DOI:
10.5216/cab.v13i3.17572
ANÁLISE ECONÔMICA,
RENDIMENTOS DE CARCAÇA E DOS CORTES COMERCIAIS DE VACAS DE DESCARTE 5/8
HEREFORD 3/8 NELORE ABATIDAS EM DIFERENTES GRAUS DE ACABAMENTO
Fabiano Nunes Vaz1, Ricardo Zambarda Vaz2,
Leonir Luiz Pascoal1, Paulo Santana Pacheco1, Fabrícia
Rocha Chaves Miotto3, Natália Pinheiro Teixeira4
1Professores Doutores da Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. - fabianonunesvaz@gmail.com
2Professor Doutor da Universidade Federal de Pelotas,
RS, Brasil.
3Professora Doutora da
Universidade Federal do Tocantins no Campus de Araguaina, TO, Brasil.
4Acadêmica do curso de
Zootecnia da Universidade Federal do Pampa, Dom Pedrito, RS, Brasil.
RESUMO
O objetivo deste trabalho
foi estudar o efeito do grau de acabamento sobre os rendimentos de carcaça e
dos cortes comerciais de vacas de descarte 5/8 Hereford 3/8 Nelore, bem como
realizar a análise econômica da comercialização desses cortes pela indústria
frigorífica. Foram utilizadas 42 vacas adultas, todas com oito dentes ao abate,
e peso corporal médio de 530
kg. O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado. Após o abate, as carcaças foram classificadas em
relação à gordura de cobertura, separadas em gordura 1 (ausente), gordura 2
(escassa), gordura 3 (mediana) e gordura 4 (uniforme), conforme o Sistema
Nacional de Tipificação e Classificação de Carcaças Bovinas. Os pesos corporais
na origem foram maiores para as vacas classe de gordura 4 em relação às classes
2 e 1, sendo de 571,9; 517,6; e 488,1 kg, respectivamente, não diferindo da
classe de gordura 3 (536,6
kg). Os rendimentos de carcaça quente aumentaram em
função da elevação do grau de acabamento de carcaça, com valores médios de
44,4; 46,1; 47,9 e 47,8%, para as classes de gorduras 1, 2, 3 e 4,
respectivamente. A ponta-de-agulha é o corte com maior incremento de peso
quando crescem as classes de gordura. Se fossem considerados os preços dos
cortes comerciais nos mercados atacadistas de São Paulo e do Rio Grande do Sul,
a indústria poderia remunerar melhor vacas com acabamento 2 em relação às
demais. O ponto de equilíbrio da indústria frigorífica seria de R$ 6,21/kg de
carcaça para vacas com gordura 2, contra R$ 6,02/kg, R$ 5,99/kg e R$ 5,98/kg,
respectivamente, para vacas com gorduras 1, 3 e 4.
PALAVRAS-CHAVE: Braford; espessura de gordura; rendimento de ponta-de-agulha;
rendimento de traseiro especial; vacas de corte.
ECONOMIC ANALYSIS, CARCASS AND
COMMERCIAL CUTS YIELDS OF 5/8 HEREFORD 3/8 NELLORE CULL COWS
SLAUGHTERED AT DIFFERENT FATNESS DEGREES
ABSTRACT
The objective of this work
was to study the effect of the fatness level on carcass and commercial cuts
yields of 5/8 Hereford 3/8 Nellore cull cows, as well as to perform the
economic analysis of the marketing of these cuts by the slaughterhouse industry.
We used 42 adult cows, all with eight teeth at slaughter, and average live body
weight of 530 kg.
