DOI: 10.5216/cab.v13i3.18464
AVALIAÇÃO
BIOECONÔMICA DO USO DA TORTA DE DENDÊ NA
ALIMENTAÇÃO DE VACAS LEITEIRAS
Odislei Fagner
Ribeiro Cunha 1, Jose Neuman Miranda Neiva
2, Raylon Pereira Maciel1, Fabricia Rocha Chaves Miotto2,
Ana Claudia Gomes Rodrigues Neiva2, João Restle3
1 Pós-graduando da Universidade Federal do
Tocantins, Araguaína, TO,
Brasil.
2Professores Doutores da Universidade Federal
do Tocantins, Araguaína, TO,
Brasil. - araguaia2007@gmail.com
3 Professor
Visitante Nacional Senior (CAPES) na Universidade Federal do
Tocantins, Araguaína, TO, Brasil.
RESUMO
O
presente trabalho foi desenvolvido objetivando avaliar
bioeconomicamente o
efeito da inclusão de torta de dendê (TD) na dieta de vacas leiteiras
(0,0;
11,34; 22,78 e 34,17%). Foram avaliadas a produção de leite expressa em
kg/dia (PL)
e em porcentagem do peso vivo (PL%PV), eficiência alimentar (EA),
teores de
proteína, gordura, relação gordura:proteína, lactose, sólidos totais
(ST),
extrato seco desengordurado (ESD) e nitrogênio ureico no leite
(NUL).
Houve efeito linear decrescente sobre a PL e PL%PV com a inclusão da
TD. A EA
aumentou linearmente (0,008 pontos) com a inclusão da torta de dendê.
Observou-se
redução linear nos teores de proteína e ESD. Já para os teores de
gordura,
lactose, ST, relação gordura:proteína e PL corrigida para 4% de gordura
expressas em % do peso vivo não se verificou efeito da inclusão
da TD.
Houve efeito linear crescente da inclusão da TD nas dietas sobre os
teores de
NUL. A inclusão de TD na dieta de vacas leiteiras implica em redução da
produção de leite, embora não comprometa a sua composição. A utilização
da TD
deve ser feita com ressalva, pois compromete a produção leiteira e a
condição
corporal dos animais.
PALAVRAS-CHAVE: biocombustíveis;
desempenho;
ruminante; subprodutos.
BIOECONOMIC
EVALUATION OF THE USE OF PALM KERNEL CAKE IN DAIRY COWS FEEDING
ABSTRACT
This work was carried out
with the purpose of evaluating the bioeconomic effect of the inclusion
of palm
kernel cake (PKC) to the diet of dairy cows (0.0, 11.34, 22.78 and
34.17%). We evaluated the milk production expressed in kg/day
(MP) and in
percentage of body weight (MP%BW), feed efficiency (FE), the contents
of
protein, fat, fat:protein ratio, lactose, total solids (TS ), defatted
dry
extract (DDE) and milk urea nitrogen (MUN). A linear decreasing effect
was
observed on the MP and MP%BW with the inclusion of PKC. The FE
increased
linearly (0.008 points) with the inclusion of palm kernel cake. There
was a
linear reduction in protein and DDE contents. As for fat, lactose and
TS
contents, fat: protein ratio and MP corrected for 4% of fat expressed
in % of BW
there was no effect of the inclusion of PKC. There was a linear
increasing
effect of the inclusion of PKC to the diets on the levels of MUN. The
inclusion
of PKC to the diet of dairy cows implies in reduction of milk
production,
although it does not compromise its composition. The use of PKC should
be made
with reservation because it compromises milk production and body
condition of
the animal.
KEYWORDS: biofuel; by-products;
performance; ruminant.
INTRODUÇÃO
Nos últimos 15 anos, as regiões
Centro-Oeste e Norte aumentaram seu
espaço no agronegócio nacional, sendo o leite um dos produtos de
destaque nesse
panorama, principalmente por apresentar vantagens comparativas em
relação aos
custos de produção. Certamente, se os produtores dessas regiões
conseguirem
produzir leite com custos mais baixos do que as regiões
tradicionalmente
reconhecidas pela atividade, uma nova configuração para a pecuária de
leite
nacional será projetada, em longo prazo (GOMES & FERREIRA FILHO,
2007).
