476p.

6. Lammers, B.P.; Buckmaster, D. R.; Heinrichs, A. J. A simple method for the analysis of particle sizes of forage and total mixed rations. Journal of Dairy Science. [Internet] 1996 Oct 27;79(5):922-928. Disponível em: http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(96)76442-1/pdf

7. National Research Council - NRC. Nutrient requirements of domestic animals: Nutrient requirements of sheep, 6 ed. Washington: National Academy of Science, 1985. 112p.

8. Rymer, C. The measurement of forage digestibility in vivo. In: Givens, D.I., Owen, E., Axford, R.F.E. Forage evaluation in ruminant nutrition. 1 ed. London: CAB International, 2000. p.113-134.

9. Dado, R.G.; Allen, M.S. Intake limitations, feeding behavior, and rumen function of cows challenged with rumen fill from dietary fiber on inert bulk. Journal of Dairy Science [Internet] 1995 Aug 23;78(1):118-133. Disponível em: http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(95)76622-X/pdf

10. Harvatine, D. I.; Winkler, J. E.; Devant-Guille, M.; Firkins, J. L.; St-Pierre, N. R.; Oldick, B. S.; Eastridge, M. L. Whole linted cottonseed as a forage substitute: fiber effectiveness and digestion kinetics. Journal of Dairy Science 2002 Feb 5;85(8):1988-1999. Disponível em: http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(02)74275-6/pdf

11. Silva, D.J.; Queiroz, A.C. Análise de Alimentos: métodos químicos e biológicos. 3 ed. Viçosa: UFV, 2002. 235p.

12. Mertens, D.R. Gravimetric determination of amylase treated neutral detergent fiber in feeds with refluxing in beaker or crucibles: collaborative study. Journal of AOAC International. [Internet] 2002 Feb 5;85(1):1217-1240. Disponível em: http://lib3.dss.go.th/fulltext/Journal/J.AOAC%201999-2003/J.AOAC2002/v85n6(nov-dec)/v85n6p1217.pdf

13. SAS Institute. Statistical Analysis System: user guide [CD-ROM]. Version 8. Cary (NC): SAS Insitute Inc., 2002.

14. Mertens, D.R.; Ely, O.L. Relationship of rate and extent of digestion to forage utilization. Journal of Animal Science. 1982;54(1):895-905.

15. Dixon, R.M.; Stockdale, C.R. Associative effects between forages and grain: consequences for feed utilization. Australian Journal Agriculture research. 1999;50(1):757-773.

16. Varga, G.A.; Prigge, E.C. Turnover Rates Influence of forage Species and Level of Intake on Ruminal. Journal of Animal Science. 1982;55(1):1498-1504.

17. Kozloski, G. V. Bioquímica dos Ruminantes. 3 ed. Santa Maria: UFSM, 2011. 214p

18. Kellems, R.O.; Wayman, O.; Nguyen, A.H. Post-harvest pineapple plant forage as a potential feedstuff for beef cattle: evaluated by laboratory analyses, in vitro and in vivo digestibility and feedlot trials. Journal Animal Science. 1979;48(5):1040-1048.

19. Carvalho, V.D.; Paula, M.D.; Abreu, C.M.P; Chagas, S.J.Z. Efeito da época de colheita da planta na composição química das folhas do abacaxizeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira. 1991;26(1):1655-1661.

20. Fahey, G.C.; Berger, L.L. Los carbohidratos en la nutrición de los rumiantes. In: CHURCH, D.C. El rumiante. Fisiologia digestiva y nutrición. 1 ed. Zaragoza: Acribia, 1993. p.305-338.


Protocolado em: 05 mar. 2013.  Aceito em:09 out. 2014.