FARELO DO MESOCARPO DE BABAÇU NA TERMINAÇÃO DE TOURINHOS: CARACTERÍSTICAS
DA CARCAÇA E CORTES SECUNDÁRIOS DO TRASEIRO ESPECIAL
Fabrícia Rocha
Chaves Miotto1, João Restle2, José Neuman Miranda Neiva1,
Moacir Evandro Lage3, Kélvia Jácome de Castro4, Emerson
Alexandrino1
RESUMO
Objetivou-se
avaliar as características de carcaça, o peso e o percentual dos cortes
secundários preparados que compõem o traseiro especial (TE) de 30 tourinhos
mestiços, alimentados com dietas contendo níveis de substituição do milho pelo
farelo do mesocarpo de babaçu (FMB), nos níveis 0; 25; 50; 75 e 100%. O
delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com seis
repetições. Os pesos de carcaças quente e fria reduziram linearmente em
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BABASSU
MESOCARP BRAN IN FINISHING YOUNG BULLS: CARCASS CHARACTERISTICS AND COMMERCIAL
CUTS OF THE PISTOL CUT
ABSTRACT
We evaluated carcass
characteristics, weight and percentage of prepared commercial cuts of the
primal pistol cut (PC) of 30 young crossbred bulls fed diets which included
replacement levels (0, 25, 50, 70 and 100% of the dry matter, DM) of corn by
babassu mesocarp bran (BMB). The experiment was a completely randomized design
with six replicates. Slaughter weight was not affected by treatments. Hot and
cold carcass weights decreased linearly (P<.05) at
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KEYWORDS: biofuel; by-products; carcass yield; feedlot;
meat yield; tenderloin.
INTRODUÇÃO
O babaçu (Orbynia sp.) é uma palmeira da qual
obtém-se o farelo do mesocarpo de babaçu (FMB), por meio da industrialização de
seu fruto. Esse subproduto representa em média 23% da industrialização do
babaçu, com potencial para utilização na alimentação de ruminantes,
verificando-se valores de amido de aproximadamente 52% (PAVLAK et al., 2007). A
produção de amêndoas de babaçu no Brasil no ano de 2010 foi de 106.055 toneladas
(IBGE, 2011), sendo os estados mais importantes o Maranhão, o Piauí e o
Tocantins. Dada a sua disponibilidade, o uso do FMB na alimentação de bovinos
para a produção de carne e leite tem sido uma realidade; contudo, raros estudos
avaliam seu real efeito sobre a produção. A exemplo dos trabalhos de SILVA
(2008) e GUIMARÃES (2010), essas avaliações ficam no âmbito da determinação dos
parâmetros nutricionais, sem estudos do seu efeito sobre as características da
carcaça e rendimento cárneo de bovinos terminados com esse alimento.
Nesse sentido, o estudo do
uso de subprodutos nas dietas de terminação de bovinos é importante para a
determinação da influência sobre as características da carcaça preconizadas, e do
efeito sobre o rendimento dos cortes cárneos, já que esses são componentes
importantes na valorização da carcaça.
Objetivou-se, com este
trabalho, avaliar o efeito da substituição do milho pelo FMB sobre as
características quantitativas da carcaça e cortes secundários preparados do
traseiro especial de tourinhos terminados em confinamento.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi avaliado o efeito da
substituição do milho por FMB (0, 25; 50; 75 e 100% da matéria seca) sobre as
características quantitativas da carcaça de 30 tourinhos mestiços, ½ Pardo
Suiço de aptidão leiteira e ½ Nelore, em delineamento inteiramente casualizado
com seis repetições. Os animais apresentavam idade e peso vivo médios iniciais
de 18,9 meses e
As dietas foram formuladas
com o auxílio do programa RLM 3.0®, com relação volumoso:concentrados de 20:80,
em que o volumoso utilizado foi silagem de capim mombaça (Tabela 1). O FMB e a
silagem de capim mombaça utilizados neste trabalho possuíam respectivamente,
86,3 e 25,1% de matéria seca (MS); 3,1 e 5,6% de proteína bruta; 45,0 e 81,7%
de fibra em detergente neutro; 32,0 e 55,2% de fibra em detergente ácido e 0,64
e 3,0% de extrato etéreo.