The experimental design was completely randomized. After slaughter, the
carcasses were classified in relation to fat cover, and separated into fat 1
(absent), fat 2 (scarce), fat 3 (median) and fat 4 (uniform), according to the
“Sistema Nacional de Tipificação e Classificação de Carcaças Bovinas”. Body
weights at origin were higher for cows of fat class 4 in relation to class 2 and
1, being 571.9, 517.6, and 488.1
kg, respectively, not differing from fat class 3 (536.6 kg). The hot carcass
yields increased as a function of the increase of the degree of carcass
finishing, with mean values of 44.4, 46.1, 47.9 and 47.8% for fat classes 1,
2, 3 and 4, respectively. The cut of the rib is the cut with the largest
increase in weight when the fat level increases. Considering the commercial
cuts prices at the wholesale markets of São Paulo
and Rio Grande
do Sul, the industry could pay better prices for cows with fat 2 in relation to the other
classes. The break-even point of the slaughterhouse industry would be R$
6.21/kg of carcass for fat 2 cows, against R$ 6.02/kg, R$ 5.99/kg and R$
5.98/kg, respectively, for fat 1, 3 and 4 cows.
KEYWORDS: beef cows; Braford; fat thickness; rib cut
yield; saw cut yield.
INTRODUÇÃO
Nos programas de cruzamento
de bovinos, as características de carcaça vêm sendo cada vez mais valorizadas,
fazendo com que o produtor busque raças que tenham bom desempenho e produzam
carne de qualidade, melhorando a eficiência produtiva e a remuneração final
pelo produto. Tal fato converge com as novas tendências da indústria, nas quais
algumas redes frigoríficas têm buscado incentivar os produtores por meio de
programas de remuneração por quesitos de qualidade.
Assim, os produtores do
Centro-Oeste têm usado programas de cruzamentos de bovinos de corte envolvendo
raças europeias e, no Sul, a utilização de raças sintéticas tem crescido em
importância, buscando-se animais com maiores rendimentos de carcaça e boa
qualidade de carne. DAL-FARRA et al. (2002) comentam que a orientação dos
cruzamentos de bovinos para produção de carne deve visar não somente ao peso
corporal, mas também às características de estrutura corporal que resultarão em
carcaças de melhor qualidade.
Nos principais países
produtores de carne bovina, o valor agregado é mais elevado, pois a carne de
novilhos é basicamente comercializada e consumida após resfriamento e
maturação, ao passo que a carne de vacas de descarte, em grande parte, é
processada e industrializada, independentemente do grau de acabamento dos
animais. Ao contrário, no Brasil, grande parte da carne consumida é proveniente
do abate de fêmeas. As fêmeas por apresentarem idade mais avançada apresentam
normalmente menor rendimento de desossa que os machos. Nesse sentido, COSTA et
al. (2010) verificaram que o rendimento total de carne na carcaça foi maior em
machos inteiros (73,2%) em relação às vacas de descarte (71,43%), mas
verificaram similaridade nos rendimentos totais de osso e gordura na carcaça de
vacas e novilhos.
Considerando a importância da
carne proveniente do abate de fêmeas e que o consumo pode ocorrer na forma de
carne moída e/ou embutidos, o acabamento perde a importância pela diminuição
física da fibra no processamento e pela dissolução do colágeno por meio de um
tempo de cocção mais elevado (LAWRIE, 2005). Junto a isso, as preocupações em
relação aos teores de gordura da dieta do consumidor moderno estão orientando a
sociedade para a redução das calorias da alimentação.
No Rio Grande do Sul, o
descarte das vacas ocorre antes do início do inverno, período de menor produção
forrageira, pois, além de estarem susceptíveis à perda de peso durante o
inverno, ainda concorrem por alimento com o rebanho de cria (FERREIRA et al.,
2009). Portanto, a venda das vacas falhadas logo após o diagnóstico de gestação
resulta na menor lotação no pasto na estação subsequente. No entanto, quando as
vacas não apresentam o grau de acabamento adequado às exigências dos
frigoríficos, torna-se difícil a sua comercialização.
