Vibrio spp. ISOLADOS DE CAMARÃO E ÁGUA DE CULTIVO DE FAZENDA MARINHA EM PERNAMBUCO
Emiko Shinozaki Mendes,1 Simone Francisca Lira,2 Lílian Maria Nery de Barros Góes,3
Joanna Dourado,4 Paulo de Paula Mendes5 e Carlos André Bezerra Alves4
1. Professora adjunto, Laboratório de Sanidade de Animais
Aquáticos, Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE,
E-mail: esmendes@dmv.ufrpe.br
2. Graduação em Medicina Veterinária, UFRPE
3. Pós-Graduação em Ciência Veterinária (Doutorado), UFRPE
4. Pós-Graduação em Ciência Veterinária (Mestrado), UFRPE
5. Professor associado, Departamento de Pesca e Aquicultura, UFRPE.
RESUMO
Coletaram-se,
mensalmente, amostras de água e camarão, durante todas as
fases de cultivo, em três fazendas situadas no litoral de
Pernambuco, no período de estio e chuvoso, para a
quantificação e identificação de spp.,
totalizando noventa amostras. As contagens foram correlacionadas,
através de modelos matemáticos (P<0,05), com as
variáveis estação do ano, parâmetros
bioquímicos da água, exame a fresco, exame
histopatológico, presença de toxinas e técnicas de
manejo empregadas. Apenas a variável tempo de cultivo interferiu
na contagem total de VibrioVibrio spp. em todas as amostras. Obtiveram-se contagens que variaram de 0,1x 10 a 6,2 x 103 UFC/mL na água, de 7,0 x 10 a 8,2 x 105 UFC/g na pós-larva, de 1,1 x 10 a 1,1 x 105 UFC/mL na hemolinfa e de 2,5 x 102 a 1,1 x 106UFC/g no hepatopâncreas. Identificaram-se as espécies V. mediterranei (1%), V. mimicus (1,25%), V. fischeri (4,25%), V. cincinnatiensis (4,25%), V. metschnikovii (4,25%), (5,5%), V. proteolyticusV. harveyi (5,5%), V. hollisae (5,5%), V. carchariae (7%), V. vulnificus (8,5%), V. damsela (8,5%), V. parahaemolyticus (13%), V. fluvialis (15%), V. anguillarum
(16,5%). Conclui-se que a carga microbiana aumenta proporcionalmente
com tempo de cultivo, em virtude do incremento de matéria
orgânica, o que pode tornar os animais suscetíveis
à infecção por víbrios.
PALAVRAS-CHAVES: Água de cultivo, Vibrio spp., camarão e Vibrionaceae.
ABSTRACT
Vibrio spp. ISOLATED FROM SHRIMPS AND WATER FROM A MARINE FARM IN PERNAMBUCO, BRAZIL
Water and shrimp
samples were collected monthly, during all cultivation phases, in three
located farms at Pernambuco coast, on winter and summer, for Vibrio
spp. quantification and identification. The counting’s were
correlated, through mathematical models (P<0.05), with the variables
season, water biochemical parameters, wet mount, histopathology exam,
toxins presence and handling techniques used. Just the variable
cultivation time interfered at total counting of Vibrio spp. in all samples were obtained countings that varied 0.1x 10 to 6.2 x 103 UFC/mL in water, of 7.0 x 10 to 8.2 x 105 UFC/g in powder-larva, of 1.1 x 10 to 1.1 x 105 UFC/mL in hemolymph and of 2.5 x 102 to 1.1 x 106UFC/g in hepatopancreas. The species V. mediterranei (1%), V. mimicus (1.25%), V. fischeri (4.25%), V. cincinnatiensis (4.25%), V. metschnikovii (4.25%), (5.5%), V. proteolyticusV. harveyi (5.5%), V. hollisae (5.5%), V. carchariae (7%), V. vulnificus (8.5%), V. damsela (8.5%), V. parahaemolyticus (13%), V. fluvialis (15%), V. anguillarum
(16.5%) were identified. It is concluded that the Vibrionaceae load
increases proportionally with cultivation time, due to the organic
matter increment, what can turn the susceptible animals to the
infection for vibrios.