Ao final do experimento, os
animais foram pesados após 16 horas de jejum de alimento sólido, para obtenção
do peso de abate, e transportados para frigorífico comercial. O abate ocorreu
segundo as normas do Serviço de Inspeção Federal, seguindo o fluxo normal da
linha de abate. A variável recorte de gordura da carcaça correspondeu à gordura
retirada durante o processo de limpeza. Ao final da linha de abate, as duas
meias-carcaças foram pesadas e conduzidas à câmara fria, procedendo-se nova
pesagem após 24 horas de resfriamento a -2º C.
Foram avaliados também a
proporção de recorte de gordura em função do peso integral da carcaça (peso da
carcaça quente antes da retirada do excesso de tecido adiposo), a proporção em
função do peso da carcaça quente limpa e os rendimentos da carcaça quente e
carcaça fria. Ainda na meia-carcaça direita, foi efetuado um corte entre a 12ª
e a 13ª costelas, expondo o músculo Longissimus
dorsi, realizando-se, com auxílio de paquímetro, a medida da espessura de
gordura subcutânea (EGS) que recobre o músculo. Nessa medida foi utilizada a
média de duas leituras.
As meias carcaças esquerdas
foram separadas nos três cortes primários (dianteiro, traseiro especial e ponta
de agulha), conforme método usado pelos frigoríficos. O dianteiro foi separado
do traseiro especial e da ponta de agulha entre a 5ª e a 6ª costelas e incluiu o pescoço, a paleta, o braço e cinco costelas.
O traseiro especial foi separado da ponta de agulha a 22 cm da coluna
vertebral. A ponta de agulha incluiu as costelas (a partir da sexta) mais os
músculos abdominais. Os cortes foram pesados para obtenção de seus rendimentos
em relação ao peso da carcaça fria.
O corte primário traseiro
especial foi separado em dez cortes comerciais ou cortes secundários,
realizados segundo a rotina do frigorífico (patinho, músculo, coxão duro, coxão
mole, alcatra, capa do filé, contrafilé, filé-mignon, lagarto e picanha),
procedendo-se à pesagem de cada peça para avaliação do rendimento cárneo do
traseiro especial e do peso dos cortes comerciais individuais. Foram avaliados
ainda a porção comestível (cortes comerciais secundários mais recortes de carne
destinados ao consumo humano), os recortes de gordura retirados da limpeza dos
cortes secundários, os recortes cárneos descartados (tecido conjuntivo,
coágulos de sangue, pedaços de músculo descartados, glândulas que não servem
para o consumo humano). As perdas relativas ao peso do traseiro especial compreenderam
a proporção dos recortes de gordura e dos tecidos conjuntivo e muscular da
limpeza das peças. O peso do osso foi obtido por subtração e sua proporção
calculada em relação ao traseiro especial.
Para avaliação do efeito dos
tratamentos, adotou-se α = 0,05, com modelo matemático geral: gij
= µ + ti
+ eij,
em que: gij
= variável dependente; µ= média geral; ti= efeito do
tratamento i; e eij
= erro experimental residual, em que a análise de variância foi testada
quanto à normalidade e homocedasticidade. No estudo de regressão, o modelo foi:
gij
= b0
+ b1
Xi + b2 Xi2 + b3
Xi3 + aj + εij, em que: gij
= variáveis dependentes; b’s = coeficientes de regressão; Xi = níveis
de substituição; aj
= desvios da regressão; e εij = erro aleatório residual. As
variáveis dependentes também foram avaliadas quanto à correlação de Pearson.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas dietas com substituição
de até 75% foi observado que as carcaças dos animais apresentaram peso superior
a 240,0 kg (16 arrobas), preconizado como peso mínimo pelos produtores da
região norte, visto que carcaças mais leves são penalizadas pelo frigorífico com remuneração inferior, com preço similar ao pago por carcaças de
vacas.
Segundo a equação de
regressão, o rendimento de carcaça quente decresceu em 0,032 kg por 100 kg de
peso vivo para cada 1 kg de FMB que substituiu o milho (P<0,05).
