RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes doses e
momentos da gestação para a administração do acetato de triancinolona
(TRI) na pré-indução de partos. Utilizaram-se como modelo experimental
receptoras de embriôes Nelore produzidos in vitro (PIV). Cento e
setenta e cinco receptoras gestantes foram distribuídas em quatro
grupos experimentais de acordo com o tempo gestacional (280 ou 285
dias) e a dose de TRI (1mg/60 Kg ou 1mg/100 Kg de Peso Vivo).
Avaliaram-se o momento da gestação, as taxas de sincronização e de
assistência aos partos, a viabilidade e o peso dos bezerros e ainda a
taxa de retenção de placenta. A dose de TRI não alterou os parâmetros
avaliados (p>0,05). Houve maior sincronização dos partos (p<0,05)
quando o TRI foi administrado aos 280 dias em relação aos 285 dias de
gestação. Os partos de bezerros mais pesados (≥42 kg) necessitaram
maior assistência (p≤0,05). Trata-se de produtos que apresentaram menor
viabilidade (p≤0,05) quanto aos partos de bezerros mais leves.
Conclui-se que, independente da dose de TRI, a pré-indução aos 280 dias
de gestação resulta em maior sincronização e melhor previsibilidade dos
nascimentos, quando comparada à pré-indução aos 285 dias, sem
comprometer a viabilidade dos bezerros.
PALAVRAS-CHAVES: Corticoide de longa ação, indução de parto, retenção de placenta.
ABSTRACT
INDUCTION OF PARTURITION USING TRIAMCINOLONE PRETREATMENT IN PREGNANT RECIPIENTS OF IN VITRO PRODUCED EMBRYO
The aim of the present study was to evaluate the effect of two doses of
acetonide triamcinolone (TRI) at two distinct moments of gestation in
the pre induction of parturition. Embryo recipients pregnant of the in
vitro produced embryo were utilized as experimental model. A total of
175 pregnant embryo recipients were assigned into one of the four
groups according to gestational period (280 or 285 days) and utilized
dose of the TRI (1mg/60Kg or 1mg/100kg of body weight). The
synchronization and assistance rates of the calving, the viability and
body weight of calves at calving as well as retained placenta rate were
evaluated. The TRI dose did not effect any variables responses
(p>0.05). Least spread of the calving moment was observed in the
recipients treated at the 280 days of gestation (p≤0.05). The cow
calving calf with ≥42kg needed more assistance to calving (p≤0.05) and
these calves had lower viability than calves with <42Kg of the body
weight (p≤0.05). The data suggested that, independent of dose of the
TRI, the pre induction with TRI at 280 days of gestation promote a good
synchronization in the calving with a high predictable calving time
without compromise the calf viability when compared with the pre
induction at 285 days of gestation.
KEY WORDS: Induction of parturition, long action corticoid, retention placenta.
INTRODUÇÃO
Na bovinocultura moderna o nascimento e sobrevivência de produtos
saudáveis estão diretamente relacionados à eficiência econômica da
atividade. Para isso, em muitos países onde a parição ocorre ao final
do inverno, ou naqueles em que se utilizam raças com elevada
prevalência de distocias, a contratação de mão de obra especializada,
para atender à estação de nascimento, torna-se necessária (BARTH, 2006).
Atualmente, com o maior emprego de biotécnicas da reprodução animal
como a transferência (TE) e a produção in vitro (PIV) de embriões, com
o nascimento de produtos de elevado valor genético e monetário
agregado, tornam-se importantes a constante assistência ao parto e a
redução dos índices de mortalidade.
Nesse sentido, a utilização da indução e sincronização dos partos
permite a adoção de técnicas de manejo mais efetivas no que se refere
ao monitoramento dos animais (DAVIS et al., 1979; BÓ et al., 1992).
Entretanto, para que essa biotecnologia seja utilizada com eficiência é
necessário o desenvolvimento de métodos acessíveis, com baixo custo e
de fácil aplicação, que não comprometam a vida reprodutiva da fêmea
gestante, bem como a viabilidade do recém-nascido.
O protocolo comumente utilizado na indução do parto consiste na
associação de glicocorticoides de curta ação com a prostaglandina F2α
(PGF2α). A combinação desses dois hormônios, atuando de maneira
sinérgica, resulta em índices satisfatórios de indução e sincronização
dos partos. No entanto, este protocolo apresenta como desvantagem
elevados índices de retenção de placenta (53%) quando comparado aos
observados após partos espontâneos (BARTH et al., 1981; LEWING et al.,
1985).
