DOI: 10.5216/cab.v14i4.19491
PRODUÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E
AVALIAÇÃO DE ENZIMAS FIBROLÍTICAS NA DIGESTIBILIDADE DA FORRAGEM DE
MILHO
Cristine dos Santos Settimi Cysneiros1, Reginaldo Nassar
Ferreira2, Michelly Ayres Oliveira3, Adriano
Oliveira Favoretto3, Emmanuel Arnhold4, Cirano José
Ulhoa2
1Colaboradora Doutora do Instituto de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil -
cysneiroscristine@hotmail.com
2Professores Doutores do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil
3Graduandos da Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil
4Professor Doutor da Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil
RESUMO
Os objetivos deste trabalho foram os de
produzir e caracterizar um complexo enzimático (CE) de Humicola
grisea e avaliar seu efeito na digestibilidade verdadeira da
matéria seca de forragem de milho. Observou-se que o fungo produziu as
enzimas celulases, xilanase e b-glicosidase. A caracterização bioquímica
mostrou que a celulase e xilanase produzidas apresentaram maior atividade
a 50°C. A temperatura ótima de β-glicosidase ficou entre 50 e 60°C. O pH
ótimo de celulase e xilanase foi 6,0. Quanto à β-glicosidase, a enzima
revelou maior atividade em pH 6,5. A celulase permaneceu estável após
incubação por 60 minutos, a 39°C. As xilanase e β-glicosidase produzidas
mantiveram 99,2 e 88,2 % de sua atividade, a 50°C, durante 240 minutos,
respectivamente. Os tratamentos foram: controle (10 mL de água
esterilizada); nível 1 (2,5 mL do CE); nível 2 (5,0 mL do CE) e nível 3
(10 mL do CE). No ensaio de digestibilidade, verificou-se interação entre
níveis enzimáticos e períodos de incubação no rúmen. Para 12; 24; 48 e 96
horas de incubação, 10 mL do CE aumentou a digestibilidade em 10,58;
12,52; 9,05 e 6,81%, em relação ao controle. O fungo Humicolagrisea
é produtor de enzimas de interesse na alimentação de ruminantes.
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PALAVRAS-CHAVE: Ankom; bovino; celulase; fungo; xilanase..
PRODUCTION, CHARACTERIZATION AND EVALUATION
OF FIBROLYTIC ENZYMES ON DIGESTIBILITY OF FORAGE MAIZE
ABSTRACT
The objectives of this research were to
produce and characterize an enzyme complex (EC), using the fungus Humicola
grisea, and evaluate its effect on true digestibility of forage
maize dry matter. We observed that the fungus produced cellulase,
b-glucosidase and xylanase enzymes. The cellulase and xylanase activities
were high at the temperature of 50° C. The optimum temperature of
β-glucosidase was between 50 and 60° C. The optimum pH of cellulase and
xylanase enzyme was 6.0. As for β-glucosidase, the enzyme showed higher
activity at pH 6.5. Cellulase remained stable for 60 minutes at 39° C.
Xylanase and β-glucosidase maintained 99.2 and 88.2% of their activity at
50° C for 240 minutes, respectively. The treatments were as follows:
control (10 mL of sterile water), level 1 (2.5 mL EC), level 2 (5.0 mL EC)
and level 3 (10 mL EC). In the digestibility experiment, there was
interaction between enzyme levels and time of incubation in the rumen. The
addition of 10 mL of the fibrolytic enzymes improved the digestibility at
10.58; 12.52; 9.05 and 6.81% compared to control for 12; 24; 48 and 96
hours of incubation, respectively. The fungus Humicola
grisea is an enzyme producer that is important in ruminant feed.
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KEYWORDS: Ankom; bovine; cellulose; fungi; xylanase.
INTRODUÇÃO
Os ruminantes possuem um ecossistema
diverso e sofisticadode utilização dos carboidratos fibrosos da parede
celular dos vegetais, graças à relação simbiótica com a população
microbiana diversificada do rúmen.
