AVALIAÇÃO
DAS CARACTERISTICAS SEMINAIS DE VARRÕES MANTIDOS EM CENTRAIS DE
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL COM AMBIENTE CLIMATIZADO E NÃO CLIMATIZADO
DURANTE 12
MESES
Gustavo
Eduardo Freneau1, Joao Danilo Jesus
Ferreira2, Jurij Sobestiansky1
RESUMO
Objetivou-se
com o presente estudo avaliar e monitorar a qualidade dos ejaculados de
suínos
durante 12 meses, em duas granjas (climatizada e não climatizada).
Cinco
animais foram mantidos em cada uma das granjas – com ambiente
climatizado (G1)
e ambiente não climatizado (G2) – e submetidos a coletas e avaliação
dos
ejaculados a cada 15 dias. Foram estabelecidos escores de motilidade
progressiva, concentração e morfologia espermática (MOT, CONC e MORF,
respectivamente), que somados compõem a capacidade andrológica por
pontos para
suínos (CAP), com amplitude de 1 a 100 pontos e cinco classes: A-E.
Houve
diferença em várias características seminais ao longo do ano dentro e
entre as
granjas em épocas de temperatura e índice de temperatura e umidade mais
elevados. Observaram-se diferenças entre granjas em relação à MOT (13,1±4,0 e
12,0±3,6),
à
MORF (35,5±11,4
e 27,6±11,6),
à CONC (21,6±16,8
e 13,4±10,6)
e ao CAP (70,2±21,5
e 53,0±18,8)
e as frequências de animais dentro das classes do CAP foram de A=17,92%
e
0,83%, B=13,75% e 21,25%, C=16,67% e 21,67%, D=1,25% e 4,17%, E=0,42% e
2,08%,
para G1 e G2, respectivamente. Os ejaculados apresentaram menor
qualidade nos
meses de maior temperatura ambiente e índice de temperatura e umidade.
Houve
diferenças entre e dentro das granjas. Observaram-se correlações entre
o CAP
com as características seminais e a produção de doses inseminantes com
diferentes critérios de qualidade. A avaliação dos aspectos
morfológicos de
ejaculados de suínos apresentaram variações, com menor qualidade nos
meses de
maior temperatura e índice de temperatura e umidade. A granja
climatizada
apresentou melhores parâmetros seminais ao longo do ano. As médias do
CAP e as
frequências de ejaculados dentro das classes do CAP refletiram as
variações
sazonais dos ejaculados. Da mesma forma, as doses inseminantes
apresentaram
variações em número quando se consideraram as características de
qualidade dos
ejaculados.
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SEMINAL CHARACTERISTICS OF
BOARS IN ARTIFICIAL INSEMINATION FARMS IN AIR-CONDITIONED AND
NON-AIR-CONDITIONED
ENVIRONMENT DURING 12 MONTHS
ABSTRACT
The purpose of this study was to evaluate boars´
ejaculate during 12 months. Five boars were located in each artificial
insemination farm with air-conditioned (G1) and non- air-conditioned
(G2)
environment, and submitted to ejaculate examination every two weeks.
Scores for
sperm progressive motility, concentration and morphology (MOT,
CONC and MORPH, respectively) were
established. These scores were summed up to compound the breeding
soundness
examination index (BSE) for pigs with amplitude ranging from 100 to 1
and four
classes (A-E). There were differences in several seminal
characteristics during
the year within and between the farms in periods of higher temperature
and temperature
and humidity index. There were differences between the farms
for MOT
(13.1±4.0 vs. 12.0±3.6), MORPH (35.5±11.4 vs. 27.6±11.6), CONC
(21.6±16.8 vs.
13.4±10.6) and BSE (70.2±21.5 vs. 53.0±18.8), and the BSE class
frequencies
A=17.92% vs. 0.83%, B=13.75% vs. 21.25%, C=16.67% vs. 21.67%, D=1.25%
vs. 4.17%
and E=0.42% vs. 2.08% for G1 and G2
respectively. Ejaculates presented season variations, with lesser
quality during
months with higher room temperature and temperature and humidity index.