Nesse contexto, forma-se uma
contradição de suposições, pois a indústria frigorífica acredita que animais
com maior acabamento possuem maior rendimento de cortes de maior valor, como o
traseiro especial para a região central e o traseiro especial e a
ponta-de-agulha para a região sul do País. Sendo assim, o presente estudo
objetivou avaliar os rendimentos de carcaça e dos cortes comerciais de vacas
adultas 5/8 Hereford 3/8 Nelore, abatidas com diferentes graus de acabamento.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado
no verão de 2011, em propriedade particular localizada no município de Bagé, estado
do Rio Grande Sul, onde ocorreu a terminação de um lote de vacas adultas, do
genótipo 5/8 Hereford 3/8 Nelore, em pastagem natural do Bioma Pampa. Todas as
vacas possuíam dentição de oito dentes, mantidas sob as mesmas condições de
manejo e alimentação. O abate ocorreu quando os animais atingiram peso corporal
médio de 530 kg,
no intuito de se obter peso de carcaça fria de 16 arrobas.
O abate dos animais ocorreu
em abatedouro comercial, localizado no município de Santa Maria, estado do Rio
Grande do Sul, localizado a 240 km do
local de terminação dos animais. Após o abate, as carcaças foram identificadas,
lavadas, pesadas e classificadas quanto ao acabamento de carcaça por três
avaliadores treinados segundo o Sistema Brasileiro de Avaliação e Tipificação
de Carcaças Bovinas (BRASIL, 2004). Durante a classificação, o grau de
acabamento das carcaças foi verificado mediante a observação da distribuição e
da quantidade de gordura de cobertura, em locais diferentes da carcaça (região
torácica, lombar e sobre o coxão), em que: magra (1) = gordura ausente; gordura
escassa (2) = 1 a 3 mm de gordura subcutânea; gordura mediana (3) = entre 3 e 6
mm de gordura subcutânea; gordura uniforme (4) = acima de 6 e até 10 mm de
espessura; e gordura excessiva (5) = acima de 10 mm de espessura. Ao final da
classificação, as carcaças foram resfriadas por 24 horas a 1oC.
O rendimento de carcaça foi
calculado a partir do peso de carcaça quente em relação ao peso de fazenda, que
foi tomado na origem, sem realização de jejum.
Após o resfriamento, as
carcaças foram novamente pesadas e seccionadas nos três cortes comerciais, que
também foram pesados. As meias carcaças foram separadas em dianteiro, por meio
de corte entre a 5ª e a 6ª costelas, e do restante foi retirado o corte ponta-de-agulha,
também chamado de costilhar, por meio de um corte longitudinal a uma distância
de aproximadamente 20 cm da linha dorsal, conforme procedimento empregado
no frigorífico. Após a retirada da ponta-de-agulha, restou o traseiro especial,
também chamado de serrote.
O pH do carcaças foi medido
no músculo longissimus dorsi, na
altura da 12ª costela, 24 horas após o abate, realizando-se duas leituras por
carcaça e calculando-se a média aritmética entre elas.
O delineamento experimental
utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo os dados submetidos à análise
de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade de
erro. O modelo matemático utilizado foi:
Yij = µ + Ti + Eij , em que Yij =
variáveis dependentes; µ = média geral de todas as observações; Ti =
efeito do grau de acabamento de ordem “i”, sendo 1 = gordura 1, 2 = gordura 2,
3 = gordura 3 e 4 = gordura 4; e Eij = efeito aleatório residual.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme observado na Tabela
1, a variação de peso de origem foi de 488,1 a 571,9 kg e diferiu (P<0,01)
entre as classes de gordura, com um coeficiente de variação de 9,22%. O peso
corporal na origem foi maior (P<0,05) nas vacas que apresentaram classificação
quanto à gordura de cobertura uniforme (escore 4) em relação às vacas
classificadas com grau de gordura escassa e ausente (escore 2 e 1,
respectivamente). O elevado peso de abate das vacas, mesmo daquelas com gordura
1, que atingiram peso próximo a 15 arrobas, é efeito do bom desenvolvimento
corporal.
A diferença de peso de origem
mostrada na
Tabela
1 está associada ao aumento no depósito de tecidos
corporais, principalmente gordura. O aumento de peso de vacas de descarte é
consequência do aumento da idade e do grau de acabamento. CAMARGO et al. (2008)
observaram similaridade no acabamento em novilhas abatidas com diferentes
pesos. Entretanto, sabe-se que a gordura é o tecido cuja deposição corporal
ocorre quando o animal reduz o crescimento muscular, logo, espera-se que animais
adultos com maior peso de abate, possuam maior deposição de tecido adiposo.