Ainda que os microrganismos do rúmen consigam digerir celulose e outros
carboidratos fibrosos, fatores relacionados à estrutura e composição da
planta, como as interações físico-químicas entre a matriz de hemicelulose
e lignina, e os aspectos relacionados ao animal, como mastigação,
salivação e pH ruminal, podem limitar a digestão do alimento no rúmen
(MARTINS et al., 2006), o que leva à necessidade de novos programas
biotecnológicos de alimentação animal para maximizar a utilização dos
nutrientes.
O uso de enzimas fibrolíticas, produzidas por culturas de fungos
filamentosos, na alimentação de ruminantes tem mostrado resultados
satisfatórios, com aumento na digestibilidade da matéria seca e da fibra
em detergente neutro, na produção de leite e no teor de gordura do leite
(SCHINGOETHE et al., 1999), assim como no ganho de peso em bovinos
(BEAUCHEMIN et al., 1995).
Ainda que as enzimas sejam catalisadores eficientes em sistemas
biológicos, sua atividade é influenciada por fatores como pré-tratamento
do alimento, pH e comprimento do trato gastrointestinal, grau de
hidratação e temperatura do corpo do animal, susceptibilidade das enzimas
exógenas ao ataque das enzimas endógenas, concentração do produto em razão
da hidrólise enzimática, concentração da enzima endógena e tipo de
ingrediente utilizado na dieta (ACAMOVIC & MCCLEARY 1996).
Pesquisas mostram que não é possível estimar, somente com base na
caracterização bioquímica, o potencial de enzimas exógenas em melhorar a
utilização de uma dieta pelo animal. Consequentemente, ensaios in vitro
são utilizados para avaliar a eficiência de diferentes grupos de enzimas
na digestibilidade de dietas fornecidas a ruminantes (COLOMBATTO et al.,
2003).
Este trabalho foi realizado com o objetivo de produzir e caracterizar um
complexo de enzimas fibrolíticas, utilizando-se o fungo Humicola
grisea,e avaliar seu efeito na digestibilidade da matéria seca da
forragem de milho.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos nos
Laboratórios de Enzimologia e de Fisiologia da Digestão do Instituto de
Ciências Biológicas (ICB II) da Universidade Federal de Goiás (UFG),
localizados no município de Goiânia – GO, no período de março de 2006 a
outubro de 2007.
Para a produção do complexo enzimático (CE), utilizou-se o fungo Humicola
grisea var. thermoidea, isolado de compostagem na Universidade
Federal de Viçosa (MG). Esse microrganismo tem a capacidade de produzir
enzimas termoestáveis como celulases e xilanases.
O fungo H. grisea foi cultivado
em meio Ágar Aveia (4,0% de farinha de aveia infantil Quaker, 1,5% de Ágar
e água destilada) a 42 ºC, durante quatro dias, e mantido posteriormente à
temperatura ambiente por mais três dias. As placas de Petri, contendo o
fungo, foram estocadas a 4 ºC.
A produção de enzimas hidrolíticas foi realizada em meio líquido,
inoculando-se dez discos de cultura (5 mm), contendo esporos do fungo, por
erlenmeyers de 1L com 250 mL de meio de indução (forragem de milho: 5 g/L;
extrato de levedura: 3 g/L; sulfato de amônia: 1,4 g/L; CaCl2.6H2O: 0,3
g/L; sulfato de magnésio: 0,3 g/L; elementos traços de CuSO4 e FeSO4). Os
frascos foram incubados em agitador rotatório (Controlled Environment
Incubator Shaker, Brunswick Scientific Co. Inc., U.S.A) à 42 °C e
velocidade de 120 rpm. Após 96 horas de cultivo, o complexo enzimático foi
filtrado e alíquotas foram coletadas e centrifugadas a 4000 rpm por 10
minutos. O sobrenadante foi mantido a 4 ºC para posterior realização de
ensaios enzimáticos.
Atividade de celulase em papel de filtro (FPase) foi determinada
utilizando-se uma tira de 1,0 x 6,0 cm de papel de filtro Whatman nº1
(50mg) como substrato. No tubo de ensaio contendo o papel, foram
adicionados 150 µL do extrato enzimático e 350 µL de tampão
citrato-fosfato 50 mmol. L-1. A mistura de reação foi incubada
em banho-maria a 40 °C por 60 minutos. A reação foi interrompida com
adição de 1 mL de ácido3,5-dinitrosalicílico (DNS). Posteriormente, as
amostras foram fervidas por 10 minutos e esfriadas em banho de gelo.
