CARACTERÍSTICAS
DE CARCAÇA E QUALIDADE DA CARNE DE NOVILHOS CONFINADOS EM
DIFERENTES ESPAÇOS INDIVIDUAIS
Jonatas Cattelam1, Ivan Luiz Brondani2, Dari Celestino Alves Filho2, Luciane Rumpel Segabinazzi3, Alisson Marian Callegaro4, Joziane Michelon Cocco5
RESUMO
Objetivou-se
avaliar as características de carcaça e da carne de novilhos confinados
em
diferentes espaços individuais. Foram utilizados 48 novilhos, com idade
e pesos
médios iniciais de 20 meses e 243,4 kg, respectivamente, confinados em
baias
coletivas, distribuídos nos tratamentos conforme o espaço individual
disponível, 2,5; 5,0 ou 10 m2. A dieta continha relação
volumoso:concentrado de 39:61 (base na matéria seca). Os pesos de
carcaça
quente e fria, médias de 226,0 e 220,1 kg, respectivamente, e seus
rendimentos,
58,5 e 57,0 kg/ por 100 kg de peso vivo, citados na mesma ordem, não
foram
influenciados pelo espaço individual disponível. Para todos os
espaçamentos
avaliados, as carcaças apresentaram espessura de gordura mínima
exigida, 3 mm,
sendo similar entre os diferentes espaçamentos avaliados. O peso dos
cortes
comerciais da carcaça e seus rendimentos, como também o peso absoluto e
a
participação dos tecidos que compõem a carcaça foram similares entre os
diferentes espaços individuais. Os valores de pH e temperatura nos
músculos Longissimus dorsi e Recto
femoralis não foram
afetados pelos espaçamentos individuais. Cor, textura, marmoreio e as
características organolépticas da carne não foram influenciadas pelos
espaçamentos utilizados. A força de cisalhamento apresentou valor médio
de 5,06
kgF/cm3. O número de lesões, local e tempo de ocorrência das
mesmas
não foi influenciado pelos diferentes espaços individuais. O espaço
individual
na terminação de novilhos em confinamento não influenciou as
características da
carcaça e da carne, quando abatidos aos 24 meses de idade.
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CARCASS CHARACTERISTICS AND
MEAT
QUALITY OF FEEDLOT STEERS FINISHED IN DIFFERENT INDIVIDUAL SPACES
ABSTRACT
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INTRODUÇÃO
A
produção de bovinos de corte busca, juntamente
com melhores índices produtivos, melhorar a imagem do sistema produtivo
e
garantir aos mercados consumidores produtos de alta qualidade. De
acordo com
OLIVEIRA et al. (2008), o aperfeiçoamento das práticas de manejo pode
tornar os
sistemas produtivos mais competitivos, pois, além de evitar perdas, é
possível
incrementar a produção com o melhoramento e a adequação no manejo dos
animais,
assim como permite ofertar um produto final diferenciado e de
qualidade, com
atributos valorizados pelos principais mercados internacionais, como a
União
Europeia.
A
conversão do músculo em carne é complexa e
envolve alterações no metabolismo celular e na estrutura proteica,
caracterizando-se pelo esgotamento das reservas de ATP, queda na
temperatura da
musculatura e diminuição do pH da carne (LAWRIE, 2005). Assim, devem-se
evitar
sistemas de terminação que tornem os animais mais reativos no processo
pré-abate,
pois, segundo FIELD (1971), o estresse anterior ao abate prejudica a
coloração
da carne por afetar os depósitos de glicogênio muscular, acarretando
menor
redução do pH.
Em
sistemas intensivos, como confinamento, os
bovinos são estabulados coletivamente, muitas vezes em espaços
reduzidos. Com
isso, ocorrem agressões entre os animais, o que leva à ocorrência de
lesões,
indicando condições inadequadas de produção. A ocorrência de hematomas
na
carcaça é um indicativo de manejo inadequado ocorrido em qualquer etapa
do
processo produtivo: na propriedade, durante o transporte, no
desembarque ou no
próprio frigorífico (CIVEIRA et al., 2006). De acordo com ANDRADE et
al.
