SUBSTITUIÇÃO DA FARINHA DE PEIXE POR FARINHA DE
VÍSCERAS DE AVES NA ALIMENTAÇÃO DO PIAVUÇU Leporinus
macrocephalus
Volnei Schwertner1, Odair Diemer2,
Leticia Hayashi Higuchi2, Sidnei Klein3, Wilson
Rogério Boscolo4, Aldi Feiden4
1Graduando
em
Engenharia de Pesca, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo,
PR, Brasil.
2Pós-graduandos
da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Jaboticabal, SP,
Brasil. odairdiemer@hotmail.com
3Pós-graduando
da
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil.
4Professores Doutores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, PR, Brasil.
RESUMO
O
presente estudo teve como objetivo avaliar o desempenho produtivo de
alevinos de piavuçu, alimentados com diferentes níveis de inclusão de
farinha de vísceras de aves na substituição da farinha de peixe. O
experimento foi conduzido em uma estufa localizada na Universidade
Estadual do Oeste do Paraná durante um período de 45 dias. Foram
utilizados 200 alevinos com comprimento inicial médio de 4,7 ± 0,37 cm e
peso inicial médio de 1,407 ± 0,03 g, distribuídos em 20 tanques-redes.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco
tratamentos e quatro repetições com cinco níveis de substituição de
farinha de peixe por farinha de vísceras de aves (0, 25, 50, 75, 100%).
Os parâmetros avaliados foram o desempenho produtivo e a
composição química dos animais. A inclusão de farinha de vísceras de
aves na substituição da farinha de peixe na alimentação de alevinos de
piavuçu pode ser realizada sem comprometer o desempenho zootécnico dos
animais.
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REPLACEMENT
OF FISH MEAL BY POULTRY VISCERA MEAL IN THE FEED OF Leporinus
macrocephalus
ABSTRACT
The present
study aimed at evaluating the productive performance of Leporinus
macrocephalus fed with different levels of inclusion of poultry
viscera meal replacing fish meal. The experiment was conducted in a
stove located in the Universidade
Estadual
do Oeste do Paraná during
45 days. We used 200 fish with average initial length of 4.7 ± 0.37 cm
and average initial weight of 1.407 ± 0.03 g, distributed in 20
net-cages. The experimental design was randomized with five treatments
and five replicates with five levels of replacement of fish meal by
poultry viscera meal (0, 25, 50, 75, 100%). The parameters evaluated
were the productive performance and the chemical composition of animals.
The inclusion of poultry viscera meal in the substitution of fish meal
in the feeding of Leporinus
macrocephalus can be used without impairing the performance of the
animals.
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INTRODUÇÃO
O piavuçu, Leoporinus macrocephalus,
é encontrado nas bacias do rio Prata e Paraguai, sendo uma espécie com
corpo alongado e fusiforme, com manchas escuras em seu corpo, podendo
alcançar 60 cm de comprimento (ANDRADE et al., 2006). Apresenta hábito
alimentar onívoro com tendência herbívora e consome uma ampla variedade
de alimentos (RODRIGUES et al., 2006). Atualmente, é uma espécie muito
utilizada na piscicultura por apresentar bons índices zootécnicos como:
ganho de peso, conversão alimentar, crescimento, qualidade da carne e
rusticidade (FEIDEN et al., 2009).
O Brasil apresenta um potencial imenso para aquicultura, pois possui clima
favorável, ótimas condições de qualidade de água e principalmente uma
grande diversidade de espécies de peixes. Além disso, apresenta um
grande potencial hídrico (CAVALLI, 2011).
A criação de peixes de maneira geral requer a utilização da alimentação
balanceada, à base de rações formuladas com diversos ingredientes e a
partir de processos de fabricação diferentes (peletização e extrusão),
para um melhor aproveitamento alimentar dos peixes. O emprego de rações
responde hoje por mais de 50% dos custos da piscicultura. Assim,
ingredientes alternativos vêm sendo testados em diferentes dietas para
peixes, visando principalmente a diminuição dos custos e fornecer mais
opções de alimentos para a fabricação de rações que atendam às
exigências nutricionais dos organismos cultivados (SIGNOR et al., 2007).