There
were differences between and within farms. The air-conditioned farm
(G1)
presented better seminal characteristics along the year. The BSE means
and its class
frequencies reflected the seasonal variations of the ejaculates. There
were
correlations between BSE with the seminal characteristics, and
artificial
insemination doses showed variation in quality characteristics. There
were
seasonal deleterious effects on seminal characteristics of boars.
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INTRODUÇÃO
O sêmen, a ser
utilizado para a
inseminação artificial deve apresentar características qualitativas e
quantitativas que possibilitem o processamento de doses inseminantes,
sem
comprometimento da fertilidade. Estudos em diferentes latitudes e
sistemas de
manejo demonstraram o efeito da temperatura e umidade sobre a queda na
produção
e variações sobre a perda de qualidade na morfologia espermática, o que
se
refletia na fertilidade dos animais (WETTEMANN
& DEJARDINS 1979; WETTEMANN & BAZER
1985;
PELTONIEMI et al., 1999; Suriyasomboon et al., 2005),
manifestando efeito da idade sendo que animeis jovens teriam maior
resistência
a estes efeitos (HUANG et al., 2010) . De
acordo com LEVIS (1997), quando se expõem os machos a altas
temperaturas
(estresse calórico), após 7-15 dias desde a exposição, tem-se queda
real da
fertilidade (com diminuição da motilidade espermática e aumento das
anormalidades espermáticas), que se normalizará aproximadamente após 60
dias.
Os diferentes
procedimentos de
avaliação de sêmen, como as avaliações da motilidade espermática
progressiva,
da concentração e da morfologia espermática e a combinação dos
resultados
dessas, expressam diversos estados da espermatogênese com prognósticos
diferentes.
Uma metodologia simples e rápida de avaliação do potencial de
fertilidade de
touros, o índice de capacidade andrológica por pontos para touros
(CAP),
poderia ser adaptado aos reprodutores suínos. O CAP foi empregado como
critério
de escolha de reprodutores bovinos por expressar, em uma escala, a
capacidade
potencial desses animais (VALE FILHO et al., 1997; FRENEAU et al.,
2000). A
utilização do CAP em suínos poderia facilitar a avaliação e a tomada de
decisões em relação aos ejaculados e ao descarte de reprodutores, ao
longo do
período reprodutivo.
Objetivou-se com este
trabalho avaliar
a qualidade dos ejaculados de suínos sobre duas condições de
alojamentos com o
sem climatização, durante 12 meses.
MATERIAL
E MÉTODOS
Os machos foram
mantidos em
ambiente controlado com temperatura média de 23º±2ºC e umidade relativa
do ar
entre 60-70% ao longo do período experimental, por meio de equipamento
de
resfriamento utilizado no tratamento com ventilação refrigerada.
A outra granja
localizava-se no
município de Indiara – Goiás (G2), latitude sul de 17° 08’ 26”,
longitude de 49°
59’ 24” oeste e altitude média de 616 m, onde os machos foram
mantidos em
construções de alvenaria, sem controle de temperatura e umidade. As
temperaturas (máxima e mínima) foram registradas diariamente entre 12 e
14h, na
granja G2 com auxilio de termômetro de máxima e mínima de bulbo seco
(Figura1).
A umidade relativa do ar diária para a região referente ao período
experimental
foi considerada a registrada pelo Instituto Nacional de Meteorologia
para a
região (INMET, 2012). Com os dados de temperatura e unidade foi
construído o
índice de temperatura e umidade (ITU), segundo BUFFINGTON et al.
(1981), em que
se associa a temperatura máxima de bulbo seco e a umidade relativa do
ar. ITU =
0,8.Tbs + UR(Tbs-14,3)/100 + 46,3. Em que: Tbs = temperatura máxima do
bulbo
seco, UR= umidade relativa do ar (Figura 2).
Para este estudo,
foram
utilizados 10 machos suínos adultos, com idades entre
Foram realizadas as
análises de
aspectos físicos do sêmen. O volume, em mL, foi medido com recipiente
graduado.
Com microscópio de fundo claro e 200x, foram avaliados o vigor (0-5) e
a
motilidade espermática progressiva (em porcentagem). Posteriormente,
uma
alíquota de sêmen foi diluída (1:10) em solução de citrato de sódio
formolado
para se verificar a concentração
espermática (conc) em câmara de Newbauer, segundo técnica de rotina
(CBRA,
1998). Outra alíquota de sêmen foi estocada em citrato de sódio
formolado para
posterior análise da morfologia espermática, realizada entre lâmina e
lamínula
em microscópio óptico de contraste diferencial de interferência de fase
(1000x).