KEY WORD: Vibrionaceae, Vibrio spp., shrimp and pond water.
INTRODUÇÃO
A carcinicultura
é uma atividade da aquicultura na qual o Brasil se destaca
mundialmente, como um dos mais promissores produtores de
camarão-marinho (ROCHA & RODRIGUES, 2003). Todavia, com a
expansão dos cultivos cresceram também os problemas com a
produção, fato relatado por MENDES et al.
(2005), quando alertaram que as altas densidades de estocagem
praticadas podem comprometer os cultivos e exigem cuidados especiais,
principalmente no que se refere à sanidade dos animais. ROMERO et al.
(2003) reforçaram que a intensificação da
produção aquicola pode ter como consequência o
desenvolvimento de problemas ecológicos e patológicos.
Nesse contexto, um
manejo sanitário eficiente é de extrema
importância, devendo ser realizado se conhecendo e considerando a
inter-relação existente entre o hospedeiro, o ambiente e
o patógeno, estando estes três componentes dependentes
entre si. De acordo com GALLI (2004), qualquer alteração
no equilíbrio a favor de algum deles pode determinar o
aparecimento de uma enfermidade, ou seja, variações
ambientais podem afetar tanto o hospedeiro quanto o patógeno.
Por isso, é importante o conhecimento do estado de saúde
dos animais na área de cultivo, baseado em
inspeções e padronização de procedimentos
de amostragem, seguidas de diagnóstico laboratorial de acordo
com as normas internacionais (MACIEL et al., 2003).
As doenças
que acometem os camarões-marinhos cultivados são de
etiologias diversas, podendo ser ocasionadas tanto por agentes
biológicos como por não biológicos (COUCH, 1978;
BELL & LIGHTNER, 1987; JOHNSON, 1989; LIGHTNER, 1997). Dentre as
doenças causadas por agentes biológicos, as mais comuns
são as ocasionadas por microrganismos oportunistas encontrados
na água e sedimento, podendo também fazer parte da
microbiota intestinal de muitas espécies aquáticas,
inclusive do camarão. Dos microrganismos predominantes no
intestino de camarões-marinhos destacam-se os do gênero Vibrio (LIGHTNER, 1983; THOMPSON et al., 2004; KUMAR et al., 2007).
Doenças causadas por Vibrio
spp. têm muita importância para a carcinicultura, porque se
trata de bactérias que são capazes de afetar todos os
estádios de vida do camarão e em larvicultura pode
significar 100% de perda dos animais afetados. Além dos
prejuízos ocasionados à exploração de
camarões em cativeiro, a questão de algumas
espécies de víbrios serem agentes zoonóticos,
fontes de infecções alimentares para o homem quando o
alimento é ingerido cru ou mal cozido, é de extrema
importância para saúde pública. Historicamente, a
vibriose em camarões cultivados está associada com
fatores adicionais que predispõem o animal à
infecção. Os principais fatores incluem manejo,
ferimentos na cutícula e carapaça,
infecções prévias por outros patógenos
incluindo vírus, rickettsia, Fusarium spp, Gregarina
spp., danos do tecido intestinal por algas tóxicas,
deficiência de vitamina C, estresse fisiológico
químico ou físico (PEREIRA, 2002).
De acordo com JAYASREE et al. (2006), os víbrios podem causar cinco tipos de enfermidades em camarão Penaeus monodon
(necrose da cauda, doença da carapaça, doença
vermelha, síndrome da carapaça solta e doença do
intestino branco), que estão principalmente associadas com seis
espécies de Vibrio: V. harveyi, V. parahaemolyticus, V. alginolyticus, V. anguillarum, V. vulnificus e V. splendidus.