(2009), a presença de lesões na carcaça dos bovinos sugere a falta de
bem-estar
animal.
Com
relação à qualidade da carne de bovinos
mantidos individualmente ou em baias coletivas, ANDRIGHETTO et al.
(1999)
encontraram melhores maciez e palatabilidade, pelo painel de
avaliadores, para
animais mantidos coletivamente, associando o resultado à movimentação
dos
animais mantidos nesse sistema de criação.
Os mesmos autores observaram que bovinos mantidos
individualmente nas
baias apresentaram carne com coloração de melhor aceitabilidade pelos
consumidores. Desse modo, o presente estudo tem por objetivo avaliar
diferentes
espaços individuais para novilhos confinados e seus reflexos sobre
características da carcaça e qualidade da carne.
MATERIAL E MÉTODOS
O
experimento foi realizado no período de 25 de
julho a 20 de novembro de 2011, no Laboratório de Bovinocultura de
Corte,
pertencente ao Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de
Santa
Maria, localizado no município de Santa Maria. Foram utilizados 48
novilhos de
predominância racial Charolês ou Nelore, com idade e peso médio
iniciais de 20
meses e 243,4 kg, respectivamente. Os animais foram confinados
coletivamente,
quatro novilhos por baia, bloqueados conforme o predomínio genético, e
balanceados de acordo com o frame (BIF, 2002) e o peso inicial,
distribuídos
nos tratamentos conforme o espaço individual disponível, 2,5; 5,0 ou 10
m2/animal,
tendo as baias espaços totais de 10; 20 ou 40 m2,
respectivamente,
sendo utilizadas quatro baias por tratamento. Todos os boxes eram
parcialmente
cobertos, providos de piso de alvenaria, com declividade de 8º, e
comedouro de
concreto com disponibilidade de 0,80 m por animal e bebedouro regulado
por
torneira-boia.
Os
novilhos permaneceram confinados até atingir,
por estimativa, peso de carcaça fria de 220 kg, sendo necessários 84
dias para
24 novilhos (duas baias de cada espaçamento) e 121 dias para o
restante, sendo
que os animais permaneceram no mesmo grupo, nas mesmas baias durante
todo
período experimental. A dieta continha relação volumoso:concentrado de
39:61
(base na matéria seca) e a silagem de sorgo (Sorghum bicolor
L Moench) foi o volumoso utilizado, sendo 100 kg de
massa verde das plantas composta por 56,3 kg de colmo, 14,8 kg de
folhas e 28,9
kg de panícula. Um produto comercial foi utilizado como concentrado,
sendo 100
kg de matéria verde do mesmo composto por 42 kg de milho moído; 34,12
kg de
farelo de arroz desengordurado; 12 kg de grão aveia branca moído; 7,38
kg de
farelo de soja; 3,80 kg de calcário calcítico; 0,5 kg de cloreto de
sódio e 0,2
kg de premix. Na Tabela 1 consta a análise
bromatológica da dieta.
Para
avaliação das características de carcaça,
foram seguidas as normas descritas por MÜLLER (1987). Os pesos de
carcaças
quente e fria foram obtidos antes e após o resfriamento da carcaça,
respectivamente, e seus rendimentos calculados em relação ao peso de
abate,
tomado na fazenda, precedido de jejum de sólidos e líquidos por 14
horas. O
abate ocorreu em frigorífico comercial, localizado a 30 km da fazenda
experimental. A meia carcaça esquerda foi separada nos três cortes
primários:
serrote (ou traseiro); costilhar (ou ponta-de-agulha) e dianteiro.