Segundo EMBRAPA (2008), a produção de leite na região Norte do Brasil
cresceu
em média 8,5% ao ano, de 1998 a 2007, enquanto, no país, esse
crescimento foi
de 3,9%.
O custo de fontes tradicionais de
alimentos para suplementação animal,
como os grãos de cereais, tem se tornado limitante à rentabilidade dos
sistemas
de produção. A inclusão de fontes energéticas alternativas em rações
para vacas
em lactação tem como principal objetivo baixar os custos de
alimentação,
mantendo-se os níveis de produção de leite (PEDROSO et al., 2009).
Dentre as
alternativas, os subprodutos oriundos da produção de biodiesel surgem
como
opção promissora em função do grande volume a ser gerado, pois, com os
incentivos governamentais, a produção do biodiesel tende a crescer no
Brasil.
Dessa forma, espera-se o aumento da oferta de subprodutos que podem ser
utilizados na alimentação animal. A torta de dendê é um destes
subprodutos,
caso esse vegetal seja adotado como matriz energética.
A inclusão de cerca de 10% de torta de
dendê
na dieta de vacas lactantes é empregada em vários países e, na Malásia,
a
inclusão supera 50% (OSMAN & HISAMUDDIN, 1999). De acordo com SILVA et al. (2005), a torta de dendê pode substituir o
concentrado à base de milho moído e farelo de soja em até 18,81% da
matéria
seca da dieta de cabras em lactação, sem reduzir a produção do leite.
A avaliação do valor nutritivo dos
alimentos para animais tem sido um
desafio para os nutricionistas. A variedade de alimentos que podem e
são
utilizados na alimentação de ruminantes é grande, mas seu valor
nutricional é
determinado por complexa interação entre seus constituintes com os
microrganismos do trato digestivo, processos de digestão, absorção,
transporte
e utilização de metabólitos, além da própria condição fisiológica do
animal
(DUTRA et al., 1997).
Este estudo foi conduzido com o
objetivo de avaliar o efeito da inclusão
da torta de dendê na dieta de vacas leiteiras sobre a produção e
composição do
leite, eficiência alimentar e custos com a alimentação dos animais.
MATERIAL
E MÉTODOS
Utilizaram-se oito vacas mestiças, (½
a ¾ Holandês x Zebu), com segunda
ordem de parição, com 36 meses de idade, 382 kg de peso vivo médio, com
60 a 90
dias em lactação (DEL) no início do período experimental. Os animais
foram
distribuídos em dois quadrados latinos 4 x 4.
Estipularam-se quatro períodos
experimentais com duração de 15 dias
cada, sendo 11 dias de adaptação às dietas e quatro dias para coleta de
dados,
adaptado de SOARES et al. (2004). Os
animais receberam quatro dietas contendo 0; 11,34; 22,78 e 34,17% de
torta de
dendê (TD) com base na matéria seca (MS), obtida através de prensagem
mecânica
do fruto do dendezeiro (Elaeis guineensis).
A TD foi adquirida na Agroindústria Palmasa S/A, no município de
Igarapé-Açu,
estado do Pará. A Tabela 1 apresenta a composição químico-bromatológica
dos
ingredientes utilizados.
As
dietas foram calculadas
para suprir as exigências de mantença e produção de 15 kg de leite/dia,
com
3,6% de gordura, de acordo com o NRC (2001). O teor de nutrientes
digestíveis
totais (NDT) para o cálculo das dietas foi estimado a partir da equação
do NRC
(2001). Todas as dietas foram calculadas na tentativa de serem
isoproteicas,
com 15% de proteína bruta, na base da MS, mantendo-se a mesma relação
volumoso:concentrado de 43,3:56,7, com base na MS, em todos os
tratamentos
(Tabela 2). Em função do lote de torta de dendê utilizado apresentar
teor de
proteína bruta maior que o analisado para formulação das dietas, os
teores
desse nutriente elevaram-se à medida que se aumentou a inclusão de
torta de
dendê, não se obtendo, dessa forma, rações isoproteicas conforme
planejado
inicialmente.