A concentração de açúcar redutor liberado foi determinada
espectrofotometricamente a 550 nm pelo método do DNS, utilizando-se
glicose como padrão (MILLER, 1959). Uma unidade de atividade enzimática
(U) foi definida como a quantidade de enzima necessária para formar um
µmol de açúcar redutor por minuto da reação.
A atividade xilanolítica foi determinada pela metodologia de açúcares
redutores (DNS – MILLER, 1959).
Para o ensaio enzimático utilizou-se 50 µL do extrato enzimático, 100 µL
de xilana (oat spelts - sigma) e 350 µL de tampão citrato fosfato 50
mmol.L-1. A mistura de reação foi incubada a 50°C por 30
minutos. Após esse período, foram adicionados 500 µL de DNS à mistura, que
foi incubada por 10 minutos em água fervente, com posterior adição de 1000
µL de água destilada.
A concentração de açúcar redutor liberado foi determinada
espectrofotometricamente a 540 nm, utilizando-se xilose como padrão. Uma
unidade de atividade enzimática (U) foi definida como a quantidade de
enzima necessária para formar um µmol de açúcar redutor por minuto da
reação.
Determinou-se a atividade de β-glicosidase usando-se como substrato
r-nitro-fenil-β-glicopiranosideo (r-NPG). A mistura de reação consistiu de
50 µL do extrato enzimático, 350 µL de tampão citrato fosfato 50 mmol.L-1
e 100 µL de substrato. O ensaio enzimático foi realizado em 10 minutos de
incubação a 40º C, sendo a reação interrompida com a adição de 1 mL de
solução carbonato de sódio (0,5 M). A quantidade de r-nitro-fenil liberada
foi determinada espectrofotometricamente a 405 nm. Uma unidade de
atividade enzimática (U) foi definida como a quantidade de enzima
necessária para formar um µmol de r-nitro-fenil por minuto da reação.
Neste experimento, ensaios de pH ótimo foram realizados para verificar se
as enzimas produzidas possuem atividade numa faixa de pH compatível com as
condições do rúmen (5,0-7,0).
As atividades das enzimas do complexo celulolítico foram avaliadas em
tampão citrato fosfato 50 mmol.L-1, nos valores de pH 5,0; 5,5;
6,0; 6,5 e 7,0. Os testes das enzimas celulase total; β-glicosidase e
xilanase, nos diferentes pHs, foram realizados conforme ensaio enzimático
descrito acima.
Os ensaios da temperatura ótima foram também realizados para avaliar se as
enzimas produzidas mantêm atividade na faixa de temperatura do rúmen
(39-42º C).
Os ensaios da temperatura ótima foram também realizados para avaliar se as
enzimas produzidas mantêm atividade na faixa de temperatura do rúmen
(39-42º C). As atividades de celulase total, β-glicosidase e
xilanase foram determinadas conforme método descrito no item ensaio
enzimático, incubando-se amostras nas temperaturas de 30, 40, 50 e 60º C.
Os testes foram realizados em tampão citrato fosfato 50 mmol. L-1, pH 6,5.
No ensaio de termoestabilidade, as enzimas celulase total, xilanase e
b-glicosidase foram avaliadas nos tempos de 60, 120, 180 e 240 minutos, a
40°C e pH 6,5. Os testes foram realizados em tampão citrato fosfato 50
mmol. L-1.
No ensaio de digestibilidade verdadeira in vitro,foi utilizada metodologia
descrita por TILLEY & TERRY (1963), modificada para o fermentador
ruminal DAISY II, seguindo-se metodologia apresentada no manual de
utilização do equipamento (ANKOM® Technology) fornecido pelo fabricante.