Depois de
separados, os cortes foram pesados para calcular sua participação em
relação ao
peso de carcaça fria. Na meia-carcaça fria direita, foram avaliadas as
características métricas da carcaça: o comprimento de carcaça, tomado
do bordo
cranial medial da primeira costela até o bordo anterior do osso púbis;
o
comprimento de perna, correspondente à distância entre o bordo anterior
do osso
púbis e a articulação tíbio-tarsiana; a espessura de coxão, medida
entre a face
lateral e a face medial da porção superior do coxão, com auxílio de um
compasso; o comprimento de braço, distância da articulação rádio
carpiana até a
extremidade do olécrano; e o perímetro do braço, medido na região
medial do
mesmo. A compacidade foi calculada através do quociente entre o peso de
carcaça
fria e o comprimento da carcaça. Ainda na meia-carcaça fria direita foi
realizado corte horizontal entre a 11ª e 12ª costelas, visando expor o
músculo Longissimus dorsi, para traçar o seu
contorno em papel vegetal, sendo a área da figura posteriormente
determinada em
mesa digitalizadora por meio do software Corel Draw. No mesmo local,
foi medida
a espessura de gordura subcutânea, obtida pela média de três
observações.
Após
resfriamento das carcaças por 24 horas
(constam na Tabela 2 as temperaturas da
câmara fria conforme o tempo de
resfriamento), foram realizadas as avaliações de marmoreio, cor e
textura da
carne, a partir da secção do músculo Longissimus
dorsi na altura da 12ª costela, conforme metodologia descrita por
MÜLLER
(1987). Os valores de pH e temperatura foram obtidos por peagâmetro e
termômetro digitais, com eletrodo de penetração. As mensurações foram
realizadas antes do resfriamento das carcaças (0 hora) e após a 1ª, 2ª,
3ª, 6ª,
12ª e 24ª hora de resfriamento no músculo Longissimus
dorsi (contra-filé), entre a 10a e 12ª costelas e no
músculo Recto femoralis (patinho). Para
determinar as porcentagens dos tecidos, seguiu-se a metodologia
descrita por
HANKINS & HOWE (1946) e adaptada por MÜLLER (1973).
A
porção do músculo Longissimus dorsi extraída
foi identificada e congelada para posterior análise das características
sensoriais. Das amostras, ainda congeladas, foram extraídas duas fatias
de
As
lesões presentes nas carcaças foram
classificadas quanto ao grau de extensão conforme CIVEIRA et al.
(2006), e
quanto ao tempo de aparecimento segundo ANDRADE et al. (2009). (2006).
As
lesões que afetavam somente o tecido subcutâneo foram classificadas de
Grau I,
contusões que afetavam, além do tecido subcutâneo, o tecido muscular,
Grau II,
e contusões, que atingiam o tecido ósseo, além dos citados, Grau III.
As
contusões recentes, com menos de um dia, apresentam-se hemorrágicas e
com uma
coloração vermelha escura, enquanto as lesões antigas, com mais de um
dia ou até
semanas, mostram-se com coloração amarelada.
O
delineamento experimental foi blocos ao acaso,
com três tratamentos e 16 amostras por tratamento, sendo cada novilho
uma
unidade experimental. Os dados foram submetidos à análise de variância
pelo
proc GLM, usando-se o seguinte modelo matemático:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste
estudo, a correlação entre peso de abate com
os pesos de carcaça quente e fria foi de 0,97, ambos com P<0,0001.
ANDRIGHETTO et al. (1999) observaram similaridade no rendimento de
carcaça de
bezerros alocados individualmente ou em grupos, com valores de 59,6 e
60 kg/
100 kg de peso vivo, respectivamente. COSTA et al. (2002a) afirmaram
que peso e
rendimento de carcaça são características de grande interesse comercial
aos
frigoríficos, pois determinam o valor do produto adquirido e os custos
operacionais, uma vez que carcaças de distintos pesos requerem mesma
mão-de-obra e tempo de processamento.
A
espessura de gordura subcutânea na carcaça dos
novilhos (Tabela 4) foi similar nos
diferentes espaços individuais
disponíveis,
com valores acima de 3 mm para todos os espaçamentos avaliados. A deposição de gordura nos animais depende,
dentre outros fatores, do peso vivo e da maturidade do animal, da
densidade
energética da dieta e da intensidade do ganho de peso diário (NRC,
1996),
fatores que foram similares entre os novilhos nos diferentes
espaçamentos.