As
vacas foram confinadas em
baias individuais com área de 12 m², providas de comedouro individual
coberto e
bebedouro de plástico. A dieta foi oferecida na forma de mistura
completa, duas
vezes ao dia, às 9:00 h e às 17:00 h, de modo a permitir de 5 a 10% de
sobras.
As quantidades de ração oferecida e de sobras foram registradas
diariamente,
retirando-se uma alíquota, que foi acondicionada em sacos plásticos e
congelada. Posteriormente, as amostras foram pré-secadas, em estufa
ventilada a
55°C por 72 horas, moídas em peneira de 1 mm, acondicionadas em frasco
com
tampa e armazenadas para posteriores análises.
As
análises de MS, cinzas,
extrato etéreo (EE), nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro
(FDN) e
FDN corrigida para cinza e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido
(FDA),
lignina, cálcio e fósforo nos alimentos, nas sobras e nas fezes foram
realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal do
Tocantins (UFT), localizado na Escola de Medicina Veterinária e
Zootecnia,
Campus Universitário de Araguaína, seguindo as recomendações de SILVA
&
QUEIROZ (2002).
Os
valores dos carboidratos
não fibrosos foram obtidos por meio da equação: CNF = 100 – [(% PB - %
PB da ureia
+ % ureia) + FDNcp + % EE + % Cinzas], proposta por HALL (2000), e os
carboidratos totais foram determinados por meio da equação: 100 - (% PB + % EE + % Cinzas), de acordo com
SNIFFEN et al. (1992).
O
teor dos nutrientes
digestíveis totais (NDT) da cana-de-açúcar, da torta de dendê e das
dietas
foram calculados segundo a equação de predição utilizada pelo NRC
(2001): NDT =
{CNFvd + PBvd + (2,25 x AGvd) + FDNvd } - 7, sendo: CNF
verdadeiramente
digestível = 0,98 x CNF x PAF; PBverdadeiramente digestível
(para forragens) = PB x exp { -1,2 x (PIDA / PC)}; PBverdadeiramente
digestível
(para concentrados) = {1 – (0,4 x (PIDA / PB))} x PB; AGverdadeiramente
digestível = (EE-1), se EE < 1, então AG = 0; FDNverdadeiramente
digestível = 0,75 x (FDNn – L) x {1 - (L / FDN) 0,667},
em que PIDA = nitrogênio insolúvel em detergente ácido x 6,25; AG =
Ácidos
graxos, L = lignina, e FDNn = FDN – PIDN, PIDN = nitrogênio insolúvel
em
detergente neutro x 6,25, PAF = fator de ajuste para processamento,
sendo
utilizado o fator 1 para a torta de dendê e a cana-de-açúcar. Os
valores de
nutrientes digestíveis totais observados foram estimados para as
diferentes
dietas pela equação: NDTOBS = PBdigestível + (EEdigestível
x 2,25) + FDNdigestível + CNFdigestível (SNIFFEN
et al.,
1992).
A
ordenha dos animais foi
realizada manualmente com presença do bezerro, duas vezes ao dia, às
6:30 h e
às 16:30 h. Avaliou-se a produção de leite expressa em kg/dia e em
porcentagem
do peso vivo, bem como a eficiência alimentar. A produção de leite (PL)
foi
registrada com auxílio de balança digital, na ordenha da manhã e da
tarde, do
11º ao 15º dia de cada período experimental. A produção de leite em
porcentagem
do peso vivo foi calculada pela relação entre PL e o peso médio da vaca
no
respectivo período. Foram coletadas amostras de leite, na 2ª ordenha do
14º dia
e 1ª ordenha do 15º dia de cada período experimental. As amostras foram
misturadas proporcionalmente e compostas por animal, acondicionadas em
frascos
plásticos com conservante (Bronopol), mantidas em temperatura entre 2 e
6ºC e
enviadas à Clínica do Leite na ESALQ/USP, em Piracicaba-SP, para
análise dos
teores de proteína, gordura, lactose, extrato seco desengordurado e
sólidos
totais pelo processo de infravermelho, por meio do analisador Bentley
2000
(Bentley Instruments®) e nitrogênio ureico pelo analisador ChemSpec 150
(Bentley Instruments®).