Os defeitos espermáticos foram agrupados em defeitos maiores (Dma),
menores
(Dme) e totais (DT), segundo Blom
(1973). Com os dados dos aspectos físicos e morfológicos dos
ejaculados,
estabeleceu-se o CAP para suínos. A metodologia considerou as somas das
pontuações da motilidade espermática (MOT), da morfologia espermática
(MORF) e
da concentração espermática (CON). Os ejaculados foram divididos em
classes de
pontos (Tabela 1).
A
pontuação da MORF foi feita de acordo com a metodologia utilizada para
bovinos (Tabela 1). As pontuações da MOT e da CON foram definidas de acordo com a
análise da distribuição de
frequência das avaliações realizadas ao longo dos 12 meses de
experimento estimadas
pela fórmula de Yule: nc = 2,5 raiz(N),
onde: nc = número de classes e N = número de variáveis. Os resultados
estão
representados na Tabela1. Para a pontuação
do CAP, considerou-se a soma de pontos das
três características (MORF, MOT e CON). As cinco classes do CAP foram
definidas
de acordo com a seguinte pontuação: A = muito bom (≥85 pontos); B = bom
(
Calcularam-se as doses
inseminantes tradicionais (DTR) e as doses eficientes (DEF). Para as
DTR,
utilizadas rotineiramente nas granjas, considerou-se apenas a
concentração
espermática de 3x109 espermatozoides em doses de 100 mL.
Para as
DEF, subtraiu-se o total das patologias espermáticas (Dma e Dme) e
considerou-se, também, só a percentagem de espermatozoides com
motilidade
progressiva resultando em doses de 3x109 espermatozoides
móveis e
normais/100 mL. Para se avaliar a qualidade das doses inseminantes ao
longo dos
12 meses, foram calculadas as diferenças entre o número de doses
inseminantes
produzidas (DIFD=DTR-DEF) e as porcentagens das DEF em relação às DTR
(DPER=DEF/DTR*100).
Os dados de cada
coleta quinzenal
(médias para característica) foram compilados em um protocolo de
processamento
mensal. Os dados quantitativos e qualitativos foram analisados pelo
pacote
estatístico SAS (1997). Foram comparadas as médias das características
estudadas entre as granjas e dentro de cada granja ao longo dos meses
de colheita.
As comparações foram realizadas pelas análises não paramétricas
Kruskal-Wallis,
usando-se o teste de Wilcoxon e, posteriormente, comparando-se, pelo
teste t de
Student, as granjas e a as
médias dentro de cada granja, segundo SAMPAIO (2002). A comparação das
frequências
foi analisada pelo teste do qui-quadrado. Para a análise das
correlações entre
as características estudadas, utilizou-se a correlação de Spearman,
recomendada
para dados não paramétricos, também segundo SAMPAIO (2002). Os
resultados foram
expressos em médias e desvio padrão e foram consideradas diferenças
quando
P<0,05.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
No inicio do
experimento, não
houve diferença entre as características seminais estudadas dos varrões
dentro
de cada granja; portanto, o grupo foi considerado homogêneo e
representativo de
cada situação.
A concentração
espermática não
diferiu entre as granjas (P>0,05); no entanto, o número de
espermatozoides
por ejaculado (SPTZ/EJ) foi maior (P<0,05) na G2 nos meses de julho,
setembro e dezembro de 2001 (Figura 3). Os resultados observados na G2
foram
diferentes dos relatados por WETTEMANN & BAZER (1985) e KUNAVONGKRIT
& PRATEEP (1995) que,
ao submeteram os animais ao estresse térmico, verificaram diminuição da
concentração quando a temperatura ambiente era elevada. Ao comparar as
médias
dentro das granjas, observou-se diminuição da concentração espermática
(P<0,10), principalmente na G2, no mês de junho de 2001,
provavelmente, em
consequência das altas temperaturas e ITU às quais os animais foram
submetidos
no mês de abril (Figuras 1, 2 e 3).