Provavelmente, a elevação no consumo de MS, ocorrida com o aumento dos níveis
de FMB (Tabela 1), promoveu aumento do conteúdo gastrointestinal. Conforme
PACHECO et al. (2006), entre os vários fatores que afetam o rendimento de
carcaça, o principal é o conteúdo gastrointestinal. Embora o peso e o conteúdo
do trato gastrointestinal não tenham sido avaliados, eles podem ter contribuído
para a redução do rendimento, uma vez que o aumento do consumo de MS e FDN
eleva o conteúdo ruminal e estimula a distensão e o peso do trato
gastrointestinal, podendo aumentar sua participação no peso corporal (MENEZES
et al., 2011). O jejum alimentar realizado antes da pesagem reduz diferenças no
conteúdo gastrointestinal, porém, parece não ter sido suficiente para eliminar
totalmente esse efeito. Segundo BERG & BUTTERFIELD (1976), outro fator que
influência o rendimento de carcaça é a espessura de gordura subcutânea, a qual
apresenta correlação positiva com essa característica. Neste trabalho, embora a
correlação entre essas duas variáveis tenha sido positiva, ela não foi
significativa (Tabela 3).
O recorte de gordura da
carcaça decresceu com a substituição do milho pelo FMB (P<0,05). Esse
comportamento pode ter ocorrido em função da redução do aporte energético das
dietas com a substituição do milho pelo FMB (Tabela 1). A redução no nível de
energia diminui a deposição de gordura na carcaça, refletindo redução dos
recortes de gordura e EGS, com correlação entre essas duas variáveis de 0,65
(Tabela 3). Também pode ser observado na Tabela 1 que o aumento de FMB na dieta
em até 50% de substituição do milho aumentou a energia líquida de ganho das
dietas, mas houve redução a partir de então. Verificou-se, ainda, que o recorte
de gordura da carcaça, quando relacionado com o peso da carcaça integral,
também foi reduzido (P<0,05), com valores observados de 4,26% para a dieta
padrão, e 3,19% para a dieta com substituição total do milho.
Com a redução do recorte de
gordura da carcaça, esperava-se melhoria no rendimento da carcaça quente, já
que esta apresenta menores perdas de peso oriundas dos recortes do toalete;
contudo, houve redução no rendimento, indicando que o conteúdo e peso do trato
gastrointestinal foram determinantes no rendimento de carcaça, o que concorda
com a afirmativa de PACHECO et al. (2006). Ademais, foi verificada correlação
positiva entre rendimento de carcaça quente e os recortes de gordura da carcaça
em quilogramas e em percentual da carcaça quente (respectivamente, r = 0,48 e r
= 0,50; P<0,05), demonstrando que aumentos no rendimento são acompanhados de
aumentos nos recortes de gordura da carcaça ou, mais especificamente, na
quantidade de tecido adiposo presente na carcaça.
O peso da carcaça fria
acompanhou o comportamento do peso da carcaça quente frente aos níveis de
substituição do milho (P<0,05), com redução de 0,25 kg para cada 1 kg de
substituição do milho por FMB. Esse resultado é explicado pela semelhança
observada para a quebra no resfriamento das carcaças (P>0,05) que, apesar da
variação na EGS, não sofreu influência dos níveis de substituição.
A EGS apresentou
comportamento quadrático (P<0,05) com ponto de máxima estimado pela equação
de regressão com substituição de 33,3%, proporcionando 4,29 mm de EGS. A
gordura subcutânea é um atributo importante, pois evita o escurecimento da
superfície externa dos músculos que recobrem a carcaça, favorecendo o seu
aspecto visual, bem como dos cortes secundários desejados em mercados mais
exigentes.