Uma das alternativas é o uso de farinha de vísceras de aves, um produto
obtido de resíduos da indústria avícola resultante da prensagem e moagem
das vísceras. Esse ingrediente apresenta bons níveis de proteína bruta,
entre 55 a 68%, e grande disponibilidade de cálcio e fósforo (PEZZATO et
al., 2002). Com essas características, a farinha de vísceras de aves é
uma ótima opção para substituição de fontes convencionais de proteína na
formulação de rações para peixes.
Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o desempenho produtivo
de alevinos de piavuçu (Leporinus
macrocephalus) alimentados com diferentes níveis de inclusão de
farinha de vísceras de aves na substituição da farinha de peixe.
MATERIAL
E
MÉTODOS
O experimento foi realizado entre os meses de abril e maio de 2009, com
duração de 45 dias, foi conduzido em uma estufa localizada na
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus
de Toledo-PR, e contou com o apoio do Grupo de Estudos e
Manejo em Aquicultura (GEMAq).
Foram utilizados 200 alevinos de piavuçu com comprimento médio inicial de
4,7 ± 0,37 cm e peso inicial médio de 1,407 ± 0,03 g, distribuídos em 20
tanques-rede com volume útil de 150 litros, dispostos dentro de um
tanque de alvenaria circular de 25 m³, que apresenta aeração constante
por meio de mangueiras conectadas a um soprador de ar central.
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com cinco
tratamentos e quatro repetições, sendo a unidade experimental composta
por um tanque-rede contendo 10 alevinos. Os tratamentos foram formados
por cinco rações com cinco níveis de substituição de farinha de peixe
por farinha de vísceras de aves (0, 25, 50, 75, 100%), sendo
isoenergéticas, isoprotéicas e isoaminoacídicas em lisina, metionina e
treonina (Tabela
1). O arraçoamento foi realizado quatro vezes ao dia às
8h00min, 11h00min, 14h00min e 17h00min, até a saciedade aparente.
Para a preparação das rações, os ingredientes foram moídos em moinho tipo
martelo com peneira de 0,5 mm de diâmetro de abertura, misturados
manualmente conforme a formulação, posteriormente processadas por meio
de extrusão com extrusora com capacidade de produção de 10 kg/h e depois
secas em estufa com ventilação forçada a 55 °C por 24 horas.
Os parâmetros físico-químicos da água – oxigênio
dissolvido, pH e condutividade elétrica – foram
monitorados semanalmente por aparelhos eletrônicos. A temperatura da
água foi monitorada duas vezes ao dia, antes da primeira e da última
alimentação. Semanalmente, foram realizadas análises de água no tanque
circular aferindo amônia, nitrito e fósforo como descrito por DIEMER et
al. (2010).
No final do período
experimental, os peixes foram mantidos em jejum por 24 horas e
anestesiados com Eugenol® (60 mg.L-1), em seguida foram feitas
as medidas individuais de peso (g), comprimento total (mm) e
sobrevivência. Posteriormente, foram determinados o ganho de peso,
conversão alimentar, taxa de crescimento especifico (TCE) e fator de
condição (FC). O ganho de peso foi determinado por (peso final – peso
inicial), a conversão alimentar por (ganho de peso / quantidade de ração
fornecida), a taxa de crescimento especifico conforme a equação: TCE =
[(ln peso médio final (g) – ln peso médio inicial (g))/tempo de
experimento (dias)] x 100 e o fator de condição através da fórmula: FC =
[Peso/(Comprimento total-3)x100]. Em seguida, foram retirados,
aleatoriamente, dois peixes de cada tanque-rede para análise da composição
química do peixe inteiro, sendo avaliadas umidade (UM), proteína bruta
(PB), extrato etéreo (EE) e matéria mineral (MM), segundo metodologia
descrita no (SIMÕES et al., 2007).