Observou-se relação
entre as
médias das temperaturas máximas e a concentração espermática na G2, ao
longo do
período experimental, sendo as máximas temperaturas no local seguidas
por
coletas com menor concentração espermática (Figura 4). Desenho similar
foi
observado para o ITU (Figura 2). Esse fato confirma relatos prévios (KUNAVONGKRIT
& PRATEEP 1995; Suriyasomboon
et al., 2004) de que o
estresse térmico causa diminuição da
concentração espermática por um período de até oito semanas.
Em relação à
morfologia
espermática, observou-se, na G2, maior porcentagem de Dma e DT
(P<0,05), no
período experimental. Isso demonstra que temperaturas ambientes e ITU
elevados
causaram aumento do número de espermatozoides anormais no ejaculado,
principalmente nos meses de dezembro e maio de 2001, quando foram
observadas as
maiores médias de DT (Figura 5), provavelmente em decorrência das
temperaturas
e do ITU, registrados nos meses de abril, setembro e outubro do mesmo
ano
(Figuras 1, 2 e 5).
LEVIS
(1997) relatou que,
após 15 dias de exposição a altas temperaturas ambientes, os animais
apresentaram
aumento das anormalidades espermáticas, que só voltaram a valores
normais
depois de, aproximadamente, 60 dias. Esses fatos se justificam em razão
do
ciclo espermatogênico, em suínos, de 35-39 dias, e aos 10-14 dias
necessários
ao trânsito epididimário para que os espermatozoides sejam ejaculados
(ROBERTS,
1986). De acordo com WETTEMANN & DEJARDINS (1979),
a partir do início da exposição do suíno a altas temperaturas até o
surgimento
dos problemas relativos à qualidade seminal, existe um intervalo de
cerca de
duas semanas. Isso sugere que os espermatozoides do epidídimo são mais
resistentes à exposição a altas temperaturas ambientes, quando
comparados aos
espermatozoides ainda nos testículos.
Segundo PELTONIEMI et al. (1999), altas
temperaturas têm sido relacionadas à redução da fertilidade em rebanhos
suínos,
possivelmente, em razão dos efeitos negativos sobre a espermatogênese
dos
machos. Machos submetidos a temperaturas elevadas por vários dias
sucessivos podem
apresentar produção sub-ótima de sêmen por período de cinco a seis
semanas, que
corresponde à duração da espermatogênese, com reflexo sobre a qualidade
seminal
que pode durar de sete a oito semanas.
Resultados
semelhantes, foram
também observados por WETTEMANN
& DEJARDINS (1979), WETTEMANN & BAZER
(1985), LEVIS (1997), PELTONIEMI et
al. (1999) e SURIYASOMBOON et al.
(2005)
HUANG et al. (2010) os quais relataram que altas temperaturas e umidade
relativa ambientes prejudicam a espermatogênese e, consequentemente,
diminuem o
número de espermatozoides normais no ejaculado durante um período de
até dois
meses, trazendo prejuízos na produção de doses inseminantes. O que foi
reportado como a possível infertilidade sazonal devido, pelo
menos em parte, a uma combinação de baixa mobilidade, morfologia
anormal incluindo anormalidade
acrossomal, modulado por ua conbinacao de calor, umidade e fotoperíodo
(MURASE et al.
2007). Em
outras espécies como coelhos também foram reportados efeitos deletérios
de
maiores ITU em condições sazonais da região Mediterrânea da Espanha
sobre os
ejaculados representados pela menor porcentagem de espermatozoides
normais e
acrossomas sem observar efeitos do fotoperíodo (ROCA et al., 2005).
Essa redução na
qualidade dos
ejaculados poderia ser devido ao calor direto sobre o testículo
interferindo na
sua termorregulação. Outra possível causa relatada seria a menor
ingestão de
alimentos devido ao estresse calórico sofrido pelos animais (RINALDO et
al.,
2000) o que interferiria no processo espermatogênico.
As temperaturas
máximas
observadas na G2, nos meses de abril e agosto a outubro ultrapassaram 30°C (Figura 1).
Paralelamente, o
índice de temperatura e umidade (ITU) ultrapassou os 79 pontos nos
meses de
março, abril, de agosto a outubro e janeiro (Figura 2). Para a produção
de
suínos, Sampaio et al.