Na tentativa de reduzir os índices de retenção de placenta obtidos com
o uso de glicocorticoides de curta ação e prostaglandina, alguns
estudos vêm sendo desenvolvidos utilizando corticoides de longa ação na
pré-indução dos partos (BARTH, 2006). BÓ et al. (1992) utilizaram
opticortenol (OPT) como pré-tratamento aos 270 dias de gestação e
realizaram a indução com dexametasona (DEXA) e cloprostenol (CLO) sete
dias após. Esses autores obtiveram menores índices de retenção de
placenta quando comparado ao uso de somente DEXA+CLO. Em outro estudo,
NASSER et al. (1994) utilizaram como pré-tratamento o acetato de
triancinolona (TRI) e indução com a DEXA e CLO em diferentes períodos
após este pré-tratamento. Os autores descrevem a redução do índice de
retenção de placenta nos animais submetidos à indução sete dias após a
administração do TRI.
Existem diversas particularidades fisiológicas entre Bos indicus e Bos
taurus, que devem ser levadas em consideração quando são empregadas
biotecnologias (BARUSELLI et al., 2007). Dentre as diferenças, pode ser
citada a duração do período gestacional, que em Bos indicus é mais
longa que em Bos taurus (PASCHAL et al., 1991; ZILLO et al., 1996;
ROCHA et al., 2005). PASCHAL et al. (1991), estudando o período de
gestação de fêmeas Hereford, após inseminação utilizando touros de
diferentes raças, encontraram médias de 282; 291; 289; 290; 294 e 290
dias para os acasalamentos com Angus; Gray Brahman; Gir; Indu-Brazil;
Nelore e Red Brahman, respectivamente. Para a raça Nelore, outros
autores também descrevem períodos gestacionais semelhantes. ZILLO et
al. (1996), por exemplo, observaram uma média do período gestacional de
295,1 dias e ROCHA et al. (2005) de 294,5 dias para machos e 293,3 dias
para fêmeas.
Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes doses e
momentos da gestação para a administração do acetato de triancinolona
(TRI) na pré-indução de partos, utilizando, como modelo experimental,
receptoras gestantes de embrião Nelore produzido in vitro (PIV).
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado no período de junho a novembro de 2005,
em quatro propriedades rurais localizadas no Estado de Mato Grosso do
Sul (Fazenda Planalto 20˚38’09,12’’S e 54˚39`38,70’’W; Fazenda Prata de
Lei 20˚37`36,19``S e 54˚34`29,02’’W; Fazenda Santa Catarina
22˚28’19,92’’S e 55˚04`39,97’’W e Fazenda São Francisco 20˚37’09,12’’S
e 54˚39`38,70’’W).
Utilizaram-se como modelo experimental novilhas cruzadas Bos indicus x
Bos taurus (n=175), gestantes de embrião Nelore produzido in vitro
(PIV). As fêmeas em estado de gestação apresentaram peso vivo (PV)
médio de 481 ± 52,6 kg.
O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, sendo os animais
subdivididos homogeneamente em quatro grupos experimentais (Grupo 1=
45, Grupo 2= 46, Grupo 3=41, Grupo 4=43), de acordo com a paternidade
do embrião e sexo fetal, diagnosticado por ultra-sonografia (Aloka 500
– Aloka Co. Ltd., Tokyo, Japão), através da localização do tubérculo
genital (PIERSON & GINTHER, 1988), aos 60 dias de gestação.
Testaram-se dois momentos da gestação para a pré-indução do parto (280 ou 285 dias). Os protocolos (
Figura 1) compreenderam uma fase de pré-indução com o corticoide de longa ação acetato de triancinolona
1
(TRI), em diferentes doses (1mg/60 Kg PV ou 1mg/100 Kg), sendo feita,
após sete dias, a indução com a associação de dexametasona
2 (DEXA, 25mg)
e d-cloprostenol sódico
3 (d-CLO, 150µg), administrados pela via
intramuscular.
As observações relacionadas aos partos induzidos e aos recém-nascidos
foram realizadas por dois observadores previamente treinados. Com o
objetivo de facilitar o acompanhamento e o manejo das fêmeas gestantes,
após a pré-indução com TRI, estas foram alocadas em piquetes de um a
cinco hectares, contendo no máximo cinco fêmeas por piquete.
Efetuaram-se as observações a distância, iniciando-se após a
pré-indução, sendo realizadas de maneira individual após o início dos
sinais do parto.