A
gordura que recobre a carcaça funciona como
isolante, evitando perdas por desidratação, sendo que carcaças com
baixo grau
de acabamento de gordura apresentam escurecimento da parte externa dos
músculos
expostos ao resfriamento, conferindo aspecto visual indesejável e
prejudicando
sua comercialização (MÜLLER, 1987). GOTTARDO et al. (2004) relataram
similaridade da característica gordura da carcaça, com escores de 2,2 e
2,4
para animais com espaços para alimentação no cocho de 60 e 80 cm,
respectivamente.
A
quebra ao resfriamento, que reflete a perda de
peso da carcaça durante as 24 horas do processo de resfriamento,
sobretudo na
forma de água, apresentou valor médio de 2,58 kg/ 100 kg de carcaça
fria. Os
valores encontrados estão próximos aos relatos de KUSS et al. (2005) e
MENEZES
et al. (2005) para vacas de descarte abatidas com distintos pesos e
novilhos
abatidos aos dois anos de idade, respectivamente. Ainda na Tabela 4,
verifica-se que a área de Longissimus
dorsi, em cm2 ou por 100 kg de carcaça fria, com valores
de 58,3
cm2 e 26,5 cm2, respectivamente, não foi
influenciada pelo
espaço disponível aos novilhos, relacionado à semelhança no peso de
abate dos
animais. A correlação entre o peso de abate e área de Longissimus
dorsi, em cm2, foi de 0,71 (P<0,0001),
concordando com o relato de RODRÍGUEZ et al. (2001). LOWE et al. (2001)
observaram, durante a realização de dois experimentos em diferentes
anos,
similaridade da área do músculo Longissimus
dorsi , médias de 71,5 cm2, em novilhos mantidos em
diferentes
tipos de instalações. De acordo com LUCHIARI FILHO (2000), a área de Longissimus dorsi representa o grau de
desenvolvimento muscular dos animais e está intimamente relacionada com
os
cortes de maior valor comercial. No
presente estudo, a área de Longissimus
dorsi apresentou correlações positivas e significativas com o peso
(r =
0,76; P<0,0001) e rendimento (r = 0,36; P=0,0132) de traseiro.
A
conformação, característica que expressa a
musculosidade da carcaça, apresentou média de 10,5 pontos (classificada
como
“boa menos”) e foi similar para os diferentes espaços utilizados na
terminação
dos novilhos. Conforme MÜLLER (1987), a conformação tem importância
comercial,
em virtude do melhor aspecto visual apresentado pela carcaça com maior
hipertrofia muscular, preferida por açougues e consumidores. No
presente
estudo, a conformação esteve positivamente correlacionada com a
espessura de
coxão (r = 0,31; P=0,0343), perímetro de braço (r = 0,37; P=0,0087) e
área de Longissimus dorsi (r = 0,31; P=0,0342),
características que também expressam a musculosidade da carcaça.
ANDRIGHETTO et
al. (1999), ao classificarem a carcaça de bezerros, verificaram escores
de
carcaça EUROP maior em animais mantidos em grupos em relação aos
criados
individualmente, fato que os autores associaram à maior hipertrofia dos
músculos envolvidos na locomoção. Do mesmo modo, a maturidade
fisiológica, que
se refere ao grau de ossificação das cartilagens dos processos
espinhosos das
vértebras torácicas e grau de fusão das vértebras sacrais, foi similar
para os
diferentes espaçamentos utilizados, associado à similaridade na idade
dos
novilhos.
O
peso dos cortes comerciais da carcaça não foi
influenciado pelo espaço individual disponível (Tabela 5), reflexo da
similaridade dos pesos de abate dos animais, verificado através das
correlações
entre esse peso com os pesos de dianteiro (0,92), costilhar (0,87) e
traseiro
(0,96), todas com P<0,0001. As
correlações entre peso de abate e rendimentos dos cortes comerciais
foram de
baixa magnitude e não significativas, concordando com os resultados de
MENEZES
et al. (2005). Os rendimentos dos cortes comerciais também foram
similares
entre os diferentes espaçamentos estudados, com rendimento médio de
traseiro de
51,3 kg/ 100 kg de carcaça fria, semelhante ao observado por PACHECO et
al.
