EPIDEMIOLOGIA
DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA LEUCOSE ENZOÓTICA BOVINA (LEB)
José Wilton Pinheiro Junior1, Maria Evódia de Souza2, Wagnner José Nascimento Porto3, Nair Silva Cavalcanti Lira4, Rinaldo Aparecido Mota1
RESUMO
Objetivou-se
com este trabalho investigar a presença de anticorpos anti-vírus da
leucose
enzoótica além de identificar a associação entre variáveis de manejo e
soropositividade para essa infecção em bovinos no Estado de Alagoas,
Brasil.
Foram examinados 17 rebanhos, perfazendo um total de 341 animais,
distribuídos
em oito municípios. A pesquisa de anticorpos foi efetuada pela técnica
de
Imunodifusão em Gel de Ágar (IDGA), utilizando-se o antígeno
constituído por
lipopolissacarídeos e proteínas do vírus da leucose bovina. Das 341
amostras
analisadas, 95 (27,8%) foram positivas e o número de focos constatados
foi de
12 (70,6%). Foram observadas diferenças significativas para as
variáveis:
assistência técnica (p<0,001), aquisição de gado recente (p=0,003),
existência de piquete maternidade (p<0,001) e manejo de colostro
(p<0,001). A infecção pelo vírus da leucose enzoótica bovina está
presente
na região estudada e medidas sanitárias rigorosas devem ser
implementadas para
controlar a disseminação do vírus, o que evitará perdas na cadeia
produtiva da
bovinocultura.
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EPIDEMIOLOGY OF
ENZOOTIC BOVINE
LEUKEMIA (BLV) VIRUS INFECTION
ABSTRACT
The
purpose of this study
was to investigate the presence of anti-enzootic leucosis virus
antibodies and
also to identify the association between seropositivity and management
variables for this infection in cattle in the State of Alagoas, Brazil.
A total
of 17 herds were examined, totaling 341 animals, distributed in eight
counties.
The antibody detection was performed by the technique of agar gel
immunodiffusion (AGID), using the antigen constituted of lipids and
proteins
from bovine leukosis virus. From the 341 samples analyzed, 95 (27.8%)
were
positive and the number of outbreaks was 12 (70.6%). Significant
differences
were observed for the variables: technical assistance (p<0.000),
recent acquisition
of animals (p=0.003), existence of maternity paddocks (p<0.000), and
colostrum management (p<0.000). The enzootic bovine leukosis virus
infection
is present in the region studied and strict sanitary matters must be
implemented to prevent spread of the virus, which will avoid losses in
the
cattle production chain.
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INTRODUÇÃO
Em
Alagoas, dados do Censo Agropecuário 2006
registraram um efetivo bovino de 886.244 mil cabeças (IBGE, 2006),
atingindo em
2009 uma produção de 238.229 mil litros de leite e uma produtividade de
O
aumento da concentração de bovinos por
propriedade, a introdução de material genético importado e a alteração
de
manejo sanitário e reprodutivo facilitaram a disseminação de diversos
patógenos
de grande importância sanitária para a bovinocultura leiteira (POLETTO
et al.,
2004). Dentre esses patógenos, destaca-se o retrovírus da leucemia
bovina,
responsável pela Leucose Enzoótica Bovina (LEB) (OIE, 2008).
A
LEB é uma doença de grande importância econômica
devido a vários fatores, como: perdas na exportação para mercados que
requerem
animais livres da infecção, custos com o diagnóstico e o tratamento das
complicações dos animais com linfossarcomas, descarte prematuro ou
morte de
animais, particularmente aqueles de alto potencial genético, e
condenação de
carcaças em frigoríficos com serviço de inspeção veterinária
(DIGIACOMO, 1992).
A
introdução do Vírus da Leucose Enzoótica Bovina
(VLB) em rebanhos brasileiros foi atribuída à importação indiscriminada
de
bovinos do hemisfério norte, por pecuaristas de gado de elite das
regiões
Sudeste e Sul. Uma vez estabelecida, nessas regiões, o vírus
disseminou-se para
as regiões Norte e Nordeste, favorecido pelo trânsito intenso de
animais (ABREU
et al.,1994) e principalmente pela ausência de uma política sanitária
visando
combater a ocorrência da doença em território nacional (GARCIA et al.,
1991).
Para
determinar a prevalência dessa infecção nos
rebanhos bovinos brasileiros, diversos estudos foram realizados nas
diversas
regiões do país. No Estado do Rio Grande do Sul, FLORES et al. (1990) e
MORAES
et al. (1996) encontraram 20,7% e 9,2% de animais positivos,
respectivamente.
No Estado do Paraná, BARROS FILHO et al. (2010) analisaram 268 bovinos
leiteiros criados na região metropolitana de Curitiba e determinaram
uma
prevalência de 56,3%. Na região Nordeste, no Estado da Bahia, TÁVORA
&
BIRGEL (1991) observaram 16,1% de animais positivos e MATOS et al.