As
vacas foram pesadas no
início e fim de cada período experimental, sempre após a ordenha da
manhã e
antes de receber a dieta, para acompanhamento do peso corporal. O ganho
de peso
médio diário foi obtido através da diferença de peso da vaca no início
e no fim
do período para cada tratamento, obtendo ao final do experimento o
ganho de
peso médio diário em cada tratamento.
Para
determinar os custos,
considerou-se que os tratamentos foram aplicados em sistemas de
produção que
demandavam os mesmos insumos (instalações, mão-de-obra, equipamentos,
entre
outros), diferindo apenas quanto às dietas fornecidas. Portanto, para
quantificar o diferencial de custos entre um tratamento e outro,
utilizou-se
somente o cálculo das despesas com alimentação dos animais (PEREIRA et
al.,
2003).
Na
Tabela 3, demonstram-se os
valores de mercado dos ingredientes utilizados na alimentação das vacas
durante
o período experimental e o preço recebido pelo kg de leite praticado no
mês de
janeiro de 2010, no mercado regional de Araguaína-TO. Os preços dos
ingredientes foram convertidos para MS de acordo com seu respectivo
teor de MS.
Considerou-se para custo o total de alimento fornecido por vaca. A
margem bruta
foi obtida subtraindo-se a receita bruta (produção em kg de leite ×
preço do
leite ao produtor) pelo custo diário da alimentação. Já o custo da
alimentação
por quilograma de leite produzido foi calculado pela divisão do custo
com
alimentação (R$/vaca/dia) pela produção diária de leite (kg/vaca/dia).
As análises
estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa computacional
SAS
(2007). Foram realizadas análises do modelo de regressão pelo
procedimento REG
para testar o efeito linear e quadrático dos níveis de inclusão da
torta de
dendê na dieta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A
produção de leite diminuiu
linearmente (P<0,01) com a inclusão de TD na dieta (Tabela 4). Para
cada 1%
de inclusão de TD na dieta observou-se redução de 0,05 kg de leite/dia.
Pela
equação de regressão, observa-se que a PL no nível mais elevado de
inclusão da
TD (34,17%) foi 17,15% inferior ao da dieta padrão. A redução da PL
provavelmente ocorreu devido ao baixo teor de carboidratos não fibrosos
(CNF)
da TD, pois a sua adição nas dietas resultou em queda do teor desse
nutriente
(Tabela 2), com consequente diminuição dos nutrientes digestíveis
totais (NDT;
Tabela 2).
Outro
aspecto relevante é a
diminuição no consumo de matéria seca que foi observado com a adição de
TD.
Conforme pode ser visto na Tabela 4, para cada 1% de inclusão de TD às
dietas,
houve redução de 0,15 kg de matéria seca por vaca/dia. Esse fato,
somado à
redução nos teores de NDT, justificam a redução na produção de leite à
medida
que se adiciona a TD às dietas.
Não
houve efeito (P>0,05)
dos níveis de inclusão de TD sobre a produção de leite em porcentagem
do peso
vivo (PLCG %PV), com valor médio de 2% do PV. Já a produção de leite
(não
corrigida para % de gordura) expressa em %PV decresceu linearmente
(P<0,01)
e, para cada 1% de inclusão da TD, observou-se redução de 0,01 pontos
percentuais, seguindo o mesmo comportamento observado para PL. A
determinação
desse parâmetro possibilita caracterizar melhor a eficiência produtiva
quando
se avaliam subprodutos na dieta de vacas leiteiras, em virtude da
variação do
tamanho corporal das vacas utilizadas nos diferentes sistemas de
produção
existentes no Brasil.
A
adição de TD às dietas
elevou linearmente (p<0,01) a eficiência alimentar (EA),
observando-se que
para cada 1% de inclusão houve um aumento da EA de 0,008 pontos
percentuais
(
Tabela 4). O aumento linear da EA provavelmente ocorreu devido à
mobilização
das reservas corporais, verificada pela queda no ganho de peso médio
diário
(
Tabela 5) para produção de leite, associada à redução do consumo, que
proporcionou melhor aproveitamento dos nutrientes e, consequentemente,
aumento
da eficiência alimentar.