(2005) em novilhos terminados em confinamento e abatidos com idade
próxima aos
dois anos. Esses autores citam que o corte traseiro, também denominado
traseiro
especial ou serrote, é o mais valorizado por conter os músculos de
maior valor
comercial, gerando maior receita aos frigoríficos. Para o corte
costilhar ou
ponta-de-agulha, o rendimento médio foi de 11,1 kg/ 100 kg de carcaça
fria.
Esse corte é de maior interesse na culinária regional gaúcha, sendo
bastante
apreciado no preparo de assados (BRONDANI et al., 2004). Os últimos
autores
relataram que o dianteiro, corte comercial onde se localizam os
músculos de
menor valor, principalmente em função da maciez da carne, é destinado à
confecção de carne moída.
As
características métricas da carcaça (Tabela 6)
não foram influenciadas pelo espaçamento, reflexo da semelhança de
idade dos
novilhos e de ganho médio diário de peso (CATTELAM, 2012), que
acarretou em
igualdade na taxa de crescimento dos animais. A compacidade, relação
entre peso
de carcaça fria e comprimento de carcaça, foi similar devido à
igualdade dessas
características dos novilhos em espaçamentos distintos. Os valores
observados
para espessura de coxão e perímetro de braço estão próximos aos
relatados por
PACHECO et al. (2005), assim como as demais medidas são similares às
relatadas
por MENEZES et al. (2005), sendo ambos os estudos sobre novilhos
terminados em
confinamento e abatidos aos dois anos de idade.
O
peso absoluto e a participação dos tecidos na
carcaça (Tabela 7) não foram
influenciados pelo espaço individual,
reflexo da
similaridade das taxas de ganho médio diário de peso, 1,32; 1,41 e 1,47
kg/dia
nos novilhos mantidos sob 2,5; 5,0 e 10 m2, respectivamente
(CATTELAM, 2012). Conforme BERG & BUTERFIELD (1976), o tecido ósseo
apresenta
maiores taxas de crescimento em estágios iniciais de desenvolvimento,
seguido
pelo crescimento muscular, enquanto o tecido adiposo é depositado em
estágios
mais avançados de desenvolvimento.
ANDRIGHETTO
et al. (1999) verificaram participação
de musculo, osso e gordura na carcaça de 67,7; 14,2 e 18,1 kg/ 100 kg
da meia
carcaça, respectivamente, em bezerros criados em baias individuais e
68,0; 13,6
e 18,4 kg/ 100 kg da meia carcaça para bezerros criados em baias
coletivas, sem
diferença entre os tratamentos. LOWE et al. (2001) também relataram
similaridade na composição tecidual da carcaça. Esses autores
verificaram que
os tecidos muscular, adiposo e ósseo corresponderam a 635,6; 209,5 e
147,7 g/kg
de carcaça, respectivamente.
A
relação (músculo + gordura)/osso, que representa
a porção comestível da carcaça, foi semelhante entre os distintos
espaços
individuais utilizados, o que é reflexo da similaridade da participação
desses
tecidos quando avaliados separadamente. O valor médio obtido para essa
variável
no presente estudo – 5,61 – é próximo ao relatado por MENEZES et al.
(2005) e
PACHECO et al. (2005), que observaram relações de 5,95 e 5,68,
respectivamente.
Conforme BERG & BUTERFIELD (1976), dos tecidos que compõem a
carcaça, o
muscular é o mais importante, por ser mais desejado pelo consumidor,
assim a
carcaça deve ter quantidade máxima de músculos, mínima de osso e
adequada de
gordura que varia em função da preferência do consumidor.
O
pH e a temperatura do músculo Longissimus dorsi, após
o abate dos animais
e nos diferentes horários durante o resfriamento das carcaças, não
foram
influenciados pelo espaço individual disponibilizado no período de
terminação
dos novilhos (Tabela 8). O pH final e a
temperatura final, verificados
24 horas
após o abate, apresentaram valores médios de 5,61 e 3,31ºC,
respectivamente. Os
valores estão próximos aos esperados 24 horas post mortem,
com pH em torno de 5,4 a 5,8 (MACH et al., 2008) e
temperatura inferior a 5ºC. Similaridade do pH
do músculo Longissimus dorsi de
bovinos terminados em confinamento com diferentes espaços individuais
foi
relatada por FISHER et al. (1997b), os quais observaram, após 24 horas
de
resfriamento das carcaças, pH de 5,54 e 5,56 na carcaça de novilhas
mantidas
sob espaços individuais de 1,5 e 3,0 m2, respectivamente.