Avaliaram-se os seguintes parâmetros:
(a) Intervalo entre a pré-indução e o parto (dias) – tempo decorrido
entre o momento da administração do TRI até o início do parto. O parto
foi considerado o período entre o rompimento da placenta pelo bezerro e
a expulsão completa deste (DAVIS et al., 1979; LEWING et al., 1985; BÓ
et al., 1992; RASMUSSEN et al., 1996).
(b) Intervalo entre a indução e o momento do parto (horas) – período
decorrido entre o tratamento com DEXA+CLO e o início do parto. Os
partos foram considerados sincronizados somente quando estes ocorreram
entre 24 e 72 horas após a indução com DEXA+CLO (LEWING et al., 1985;
BÓ et al., 1992; NASSER et al., 1994).
(c) Assistência ao parto – não assistido (0) ou assistido (1),
independente do grau desta intervenção (desde simples tração do bezerro
por duas ou três pessoas, até procedimento cirúrgico: cesariana).
(d) Avaliação do bezerro após o nascimento – mensuração do peso
corporal, viabilidade e a necessidade de assistência após o nascimento.
Os bezerros foram considerados não viáveis (1) ou viáveis (0) para
aqueles que se levantaram em até duas horas após o nascimento (DAVIS et
al., 1979; BÓ et al., 1992; NASSER et al., 1994). Para que não houvesse
interferência na relação materno–filial, os bezerros foram pesados em
prazo máximo de 24 horas do nascimento, somente após a primeira mamada.
Para bezerros que não se levantaram no período máximo de duas horas,
realizaram-se intervenções humanas, como ajuda para mamar, fornecimento
de colostro por meio de sonda gástrica e uso de broncodilatador. Desse
modo, os bezerros foram considerados não assistidos (0) ou assistidos
(1) de acordo com a necessidade de intervenções humanas.
(e) Taxa de retenção de placenta – considerou-se retenção de placenta
quando esta não foi liberada em período ≥ 24 horas após o parto
(BEARDSLEY et al., 1976; BARTH et al., 1981; WILTBANK et al., 1984;
MUSAH et al., 1987; BÓ et al., 1992; ESSLEMONT & PEELER, 1993;
NASSER et al. 1994; RASMUSSEN et al., 1996; KORNMATITSUK et al., 2000;
DRILLICH et al., 2003; HAN & KIM, 2005).
Analisaram-se os dados mediante o programa estatístico SAS (1995),
versão 6.11, considerando as análises para medidas repetidas no tempo
(Proc Mixed). Empregou-se arranjo experimental em parcela subdividida
(split-plot). Foram considerados o efeito momento da pré-indução com
TRI como a parcela e o efeito dose de TRI como a subparcela. As médias
das variáveis dependentes que apresentaram valores significativos
(p≤0,05) foram ajustadas pelo método dos quadrados mínimos e testadas
pelo Teste t de Student.
Para avaliar a taxa de sincronização dos partos, após a indução,
utilizou-se o teste de Qui-quadrado, considerando os partos
sincronizados (1) ou não sincronizados (0). Foram sincronizados os
partos que ocorreram entre 24 e 72 horas após a indução com DEXA+d-CLO.
Analisaram-se as variáveis binomiais (assistência ao parto, viabilidade
do bezerro e retenção de placenta) em relação às variáveis
independentes pelo teste do Qui-quadrado. Também foi avaliado o efeito
do peso do bezerro nas variáveis respostas da assistência ao parto e
viabilidade do bezerro, utilizando o teste de Wilcoxon, para amostras
independentes.
Para as variáveis contínuas utilizou-se a estatística descritiva (média
± desvio-padrão); para as variáveis binomiais (resposta sim ou não),
suas porcentagens. O nível de significância considerado foi de 5%.
RESULTADOS
Não foram observados efeitos de fazenda e dose de TRI (p>0,05) sobre
o intervalo da pré-indução ao parto. No entanto, observou-se efeito
significativo do momento da gestação para a administração do TRI sobre
o intervalo da pré-indução ao parto (em dias; p≤0,05) e do intervalo
entre a indução com DEXA+d-CLO e o parto (em horas; p≤0,05;
Tabela 1).
A distribuição dos partos foi similar no que se refere às doses de TRI administradas (p>0,05;
Figura 2).