Como as vacas eram adultas, com oito anos de idade, o aumento da gordura está
intimamente ligado ao avanço do peso corporal. Como as condições de alimentação
das vacas foram similares, as diferenças no grau de acabamento resultaram de
possíveis diferenças quanto ao potencial genético para ganho de peso, bem como
pelas diferenças intrínsecas ao animal quanto à melhor ou pior conversão
alimentar.
DI MARCO (1994) cita que a
gordura na carcaça é depositada conforme a raça, o sexo e a condição sexual, o
peso, o histórico alimentar e o ganho de peso diário na terminação. Em
relação
ao efeito do sexo, sabe-se que
há uma superioridade das fêmeas na deposição de gordura em relação aos machos
(MOURÃO et al., 2008; ARAÚJO et al., 2011).
MAY et al. (1992) comentam
que, quando a gordura de cobertura sobre a carcaça é reduzida, as fêmeas são
economicamente mais rentáveis no confinamento que os novilhos. Por outro lado,
AMER et al. (1994) afirmam que, quando o peso de abate é uma exigência do
mercado, a terminação de fêmeas de descarte em confinamento possui menos
rentabilidade que a engorda de novilhos. Para os últimos autores, a razão disso
é que as fêmeas engordam mais rapidamente, com menor peso e, até atingirem o
peso de um novilho reduzem a eficiência alimentar em função da deposição de
gordura em detrimento do crescimento muscular.
Assim como o peso de origem,
o peso de carcaça quente das vacas gordura 4 foi superior (P<0,05) às vacas
gorduras 1 e 2, sendo que as últimas não diferiram das vacas com acabamento
classificado como gordura 3. O peso de carcaça de vacas é uma característica
muito importante sob o ponto de vista do produtor, já que o valor por animal
comercializado é indexado a esses pesos. O método de comercialização de bovinos
era, inicialmente, realizado com base no peso corporal, passando gradativamente
a ser realizado em função do peso de carcaça. Isso se tornou mais interessante
e com melhor retorno econômico para os frigoríficos, pois se considera apenas a
parte comercial do animal.
Verifica-se na
Tabela
1 que o
rendimento de carcaça quente em relação ao peso de origem não diferiu entre as
vacas gordura 3 (47,93%) e gordura 4 (47,79%), que foram superiores (P<0,05)
apenas ao grupo de vacas com gordura 1 (44,36%). O rendimento das vacas gordura
2 não diferiu dos rendimentos observados para as vacas mais gordas ou para as
vacas mais magras, sendo de 46,08%. A variação foi de 3,43 pontos percentuais
do grau de acabamento 1 ao grau 4. Essa variação pode ter sido influenciada
pelo maior peso relativo do trato gastrintestinal das vacas mais leves e menos
acabadas, em conjunto com a deposição de gordura interna e externa à carcaça.
No trabalho de KUSS et al.
(2007), em que foram medidas a
gordura
de toalete externo, gordura interna e total de gordura descartada em vacas
mestiças europeu x zebu, abatidas com diferentes pesos, foram observadas
diferenças significativas para todas essas características, tanto em peso
absoluto, como em percentagem do peso de abate, ou em percentagem do peso de
corpo vazio. Os autores acima citados verificaram que a gordura total
descartada variou de 19,99 kg para vacas de 465 kg até 35,47 kg para vacas de
566 kg. Em percentagem do corpo vazio, a gordura total descartada representou
5,33% nas primeiras e 7,59% nas últimas.
Os quatro grupos de
acabamento estudados não interferiram (P>0,05) no pH da carcaça medido no
músculo
longissimus dorsi (
Tabela
1).
O pH, 24 horas após o resfriamento, é indicativo de alterações relacionadas ao
estresse pré-abate, sendo que diferenças mais pronunciadas são verificadas
entre animais de diferentes condições sexuais, manejos pré-abate diferenciados
ou grupos genéticos, que, por sua vez, possam alterar o estado de estresse prévio
à insensibilização dos animais (LAWRIE, 2005). No entanto, BIANCHINI et al.