(2004)
relatam que valores acima de 70 de ITU causariam desconforto térmico.
Temperaturas ambientes elevadas, superiores a 30ºC, causam alterações
da
qualidade e quantidade seminais de varrões (Chung-Wen et al., 1996). Dois animais (40%) da
granja G2, durante o mês de novembro
de 2001, manifestaram quadros de degeneração testicular moderado, com
elevada
porcentagem de Dma (27,5% e 37,5%) e DT (43% e 49%), provocada,
provavelmente,
pelo estresse, principalmente, no mês de setembro de 2001 em que se
registraram
as maiores temperaturas máximas e ITU acima de 70 (Figuras 1 e 2).
Apesar de
não computados, outros fatores como o tempo e a duração de temperaturas
máximas
pode ter contribuído para o quadro observado.
De
acordo com AGROCERES (1996), o número de
células anormais no ejaculado não pode exceder a 20%. Maiores valores
de
patologias espermáticas podem ser admitidos. Já BONET (1990) admite
patologias
espermáticas totais inferiores a 25%. Segundo ALM et, al, (2006)
utilizando
esta mesma metodologia de defeitos maiores e totais verificaram uma
relação
positiva entre a fertilidade e ejaculados com não mais de 30% de DT e
negativa
com os defeitos maiores. De acordo com os parâmetros considerados por
esses
autores, os ejaculados dos animais da G2, no mês de novembro de 2001,
como
citado anteriormente, deveriam ser afastados, temporariamente, do
programa, já
que na análise morfológica apresentaram valores de espermatozoides
normais
menores do que os ejaculados destinados à inseminação artificial.
Quanto à produção de
doses
inseminantes, as mesmas deveriam ser monitoradas de acordo com a MOT e
a MORF e
não somente em relação ao número de espermatozoides por ejaculado (SPTZ/EJ). Pôde-se concluir, neste experimento,
que, se
fossem considerados exclusivamente os SPTZ/EJ, a G2 (Figura 3) teria
tido, em
pelo menos três meses, animais de melhor produção de sêmen que a G1. NO
entanto, essa conclusão sem monitoramento da MOT e da MORF seria omissa
quanto
à qualidade das doses produzidas.
Nos 240 ejaculados, as
médias
para os componentes do CAP foram de 12,5±3,8, 31,6±11,4 e 17,5±14,6 para MOT, MORF e
CON, respectivamente, e de
61,6±21,9 para o CAP total.
Na G1 e G2
as médias foram, respectivamente, 13,1±4,0 e 12,0±3,6 para MOT, 35,5±11,4 e 27,6±11 para MORF, 21,6±16,8 e 13,4±10,6 para CON e 70,2±21,5 e 53,0±18,8 para o CAP total.
Observaram-se diferenças
(P<0,001) entre as duas granjas (Tabela 2).
Na Tabela 2 são
apresentados os
componentes do CAP por granja ao longo do período experimental. Não
houve
diferença (P>0,05) em CON entre as granjas, mas o CAP na granja G2
foi
inferior (P<0,05) ao a da G1 nos meses de março de 2001 e fevereiro
de 2002 (Tabela 2 e Figura 5), o que indica menor número de espermatozoides no
ejaculado de
suínos submetidos a fatores estressantes, como altas temperaturas.
Resultados
semelhantes foram também relatados por WETTEMANN & BAZER (1985) e KUNAVONGKRIT
& PRATEEP (1995).
A MORF observada na
granja G1 foi
superior (P<0,05) nos meses de junho, julho, agosto, setembro e
dezembro de
2001 (Tabela 2) e semelhante aos da G2 nos demais meses. À exceção da
gota citoplasmática
proximal, não houve patologia espermática individual que se destacasse
mais
frequentemente. As patologias espermáticas aumentaram de forma
constante nos
períodos posteriores a temperaturas e índice de temperatura e umidade
elevados.