Entretanto, para o momento da gestação em que foi aplicado o TRI,
observou-se diferença significativa (p≤0,05) na distribuição dos
partos. Verificou-se maior dispersão dos partos quando a aplicação do
TRI foi realizada aos 285 dias (p≤0,05;
Figura 3), em comparação com 280 dias de gestação.
Para as variáveis relativas à assistência ao parto, peso, viabilidade
do bezerro e retenção de placenta não houve efeito de fazenda e sexo do
bezerro (p>0,05;
Tabela 2).
Não houve diferença estatística, para peso ao nascimento, entre machos
e fêmeas. As médias dentro de cada grupo são apresentadas na
Tabela 3, sendo a média geral para ambos os sexos de 36,9 ± 8,52 kg, para machos de 37,2 ± 9,9 kg e para as fêmeas 36,4 ± 6,6 kg.
Sexo do bezerro não apresentou efeito sobre o percentual de animais que
receberam assistência ao parto. Da mesma forma, a assistência ao
bezerro não diferiu significativamente entre fazendas (p>0,05),
momento da gestação (p>0,05) e doses de TRI (p>0,05;
Tabela 2).
Bezerros com peso ao nascimento ≥42 kg (um desvio-padrão acima da
média) receberam maior assistência ao parto (p≤0,05) e tiveram menor
viabilidade (p≤0,05). As fêmeas que pariram bezerros com peso acima de
42 kg apresentaram maior frequência de assistência ao parto (50,0%;
16/32) em relação aos bezerros mais leves (14,5%; 20/138). Bezerros com
peso ≥42 kg apresentaram uma menor viabilidade (71,9%; 23/32) em
relação aos bezerros com menor peso ao nascimento (89,9%; 124/138).
O índice de retenção de placenta não diferiu entre fazendas
(p>0,05), momento da gestação (p>0,05), doses de TRI (p>0,05)
e entre os grupos (
Tabela 3).
DISCUSSÃO
No presente estudo o índice de sincronização dos partos pré-induzidos
com TRI foi satisfatório, se considerado que ao redor de 80% dos
nascimentos ocorreram dentro do intervalo de 24 horas após a
administração de DEXA+d-CLO, demonstrando elevada previsibilidade do
período de ocorrência dos nascimentos, sem comprometer a viabilidade
dos bezerros.
As fêmeas que receberam o pré-tratamento com TRI aos 285 dias
apresentaram menor intervalo entre a pré-indução e nascimento que as
tratadas aos 280 dias. Apenas 20,9% dos animais tratados aos 280 dias
pariram antes da indução ou com menos de 24 horas após a aplicação de
DEXA+d-CLO. Das fêmeas tratadas aos 285 dias, 35,7% pariram nesse
período. Isso demonstra uma maior previsibilidade dos nascimentos 24
horas após a indução, quando os animais receberam o pré-tratamento aos
280 dias de gestação.
Trata-se de dados que estão de acordo com os descritos por NASSER et
al. (1994), que aplicaram TRI em fêmeas Bos taurus aos 270 dias de
gestação e induziram o parto com DEXA+CLO aos 275, 276 e 277 dias. Nas
fêmeas que receberiam a indução sete dias após o pré-tratamento, 36,8%
pariram antes da DEXA+CLO, e dos animais que foram induzidos após cinco
dias, somente 4,1% pariram apenas com a pré-indução. Nesse sentido,
segundo os autores citados, trata-se de diferença que decorre do maior
período de exposição ao corticoide de longa ação nos animais tratados
aos 277 dias. Acredita-se que, neste estudo, uma maior porcentagem das
fêmeas tratadas aos 285 dias já havia desencadeado o parto antes mesmo
da indução com DEXA+d-CLO.
Não houve diferença para o intervalo entre a indução e o nascimento, de
acordo com a dose de TRI 1mg/60 kg (32,15 horas) e 1mg/100 kg (32,25
horas). Porém, os animais pré-tratados com TRI aos 285 dias de gestação
apresentaram menor intervalo (30,5 horas) que aqueles que receberam a
TRI aos 280 dias (33,9 horas). Isso, provavelmente, decorre do fato de
as fêmeas estarem mais próximas do parto fisiológico. Intervalos
semelhantes são descritos por outros autores, utilizando outras
associações hormonais. LEWING et al. (1985), utilizando aos 280 dias a
DEXA+CLO, observaram intervalo de 34,5 horas. MUSAH et al. (1987),
trabalhando com indução aos 275 e 276 dias, relataram intervalos de 33
horas, utilizando a relaxina em associação com DEXA+CLO. BEARDSLEY et
al. (1976), empregando DEXA e estradiol aos 273 dias de gestação,
observaram intervalo de 40,8 horas.