A
preocupação com as enfermidades, incluindo a vibriose,
tem sido uma constante para os produtores, devido às muitas
questões não esclarecidas a respeito da etiologia de
algumas patologias. Além disso, é importante destacar que
essa atividade é relativamente recente, quando comparada aos
demais setores da aquicultura. A criação de
camarão é uma atividade bastante exigente, porém
as práticas de manejo adotadas são extremamente
variáveis entre as propriedades, acarretando, muitas vezes,
manejos inadequados.
Dada a
importância da vibriose, objetivou-se avaliar a qualidade
microbiológica da água e do camarão provenientes
de carciniculturas localizadas no litoral de estado de Pernambuco, no
tocante à contagem e identificação de Vibrio spp.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi
realizado no período de outubro de 2005 a novembro de 2006.
Coletaram-se as amostras em três fazendas comerciais (A, B e C)
do litoral norte e sul do estado de Pernambuco. Foram escolhidos
aleatoriamente dois viveiros em cada propriedade para o acompanhamento
de dois ciclos de produções seguidos. Realizaram-se as
análises laboratoriais no Laboratório de Sanidade de
Animais Aquáticos (LASAq) do Departamento de Medicina
Veterinária (DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE).
Coletaram-se
trinta amostras, sendo quinze de água e quinze de camarão
de dois viveiros em cada fazenda, totalizando noventa amostras, sendo a
primeira coleta realizada no dia do povoamento do viveiro
(transferência dos camarões do berçário para
o viveiro), seguida de coletas mensais, até o término do
cultivo em viveiro de terra (média de 90 a 120 dias), nos
períodos de estio e de chuva. As amostras de água foram
envasadas (em recipientes esterilizados) e acondicionadas em caixas
isotérmicas e os camarões foram transportados vivos em
sacos de polietileno apropriados contendo água do viveiro sob
aeração constante, sendo imediatamente transportados para
o LASAq.
Isolaram-se os microrganismos do gênero Vibrio
a partir de amostras de água, camarão (até 3ª
coleta), hepatopâncreas e hemolinfa (a partir da 4ª coleta).
Utilizou-se o método de plaqueamento de superfície (SILVA
et al., 2000) para as amostras
de água e hemolinfa, que foram diluídas, e as de
camarão e hepatopâncreas foram trituradas e
diluídas, em tubos contendo água peptonada alcalina.
Em seguida, transferiram-se alíquotas de 0,1 mL para o placas de
Petri contendo ágar tiossulfato citrato sais de bile (TCBS),
sendo invertidas e incubadas a 35-37°C por 18-24 horas.
Foram contadas e
repicadas colônias características no ágar TCBS,
para o Tryptone Soya Agar (TSA) suplementado com 2,0% de cloreto de
sódio para estoque dos isolados. A seguir, realizou-se o estudo
do perfil bioquímico das colônias: halofilismo a 0, 1, 3,
6, 8 e 10% de NaCl, produção de citocromo-oxidase,
produção de acetoína em meio de Voges Proskauer
(VP), descarboxilação de lisina-ornitina e
dehidrolação de arginina, produção de
urease em meio caldo ureia de Christensen, produção da
enzima gelatinase e produção de ácido a partir de
sacarose, celobiose, lactose, arabinose, manose e manitol conforme a
orientação de FDA (2001) e BULLER (2004).
Para as
informações obtidas e análises realizadas,
empregaram-se as técnicas de modelagem matemáticas.
Portanto, o modelo linear foi proposto, inicialmente, de acordo com a
seguinte formulação:
Prob = β0 + β1 CVcam + β2 CVa + β3 TC + β4 Faz + β5 Ma + ei;
em que: Prob
– probabilidade de ocorrência da enfermidade (vibriose
sistêmica ou cuticular); β0 e β5 –
parâmetros do modelo; CVcam – carga de víbrio no
camarão; CVa – carga de víbrio na água; TC
– tempo de cultivo; Faz – fazenda; Ma – manejo; ei
– erro associado a cada observação.