Nesse ensaio, avaliou-se a digestibilidade verdadeira in
vitro da matéria seca(DIVMS) de forragem de milho, tratada com
diferentes doses do complexo enzimático. A forragem de milho utilizada
neste experimento era composta de 34,6; 7,9 e 49,1% de matéria seca,
proteína bruta e fibra em detergente neutro, respectivamente.
Os tratamentos realizados foram: controle (10 mL de água esterilizada);
nível 1 (2,5 mL do CE); nível 2 (5,0 mL do CE) e nível 3 (10 mL do CE). Os
níveis de 2,5 e 5,0 foram completados para 10 mL, com água esterilizada.
As doses enzimáticas foram aplicadas por aspersão, de forma uniforme, em
17 g da forragem.
O experimento foi instalado em blocos ao acaso, com quatro repetições, em
esquema de parcelas subdivididas 4 x 4. Os blocos (repetições) foram
constituídos de quatro rúmens. As parcelas foram constituídas por forragem
de milho tratada com quatro níveis de enzimas e as subparcelas por quatro
momentos de avaliação (períodos de incubação). Os dados obtidos foram
submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos foram
comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, com auxílio do
software R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2010).
Por bloco, foram introduzidos 34 sacos de filtro-náilon F57 - ANKOM® (32
amostras tratadas, um branco e uma testemunha). As amostras foram
incubadas por 12; 24; 48 e 96 horas a 39ºC, em meio anaeróbio.
Posteriormente, os sacos foram incubados em solução de detergente neutro
para determinação da digestibilidade verdadeira in
vitro.
Na coleta do líquido ruminal, foram utilizados dois novilhos mestiços
(pardo suíço x Jersey e Jersey x girolando), com peso aproximado de 370 e
327 kg, respectivamente, sendo os líquidos ruminais misturados para a
condução do experimento. Os animais foram mantidos em piquetes e adaptados
à dieta por 14 dias, antes da coleta do líquido e tiveram livre acesso à
água e sal mineral. A dieta (base na MS), fornecida pela manhã, consistiu
de 5 kg de feno de Tifton 85 e 2 kg de forragem de milho.
O cálculo da DVIVMS foi realizado pela seguinte fórmula (ANKOM®
technology):
DVIVMS % = 100- ((W3-(W1*C1))*100/W2), em que:
W1 = peso da tara do saco filtro; W2 = peso das amostras; W3 = peso final
do saco filtro depois da determinação in vitro e sequencial com solução de
FDN; C1 = correção do saco de filtro em branco (peso final do saco após
estufa/peso inicial do saco filtro).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que as enzimas celulase e
xilanase apresentaram maior atividade em pH 6,0. Em relação à
β-glicosidase, a atividade da enzima foi maior em pH 6,5 (
Figura 1).
O pH ótimo de celulases, xilanases e β-glicosidase é amplamente discutido
na literatura e depende do microrganismo produtor.
Segundo MAHESHWARI et al. (2000), a atividade ótima de endo e
exoglucanases de fungos termofílicos está entre 5,0 e 6,0. SILVA et al.
(2005) verificaram valor ótimo de 5,0 para CMCase de
T.
aurantiacus. Resultados obtidos por EMTIAZI et al. (2000) mostram
que celulase de
Cellulomonas sp
foi mais ativa em pH 6,0, o que também foi obtido por LOWE et al. (1987)
para celulase de
Neocallimastix sp.
Segundo KULKARNI et al. (1999), xilanases produzidas por fungos são
geralmente estáveis em intervalos amplos de pH (3,0-10,0), exibindo pH
ótimo na faixa de 4,0 a 7,0.
LUCENA NETO & FERREIRA FILHO (2004) mostraram que xilanase de
H.
grisea foi mais ativa em intervalos de pH de 4,5-6,5, o que
corrobora o resultado obtido neste experimento.
KITPREECHAVANICH et al. (1984) e DUSTERHOFT et al. (1997) constataram que
o pH ótimo de xilanases de
H.
lanunginosa e
H.
insolens foi 6,0.