A
transformação do músculo em carne esta
relacionada à queda do pH após o abate, caracterizando o rigor
mortis. Com a morte do animal, através da sangria, o músculo
passa a usar a via anaeróbica para obter energia através da glicólise.
Durante
a glicólise, ocorre a formação de ácido lático que se acumula no
músculo e,
consequentemente, declínio do pH muscular. Assim, o pH post
mortem está relacionado à quantidade de glicogênio muscular no
momento do abate (BENDALL et al., 1973) e irá definir a intensidade de
redução
do pH (FABIANSSON & REUTERSWARD, 1984). Portanto, músculos que
perdem
reservas de glicogênio no pré-abate apresentam suprimento inicial de
energia
pequeno, diminuindo a formação de ácido lático impedindo que o pH
decresça
normalmente (JUDGE et al., 1989).
Assim
como para o músculo Longissimus dorsi, o pH e a
temperatura do músculo Recto femoralis não diferiram
entre os
espaçamentos individuais avaliados (Tabela 9).
Conforme KRUBER et al.
(2004), a
curva de pH sofreria decréscimo importante até a sexta hora de
resfriamento em
câmara após o abate, permanecendo praticamente estável após esse
período, o que
foi observado no presente estudo em relação à queda de pH do músculo Recto femoralis. Quanto à queda na
temperatura, carnes obtidas de carcaças resfriadas rapidamente no
pré-rigor
tornam-se mais duras (BENDALL, 1973), por ocorrer encurtamento
provocado pelo
resfriamento, chamado encurtamento pelo frio ou cold shortening. A ação conjunta da temperatura e do
pH no estabelecimento do rigor mortis
pode ser considerada o fator decisivo do grau de encurtamento pelo frio
(HANNULA & PUOLANNE, 2004).
Nos
dois casos extremos, declínio extremamente
lento ou extremamente rápido do pH, o estabelecimento do rigor
mortis é rápido. Com o declínio lento do pH, o
estabelecimento do rigor mortis é
rápido devido ao baixo suprimento inicial de energia. No declínio
rápido do pH,
o rigor é rápido porque o suprimento de energia é rapidamente
metabolizado,
caso contrário o declínio excessivo do pH pode inibir reações químicas
importantes no metabolismo energético (ALVES et al., 2005). Nos
músculos onde
há declínio de pH considerado normal, o estado rigor se desenvolve
lentamente
(CANHOS & DIAS, 1985).
A
coloração da carne (Tabela 10) não foi
influenciada pelo espaçamento individual, classificada como “vermelha
levemente
escura” para novilhos terminados com 2,5 ou 5,0 m2 e como
“vermelha”
para animais com disponibilidade individual de 10 m2. A
semelhança
na cor da carne está associada à similaridade nos valores de pH do músculo Longissimus dorsi durante
o resfriamento das carcaças. Neste
estudo, o pH após 24 horas de resfriamento apresentou correlação
negativa com a
coloração da carne (r = -0,41; P=0,0034). Resultado similar é descrito
por
COSTA et al. (2007), que observaram correlação negativa e significativa
da cor
com o pH da carne, sugerindo que cuidados no manejo pré-abate que
proporcionem
baixo pH final diminuem a incidência de cortes escuros.
O
marmoreio, representado pelo tecido adiposo
depositado na fibra muscular, foi similar entre os distintos espaços
utilizados, sendo os valores obtidos baixos, classificando a deposição
dessa
gordura como “traços”. Para BERG & BUTERFILED (1976) o acúmulo de
gordura
na carcaça segue certa ordem, sendo a gordura intramuscular a última a
ser
depositada. A primeira gordura depositada é a intermuscular, maior
fração de
gordura da carcaça, seguida da subcutânea e por último a gordura
intramuscular
(PAULINO et al., 2009). Esse autor descreve que a deposição do
marmoreio ocorre
quando o animal apresenta altas taxas de ganho de peso, ou avança em
idade ou
peso corporal. Conforme COSTA et al. (2002b), o marmoreio está
relacionado a
características sensoriais da carne percebidas e apreciadas pelo
consumidor.