Os dados referentes aos
parâmetros avaliados foram tabulados e submetidos à análise de variância e
regressão através do programa estatístico SISVAR versão 5.3 (UFLA, 2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os parâmetros físicos e
químicos da água dos tanques-rede permaneceram dentro da faixa das
condições ideais para criação de peixes (DIEMER et al.,
2010): temperatura 22 ± 1,21oC (manhã) e 23 ± 1,25oC
(tarde); oxigênio dissolvido 4,93 ± 1,64 mg.L-1; pH 7,46 ±
0,42; condutividade elétrica 108,79 ± 37,59 µS.cm-1; amônia
0,08 mg.L-1; fósforo 0,13 mg.L-1
e nitrito 0,03 mg.l-1.
Para todos os parâmetros de
desempenho produtivo avaliados, não foram observadas diferenças
estatísticas (P>0,05) pela analise de variância e regressão (Tabela
2).
O resultado deste experimento
pode ser explicado devido às características similares que os dois
ingredientes apresentam. PEZZATO et al. (2002) avaliaram a digestibilidade aparente de ingredientes pela tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus) e entre os ingredientes estavam a farinha de
peixe e a farinha de vísceras de aves. Com base nos resultados, os autores
relataram que a farinha de vísceras de aves apresentou os melhores
coeficientes de digestibilidade aparente seguida da farinha de peixes.
A farinha de vísceras de aves
é um alimento deficiente em metionina, lisina e triptofano (FARIA et al.,
2002). Na composição das rações deste experimento, foram feitas
suplementações desses aminoácidos para serem mantidos os mesmos níveis
aminoacídicos, o que pode explicar a não ocorrência de diferenças no
desempenho zootécnico.
Diversos trabalhos científicos
demonstraram o sucesso da utilização da farinha de vísceras de aves na
alimentação de peixes. Entre eles, destacam-se o de BOSCOLO et al.
(2005a), que estudaram a farinha
de vísceras de aves em rações para a Tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus) durante a fase de reversão sexual
e o de SIGNOR et al. (2008), que analisaram a farinha de vísceras
de aves na alimentação de alevinos de lambari
(Astyanax altiparanae).
FINKLER et al. (2010), ao
analisarem a substituição da farinha de peixe por farinha de vísceras de
aves na alimentação de alevinos híbridos de piavuçu, relataram que a
substituição de até 50% pode ser feita sem causar alterações no
desempenho; contudo, valores maiores que 50% prejudicam o ganho de peso, a
conversão alimentar e a sobrevivência, discordando dos resultados deste
experimento, que não demonstraram nem melhoras nem pioras no desempenho
produtivo.
Os valores de umidade,
proteína bruta, lipídios e cinzas do corpo do peixe inteiro no presente
experimento não apresentaram diferenças (P>0,05) nos diferentes níveis
de substituição (Tabela
3).
Os diferentes níveis de
substituição de farinha de vísceras de aves não influenciaram na deposição
de nutrientes. Resultados semelhantes foram descritos por FINKLER et al.
(2010), que não observaram diferenças para a substituição da farinha de
peixe por farinha de vísceras de aves na composição química da carcaça de
híbridos de piavuçu, além de obterem composição química similar ao deste
estudo.
BOSCOLO et al. (2005b),
avaliando a inclusão de farinha de resíduos da indústria de filetagem de
tilápia em rações para alevinos de piavuçu (Leporinus
macrocephalus), observaram que a farinha de tilápia influenciou
positivamente na deposição de proteína bruta, demonstrando que a inclusão
de farinha de resíduos de filetagem de tilápia na dieta proporciona uma
melhor qualidade nutricional do pescado, caso não verificado neste
experimento.
A composição bromatológica dos
peixes é constituída principalmente por meio da composição dos nutrientes
fornecidas, ou seja, o consumo de uma ração desbalanceada pelos peixes
pode implicar diferentes níveis de nutrientes corporais (SIGNOR et al.,
2007). Neste experimento, não foram observadas diferenças na composição
química da carcaça (Tabela
3), o que pode estar diretamente relacionado ao correto
balanceamento dos nutrientes fornecidos aos animais.
CONCLUSÃO
A inclusão de farinha de
vísceras de aves na substituição da farinha de peixe na alimentação de
alevinos de piavuçu pode ser realizada sem comprometer o desempenho
zootécnico dos peixes.
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Protocolado
em:
15 jun. 2012. Aceito
em: 18 jun. 2013.