FERREIRA FILHO (1996) verificou maior atividade de β-glicosidase
H. grisea em pH entre 4,0 e 4,5. LIN et al. (1999),
caracterizando β-glicosidase de
T.
lanuginosus-SSBP, obtiveram 6,0 como pH ótimo. Boa parte das
β-glicosidases fúngicas conhecidas apresentam pH ideal entre 4,0 e 6,5.
Observou-se, neste experimento, que as enzimas estudadas permaneceram
estáveis na faixa de pH entre 5,0 e 7,0, sugerindo que essas proteínas
teriam atividade nas condições de pH 5,0-7,0 do rúmen.
Enzimas para serem utilizadas na dieta de ruminantes devem ser estáveis a
variações de temperatura ente 39 e 42° C, uma vez que esta é a faixa de
temperatura do rúmen, principal órgão de digestão dos ruminantes. A
temperatura ótima encontrada para as enzimas celulase e xilanase
produzidas foi de 50º C. A enzima β-glicosidase manteve boa atividade na
faixa de 50 a 60º C (
Figura 2)
Segundo MAHESHWARI et al. (2000), endoglucanases e exoglucanases de fungos
termofílicos apresentam boa atividade em temperatura na faixa de 55 a 80º
C e de 50 a 75º C, respectivamente. Para β-1,4-exoglucanases e
β-1,4-endoglucanases de
Humicola
insolens, a temperatura ótima obtida foi de 50º C, permanecendo
estáveis a 65ºC, valores semelhantes ao encontrado para
Thermoascus
aurantiacus.
YOSHIOKA et al. (1982) verificaram que CMCase de
H.
grisea exibiu maior atividade na temperatura de 50º C. Os
pesquisadores LOWE et al. (1987) e EMTIAZI et al. (2000), em trabalhos
realizados com
Cellulomonas sp
e
Neocallimastix sp,
respectivamente, registraram atividade ótima de celulase a 45º C.
LUCENA-NETO & FERREIRA FILHO, (2004), trabalhando com xilanase de
H. grisea, observaram maior atividade
da enzima entre 55 e 60º C. KITPREECHAVANICH et al. (1984) verificaram que
xilanase de fungo
H. lanunginosa
foi mais ativa na faixa de 60 a 75º C, com valor máximo de atividade a 65º
C, semelhante ao verificado para
H.
insolens (DUSTERHOFT et al., 1997) e xilanase de
H
grisea (MONTI et al., 1991). Conforme KULKARNI et al. (1999), a
temperatura ótima de xilanase de fungos varia entre 40 a 60º C.
Pesquisa desenvolvida com os fungos
H.
grisea, H. lanunginosa e
H.
insolens mostrou que a β-glicosidase apresentou atividade ótima
nas temperaturas de 50 a 60º C (MAHESHWARI et al., 2000). Esses resultados
foram semelhantes aos obtidos por FERREIRA FILHO (1996), que estudou
β-glicosidase de
H. grisea var.
thermoidea. LIN et al. (1999) observaram que β-glicosidasede
Thermomyces
lanuginosus-SSBP apresentou temperatura ótima de 65° C.
Neste experimento, verificou-se que enzimas do CE do H. grisea
demonstraram atividade específica na faixa de temperatura do rúmen, que,
no entanto, é inferior à atividade apresentada nas temperaturas ótimas das
enzimas.
Para serem utilizadas na alimentação animal, as enzimas devem apresentar
ampla faixa de termoestabilidade para suportar a temperatura interna dos
animais e variações de temperatura no processamento das rações. A
termoestabilidade das enzimas varia consideravelmente em função da sua
origem, sendo as enzimas fúngicas as que possuem maior estabilidade
térmica (CASTRO & MENDES, 2004).
Neste trabalho, observou-se que a celulase produzida permaneceu estável
por 240 minutos, apresentando atividade relativa maior que 100%. As
enzimas xilanase e β-glicosidase mantiveram 99,2 e 88,2% de sua atividade
com 240 minutos, respectivamente (
Figura 3).
OLIVEIRA et al. (2013) verificaram que endoglucanase produzida por
H. grisea manteve 88% da sua
atividade após 240 minutos de incubação a 50, 60 e 70° C. As temperaturas
de 50 e 60° C aumentaram a atividade enzimática.