A gordura que recobre a
carcaça atua ainda como isolante térmico, reduzindo o encurtamento das fibras
musculares pelo frio, influenciando positivamente na maciez da carne (LAWRIE,
2005). A EGS mínima desejada é de 3 mm, porém
mercados mais exigentes em acabamento buscam carcaças com maior
cobertura de gordura (6 a 7 mm); contudo, apesar de os valores inferiores
encontrados nos níveis de substituição de 75% e 100%, a quebra pelo
resfriamento não foi influenciada, conforme ressaltado. No presente trabalho, a
EGS correlacionou-se positivamente com o PCQ (r = 0,49; p<0,05), confirmando
que animais abatidos mais pesados tendem a proporcionar carcaças com maior
espessura de gordura de cobertura.
Devido à diminuição da
concentração de energia das dietas e principalmente pela redução da energia
líquida de mantença, as carcaças dos animais tratados com 75 e 100% de substituição
do milho apresentaram EGS inferiores a 3 mm (Tabela 3). O aporte de energia é
fundamental para elevar a deposição de gordura na carcaça, pois, atendidas as
exigências de mantença e crescimento dos órgãos e tecidos, o excedente de
energia consumida é depositado sob a forma de gordura. Segundo o NRC (1996), a
deposição de gordura nos animais depende, além do grupo genético, do peso vivo
do animal, da intensidade do ganho de peso diário, da maturidade e da densidade
energética da dieta. A EGS em percentual diminuiu linearmente com o aumento dos
níveis de FMB nas dietas (P<0,05), acompanhando a redução do peso da carcaça
fria. Para cada kg de FMB que substituiu o milho na dieta, a EGS reduziu em
0,004 mm/100 kg de carcaça fria na cobertura de gordura das carcaças,
evidenciando a importância do peso da carcaça para o obtenção de EGS adequadas.
O peso do traseiro especial
não foi alterado pelas dietas experimentais (P>0,05), conforme mostra a
Tabela 4. Porém, o peso do dianteiro reduziu em 60 g para cada 1 kg de
substituição do milho (P<0,05), acompanhando a queda do peso da carcaça
fria. Para o peso do corte ponta de agulha, verificou-se comportamento
quadrático (P<0,05), estimando-se que com o nível de 33,3% obtêm-se o máximo
peso da ponta de agulha de 16,34 kg.
O percentual de dianteiro não
respondeu aos tratamentos (P>0,05), correspondendo a 41,4% da carcaça fria,
e a relação entre traseiro especial e carcaça fria aumentou linearmente
(P<0,05), resultado da queda do peso do dianteiro e da resposta quadrática
obtida para o peso da ponta de agulha, com redução nos níveis 75 e 100% de
substituição. Com a redução no peso do dianteiro e da ponta de agulha, o
componente traseiro especial passou a participar mais da carcaça explicando o
aumento de seu percentual. Esse comportamento é confirmado pela correlação
negativa observada entre o peso do dianteiro e o percentual de traseiro
especial, r = -0,57; P<0,05, observando-se também correlação negativa alta
entre os percentuais de traseiro especial e de dianteiro (r = -0,87;
P<0,05). A maior participação do traseiro especial na carcaça é desejada, em
função de neste corte estarem localizadas as peças mais valorizadas da carcaça.
Contudo, reduções no peso dos cortes primários (traseiro especial, dianteiro e
ponta de agulha) reduzem a receita do frigorífico, uma vez que as negociações
são realizadas pelo peso.
Seguindo o comportamento do
peso absoluto, a participação da ponta de agulha na carcaça fria teve
comportamento quadrático (P<0,05), em que a substituição de 33,3%
proporcionou valor máximo estimado de 12,4% da carcaça fria. A variação tanto
no peso quanto no percentual de ponta de agulha na carcaça está associada à
variação na EGS. Como já observado, a EGS também variou de forma quadrática com
o mesmo ponto de máxima observado para a ponta de agulha. A deposição de
gordura na região da ponta de agulha pode aumentar o peso desse corte e, consequentemente,
seu percentual na carcaça, o que leva à correlação significativa entre EGS e
ponta de agulha, fato confirmado no presente trabalho, com correlação de 0,65
(P<0,05) da EGS com o peso da ponta de agulha, e 0,60 (P<0,05) com o
percentual da ponta de agulha na carcaça.