Com bezerros mantidos em baias individuais, com 0,84 m2, ou
coletivas com três animais e 1,5 m2/ animal, ANDRIGHETTO et
al.
(1999) verificaram maior teor de gordura intramuscular, 6,85 contra
3,92 g/ 100
g de matéria seca de carne, nos animais das baias individuais.
As
variáveis que expressam a perda de líquidos,
evaporações e perdas durante o descongelamento e cocção da carne, não
sofreram
influência do espaço individual disponível. A perda total por
evaporação está
acima dos valores registrados por BRONDANI et al. (2006), que
verificaram 10,5
g/ 100 g de carne em novilhos das raças Aberdeen Angus e Hereford,
alimentados
com diferentes níveis de energia, abatidos aos 13-14 meses de idade.
Quanto às
perdas ao descongelar e durante a cocção, os valores obtidos estão
próximos aos
relatados por CATTELAM et al. (2009) para novilhos e vacas de descarte
terminados em confinamento. LOWE et al. (2001) também encontraram
semelhança
nas perdas à cocção da carne de novilhos terminados em diferentes tipos
de
instalações, porém com valores inferiores aos do presente estudo.
Entretanto,
ANDRIGHETTO et al. (1999) verificaram maior quebra durante a cocção da
carne de
bezerros criados em baias individuais em relação a animais mantidos em
baias
coletivas com três animais, com quebras de 32,0 e 29,9 g/ kg,
respectivamente.
A
maciez da carne, avaliada pelo painel de
degustadores, foi similar entre os distintos espaçamentos estudados,
influenciada pela similaridade dos valores de pH durante o rigor
mortis e das características que expressam a participação de
gordura na carcaça, como espessura de gordura subcutânea, marmoreio e
percentual de tecido adiposo na carcaça. Segundo DRANSFIELD (1994), a
intensidade de declínio do pH é um dos fatores mais importantes no
processo de
amaciamento da carne pós-abate, pois altera a estrutura do músculo e
estimula a
liberação de cálcio e a atividade das enzimas cálcio-dependentes. WHITE
et al.
(2006) destacaram o resfriamento e a queda do pH muscular, dentre os
fatores post mortem que afetam a maciez da
carne, visto que o frio interfere nos processos bioquímicos
responsáveis pela
transformação do músculo em carne. BOWLING et al. (1977)
enfatizaram que o acúmulo de gordura na
carcaça é fator preponderante na qualidade e maciez da carne bovina.
Segundo
MÜLLER (1987), o marmoreio contribui para a melhora na maciez da carne.
Conforme PAZ & LUCHIARI FILHO (2000), dentre as características da
carne, a
maciez assume posição de destaque, sendo considerada a característica
organoléptica de maior influência na aceitação da carne pelos
consumidores.
A
força de cisalhamento, avaliação mecânica da
maciez da carne realizada pelo aparelho Warner Blatzer-Shear,
apresentou valor
médio de 5,06 kgF/cm3. Para SHACKELFORD et al. (2001),
valores
aceitáveis de maciez caracterizam-se por força de cisalhamento inferior
a 4,6
kgF/cm3, enquanto para LAWRIE (2005), valores acima de 5,00
kgF/cm3
caracterizam a carne dura, sendo que no presente estudo, apenas a carne
oriunda
de novilhos mantidos com 10 m2 apresentou valores
toleráveis de
acordo com esses índices. Segundo LAWRIE (2005), carcaças com
deficiente grau
de acabamento apresentam maior perda ao resfriamento, maior perda de
líquidos,
podendo ocorrer encurtamento das fibras musculares pelo frio,
denominado cold shortening, o que prejudica a
maciez da carne. Conforme HERRING et al. (1965), esse defeito cárnico
afeta
negativamente a maciez, pois, após o cozimento, essa carne apresenta-se
dura.