(2005)
verificaram 41,0% de animais sororeagentes. No Estado de Pernambuco,
MENDES et
al. (2011) encontraram uma prevalência de 23,1% em rebanhos leiteiros.
No
Estado de Alagoas, BIRGEL JUNIOR et al. (1999) determinaram uma
prevalência de
9,6% em bovinos criados na região de produção leiteira, sendo esse o
primeiro
registro da infecção no Estado. Portanto, esse novo estudo foi proposto
para
verificar a situação atual desta infecção, por meio da determinação da
soroprevalência de anticorpos anti-vírus da leucose enzoótica em
bovinos no
Estado de Alagoas, Brasil, além de identificar a associação entre
variáveis de
manejo e soropositividade para essa infecção.
MATERIAL E MÉTODOS
O
estudo foi desenvolvido na microrregião de
Batalha, mesosertão de Alagoas, que possui um total de 96.034 bovinos
distribuídos entre os municípios de Batalha (17.280), Belo Monte
(10.000),
Jacaré dos Homens (10.924), Jaramataia (8.012), Major Izidoro (27.547),
Monteirópolis (6.035), Olho D’Água das Flores (9.536) e Olivença
(6.700) (IBGE,
2006). Optou-se por trabalhar com essa microrregião por ser considerada
como a
bacia leiteira do estado de Alagoas.
Para
se realizar este estudo epidemiológico de
forma a estabelecer a prevalência de anticorpos séricos anti-VLB,
utilizou-se a
fórmula preconizada por THRUSFIELD (2004). Considerou-se uma
prevalência
estimada no país de 23,7 (FERNANDES et al., 2009), com o nível de
confiança de
95% e um erro estatístico de 20,0%, o que determinou uma amostra mínima
de 310.
Contudo, optou-se por trabalhar com 341 amostras, como margem de
segurança, que
foram colhidas em 17 propriedades distribuídas em oito municípios. As
propriedades foram escolhidas por conveniência. Para o cálculo das
amostras por
propriedade utilizou-se o programa computacional WinEpiscope 2.0. Os
rebanhos
eram constituídos de animais de várias raças, idades, que se
encontravam em
diferentes estágios de lactação e eram criados em sistema intensivo ou
semi-intensivo e submetidos à ordenha mecânica e/ou manual.
As
amostras de sangue foram obtidas de bovinos em
idade reprodutiva por punção da veia jugular, com sistema de colheita a
vácuo,
em tubos siliconizados com capacidade para 10mL. O sangue colhido foi
mantido
em temperatura ambiente até a retração do coágulo sanguíneo, em seguida
transportadas ao laboratório sob refrigeração, onde foram
centrifugadas,
durante 10 minutos, a 1000g. O soro obtido foi transferido para tubos
de
polipropileno e armazenados em congelador a temperatura de –20°C, até o
momento
da realização dos testes sorológicos. O período da coleta foi de
janeiro a
abril de 2008.
A
detecção de anticorpos séricos anti- VLB foi
feita por meio da prova de Imunodifusão em Gel de Ágar (IDGA),
utilizando-se
antígeno para diagnóstico dessa virose, produzido pelo Instituto
Tecnológico do
Paraná (TECPAR), segundo metodologia preconizada pelo fabricante.
Para
a análise dos resultados obtidos,
considerou-se a dispersão das frequências absoluta e relativa. Para
identificar
a associação entre variáveis de manejo e soropositividade para essa
infecção,
foram aplicados questionários com perguntas objetivas sobre o manejo
higiênico-sanitário. A caracterização da significância entre as
diferenças
observadas nas frequências de animais positivos segundo o sexo,
assistência
técnica, última aquisição de gado, piquete maternidade e manejo de
colostro foi
determinada pelo teste qui-quadrado ou exato de Fisher. O nível de
significância adotado foi de 5% (ZAR, 1999). Considerou-se como foco as
propriedades que apresentaram ao menos um animal reagente à prova
sorológica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em
relação aos municípios, constatou-se que 100,0%
possuíam propriedades com animais positivos e o número de focos foi de
70,6%
(12/17). MOLNÁR et al. (1999) realizaram estudo semelhante no Estado do
Pará em
14 rebanhos criados extensivamente e descreveram que todos os rebanhos
possuíam
animais positivos, identificando, assim, 100,0% de focos. Da mesma
forma,
CARNEIRO et al. (2003) conduziram estudo no Estado do Amazonas e
identificaram
8,9% de bovinos sororeagentes em todos os rebanhos estudados,
resultados esses
diferentes dos encontrados neste estudo. Apesar da diferença
encontrada, o
número de focos na região estudada pode ser considerado elevado,
indicando que
o agente está disseminado nas propriedades rurais de Alagoas. Apesar de
não
existirem trabalhos relatando casos clínicos de LEB em bovinos neste
Estado, é
importante que os médicos veterinários e produtores fiquem atentos a
essa
enfermidade, uma vez que o número de focos foi elevado.