A EGS em mm e % foi
correlacionada negativamente com o percentual de traseiro especial (r = -0,40 e
r = -0,36; P<0,05, respectivamente). Também apresentou correlações positivas
com o dianteiro em quilogramas (r = 0,48; P<0,05) e com sua participação na carcaça
(r = 0,43; P<0,05). Assim, pode-se inferir que maiores quantidades de
gordura de cobertura na carcaça contribuem para elevação do peso da carcaça
fria e, consequentemente, de seus cortes primários, como pode ser observado
pela correlação entre essas variáveis (Tabela 3). Porém, por haver maior
deposição da gordura de cobertura na ponta de agulha, tem-se a redução no
percentual de traseiro especial.
Os cortes secundários do
traseiro especial, picanha, alcatra, coxão mole e coxão duro, músculo e capa do
filé não sofreram efeito das dietas (P>0,05), quando expressos em
quilogramas (Tabela 5). O filé-mignon, o contrafilé e o lagarto tiveram seus
pesos diminuídos (P<0,05) com a substituição do milho pelo FMB, certamente
devido ao efeito de redução do peso da carcaça fria (Tabela 2), verificando-se
que este se correlacionou positivamente com o filé mignon (r = 0,44;
P<0,01), contrafilé (r = 0,64; P<0,01) e lagarto (r = 0,78; P<0,01),
confirmando o efeito da variação do peso da carcaça sobre o peso desses cortes.
O corte patinho apresentou comportamento quadrático, sendo seu máximo peso foi
estimado com 35,3% de substituição. Quando os cortes foram avaliados quanto à
sua participação relativa no traseiro especial, apenas o músculo apresentou
variação, com elevação do peso na medida em que o milho foi substituído pela
FMB (P<0,05), não havendo variação na participação percentual dos outros
cortes (P>0,05).
Esses dados e a revisão de literatura
mostram que as variações nos percentuais dos cortes secundários parecem estar
mais ligados às características genéticas, estado sexual e peso dos animais, do
que propriamente à dieta. BIANCHINI et al. (2007) observaram variação no peso
do filé mignon, contrafilé e lagarto, quando avaliaram diferentes grupos
genéticos. BONILHA et al. (2007) observaram diferenças nos pesos médios do
contrafilé, filé mignon, alcatra, patinho, coxão mole e músculo de animais de
diferentes grupos genéticos, e COUTINHO FILHO et al. (2006) detectaram
diferenças nos cortes filé mignon, lagarto e patinho em relação à carcaça fria
quando avaliaram as características da carcaça de machos e fêmeas. PASCOAL et
al. (2010) verificaram que carcaças classificadas como leves (184 kg) tiveram
maiores pesos do filé mignon em comparação a animais de carcaças consideradas
medianas (205,0 kg) e pesadas (220,4 kg), não havendo diferença para outros
cortes. Conforme verificado na literatura, os cortes contrafilé, lagarto e filé
mignon são os que apresentam variação com mais frequência. Esse fenômeno
provavelmente ocorre devido ao desenvolvimento tardio desses cortes, estando
diretamente associados ao peso do traseiro especial, conforme as correlações
observadas entre o traseiro especial e os cortes, contrafilé (r = 0,69;
P>0,01), lagarto (r = 0,79; P<0,01) e filé mignon (r = 0,43; P<0,05).
Todos os cortes comerciais
expressos em % do traseiro especial apresentaram correlação positiva com o peso
deste e com o peso da carcaça fria, exceto a picanha. Segundo BERG &
BUTTERFIELD (1976), os músculos localizados no traseiro especial são mais
precoces no seu desenvolvimento em relação ao todo da carcaça; isso implica que,
à medida que aumenta o peso de carcaça, os cortes do serrote tendem a diminuir
seu ímpeto de crescimento e sua participação relativa no corte primário.
A Tabela 5 mostra que o peso
total dos cortes secundários limpos reduziu em 40 gramas para cada 1 kg de
substituição do milho por FMB (P<0,05). A diminuição do peso total dos
cortes foi o reflexo da diminuição do peso em cortes com participação
importante no traseiro especial como o contrafilé (13,02% do traseiro especial)
e o lagarto (4,53% do traseiro especial). A redução no peso dos cortes secundários
do traseiro especial não é desejável já que esses compreendem a parte mais
valorizada da carcaça, porém, a redução no tamanho dos cortes pode ser tolerada
desde que se mantenham dentro do padrão do desejado pelo mercado varejista.