Para estimar os
parâmetros dos referidos modelos, foram utilizadas as
técnicas matriciais, e para selecionar as variáveis
significativas (P < 0,05) incluídas no modelo, o processo de
Stepwise Forward. Associado ao processo de Stepwise, empregou-se o
transformador “λ” (BOX & COX, 1964), modelo
simplificado, para minimizar a variância experimental. Para a
realização dos cálculos, utilizou-se o pacote
Estatístico SysEapro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em animais de todas as fazendas foi constatada a presença de bactérias do gênero Vibrio, tanto no período de estio como no de chuva, conforme apresentado na Tabela 1 e Tabela 2. Na fazenda C, no período de estio, detectaram-se as menores contagens para Vibrio
spp. na água do viveiro 1 (V1), cujo valor máximo foi de
4,6 x 10 UFC/mL, sendo o baixo índice mantido no período
das chuvas. No entanto, o número de víbrios nos
camarões foi maior nos da fazenda C, obtendo-se 2,7 x 105 UFC/g no V1 no período de estio e de 8,2 x 105 UFC/g no período das chuvas no V2.
É
importante atentar para a relação entre a carga
bacteriana detectada na água e no camarão, pois
não necessariamente a menor contagem de Vibrio
spp. encontrada em água estará relacionada com a menor
contagem encontrada nos animais, pelo fato de a água ser
um elemento constantemente renovável no cultivo, o que
não ocorre com os animais. Ao analisar microbiologicamente
ostras consumidas na grande Recife, MENDES (2001) relatou que
não existe uma real simultaneidade entre a amostra de
água e a de bivalve, pois a massa d’água no momento
da coleta não corresponde às que sucederam antes.
Resultados semelhantes também foram obtidos por CERUTTI &
BARBOSA (1991), ao pesquisarem a flora bacteriana heterotrófica
em ostras (Crassostera rhizophorae) e águas da Bahia Norte, Ilha de Santa Catarina.
Em relação à contagem de Vibrio spp. no hepatopâncreas dos camarões, foram observados os maiores valores nos animais do V2 da fazenda A (1,1 x 106
UFC/g), no período de estio, sendo no período das
chuvas também detectada a maior contaminação nos
camarões da fazenda A, no V1 (1,6 x 105 UFC/g).
Nas fazendas A e
B, obtiveram-se as maiores contagens de Vibrio spp. na hemolinfa dos
camarões oriundos do V2 da fazenda A (1,0 x 105 UFC/mL) e do V2 da fazenda B (1,2 x 103 UFC/mL), no período de estio e chuvoso, respectivamente. Ressalta-se que MENDES et al.
(2005) alertaram que a hemolinfa deve ser estéril, sendo a
presença de bactérias indício de
infecção sistêmica.
Ressalta-se ainda
que as medidas contra a vibriose são tomadas, na maioria das
vezes, como respostas emergenciais, levando ao uso indiscriminado de
antibióticos, dificultando a análise e o
diagnóstico das doenças, o que ocasiona o desenvolvimento
de bactérias resistentes. Os víbrios são
patogênicos aos seres humanos, acarretando variados
distúrbios na saúde, que podem ir desde uma diarreia
autolimitante a casos de óbito por septice (RIBEIRO, 2005).
Na análise
da correlação da variável dependente
ocorrência de enfermidade (vibriose sistêmica ou cuticular)
com as variáveis independentes fazendas (A, B e C), tempo de
cultivo, viveiro (1 e 2), estação do ano, quantidade de
víbrio na água e quantidade de víbrio no
camarão, obteve-se a seguinte função
matemática
ENF = 0,2617 + 0,0098tc
R2 = 0,2422,
em que: ENF – ocorrência da enfermidade; tc – tempo de cultivo.
Com base no valor
encontrado para o índice determinístico, que foi de R2 =
0,2422, pode-se afirmar que a variável resposta é
explicada em 24,22% pela variável tempo de cultivo (tc).
É importante atentar que o presente experimento foi realizado a
campo e que não houve, por parte dos pesquisadores, controle de
variáveis como manejo e variações
climáticas. Por isso, apesar de aparentemente pouco expressivo,
o índice determinístico é estatisticamente
significativo.