Os defeitos maiores apresentaram padrão de elevação mais constante que
os
defeitos menores. Na granja G1, em janeiro de 2002, verificou-se que
20% dos
ejaculados apresentaram elevado número de anormalidades espermáticas, e
que
nesse mês a MORF foi menor (P<0,05) do que a dos meses de agosto e
dezembro
de 2001. Os resultados da G1 mostraram que a climatização minimiza as
possíveis
interferências de altas temperaturas no processo espermatogênico. A G2
apresentou, nos meses de julho, agosto e dezembro de 2001, MORF menor
do
que a do mês de março de 2001 e
semelhante aos demais meses (Tabela 2). Altas temperaturas prejudicaram
a
espermatogênese e aumentaram o número de espermatozoides anormais do
ejaculado,
o que causou diminuição da MORF.
Os CAP da G1 foram
maiores
(P<0,05) do que os da G2 nos meses de abril, maio, junho, julho,
agosto e
dezembro de 2001 e fevereiro de 2002 (Tabela 2 e Figura 6).
Observou-se menor qualidade do sêmen em períodos posteriores (a partir
de 30
dias) à ocorrência de altas temperaturas ambientais e índices de
temperatura e
umidade acima de 70. Pela diferença do CAP entre as granjas
verificou-se que os
machos da G1 apresentaram melhores parâmetros de qualidade seminal. Os
machos
da G2 apresentaram incremento na porcentagem de espermatozoides com
defeitos e
diminuição da qualidade dos ejaculados em consequência das altas
temperaturas
ambientais e índices de temperatura e umidade aos que foram submetidos
em
alguns meses. O decréscimo da qualidade do sêmen de suínos submetido ao
estresse climático poderia ser, entre outros fatores, consequência da
alteração
da produção espermática e biossíntese de andrógenos testiculares, o que
provocaria supressão parcial da maturação espermática, mudanças no
plasma
seminal com aumento de reação acrossomica (ROBERTS, 1986; BONET et al., 1995; MURASE et al., 2007).
Houve
correlações altas e positivas (p<0,001) entre o CAP e seus
componentes (MOT,
CON e MORF) (Tabela 3). Os índices de MOT foram menores provavelmente
em
decorrência da variabilidade da característica, relacionando-se com
estudos na
espécie bovina. Foram observadas elevadas correlações negativas entre
as
características que compõem o CAP com Dma e os DT. Correlações elevadas
e
negativas entre o CAP e os Dma e DT foram, também, relatadas na espécie
bovina
(FRENEAU, 1996; CHENOWETH
et al., 1996; VALE FILHO et al., 1997).
Como
constatado na evolução dos ejaculados dos varrões, as temperaturas
máximas e
mínimas junto com o índice de temperatura e umidade foram
correlacionados
negativamente com a CONC, CAP, MORF e CON e positivamente com DMA e DT
(Tabela 3), apesar de os suínos
terem um bom poder de adaptação a condições constantes (SURIYASOMBOON
et al.,
2005). Essa constatação justifica-se pelo observado na granja
G2, em que se verificaram maiores amplitudes de variações diárias de
temperatura e índice de temperatura e umidade durante vários meses. Quando as variações de
temperatura ultrapassam 10° C em condições de umidade (índice de
temperatura e
umidade acima de 70), elas provocam estresse, o que dificulta a
adaptação
desses animais (G 2). Portanto a flutuação de temperatura entre dia e
noite pode
ser um fator estressor durante os meses quentes do ano (KUNAVONGKRIT et
al.,
2005).
Observaram-se
ejaculados
enquadrados em todas as faixas do CAP (Tabela 4), porém, 95,5% dos
animais
categorizados como de CAP muito bom (A) pertenciam à G1. Dos animais
categorizados
em D (ruins) e E (péssimos), 76,9% e 83,3%, respectivamente, pertenciam
à G2.
Em todos os meses do
ano, G1
apresentou animais com CAP na classe A, que variou de 60% em março a
10% em
julho de 2001 (Tabela 5). A G2, no mês de junho de 2001, apresentou 80%
dos
animais na classe C (regular com restrições) e nos meses de agosto,
setembro e
novembro 20-30% dos animais estavam com problemas reprodutivos (classe
D),
coincidindo com os meses de maior temperatura ambiente e índice de
temperatura
e umidade. Um animal da G2, nos meses de abril, maio, junho e novembro
de 2001
e janeiro de 2002, apresentou problemas de degeneração testicular.