Ao
avaliar a significância das variáveis
analisadas, observou-se associação significativa para assistência
técnica
(p<0,000), aquisição de gado recente (p=0,003), manejo de colostro
(p<0,000) e existência de piquete maternidade (p<0,000) (Tabela 2).
Ao
analisar a variável sexo, observou-se que os
machos são tão susceptíveis à infecção quanto às fêmeas (p=0,713). Em
relação a
essa variável, BIRGEL JUNIOR et al. (1995) afirmam que a diferença deve
ser
atribuída à influência do sistema de criação e não ao sexo, pois, nos
rebanhos
leiteiros, os machos, sejam eles reprodutores ou garrotes criados para
a venda,
são mantidos isolados, o que dificulta a transmissão horizontal do
vírus.
Os
fatores de risco associados à infecção pelo VLB
foram analisados no Estado do Tocantins por FERNANDES et al. (2009),
que
concluíram que apenas o tipo de ordenha praticado nas propriedades
apresentou
associação significativa (p<0,05) e OR igual a 2,7 para ordenha
manual.
Entretanto, esses autores destacaram que, apesar de a variável
assistência
técnica não ter apresentado associação significativa, ela foi elevada
(40,1%)
nas propriedades que mantinham assistência veterinária em relação às
que não
mantinham.
Constatou-se
neste estudo maior número de animais
positivos naquelas propriedades onde havia assistência técnica e
aquisição de
gado recente. Sabe-se que uma das principais formas de transmissão do
vírus da
LEB é horizontal, por meio do contato com materiais contaminados (luva
de
palpação retal, aplicadores de brinco), e a interferência do
veterinário, sem
os devidos cuidados higiênicos, pode ser um fator que esteja
contribuindo para
a ocorrência da infecção nas diversas propriedades. FERNANDES et al.
(2009)
relataram que a introdução negligente de animais reprodutores e/ou
matrizes
geneticamente qualificados e mais produtivos, de raças européias,
principalmente Holandesa, sem a implantação de critérios rígidos de
sanidade,
cria condições favoráveis para a ocorrência da infecção pelo VLB
(FERNANDES et
al., 2009).
De
acordo com FLORES et al. (1988), existem fatores
que interferem positivamente na disseminação do agente, incluindo a
presença de
vários animais infectados, grande rodízio (compra e venda) de animais,
criação
em sistema semi-intensivo e o uso rotineiro de práticas como
vacinações,
vermifugações e outras medidas terapêuticas, pequenas cirurgias,
descorna,
aplicação de brincos e palpação retal para diagnóstico de gestação.
As
propriedades estruturadas com piquete
maternidade e que não realizavam controle da origem do colostro, neste
estudo,
apresentaram índices de positividade mais elevados. Esses resultados
são
importantes do ponto de vista epidemiológico, pois medidas preventivas
podem
ser aplicadas nas propriedades para diminuir o número de animais
infectados e
de focos. O maior número de animais infectados naquelas propriedades
que
possuíam piquete maternidade deve ter sido pelo contato com pasto e
água
contaminados durante o parto. O uso do colostro livre de VLB é uma
importante
medida no controle, prevenindo a transmissão vertical (LEUZZI JUNIOR,
2001), e
uma das formas de inativar esse vírus é através da pasteurização
(BAUMGARTENER
et al., 1976).
Considerando
o elevado número de focos encontrados
na região do estudo, recomenda-se que seja realizado um controle
rigoroso nas
propriedades para controlar o número de casos com medidas
higiênico-sanitárias,
rotina sorológica, sacrifício dos animais positivos e, naquelas
propriedades
com índice de positividade baixo, segregação do rebanho de acordo com status sorológico. Segundo FLORES et al.
(1988b), o controle da infecção nas propriedades com um ou dois animais
positivos poderia ser feito simplesmente pela substituição destes por
descendentes negativos ou por animais soronegativos de outras
propriedades. A
manutenção dos animais soropositivos no rebanho coloca em risco os
demais
animais que, com a convivência, certamente, irão se infectar, tornando
o
controle ainda mais difícil.
A
detecção e eliminação dos animais sorologicamente
positivos constituem os pontos fundamentais no controle da infecção
pelo VLB.
Nesse sentido, a obrigatoriedade de exames sorológicos nos rebanhos, a
exigência de soronegatividade para animais destinados a feiras e
exposições,
centrais de inseminação artificial, doadores de sangue para premunição
e animais
a serem importados são necessários na tentativa de controlar a infecção
(FLORES
et al., 1988b). Esse controle é necessário, uma vez que a infecção é
considerada como um problema de importância sanitária e econômica, pois
a
presença do vírus impõe sérias restrições à exportação e importação de
bovinos
de alto potencial genético, além de provocar mortalidade e diminuir a
produtividade dos bovinos atingidos (BRAGA et al., 1997).
CONCLUSÃO
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