De
acordo com HUTJENS (2004),
valores menores que 1,3 indicam baixa EA, que pode ocorrer em rebanhos
com
baixo potencial genético para produção de leite ou submetidos a
estresse, vacas
primíparas ou em final de lactação e/ou gestação e ainda alimentadas
com
volumosos de baixa qualidade.
No
presente estudo, provavelmente, o uso da cana-de-açúcar um volumoso de
qualidade média, associado à utilização de animais mestiços leiteiros
reconhecidamente de menor potencial em relação às raças leiteiras
especializadas podem ter levado à menor EA, a qual apresentou valores
inferiores a 1,3.
Não
houve efeito (P>0,05)
da inclusão da TD sobre o percentual de gordura do leite, com média de
3,15%
(
Tabela 4). PEDROSO et al. (2009) avaliaram a substituição do milho em
grão por
farelo de glúten de milho na dieta de vacas em lactação e também não
observaram
efeito sobre o teor de gordura do leite, embora esperassem maior
síntese de
gordura, uma vez que a inclusão do farelo de glúten de milho nas dietas
elevou
a concentração de FDN e reduziu concentração de amido nas rações.
SILVA (2006) avaliou a substituição do farelo
de trigo pela torta de babaçu na alimentação de vacas mestiças em
lactação e
não observou efeito sobre o teor de gordura do leite, atribuindo esse
resultado
ao fato de a substituição não ter influenciado o consumo de FDN.
Os
teores de proteína do
leite reduziram linearmente (p<0,01) com a inclusão da TD na dieta,
verificando-se redução de 0,01% para cada 1% de inclusão da TD. A
redução no
teor de proteína do leite provavelmente ocorreu devido ao menor teor de
CNF nas
dietas (
Tabela 2) que continham níveis mais elevados da TD, podendo,
dessa
forma, limitar a síntese de proteína microbiana no rúmen. Com redução
no aporte
de proteína que chega ao intestino delgado há menor disponibilidade de
aminoácidos na glândula mamária para síntese de proteína.
A
magnitude da variação nos
teores de proteína e gordura do leite não foi suficiente para ocasionar
efeito
(P>0,05) sobre a relação gordura: proteína do leite com a inclusão
da TD nas
dietas, observando-se valor médio de 0,94. Não se observou efeito
(P>0,05)
da inclusão da TD sobre os teores de lactose e sólidos totais (ST) do
leite,
com valores médios de 4,70% e 12,05%, respectivamente. A fibra e os CNF
dietéticos não interferiram no teor de gordura e, consequentemente, no
teor de
ST, uma vez que a gordura é o componente do leite que apresenta maiores
variações. Já a lactose é o componente que apresenta concentração mais
estável,
sendo essencialmente uma constante de 4,85% do leite (NRC, 2001).
O teor de extrato seco desengordurado (ESD) do
leite decresceu linearmente (P<0,01) com a inclusão da TD e, para
cada 1% de
inclusão de TD na dieta, observou-se redução de 0,01 pontos percentuais
para essa
característica. Como não houve efeito da inclusão da TD sobre o teor de
lactose
do leite, provavelmente a redução da proteína foi responsável pela
redução do
ESD.
O
percentual de nitrogênio ureico
no leite (NUL) aumentou linearmente (p<0,01) com a inclusão da TD
nas
dietas. Para cada 1% de inclusão da TD ocorreu aumento de 0,18 mg/dl de
NUL. O
aumento no teor de NUL possivelmente ocorreu devido à redução na
disponibilidade de energia no rúmen, pois a inclusão da TD reduziu o
NDT das
dietas. Isso pode ocorrer quando carboidratos de fermentação rápida são
substituídos por subprodutos ricos em FDN, resultando em diminuição da
quantidade de nitrogênio capturado pelos microorganismos ruminais para
síntese
de proteína microbiana e aumento da passagem de nitrogênio amoniacal
para a
corrente sanguínea.