(2007), estudando diferentes grupos genéticos, não observaram diferença no pH
24 horas pós-abate, medido no
longissimus
dorsi,
suprespinatus ou
bíceps femoris, de animais Nelore,
Simbrasil, Simental ou 1/2 Nelore 1/2 Simental, com valores que variaram de
5,53 (Nelore medido no
longissimus dorsi)
a 5,78 (Simbrasil medido no
bíceps
femoris). Vale destacar que os valores de pH após 24 horas de resfriamento
medidos no presente estudo mostraram-se dentro dos limites exigidos pelo
Serviço de Inspeção Federal para o comércio internacional (inferior a 5,8).
Segundo esse órgão, antes da desossa, a carcaça deve ter pH inferior a 5,8,
após 24 horas de resfriamento.
Em relação aos pesos dos
cortes (
Tabela 2), percebe-se que seguiram as tendências verificadas para o
peso de carcaça quente, sendo que as vacas com acabamento 4 tiveram
significativamente maior peso de ponta-de-agulha e dianteiro que as vacas
gordura 1 e 2 e maior peso de traseiro especial que as vacas gordura 1.
No entanto, observa-se que o
incremento dos pesos dos cortes manifestou-se de forma diferente entre as
classes de gordura, pois, da classe gordura 1 para gordura 2, os incrementos de
peso foram 36,9; 10,2 e 11,0%, respectivamente, para ponta-de-agulha, dianteiro
e traseiro especial. Isso indica que as deposições de gordura nos cortes
ocorrem de forma diferente, notadamente na ponta-de-agulha. Da classe gordura 2
para gordura 3, os incrementos foram 0,4; 4,7 e 4,8%, enquanto da classe 3 para
a 4 os incrementos foram 5,7; 7,3 e 5,6%, citados na mesma ordem.
Os maiores incrementos de
peso dos cortes ocorreram quando os animais passaram da classe 1 para a classe
2, notadamente na ponta-de-agulha. O incremento de 36,9% pode indicar que a
deposição de gordura sobre esse corte é acentuada nessa fase da terminação e se
reduz posteriormente, ocorrendo desenvolvimento mais constante do dianteiro e
do traseiro especial. Considerando as vacas gordura 1 e 4, observa-se que a
variação foi de 45,4% no peso da ponta-de-agulha, 23,8% no peso do dianteiro e
23% no peso do traseiro especial. Essas variações seguem as mesmas tendências
observadas por KUSS et al. (2005), que citam em seu trabalho com vacas mestiças
com 8,5 anos de idade que o aumento do peso de abate de vacas de 465 para 566
kg resultou no aumento de 56,4% no peso da ponta-de-agulha, 26,7% no peso do
dianteiro e 30,7% no peso do traseiro especial.
Quando os pesos dos cortes
comerciais foram expressos em relação a 100 kg de carcaça, não foi observada
diferença significativa entre as classes de gordura. Os valores de R
2
para as características de rendimento dos cortes foram baixos, indicando que a
variação na percentagem dos cortes primários foi pouco influenciada pela
variação nas classes de gordura. Conforme observado por DI MARCO (1994), grupo
genético, condição sexual e restrição alimentar durante o crescimento têm
mostrado efeitos mais pronunciados nos rendimentos de cortes primários.
Estudando vacas de descarte mestiças europeu x Nelore, KUSS et al. (2005)
verificaram correlação altamente significativa entre espessura de gordura
subcutânea e porcentagem de ponta-de-agulha (r=0,56).
A avaliação dos pontos de
equilíbrio de venda dos cortes das carcaças de vacas, apresentados na
Tabela 3,
mostra que aquelas com acabamento 2, resultam em ponto de equilíbrio mais
elevado. Dessa forma, o frigorífico possui valor médio de venda superior
baseado na referência de preços CEPEA (2011), que foi de R$ 6,21/kg para as
vacas gordura 2, enquanto as vacas dos demais graus de acabamento mostram
valores de venda que oscilam entre R$ 5,98 e 6,02. Esse resultado se repetiu
quando os preços de venda dos cortes foram os obtidos com base no mercado
gaúcho, onde principalmente os valores da ponta-de-agulha são mais elevados em
função da maior procura.