DAMASO et al. (2002) verificaram que xilanase produzida por
T.
lanuginosus permaneceu estável durante intervalo de tempo de 0 a
400 minutos, em 50 ºC. LUCENA-NETO & FERREIRA FILHO (2004) constataram
que xilanase de
H. grisea var.
thermoidea apresentou termoestabilidade a 60º C, com meia vida de
aproximadamente 5,5 horas.
Xilanase purificada por MONTI et al. (1991) manteve boa estabilidade
em temperaturas entre 40 e 60 ºC, apresentando meia-vida de 20 minutos a
60 ºC. REIS et al. (2001) avaliaram a termoestabilidade de quatro
xilanases fúngicas e verificaram que três das enzimas mantiveram de 100 a
80% de sua atividade no intervalo de temperatura entre 50 a 70 ºC,
enquanto a outra enzima manteve 40% de sua atividade a 50 °C.
Em estudo desenvolvido por FERREIRA FILHO (1996), a enzima β-glicosidase
produzida por
H. grisea var.
thermoidea foi termoestável a 60 ºC por uma hora, apresentando meia vida
de 15 minutos a 65 ºC. LIN et al. (1999) observaram que β-glicosidase do
fungo
T. lanuginosu manteve sua
atividade total depois de 30 minutos de incubação a 50 ºC, mas foi
inativada a 70 ºC.
Os valores da DVIVMS da forragem de milho estão descritos na
Tabela 1. Houve interação entre
níveis enzimáticos e períodos de incubação no rúmen (p<0,01).
Verificou-se, em relação ao tratamento controle, que a adição de 2,5 mL de
enzimas melhorou a DVIVMS em 4,88 e 6,87%, com 12 e 48 horas de incubação
ruminal, respectivamente. Para o tratamento de 5,0 mL, quando comparado ao
controle, foram observados aumentos de 6,66; 7,72 e 5,42% sobre a
digestibilidade, nos tempos de 12; 24 e 48 horas de incubação no rúmen,
respectivamente. A aplicação de 10 mL de enzimas proporcionou melhoras na
digestibilidade em 10,58; 12,52; 9,05 e 6,81%, com 12; 24; 48 e 96 horas
de permanência da forragem no rúmen, respectivamente, em relação ao
controle.
Os aumentos da DVIVMS da forragem de milho são consequência da atividade
hidrolítica das enzimas no substrato. Essa informação é consistente com a
avaliação química do complexo enzimático utilizado no experimento, que
revelou atividades de celulase e xilanase.
A adição de enzimas fibrolíticas às forragens, antes de sua ingestão,
promove mudanças na estrutura dos alimentos, tornando-os mais susceptíveis
à hidrólise ruminal (NSEREKO et al., 2000). De acordo com FONTES et al.
(1995), as enzimas podem ser parcialmente protegidas da degradação
ruminal, em decorrência da mudança de sua conformação. A alteração na
estrutura da enzima é provocada por sua forte ligação com o substrato,
quando da sua incorporação no alimento.
Segundo BEAUCHEMIN et al. (2003), existem evidências de que enzimas
exógenas promovem a hidrólise de carboidratos solúveis durante a fase de
pré-incubação ruminal. Sua aplicação direta no substrato favorece a
formação de um complexo enzima-substrato bastante estável que aumenta a
eficiência das enzimas exógenas no rúmen.
GIRALDO et al. (2007), aplicando duas celulases produzidas por
Aspergillus
niger e
Trichoderma
longibrachiatum, na dose de 30 U/g de substrato (70% de feno de
gramínea e 30% de concentrado), observaram maior desaparecimento da MS
depois de 6 e 24 h, sem nenhum efeito após 48 h de incubação. LEWIS et al.
(1996) não observaram aumento da DIVMS de feno de gramínea com 8; 16 e 24h
de incubação, quando da aplicação de enzimas fibrolíticas; entretanto,
observaram aumento após 32, 40 e 96 h.