Na medida em que foram
aumentados os níveis de FMB nas dietas, o recorte de gordura da desossa do
traseiro especial e a limpeza das peças diminuiram (P<0,05) em seis gramas
para cada 1 kg de substituição (Tabela 5). Também foi observada redução nos
recortes de gordura do traseiro especial (P<0,05) em percentual da carcaça
fria, sendo o recorte de gordura do traseiro especial em kg correlacionado com
o peso ao abate (r = 0,60; P<0,01), peso da carcaça fria (r = 0,64;
P<0,01), kg de recorte de gordura da carcaça/100 kg de carcaça quente (r =
0,64; P<0,01), EGS (r = 0,51; P<0,01), e com correlação negativa com o
percentual de traseiro especial na carcaça fria (r = -0,47; P<0,01).
O peso dos recortes
comestíveis e o recorte descartável da carcaça não foram influenciados pelas
dietas experimentais (P<0,05). PASCOAL et al. (2010) não verificaram
diferenças nos recortes descartados quando avaliaram os diferentes pesos, mas
obtiveram diferenças quando avaliaram classes de cobertura de gordura, em que maiores
coberturas de gordura proporcionaram maiores aparas descartáveis.
As perdas percentuais do
traseiro especial reduziram (P<0,05) em 0,01 kg para cada 1 kg de FMB que
substituiu o milho nas dietas. Os recortes de gordura do traseiro especial
corresponderam principalmente à retirada da gordura localizada entre os
músculos (gordura intermuscular) e à gordura que recobre os cortes, além de
aponeuroses. O toalete é realizado a fim de proporcionar às peças aparência
mais equilibrada entre carne magra e gordura, pois o consumo de carne magra tem
sido incentivado e, por isso, peças com maior quantidade de gordura são
rejeitadas, justificando a limpeza de cortes muito gordurosos. As perdas
tiveram correlação positiva com recorte de gordura da carcaça (r = 0,44;
P<0,05), EGS (r = 0,49; P<0,01) e correlação negativa com o corte
contrafilé (r = -0,62; P<0,01).
Com a diminuição do peso dos
cortes e dos recortes de gordura a porção comestível também foi reduzida
(P<0,05), 41 g para cada 1 kg de substituição do milho. A porção comestível
corresponde à soma dos cortes do traseiro especial, que são destinados ao
mercado varejista, e recortes de carne comestível que são aproveitados na
confecção de subprodutos, gerando renda ao frigorífico, não sendo desejada sua
redução.
O rendimento dos cortes do
traseiro especial não foi afetado pelas dietas experimentais (P<0,05), com
média de 73,3%, e o rendimento comestível do traseiro especial teve valor médio
de 73,2%. CRUZ et al. (2004) observaram rendimento cárneo médio do traseiro de
73,1% para bovinos não castrados, semelhante ao observado neste trabalho.
A quantidade de ossos,
expressa tanto em kg quanto em percentual do traseiro especial, não foi
influenciada pelas dietas (P>0,05), com médias de 11,24 kg e 19,8%. TAROUCO
et al. (2007) observaram média de 7,82 kg para o peso dos ossos do traseiro
especial e valor relativo de 20,76% do traseiro especial; valores muito
semelhantes aos observados neste experimento. Variações no peso dos ossos são
observadas geralmente em animais de peso, idade e grupo genético diferentes. Já
variações no percentual podem ser observadas quando ocorrem variações mais
acentuadas em músculo e gordura.
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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TAROUCO, J.U.; LOBATO, J.F.P.; TAROUCO, A.K.; MASSIA, G.I.S.. Comparação entre medidas ultra-sônicas da carcaça na predição da composição corporal em bovinos. Estimativa do peso e da porcentagem dos cortes comerciais do traseiro especial. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.6, p.2092-2101, 2007 (supl.).
Protocolado em: 18 jun. 2012. Aceito
em: 06 set. 2012.