O melhor resultado econômico
das vacas gordura 2 refere-se ao alto peso do traseiro especial se comparado ao
peso de carcaça. Embora não tenha diferido estatisticamente no percentual de
traseiro especial das demais classes de gordura (Tabela 2), as carcaças com
acabamento 2 também não diferiram das vacas 4 e 3 no peso absoluto dos cortes
(Tabela 2). Quando o frigorífico vai realizar a venda dos cortes, sem desossa,
a remuneração obtida por um traseiro especial mais pesado possibilita uma
melhor remuneração ao produtor que vendeu essa carcaça, o que se deve ao fato
de que o frigorífico deve buscar animais que possuam melhor rendimento do corte
traseiro especial, pois nele se localizam os cortes mais valorizados no
mercado. Isso mostra a grande importância do trabalho de melhoramento genético
do rebanho nacional, que deve centrar esforços em carcaças melhor conformadas
que possuem maior rendimento de traseiro especial, pois a diferença em reais
por quilograma (R$/kg) atinge 44% a mais, tanto no mercado de São Paulo como no
mercado gaúcho.
Baseando-se nos preços do
mercado paulista, a diferença do melhor retorno econômico para a indústria
frigorífica (acabamento 2) para o pior (acabamento 4) atinge R$ 0,23/kg. No
entanto, no mercado gaúcho, onde a ponta-de-agulha possui remuneração similar
ao traseiro especial, a diferença sobe para R$ 0,28/kg e, nesse caso, o grupo
de carcaça menos interessante passa a ser o das as carcaças com acabamento 1,
pelo menor percentual de ponta-de-agulha que produzem (Tabela 2).
Como atualmente discute-se a
sustentabilidade da produção animal, o fato de não serem gerados excessos de
gordura que não serão aproveitados pelo mercado melhora a eficiência do
sistema, principalmente quando se trata de vacas de descarte, pois seu abate
proporciona maior produção de recortes de graxa em relação ao abate de novilhos
(CATTELAM et al., 2010). Embora não exista diferença em gordura renal, de
toalete, cardíaca e intestinal, o total de gordura interna é maior em vacas
(6,51 contra 5,74%).
Ainda a respeito do acabamento,
as classes de gordura escassa e ausente são rejeitadas pelos frigoríficos. Para
AMER et al. (1994), os nichos de mercado na comercialização de bovinos para
abate na América do Norte se alteram com o tempo e, com isso, mudam os
incentivos em relação ao acabamento e peso de abate dos animais. No Brasil,
isso não é diferente, porém o incentivo pelos graus de acabamento superiores
das carcaças é atualmente preconizado, na grande maioria, pelas indústrias
abatedoras. A explicação para isso reside no fato de os abatedouros buscarem
menores perdas de peso das carcaças durante o resfriamento.
CONCLUSÕES
Baseado em preços de mercado
atacadista de São Paulo e do Rio Grande do Sul, vacas com grau de acabamento 2
representam o melhor retorno de venda comercial para a empresa frigorífica em
venda de cortes primários da carcaça, em função dos pesos e preços desses
cortes.
A ponta-de-agulha é o corte que
mais acresce peso com a alteração das classes de terminação de bovinos pelo
Sistema Brasileiro de Tipificação e Classificação de Carcaças.
Para os produtores rurais, a
busca por carcaças melhor conformadas, com maior percentual de traseiro
especial, pode se tornar, no futuro, uma característica melhor valorizada e
incentivada pelo frigorífico, pois, pelos resultados do presente trabalho, o
incentivo pelo maior grau de acabamento pode não representar carcaças com
melhor rentabilidade industrial.
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Animal, v.65, n.2, p.115-122, 2008.
Protocolado em: 19 mar. 2012. Aceito em: 21 ago.
2012.