O coeficiente da
variável tempo de cultivo positivo indica que, quanto maior o
tempo de cultivo, maior é a probabilidade de ocorrer enfermidade
nos animais. O fato de não terem sido inseridas, no modelo, as
variáveis carga de víbrio na água e carga de
víbrio no camarão implica a afirmação de
que a ocorrência da enfermidade é independente da carga
microbiana. Provavelmente, apenas a presença da bactéria
no organismo do animal, provocando a infecção sem
sintomas aparentes, torna o animal vulnerável a adoecer. A
enfermidade (sistêmica e/ou cuticular) poderá ocorrer
quando as condições de cultivo se tornarem
desconfortáveis para o animal, como se espera que
aconteça com o aumento do tempo de cultivo. As variáveis
manejo e fazenda também não foram significativas.
Em relação à identificação de víbrios, na
fazenda A, no período de estio, foram identificadas as seguintes espécies: V.
cincinnatiensis (1,25%), V. hollisae (1,25%), V. carchariae (1,25%),
V. anguillarum (7%) e V. fluvialis (7%). No período chuvoso foram
identificados os V. parahaemolyticus (1,25%), V. proteolyticus (1,25%),
V. vulnifcus (2,5%), V. harveyi (2,5%), V. hollisae (2,5%),
V. damsela (3,75%) e V. fluvialis (7%) (Tabela 3).
Na
fazenda B no período de estio, foram encontrados V. harveyi (1,25%), V.
mediterranei (1,25%), V. cincinnatiensis (1,25%), V. damsela (1,25%),
V. fischeri (1,25%), V. proteolyticus (1,25%), V.
parahaemolyticus (2,5%), V. vulnificus (2,5%), V. carchariae
(3,75%) e V. anguillarum (3,75%). No período chuvoso
evidenciou-se apenas a presença dos V. harveyi (1,25%), V. fluvialis (1,25%),
V. damsela (1,25%), V. fisheri (1,25%), V. anguillarum (1,25%),
V. vulnificus (2,5%) e V. parahaemolyticus (5%), Não se
detectaram V. cincinnatiensis, V. proteolyticus, V. carchariae e V.
mediterranei.
Com
relação à fazenda C, foram identificados V. carchariae (1,25%), V.
mimicus (1,25%), V. proteolyticus (1,25%), V. ficheri (1,25%),
V. vulnificus (1,25%), V. anguillarum (3,75%) e V. metschnikovii (3,75%).
Contudo, no período chuvoso, além do V. proteolyticus (1,25%), foi
evidenciada a presença de V. cincinnatiensis (1,25%), V. hollisae (1,25%),
V. damsela (1,25%) e V. parahaemolyticus
(2,5%). É importante ressaltar que, ao se comparar a diversidade de Vibrio
spp., foi observada maior diversidade de espécies no período de estio para as fazendas B e C, e no período
chuvoso para a fazenda A (Tabela 3).
Deve-se ressaltar que a variabilidade de espécies e de carga de
microrganismos dificulta maiores discussões a respeito do
assunto, uma vez que poucos estudos têm retratado a diversidade
de vibrionáceas em água e camarões de cultivo no
nordeste brasileiro, como os de ALVES (2007) e SILVA (2007), o que
demonstra a necessidade de maiores pesquisas sobre o assunto na
área.
MENDES et al. (2005) ressaltaram que Vibrio anguillarum, V. alginolyticus, V. cholerae, V. damsela, V. harveyi, V. splendidus, V. vulnificus e V. parahaemolyticus
são as bactérias marinhas identificadas em epidemias
bacterianas de camarão-marinho, ocasionando
infecções entéricas, sistêmicas ou externas.
Também ALVES (2007) detectou, em águas de viveiro e em
camarões marinhos cultivados no litoral norte de Pernambuco,
espécies de víbrios ambientais (V. carchariae, V. mimicus, V. proteolyticus, V. metschnikovii, V. halioticoli e V. mediterranei) e patogênicas (Vibrio anguillarum e V. vulnificus) para peneídeos.