Os
níveis de NUL observados
estão acima do limite de 10 a 14 mg/dl (
Tabela 4)
proposto
por DePETERS & FERGUSON (1992).
De acordo com a equação de regressão, houve aumento de 30,87% do NUL da
dieta
padrão para o nível de 34,17% de inclusão da TD, o que demonstra que
houve
limitações quanto ao teor de carboidratos fermentáveis no rúmen para
que
houvesse adequado sincronismo com a proteína dietética.
Outro
agravante foi o elevado
NUL observado nos animais recebendo a dieta padrão, o que pode ser
atribuído ao
baixo teor de CNF (38,77%) da cana-de-açúcar utilizada no presente
estudo,
estando abaixo de 44,21%, valor médio apresentado por VALADARES FILHO
et al.
(2001) nas tabelas de composição de alimentos para ruminantes.
GUSTAFSSON &
PALMQUIST (1993) observaram maior tempo para coagulação do queijo
oriundo de
leite com altas concentrações de nitrogênio não proteico. Os autores
ainda
ressaltam que, embora a maioria dos países, mesmo os desenvolvidos,
ainda não
utilize pagamento do leite em função do teor de proteína verdadeira,
essa é uma
tendência que deve ser rapidamente revertida, o que resultará em perdas
econômicas aos produtores não especializados.
Os
custos com alimentação,
receita, margem bruta, custo por quilograma de leite produzido e ganho
de peso
médio diário são apresentados na
Tabela 5. Verificou-se diminuição do
custo com
alimentação com o aumento da inclusão da TD nas dietas, porém os
animais
perderam peso no nível máximo de inclusão desse subproduto.
Através da avaliação
dos custos com alimentação e margem bruta, verifica-se que as dietas
com 0,0% e
11,34% de TD são economicamente inviáveis, pois a margem bruta foi
negativa. Já
a inclusão de 34,17% de TD resulta em perda de peso dos animais e,
dessa forma,
nenhum desses
três
tratamentos é
desejável em
sistemas de produção biológica e economicamente sustentáveis.
RANGEL
et al. (2008)
enfatizaram que, em avaliação econômica de dietas para vacas leiteiras,
a não
consideração do peso vivo pode induzir superestimação das dietas, tendo
em
vista que as variações negativas de peso indicam ocorrência de
mobilização das
reservas corporais, o que leva ao comprometimento do desempenho
reprodutivo e
produtivo dos animais.
O
aumento na eficiência
alimentar (Tabela 4) associado ao ganho de peso viabilizou o uso da TD
no nível
de inclusão de 22,78%, com margem bruta de R$ 0,23, o que significa que
a
exploração se remunera e sobrevive, pelo menos, em curto prazo. No
entanto,
deve-se atentar para outros aspectos verificados, como a redução no
consumo de
matéria seca e, consequentemente, de importantes nutrientes, conforme
observado
por CUNHA (2010). O referido autor, utilizando os mesmos animais e
dietas do
presente estudo, observou redução nos consumos de MS, PB, CNF, EE e
NDT. É
provável que, em longo prazo, a inclusão da TD às dietas comprometa o
estado
fisiológico geral do rebanho e, principalmente, o desempenho
reprodutivo do
mesmo.
A redução do custo de alimentação com a dieta
com inclusão de 34,17% de TD associada ao baixo CMS possibilitou, para
esse
tratamento, menor custo com alimentação por kg de leite produzido. No
entanto, a
melhor margem bruta observada para esse tratamento deve-se à perda de
peso (-
0,120 kg/dia) apresentada, o que resultou em mobilização das reservas
corporais
nas vacas. Essa situação não é desejável, pois a perda de peso trará
prejuízos
econômicos, principalmente pelo aumento do intervalo de partos.
CONCLUSÃO
A
inclusão de torta de dendê
na dieta de vacas leiteiras implica redução da produção de leite.
Embora ocorra
redução nos custos de produção com a inclusão da torta de dendê,
concomitantemente, ocorre perda de peso dos animais, o que compromete
os
índices reprodutivos e a futura lactação da vaca.
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Protocolado
em: 09 maio 2012.
Aceito em: 20 ago. 2012.