CYSNEIROS et al. (2006) não verificaram efeitos de 5, 10 e 20 mg de
enzimas fibrolíticas por kg de matéria natural sobre o desaparecimento
ruminal da MS da silagem de milho, em 6, 24 e 96 h. YANG et al. (1999)
verificaram que as curvas de digestibilidade ruminal da alfafa foram
semelhantes para o tratamento controle e enzimático. O desaparecimento foi
rápido durante as primeiras 12 h de incubação, com formação de platô
próximo a 24 h.
De acordo com DAWSON & TRICARICO (2007), uma série de estudos in vitro
tem demonstrado que é possível usar preparações específicas de enzimas
fibrolíticas para melhorar os processos associados à digestão do alimento
no rúmen. A resposta é avaliada geralmente pelo aumento da taxa inicial de
desaparecimento da matéria seca ou da taxa de desaparecimento da fibra em
detergente neutro de forrageiras suplementadas com enzimas. Acredita-se
que enzimas exógenas consigam tornar a fibra solúvel ou mais disponível ao
ataque microbiano no rúmen. Segundo os mesmos autores, o período mais
ativo para os efeitos de enzimas exógenas parece ser durante as primeiras
6-12 horas do processo digestivo. Na maioria dos casos, as enzimas
fibrolíticas não exercem efeitos significativos sobre a digestão da fibra
após períodos de incubação ruminal prolongados.
Ainda, algumas das variabilidades associadas ao uso de enzimas exógenas
nas dietas de ruminantes estão relacionadas à suplementação com
insuficiente ou excessiva quantidade de enzimas. As preparações de enzimas
exógenas são muitas vezes utilizadas em baixas concentrações. Nessas
concentrações, as enzimas parecem não contribuir para maior digestão da
fibra no rúmen, mesmo que as condições do ambiente ruminal sejam ideais
para suas atividades.
Estudos feitos por BEAUCHEMIN et al. (2003) demonstraram que o ótimo nível
enzimático depende do substrato. Esses autores relataram diferentes taxas
de aplicação de enzimas e diferentes respostas para feno de alfafa,
silagem de milho, silagem de cevada e grãos de milho. Com feno de alfafa,
observou-se redução no conteúdo da fibra em detergente neutro, mesmo com
adição de um baixo nível enzimático, sem nenhuma alteração observada com
altas taxas de aplicação. Altas quantidades de enzimas ligadas ao
substrato podem restringir a ligação dos microrganismos do rúmen ao
alimento limitando sua digestibilidade (BEAUCHEMIN et al., 2003).
Enzimas fibrolíticas estão relacionadas com sua capacidade de melhorar a
degradação inicial dos carboidratos estruturais das plantas e complementar
as atividades enzimáticas associadas aos microorganismos ruminais. É
provável que enzimas exógenas ajam no rúmen logo após a ingestão do
alimento e durante um período curto de tempo, antes da colonização
bacteriana do alimento e início da digestão. Como resultado, enzimas
fibrolíticas exógenas podem complementar as atividades enzimáticas dos
microorganismos no rúmen e permitir maior digestão de substratos durante
as fases preliminares críticas da digestão. Os efeitos globais da
suplementação com enzimas podem resultar de sua capacidade de expor os
substratos lentamente degradados ao ataque microbiano (DAWSON &
TRICARICO, 2007).
CONCLUSÕES
O fungo
Humicolagrisea var. thermoidea é um produtor de enzimas
fibrolíticas de interesse na alimentação de ruminantes. As enzimas
celulase total, xilanase e b-glicosidase apresentaram atividades na faixa
de temperatura e pH observados no rúmen. As enzimas, nos três níveis
testados, aumentaram a DVIVMS da forragem de milho, mas não exerceram
efeitos significativos sobre a digestão, após períodos prolongados de
incubação ruminal.
REFERÊNCIAS
ACAMOVIC, T.; MCCLEARY, B.
Enzyme Special Series-Optimising the response.
Feed Mix, v. 4, p. 14-19, 1996.
BEAUCHEMIN, K.A.; RODE, L.M.; SEWALT, J.H. Fibrolytic
enzymes increase fiber digestibility and growth rate of steers fed dry
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Protocolado em: 30 jul. 2012 Aceito
em: 07 out. 2013