Ressalta-se
que, em touros, as faixas A e B são consideradas como as ideais para a
formação
de grupos em estação de acasalamento, descartando-se os touros da
classe D
(FRENEAU et al., 2000). As
variações entre e dentro de cada granja, ao longo do período
experimental,
acompanharam os dados das características seminais isoladas.
Os efeitos negativos
das altas
temperaturas e umidade sobre a espermatogênese, com aumento do número
das
anormalidades espermáticas e, possivelmente, consequente redução do
número de
doses inseminantes por ejaculado, pode causar prejuízos financeiros
para a
granja, pela necessidade de se aumentar o número de machos para atender
a
demanda de doses inseminantes. Esses fatos deveriam ser considerados,
quando da
manipulação de ejaculados destinados à inseminação artificial, nas
diferentes
épocas do ano, principalmente, em granja com galpão não climatizado. A
utilização de ejaculados com altos percentuais de patologia espermática
poderia
reduzir o número de leitões por nascimento, mesmo em doses
heterospérmicas.
Desta
forma, o controle externo da qualidade do sêmen em laboratórios de
referência pode
ser útil para monitorar a eficiência do controle interno da qualidade
seminal
em centrais de isnseminacao artificial, para identificar os cachaços
com baixa
qualidade dos ejaculados (WABERSKI
et al., 2008). Os testes in
vitro que medem
características univariadas de ejaculados como motilidade e morfologia
espermatica são precisos na previsão da fertilidade (FLOWERS, 2009) e
portanto debveriam
ser utilizados como forma de verificar os animais com ejaculados
conciderados
de fertilidade reduzida em diferentes epocas do ano dentro das granjas
com
inseminação artificial.
O número potencial de
doses
produzidas, ao longo do período de estudo, foi 6536 para GI
e 4304 para G2, o que correspondeu às médias por ejaculado de 27,2±7,0 e 16,4±5,3,
para as DTR e DEF, respectivamente. A diferença entre as duas
modalidades de
cálculo na produção de doses (DIFD) foi 10,8±4,2,
o que resultou em 60,4±10,9%
das doses DEF sobre as DTR (DPER). Os dados observados para as granjas
G1 e G2
para as DTR foram iguais a 25,2±8,3
e 29,1±4,9
(P<0,05), 16,4±6,0 e 16,3±4,4
(P>0,05) para as DEF e
8,9±3,7 e 12,8±3,7
(P<0,05) para as DIFD, respectivamente. Observou-se um
aproveitamento de
64,8±8,9% e 56,1±11,0% das
DEF/DTR (P<0,05)
nas G1 e G2, respectivamente. A DIFD mostrou que na G1 foi produzido
maior
número de doses quando seus cálculos foram realizados considerando-se a
qualidade dos ejaculados. Na
avaliação das doses inseminantes produzidas nas granjas pelo sistema
tradicional
(DTR) e as eficientes (DEF), verificaram-se diferenças significativas
ao longo
do experimento e foram
observados coeficientes de correlação elevados e
positivos entre o CAP e as DEF (r = 0,63) e o percentual de DEF/DTR
(DPER) (r =
0,71), e correlações negativas (r = -0,35) entre as diferenças entre
doses
tradicionais e eficientes produzidas (DIFD), respectivamente (Tabela
3). Esse
resultado mostra que, quando o objetivo foi a produção de doses
inseminantes de
melhor qualidade, o número de DEF na G1 foi maior. Neste estudo, não
foi
possível verificar se essas diferenças na qualidade das doses ou se as
diferenças nos ejaculados de menor qualidade, nos meses menos
favoráveis,
produziram algum impacto na produção de leitões nas duas granjas. Isso
não foi possível
em razão de terem sido utilizadas doses inseminantes com sêmen de
vários machos
e rotações de machos na segunda inseminação do cio observado nos dois
sistemas
de produção.
A
avaliação dos aspectos morfológicos de ejaculados de suínos
apresentaram
variações, com menor qualidade nos meses de maior temperatura e índice
de
temperatura e umidade. A granja climatizada apresentou melhores
parâmetros
seminais ao longo do ano. As médias do CAP e as frequências de
ejaculados
dentro das classes do CAP refletiram as variações sazonais dos
ejaculados. Da
mesma forma, as doses inseminantes apresentaram variações em número
quando se
consideraram as características de qualidade dos ejaculados
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