No presente estudo a frequência de assistência ao parto não diferiu
entre os grupos, o que também foi relatado nos trabalhos de BÓ et al.
(1992) e NASSER et al. (1994), que não detectaram diferenças entre
animais tratados e aqueles que tiveram partos espontâneos, atribuindo
ao corticoide de longa ação a melhor preparação fisiológica para o
parto. Essa hipótese ratifica resultados de LEWING et al. (1985), que,
induzindo o parto aos 280 dias com DEXA+CLO, observaram aumento no
número de partos assistidos e cesarianas.
Não houve diferença entre os grupos quanto ao percentual de assistência
ao bezerro. Da mesma forma, HORTA et al. (1992), ao compararem o efeito
da indução do parto de vacas gestantes de produtos PIV ou de IA, em
relação a animais com partos espontâneos, observaram efeito positivo da
indução do parto na diminuição do peso dos recém-nascidos, incidência
de partos distócicos, assistência ao bezerro e mortalidade pré-natal.
O peso ao nascimento não diferiu entre os sexos. No que diz respeito ao
peso médio de ambos, foi pouco superior aos descritos por MARCONDES et
al. (2000), que, na avaliação de cerca de sessenta mil bezerros Nelore,
obtiveram média de 30,7 ± 3,8 kg. CUBAS et al. (2001), também, em
avaliação de bezerros Nelore e Nelore x Angus relataram médias de 28,5
± 0,38 kg e 29,4 ± 0,46 kg, respectivamente.
Recém-nascidos com peso ≥ 42 kg receberam maior assistência ao parto e
apresentaram menor viabilidade. Resultado semelhante foi relatado por
HORTA et al. (1992), que encontraram relação direta entre peso ao
nascimento e incidência de partos distócicos, maior assistência ao
bezerro e mortalidade pré-natal. Essa mesma associação foi relatada por
WAGTENDONK-DE LEEUW VAN et al. (2000), estudando bezerros obtidos
através de PIV, inseminação artificial ou superovulação de vacas
holandesas, com maior peso para animais PIV (47,1 kg) em relação
àqueles de IA (42,7 kg) ou superovulação (43,4 kg) e, consequentemente,
maior dificuldade ao nascimento e maior índice de mortalidade neonatal.
No entanto, esses resultados discordam dos descritos por CAMARGO et al.
(2005), para animais da raça Gir, que não encontraram diferença
significativa para peso ao nascer, assistência ao parto e viabilidade
do recém-nascido quando foram comparados embriões PIV e de IA. Isso
pode ser exlicado pelo fato de as fêmeas Gir apresentarem bezerros de
menor porte e o aumento de peso ao nascimento não comprometer a
viabilidade dos recém-nascidos, nem aumentar a incidência de parto
distócico e mortalidade neonatal.
A taxa de retenção de placenta não diferiu entre os grupos, sendo de
8,9% e 13,0% para doses de TRI de 1mg/60 kg e 1mg/100 kg,
respectivamente, como para momentos da gestação (12,1 e 11,6% para 280
e 285 dias, respectivamente). O índice geral de retenção de placenta
foi de 11,4%, resultado similar ao de NASSER et al. (1994), que
encontraram 13,8%.
Para a utilização correta da metodologia de indução do parto, alguns
pontos críticos e implicações práticas devem ser considerados, como: 1)
conhecimento exato da data da cobertura ou da inseminação – no caso de
fêmeas gestantes a partir de transferência de embrião, produzidos in
vivo ou in vitro, deve ser considerado como início do período
gestacional o dia da inseminação e não o dia da transferência; 2) após
a pré-indução as fêmeas devem ser mantidas em piquetes próximos e de
fácil acesso ao curral, para facilitar a observação do momento do
parto; 3) os piquetes devem conter no máximo cinco fêmeas, pois há a
possibilidade de troca de bezerros entre as mães; 4) disponibilidade de
material obstétrico e; 5) banco de colostro.
CONCLUSÃO
Conclui-se que, independente da dose de TRI utilizada, a pré-indução
aos 280 dias de gestação resultou em maior sincronização dos
nascimentos, sem comprometimento da viabilidade dos recém-nascidos, em
comparação com a pré-indução aos 285 dias de gestação.
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Protocolado em: 5 out. 2007. Aceito em: 24 jun. 2008.