SILVA (2007) identificou V. damsela (5%), V. anguillarum (20%), V. mediterranei (5%), V. proteolyticus (3,3%), V. fluvialis (15%), V. halioticoli (3,3%), V. harveyi (3,3%), V. carchariae (8%), V. alginolyticus (3,3%), V. fischeri (5%), V. hollisae (3,3%), V. vulnificus (8,3%), V. furnissii (1,7%), V. parahaemolyticus (5%) e V. cincinnatiensis
(5%), em amostras de água e camarões cultivados no
litoral sul de Pernambuco. Detectou ainda a tendência ao aumento
na carga de vibrionáceas em função do tempo de
cultivo para todas as amostras analisadas. Destaca-se que, no presente
estudo, apenas o V. furnissii não foi identificado.
JAYASREE et al. (2008) isolaram Vibrio harveyi, V. alginolyticus, V. parahaemolyticus, V. anguillarum, V. splendidus e V. vulnificus da hemolinfa de camarão, com a predominância do Vibrio harveyi
em todas as amostras. Histopatologicamente verificaram lesões
típicas de septicemia bacteriana, com a invasão de
bactérias na hemolinfa, formação de granulomas no
hepatopâncreas e extensiva proliferação no tecido
conectivo e necrose do hepatopâncreas, brânquias e tecido
ovariano.
A detecção de bactérias de importância para a saúde pública como Vibrio vulnificus e V. parahaemolyticus
em todas as fazendas endossa a necessidade de maior controle dos
cultivos, assim como indica risco para os arraçoadores, pois
estes entram em contato direto com a água dos viveiros, se
expondo, dessa forma, ao perigo. Quanto aos consumidores, não
haveria risco evidente, uma vez que os camarões, após a
despesca, são submetidos à imersão em
solução com metabissulfito de sódio, conservante
que atua como antioxidante, diminuindo expressivamente a carga
bacteriana, conforme relatado por PYLE & KOBURGER (1981) e
GÓES et al. (2006).
Além do uso do conservante, o contato com água clorada a
5 ppm nos estabelecimentos de beneficiamento, aliado aos rígidos
controles quanto à contaminação bacteriana do
produto na indústria, asseguram a qualidade do produto final,
respaldando a segurança para os consumidores. Do mesmo modo, o
fato de o camarão ser consumido cozido elimina o perigo.
CONCLUSÕES
Após avaliação da água de viveiro e de camarões Litopenaeus vannamei cultivados nas fazendas A, B e C do estado de Pernambuco, concluiu-se que:
Quanto menor o tempo de cultivo, menor a possibilidade de
ocorrência da enfermidade nos camarões, que pode ser em
consequência de menor quantidade de matéria
orgânica;
Técnicas de manejo não interferiram na carga de
víbrios, tendo sido verificadas contagens significativas na
água de cultivo e nos animais procedentes de todas as fazendas;
Elevadas contagens podem ser observadas na água de cultivo e nos
animais, tanto no período de estio como no das chuvas, com
alteração da diversidade das espécies;
O número de víbrios nas pós-larvas, hemolinfa e
hepatopâncreas são indicativos de que os animais se
encontram infectados, mas não necessariamente enfermos, pois
não foi visualizada lesão característica no exame
a fresco;
Todos os animais das fazendas A e B são suscetíveis a
vibriose, por apresentarem víbrios na hemolinfa e no
hepatopâncreas, sendo necessárias apenas
situações de estresse para o aparecimento dos sintomas;
A presença de espécies de importância para a
saúde pública é indicativa de risco para os
tratadores, que entram em contato direto com a água dos
viveiros. No entanto, não há risco eminente para os
consumidores, uma vez que os camarões são submetidos
à imersão em solução conservante antes de
serem enviados para a indústria, onde são colocados em
contato com água clorada, além do fato de serem
consumidos cozidos.
AGRADECIMENTO
À Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP/RECARCINE-Enfermidades), pelo auxílio financeiro, e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsas de
Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI) e de
Iniciação Tecnológica e Industrial (ITI).
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Protocolado em: 5 nov. 2007. Aceito em: 5 dez. 2008.