Para
LUCHIARI FILHO (2000), o mínimo de espessura
de gordura subcutânea na altura da 12ª costela de 2 a 2,5 mm a cada 100
kg de
carcaça é desejável para evitar a
ocorrência do cold shortening. Neste
estudo, conforme consta na Tabela 3, a média da espessura
de gordura
por 100 kg
de carcaça fria foi de 1,50, abaixo do preconizado, o que auxilia em
explicar o
elevado valor da força de cisalhamento. GOTTARDO et al. (2004) não
verificaram
diferença na maciez da carne, avaliada através do Shear, com valor
médio de
4,51 kgF/cm3. Ao
avaliar a força de cisalhamento do músculo Longissimus
thoracis, ANDRIGHETTO et al. (1999) observaram melhor maciez da
carne de
animais com maior espaço para locomoção. Esses autores trazem relatos
de
pesquisas que avaliaram carnes de suínos e ovinos, porém sem explicar
claramente como a locomoção melhora a maciez carne, ressaltando como
principais
fatores a hipertrofia muscular e as propriedades do colágeno.
As
carcaças apresentaram, em média, 2,8 lesões,
sendo que, a cada 100 dessas, 57 foram classificadas como lesões
recentes
(Tabela 11), pois apresentavam
aspecto hemorrágico, o que indica manejo
inadequado, principalmente, durante os procedimentos de embarque,
transporte e
durante o abate. Do mesmo modo, ANDRADE et al. (2009) verificaram que a
maioria
das lesões presentes na carcaça de bovinos eram decorrentes das últimas
24
horas antes do abate. A elevada participação de lesões antigas, 43 de
cada 100
lesões, está relacionada ao número de pesagens durante o período
experimental,
as quais foram realizadas em intervalos de 21 dias durante todo o
período
experimental. A cada 100 lesões, 93,6 foram classificadas como lesões
de grau
I, acima dos valores citados por CIVEIRA et al. (2006), que observaram
lesões
de grau II, que atingem também o tecido muscular, em 38,8 de cada 100
lesões
encontradas na carcaça, contra 6,5 de cada 100 lesões no presente
estudo.
Quanto
ao local de ocorrência das lesões, a cada
100 lesões observadas 42,6; 24,0 e 33,4 ocorreram nos cortes comerciais
dianteiro, costilhar e traseiro, respectivamente. CIVEIRA et al. (2006)
observaram que lesões nos quartos dianteiro e traseiro somados
correspondiam,
em média, a 51 de 100 lesões encontradas na carcaça de machos e fêmeas
abatidos
em frigoríficos do Rio Grande do Sul. A extensão das lesões na carcaça
influencia sua qualidade, visto que as áreas afetadas são retiradas,
resultando
em perda econômica, além de ser indicativo de problemas com o bem-estar
animal
(JARVIS & COCKRAM, 1994).
Com
a crescente demanda por produtos de origem
animal, o aumento da produção animal levanta questões éticas, incluindo
sustentabilidade ambiental e acesso seguro aos alimentos, que devem ser
considerados junto com a crescente preocupação com bem-estar animal
(FRASER et
al., 2009). Com o aumento da demanda por produtos diferenciados quanto
ao
bem-estar, aumentam as informações, a consciência e a percepção do
público em
relação à produção animal (BELLAVER & BELLAVER, 1999). O vínculo
entre
bem-estar animal e mercado ocorre principalmente em países
desenvolvidos
(MENCH, 2008). Assim, a adoção de sistemas que minimizem o estresse é
fator
relevante na produção de bovinos de corte, a fim de promover a melhoria
nos
aspectos qualitativos da carne e maior aceitabilidade por parte dos
consumidores.
CONCLUSÕES
Diferentes
disponibilidades de espaços individuais
(2,5; 5,0 ou 10 m2) para novilhos em confinamento, mantidos
em baias
coletivas e abatidos aos 24 meses de idade, não influenciam as
características
de carcaça e a qualidade da carne.
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